Obax anafisa.
Para comprar pão desço a rua suja ainda de bloquete. Entre galos e galinhas, gatos e cachorros, porcos e drogados vejo três menininhos de uniforme com logomarca LBV brincado à espera da van que os levará.
Na rua estreita, curta e suja um predinho bonitinho entre casinhas bem feiinhas. Ao seu fim viro à direita e subo o morrinho onde sempre vejo em funcionamento a distribuidora de coco verde. De lá um programa de rádio religioso dita um muito bonito preceito bíblico e depois “Umbanda, Candomblé, macumba, feitiço, espiritismo – a lista é longa – ... se quer se ver livre ouça o Programa Nhenco-nheco. E venha para nossa Igreja Funque Iu”. Paro. A ouvinte me olha vendo um barbudo de bermuda vindo de onde se vendem pedras. Balango chateado a cabeça para o programa e ando.
Deitada na calçada às sete e trinta da manhã parecia uma iara sobre uma rocha ao crepúsculo. Se bem que a iara estaria acordada e ela estava dormindo. Os firmes seios da iara à mostra em contraste com as pelancas murchas dela. As escamas verde-brilhantes da iara seriam um encanto com sua pela louçã e seus longuíssimos cabelos negros. Alvinegra iara ao luar. Verdes... Branca... Negros... A mulher de bermuda dins em cinético verde brilhante se mexe, talvez pelo que sonha, e seu verde brilhante alça vôo em incontáveis moscas revelando o marrom até então escondido.
Desço o morrinho onde está a distribuidora de cocos. Já não há mais nenhum rádio ligado, graças a Deus. Viro à esquerda, entro na rua feiinha com o predinho bonitinho e meninos e meninas brincam de pique. São todos risos e gritinhos.
Apesar de tanto, chego em casa com pão fresquinho e coração quentinho. Começa o dia e a vida continua.
Ofereço como presente de aniversário à
Alessandro Lages, Maxwel Lopes, Luzia di Resende e Valdete Val.
Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.
Escrito entre 10 e 16 de abril de 2012.
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