Obax anafisa.
No Centro de
Ipatinga na manhã de sol do Dia do Índio eu atravesso o cruzamento das ruas
Sabará com Ouro Preto pensando em nem sei, levando na sinistra uma sacolinha e
na destra eu me levo. Ou tento. Piso na calçada e dou meu segundo passo num desequilibro
que faz meu corpo se aprumar. Ou tentar. Curiosamente, porém, meu corpo
continua caindo pondo-me a pensar no que sei. Ou quase. Junto, o espanto: “Como?
Eu não voltei a me equilibrar? Por que continuo caindo? Meu chinelo soltou a
correia no tropeço, que chato. Que coisa desagradável é cair. Ai, que vergonha!
Por que ter vergonha de cair? Tolice isso!”. Na lentidão meu corpo caiu
proporcional à quantidade de pensamentos. Vi o cimento cinza sujo da calçada se
aproximar. Vi, ou imaginei, minha cara se fazer ridícula ao cair. Engraçado, na
verdade o corpo é que se aproxima do chão, mas a sensação é o chão se aproximar
do corpo. Meus braços, sem que eu percebesse, se posicionaram para me proteger.
Que bom que eu não caí feito uma jaca, mas sim com suavidade e leveza.
Na tampa do
bueiro na calçada, um quebrado.
Nas
proximidades, olham para mim os funcionários de uma loja, duas putas, uma jovem
e a outra não, já prontas para o trabalho e também o dono de um boteco e seu
cliente. Eu, levemente sem graça, me mantenho no chão por uns dois segundos e
antes de começar a me levantar as garotas me perguntam se estou machucado. Digo
que não e a mais jovem começa a rir. Não me ofende. Percebo que riu por estar
aliviada – Na medida em que alguém se sente bem pelo não ferimento de um
estranho. – O cliente do bar vejo ao meu lado, pronto para me socorrer e
perguntando também se estou machucado ou se preciso de ajuda. O mesmo perguntam
o dono do boteco e, do outro lado da rua, os funcionários da loja. A todos
agradeço e digo que não. Ponho no lugar a tirinha do chinelo e vou embora.
Muitos metros depois me chamam. Olho para ver o que querem e as garotas me dizem
“esqueceu suas chaves”. Volto para pegar e o cliente do boteco vem até mim com
elas nas mãos. Somente posso lhe agradecer e sorrir.
Na tampa do
bueiro na calçada, um buraco. Que bom que não quebrei o pé. De volta para casa
constato um machucadinho no tornozelo tão grande quanto um grão de areia e nas palmas,
mais na direita, pinicações. E tudo me faz sorrir. Se algumas pessoas têm
ruindade, todas são boas.
Ofereço como presente
de aniversário à
José B. Ferreira Filho,
Mª José Anastácio e Juliana Furtado.
Em banto, obax anafisa
significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço
votos de que encontre nele pedras preciosas.
Escrito nos dias 22 e
23 abril de 2012.
Um comentário:
Já perdi as contas de quantas vezes caí, ou tropecei, ou simplesmente me desequilibrei em público. Engraçado é que ficamos com vergonha por bobagem, afinal todos estamos sujeitos ao desequilíbrio.
Abraço!
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