domingo, 27 de agosto de 2017

BELA VISTA – PROBLEMA RELIGIOSO DE NOSSOS DIAS – I

  
¿Qué discusión puede ocurrir sin saber el asunto discutido? Chifla es la respuesta que se da cuando falta argumento y no quiere dar marcha atrás. El cristianismo podría ser lindo si no fuera como es predicado por las religiones. Eça de Queirós y Saramago acusan las religiones como las causas de los sufrimientos y perversidad humana; siempre bien dispuestas a produjeren y a reprodujeren la miseria y la opresión.
Discutir literatura anticlerical portuguesa nos ayuda a pensar abiertamente y con menor contaminación el problema religioso de nuestros días.

Leitura do cronto pelo autor no endereço:

Cinco horas da tarde em ponto, Adão sai de sua casa na rua Dionísio e Macieira também. Dois minutos depois saem os irmãos Marialva, Marissol e Mário na casa da rua Alvinópolis. Salomão, da rua Nova Era. E Gustavo é da Raul Soares. Pascoali, Benito, Manuela e Jurandir são os alienígenas no bairro. Mas Jairo e Elson, não. Os dois são da rua Itabirito. Todos se encaminham para a avenida 26 de outubro do bairro Bela Vista; e o pequeno ipê carregado de flor os acolhe.
- Sou fascinado pelos cristãos. Cada encontro com os cristãos é um encontro com o ódio, a estupidez e a ignorância.
- Será? – Adão responde perguntando.
- É o que sempre se vê. – Benito contrarresponde. – Hoje mesmo, na Câmara Municipal de Ipatinga, um vereador disse “Pela defesa da família cristã”. Perguntei-lhe e a minha família? Não sou cristão... A resposta foi “Junte seu grupinho e se defenda”. – Segundos silenciosos. – Aconteceram outras coisas além dessa.
- Mas, Benito, isso não é o suficiente pra julgar dessa maneira os cristãos ao todo.
- Dei apenas um exemplo, Adão. Além desse e hoje à tarde, na mesma câmara e por outros cristãos, houve dezenas de outros acontecidos. Fora esses há outros que tenho visto em aproximadamente quarenta anos.
- Sei lá, Benito! O cristão é pessoa e como tal está sujeito a falhas de sua espécie.
- Sim, mas o interessante é que botam Jesus no meio de suas falhas e o “indicam e indiciam” como cúmplices de suas violências e responsabilizam-nO por suas estupidezes e ignorâncias.
- Nisso já não tenho como dizer algo!
- “Jagera” não, Benito! – Intervém Manuela. – Você é meu amigo, vem em casa e ainda não cozinhei você para o almoço ou pra sopa... Rirri.
- Ai, Manuelita de mi corazón. Precisava ver as barbaridades que escutei dos cristãos hoje na câmara municipal. Entre dezenas de outras coisas uma que lá foi em nome de Jisuis me contou “Mal vejo a hora de ir embora desse paizim di merda” e a mesma, sem querer ou não, me contou em seus arroubos que pagou caro o diploma que comprou...
- Esse menino está precisando é de orar, Manuela! – Gustavo entra na conversa.
- Já orei muito e li bastante a Bíblia. – Responde Benito. – Mas me cansei de ver cento e quarenta Salmos desejando mal aos outros... Ter o Rei Davi como um exemplo importante a ser seguido; sendo que o famigerado era estuprador, torturador, mutilador, escravagista, traidor, falso amigo e falso religioso. Ter a violência justificada no Antigo Testamento e os preconceitos confirmados no Novo.
- Mano Benito, Davi como homem teve as suas falhas e avarias, mas isso não pode abalar a fé de alguém, sendo que ele era homem dotado de limitações!
- E posto como exemplo de conduta... – Por alguns segundos olhos se entreolham. – Lembro-me de alguns anos atrás em Ipatinga uma “coisa curiosa” que aconteceu. A Caixa Econômica Federal recebeu em um dia o número de pedidos de seguro desemprego que recebe em um mês. Desconfiada acionou os órgãos competentes e uma das pessoas presas disse estar arrependida... Interessante que se arrependera depois que foi pega... Mostrou-se boa discípula de Davi e verdadeira estudiosa da Bíblia.
Uma pausa para beberem debaixo das flores amarelas, pensarem e Benito continuar:
- Também sou limitado, mas não pretendo matar meus amigos para ficar com suas esposas e me “arrepender” quando ameaçado por quem tem mais poder que eu...
- Benito, não resisti por isso tive que entrar na conversa. – Fala a sempre calada Macieira. – Sabe, muitas pessoas então no caminho errado, mas creem em seus corações que estão no caminho certo até depararem com alguém ou alguma coisa que mostre o contrário. Por exemplo: Você está seguindo estrada para o Sul, mas está louco pra chegar à Bahia, você vai chegar lá? Não até que alguém lhe diga que está na estrada errada então você faz uma conversão rumo à estrada certa.
Um vendedor de sorvete interrompe a conversa para oferecer seus produtos. Com nossa recusa ele vai embora e Macieira continua suas ideias:
- O que acontece é isso, as pessoas só refletem ou mudam se forem confrontadas e, da mesma maneira que você diz ter ouvido coisas horríveis; o que muitos homossexuais têm feito não é diferente e por causa disso não vou colocar todo mundo no mesmo saco e dizer que ninguém presta. Por favor, seja prudente. Não posso generalizar por causa da atitude de alguns, o evangelho não é isso, vida cristã com certeza é diferente do que você descreve.
- Macieira, curiosamente as pessoas cristãs que “juravam” estar no caminho certo sequer conheciam a estrada, ou seja, o plano em discussão na Câmara e digo isso por diversos motivos, como foram discutir o que não estava lá e afirmaram que não leram. Uai! Que discussão pode acontecer sem saber o que está sendo discutido? E no plano sequer aparece a palavra “gênero”, que tanto os atormentava  e queriam proibir o que não estava lá... Quanto ao se deparar com alguém ou coisa, ou seja, o plano que mostra o caminho a reação deles não foi retornar, mas vaiar quando os fatos foram apresentados. Vaiar é a resposta que se dá quando falta argumento e não quer dar o braço a torcer. Preferiram continuar indo para o Sul para chegar à Bahia... Não precisa acreditar em mim, veja os fatos em fontes diversas. Observe que eu disse “cristãos” e não “Cristianismo”. Com certeza não foi por acaso ou acidente que escolhi um termo e não outro. Pode acreditar, eu pensei bem antes de dizer o que falei. Cristianismo é lindo; ou poderia ser se não fosse como é pregado pelas religiões. Em O Crime do Padre Amaro e outros livros, Eça de Queirós representou bem a religiões; ele acusa não só o clero, mas toda a Igreja e o Cristianismo – e aí se vê o radicalismo; não é só o clero, mas a religião – que ela prega como a causa dos sofrimentos e perversidade humana. Saramago também; ele busca entender o ser humano e a sua surpreendente capacidade de produzir o mal. E para isso ele se utiliza de Portugal e do Cristianismo como metáforas da natureza humana e de sua forma de organização social; sempre prontas a produzirem e a reproduzirem a miséria e a opressão. É o que bem se vê em O Evangelho Segundo Jesus Cristo. Mas em diversos textos ele apresenta todo o ódio e violência comum às diversas religiões: o judaísmo, o islamismo, o cristianismo católico ou protestante. A discussão acerca da literatura anticlerical portuguesa nos ajuda a refletir abertamente e menos contaminado sobre o problema religioso de nossos dias.
O ventinho faz cafunés no ipê e nos amigos; inspirando-nos dar uma pausa.

Continua.


Ofereço como presente aos aniversariantes
Sued, Hildete T. Santos, Luana Rodrigues, Maylde Trevenzole, Aldair Pinguim, Michel Ferrabbiamo, Paula Gomes, Luis F. Rezende, Raquel A. Oliveira, Luciana M. Silva, Samuel Costa, Rita de Cássia, Débora Cristina, Cristiane Duarte, Carla Paoliello.

Recomendo a leitura de “Quanto Tempo Você Tem?”, de Clóvis Marcelo; “Perdido de Amor”, de Girvany; e, deste macróbio que vos fala, “¡Denso, Muy Denso!”.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. É, por segunda gestão, Secretário da ASSABI – Associação de Amigos da Biblioteca Pública Zumbi dos Palmares (Ipatinga MG). Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).


Escrito na noite de 15 de julho de 2015; trabalhado um pouco em algumas madrugadas de 2016, mas realmente construído entre 23 e 27 de agosto de 2017.

2 comentários:

Anônimo disse...

Obrigado, muito!!

Anônimo disse...

Comentários
Rubem Leite traz para os seus contos de forma irreverente, porém com muita seriedade e engajamento social, de temas que infelizmente estão em evidência e ascensão na sociedade brasileira e universal: o fundamentalismo religiosos e a formação daquilo que chamarei de um exército de autômatos, a completa imbecilização de futuras gerações e o faz com extrema maestria e de forma coloquial, o que evidencia o seu grande talento.Faz o que deve fazer todo artista comprometido com o seu tempo.