Eu defendo as universidades e institutos federais.
Contra o corte de verbas e a perseguição.
Defendo as Ciências Humanas.
Pensar é um direito de todos.
O que é um morto-vivo? Como ele é?
Ter dois cargos de
português, nessa sociedade cruel, que não respeita o idioma nem o professor.
Opa! Faltou falar que o governo é cruel também.
(Professora
Miriam).
É um médico do pronto
socorro de hospital público que não descansa. É um professor que ensina nos
três turnos.
(Profª.
Ortencia Santos).
Abri o portão e ao fechá-lo vi no registro de água ao
pé do muro uma moitinha de mato com flores roxas. No céu azul do fim da manhã
havia nuvens claras adormecidas. Era um encanto.
Desci a rua para buscar meus netos. À meia distância
da escola tinha uma loira sangrando, queixo pendurado, pálida e a rosnar:
- Petêêê.
A loira sangrenta, pálida, rosnava enquanto andava
torta em minha direção, com os braços à frente pra me pegar.
Amedrontada, peguei na calçada uma pedra que não
sabia o motivo de estar lá e bati na cabeça da mulher, bati mais uma vez, bati
outra e de novo.
Ela caiu no chão, com o crânio perfurado. Virei-me
para fugir a minha casa¹. Mas me recordei dos netos e fui correndo à escola.
Não vi mais nenhum morto andando e mal reparei nas
pessoas.
Peguei as crianças sem cumprimentar quem quer que fosse
e corremos a casa¹.
- Vó, por que estamos correndo?
- Vamos, meninos. Só correm. Vamos. Vamos.
- Que aconteceu, vó?
- Anda, menino.
- Mas vó...
- Parem de perguntar e corram.
À porta da casa¹ uma viatura à minha espera por causa
da mulher que matei. – Mas será que fui eu que a matei?
Tentei explicar que era uma morta-viva, mas me olharam
com... – Zombaria? Aversão? Pena? – ... pela louca que eu estava parecendo.
Subiram a rua três homens cinza, rasgados, sangrando
e rosnando:
- Lula maaal...
Andavam tortos com braços à frente em direção aos
policiais e a mim. Meus netos já estavam dentro de casa, como mandei.
Os policiais mandaram os zumbis pararem. – Por que
será que eles sempre fazem isso nas histórias com monstros? – Aproveitei para
entrar e trancar o portão.
Os policiais morreram. Dois continuaram caídos, mas um
acompanhou pela rua acima os cinzentos que rosnavam:
- Boçalnato... bonziiinho.
Meia hora depois chegou minha filha – mãe dos meus
netos – gritando para entrar. Com ela dentro de casa percebi seu braço ferido.
Preocupada com nossa segurança planejei matá-la. Mas era
minha filha... Será que podemos desfazer-nos de parentes próximos contaminados
pelo vírus cultus ex ignorantia?
Fui ao meu quarto para pensar. Olhei para Nossa
Senhora de Fátima e rezei uma Ave-Maria. Olhei para Santo Antônio e rezei “Meu Santo Antônio, querido amigo, amado
irmão, rogai por mim, sua discípula. Ó meu Santo Antônio, guiai-me a Deus-Pai,
meu criador, assim como levou em suas mãos Jesus Menino. Ó meu Santo Antônio,
guiai-me a Deus-Filho, meu Amor, meu Salvador, assim como levou em suas mãos
Jesus Menino. Ó meu Santo Antônio, guiai-me ao Espírito Santo, meu eu, meu
iluminador, meu Jisso, assim como levou em suas mãos Jesus Menino. Meu Santo
Antônio, querido amigo, amado irmão, rogai por mim, suas discípula”.
Senti ele me dizer “pegue o livro de Rubem Leite para
desfocar seu cérebro da catástrofe”. Assim fiz e sentei na cama e li: “Do alto ao meio da árvore uma pequena pluma
branca baila suave. Do meio ao fim do trajeto desmaia e cai quase pesada. É a
vida, é a morte. Uma só jornada.”. Saí do quarto, já decidida. Curioso...
Como um livro que não fala do que passamos nos diz o que fazer? Ou será que
fala em outras palavras? Bem, o que importa é que já não tinha dúvidas. Sem
poder descartar-me de minha filha a prendi num cômodo.
Uma semana depois da catástrofe, numa tentativa de
acabar com as mutações provocadas pelas indústrias siderúrgicas, de extração e
outras de Minas Gerais. Todas elas se utilizando de novas tecnologias...
Aconteceu intencionalmente o rompimento das barragens de Laranjeiras e de
Forquilha.
As rádios e as tv’s noticiaram ininterruptamente uma
gravação anunciando o “acidente”, mas, ao contrário dos ocorridos em Brumadinho
e Mariana, que foram vicissitudes por falta de manutenções adequadas e, por
isso, verdadeiros crimes ambientais e humanos; não meros acidentes. Esta foi
para acobertar... Outro crime ambiental e humano.
Depois que terminou a gravação, Fátima olhou pela
janela e a lua estava quase dando seu lugar ao sol. Acessou o youtube para ver
o filme “Narradores de Javé”. Quando o sol dourou as nuvens por baixo, as águas
chegaram a casa¹ no momento que uma velhinha dizia: “Us nossos mortos vai viver
debaixo d’água? Num pode!”².
Ofereço como presente aos aniversariantes:
Eder Rodrigues, Valdiene Gomes, Alcides Ramos, Marcelo S.
Marinho e Adinagruber C. Lima.
Recomendo a leitura de:
“The End”, de António MR Martins:
“Socos e Alívios”,
de Girvany de Morais.
LANÇAMENTO: 19 horas do dia 12 de junho de 2019; no Salão
do Livro Vale do Aço; Café Literário; Centro Cultural Usiminas.
A obra é um soco composto por minicontos problematizando
reais temas sociais presentes em nossa sociedade. É também um alívio de sonhos
e desejos de uma vida melhor.
Por me ajudarem, de uma forma ou de outra na definição do
que é um morto vivo e em como eles são, agradeço aos professores:
Wilson Oliveira, Jeane B. Souza, Rose Simões, Mª Eliene
Santos, Rodrigo Gonçalves, Ortencia Santos, Rodrigo Gonçalves, Ana Mª Daio, Dayane
Soares, Silvia Santos e Profª Miriam.
¹ Diquinha de português:
Crase diante da palavra casa.
(Por me ajudarem nessa explicação, agradeço aos
professores e professoras Camila Albuquerque, Nancy Reichardt, Silvia Santos,
Jair Santos, Miriam, Rose Simões e Mariangela Ferreira Busuth Busuth).
Como a palavra ‘casa’ pode significar basicamente duas
coisas (lar e prédio) ela tem uma regra para cada.
1) Com sentido de ‘residência; lar’ não se usa crase porque
se entende que residência é substantivo que não admite artigo porque se
pressupõe já está definida.
Exemplos:
“Voltarei a casa quando mamãe voltar”. = Voltarei a
residência (lar) quando mamãe voltar.
Observe que ‘casa’ funciona como direção do movimento
expresso pelo verbo voltar. E voltar exige a preposição ‘a’ (quem volta, volta a algum lugar: voltarei a). E ‘casa’,
sendo palavra feminina, é precedida pelo artigo ‘a’. Então talvez você me
pergunte: Uai! Por que então não leva
crase? Porque, como foi dito acima, quando ‘casa’ é entendida como ‘residência’
já se imagina algo definido; sem necessidade de alguma coisa que a defina, como
o artigo definido ‘a’. Uai!
No cronto está escrito: ... “e corremos a casa”.
Aqui também se vê ‘casa’ funcionando como direção para onde
se corre. Contudo, o verbo ‘correr’ pede preposição ‘para’ ou ‘de’: corre-se da
rua ou da casa e corre-se para rua ou para casa. Então a oração não recebe
acento grave simplesmente porque a preposição não é ‘a’.
No cronto está escrito: “À porta da casa”. A crase
existe por estar ligada ao substantivo ‘porta’, não a ‘casa’.
Resumindo: Se ‘casa’
significar ‘residência’ não
recebe crase, exceto se:
Mesmo com sentido de residência, se ‘casa’ for especificada
de algum modo, ou seja, tiver adjunto adnominal, há que crasear.
Exemplos:
“A proposta é que voltemos à casa de Tiago”.
No cronto está escrito: “Virei-me para fugir à minha
casa”.
‘Casa’ = residência;
‘de Tiago’ = adjunto adnominal.
‘minha’ = adj. adnominal. Mas tem um facilitador aqui. Por ‘minha’
ser um pronome possessivo feminino torna-se facultativo o uso da crase. Em
outras palavras, se antes de um pronome possessivo feminino tiver o encontro de
pronome ‘a’ e de artigo ‘a’ coloca-se crase somente se quiser.
Veja a explicação do professor Jair Santos: ‘Quando a casa no sentido de lar, residência
não vier especificada, a crase não ocorre. Exemplos: Cheguei a casa. Sem crase.
Cheguei à casa de meus pais. Com crase, pois ‘de meus pais’ é um especificador’.
2) Com sentido de prédio, edifício, construção há
necessidade do acento grave.
Exemplo: “Queira se dirigir à casa ao lado!”.
NILC. A Crase e a Palavra Casa. Mini Gramática. Disponível:
http://www.nilc.icmc.usp.br/nilc/minigramatica/mini/acraseeapalavracasa.htm
. Acesso 09 Mar 2019.
² CAFFÉ, Eliane. Narradores
de Javé (trêiler). Disponível https://www.youtube.com/watch?v=GlaFRraqeOg
. Acesso 09 Mar 2019.
Observe
que interessantes explicações sobre “MORTOS-VIVOS”, dado pela professora Rose
Simões:
Mortos-vivos são seres
míticos e fabulosos. Trata-se de um ser que está morto e permanece morto (sem
funções biológicas que mantenham ou sustentem a vida”, mas age como se ainda
estivesse vivo, podendo mover-se, ter percepção ou mesmo consciência.
O exemplo mais conhecido são
os zumbis. Zumbis são corpos de pessoas ou animais falecidos reanimados por
meios desconhecidos (podendo ser por maldição ou encantamento) e podem ser
reanimados corpos recém-falecidos ou corpos em estado avançado de decomposição.
Eles são mortos que não tiveram descanso e voltam à vida num tipo de transe, ou
que foram subjugados por alguma forma de encantamento. Possuem a pele
apodrecida e usam roupas esfarrapadas, possuem um cheiro forte e horrível.
Normalmente, perdem partes do corpo, como os dentes ou os dedos devido a sua
decomposição. Perambulam sem rumo, geralmente à procura de vingança.
Normalmente os zumbis são apresentados como seres desprovidos de raciocínio e
inteligência, sendo totalmente instintivos ou obedecendo as ordens de quem ou o
quê os tenha reanimado.
Mortos-vivos também podem
ser desprovidos de corpo ou qualquer forma física, como os fantasmas, já se
tratando de manifestação da alma ou espírito de um ente falecido e não sendo
feito de matéria, mas da própria essência do pensamento deste, pertencendo
então a planos de existência extrafísicos (não acessíveis ao plano material),
mas podendo tornar-se perceptíveis de maneira objetiva (manifestando-se visível
e/ou audível ou movendo objetos físicos) e, por vezes, tangível às pessoas
vivas (adquirindo temporariamente propriedades físicas semelhantes a da
matéria, fenômeno conhecido como materialização) ou manifestar-se de maneira
subjetiva ao aparecerem em sonhos a uma pessoa ou como uma ilusão subjetiva.
Segundo o espiritismo, essa
noção de espírito se refere aos espíritos desencarnados (aqueles que já não
possuem um corpo) e a manifestação perceptível de um espírito desencarnado é
chamada de perispírito, que, segundo adeptos dessa religião, se utilizam de uma
substância fluídica chamada ectoplasma para se manifestarem.
Em muitas lendas os
fantasmas são retratados em estado de transe, confusos ou sendo guiados por
traumas ou desejo de vingança, mas ainda podendo manifestar-se como seres
conscientes ou apenas como visões e impressões gravadas no local da morte.
Outros exemplos conhecidos
são os vampiros e as múmias. Vampiros e outros seres que podem ter surgido de
pessoas que morreram são tidos como mortos, mas são dotados de consciência e
raciocínio de forma equivalente a pessoas vivas e por isso podem continuar
controlando seus próprios corpos sem a necessidade de funções biológicas para
sustenta-los, porém não são dotados de alma. São associados a forças demoníacas
por se sustentarem por maldições, serem desalmados e manterem sua meia vida
alimentando-se da essência dos vivos.
Divirta-se
com o agradável jogo compartilhado pela professora Silvia Santos:
Morto/vivo remete a uma
brincadeira homônima de infância.
Morto-vivo. Brincadeiras de
crianças. Brincadeiras da infância que trabalham a coordenação e agilidade.
As brincadeiras da nossa
infância são inesquecíveis. No Brasil, mesmo com o aparecimento das novas
tecnologias e o crescente aumento de tablets e smartphones, as crianças
continuam curtindo algumas brincadeiras que passam de geração em geração.
Uma dessas brincadeiras é
chamada “morto-vivo”. E crianças acima de cinco anos já podem brincar. Essa
brincadeira estimula a atenção, coordenação motora, agilidade, condicionamento
físico, concentração e a expressão corporal. A recomendação é que participe
pelo menos quatro crianças. A facilidade é que pode ser realizada em
condomínios, dentro ou fora de casa, em parques ou praias.
Como brincar de
“morto-vivo”:
Uma das crianças é escolhida
como a líder e ficará à frente do grupo. É ela quem vai dar o comando a ser
seguido pelos jogadores.
Quando o líder disser
“morto” todos terão que agachar. Quando o líder disser “vivo” todos terão que
dar um pulinho e ficar em pé.
Quem não cumprir ou errar o
comando é eliminado, até ficar somente um participante, que será o vencedor e o
próximo líder.
A velocidade em que os
comandos de “vivo” ou “morto” são dados, vai definir o grau de dificuldade da brincadeira,
assim como a sequência, que ficará por conta da criança líder, com o intuito de
confundir e exigir mais atenção dos participantes.
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo
domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura,
Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em
“Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”,
“Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor
dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”,
“Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua
Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do
Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões,
Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Registro e flores – foto do autor na manhã de 10-3-19;
Nuvens douradas por baixo – foto do autor na manhã de
10-3-19;
Rubem de chapéu – foto de Vinícius Siman.
Escrito na manhã de 09 de março de 2019 partindo de dois
sonhos tidos por minha irmã (Mª Fátima W. Leite M). Trabalhado entre os dias 28
de maio e 02 de junho do mesmo ano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário