Em sua mão superior direita, Shiva segura
um tambor de onde sai o som primordial da criação. Ele fez, faz e refaz o
mundo, as pessoas e tudo que há.
De manhã vi o sol atravessando vermelho,
amarelo e branco as nuvens cinzas. Como será o resto do dia?
Um cachorro de tamanho médio, focinho e
patas caramelo e o resto é preto, espera na rua, em frente ao posto de saúde,
seu dono sair do consultório. Como lhe será esse dia?
Em sua superior mão esquerda, Shiva carrega
o fogo que destrói, mas também ilumina, aquece, coze.
Olho outra vez o céu. O sol continua a
atravessar amarelo e branco as nuvens em posições e formas diferentes.
O bailar das duas mãos equilibra o
dinamismo, harmonizando a vida. Fazer, desfazer, refazer sempre a evolução. E sua
face calma elimina a confusão ao mostrar-nos o transcender da fusão entre esses
polos.
O homem sai da médica e o cão o segue sem
lamentar a falta de atenção do dono. Ele cuida sem se preocupar com o não
retorno frequente de afeto.
Como um bobo – não com um tolo, um imbecil –
mas sem buscar vencer com úlcera (no dizer de Clarice Lispector) ele faz. Será que
sou bobo como o cachorro ou manipulável e tolo?
Em casa o homem toma seus remédios para
continuar a vida, venha como for.
A segunda mão de Shiva diz em seu gesto:
não tema, tenha coragem. De sua mão e seus gestos compreendo: Vá e Vença! A
divina mão expõe: mantenha-te! Protejo e dou paz.
Do homem passo a uma mulher. Ela se sujeita
ao pai de sua filha. Ele, casado com outra, não paga pensão, mas dá dinheiro
depois de algumas horas na cama.
Mulher! Não é obrigada, mas não sabe disso
e tem medo. Tem o ensinamento entranhado “esse é o papel da mulher”.
Ela se consola na manhã seguinte ao comprar
um pouco mais de comida. Seu salário de doméstica da madame do Timirim paga o
aluguel e contas, mas não dá conta de uma comida saudável e farta.
E a última mão, a esquerda? Essa aponta o
pé erguido. Ah, esse pé e essa mão... Em verdade: ah, esse gesto! É o que nos
liberta da ignorância e do apego.
Shiva baila sobre a Ignorância, o
verdadeiro demônio.
Música, fogo, coragem e conhecimento é a Dança
das partículas atômicas sempre a interagir emitindo e reabsorvendo tais
partículas no orgânico e no inorgânico que no dizer de Lavoisier “nada se cria,
nada se perde. Tudo se transforma”.
A mulher vê na casa da patroa o livro
Quarto de Despejo no quarto de despejo da madame. Essa “coincidência” desperta sua curiosidade.
A curiosidade vira a música do conhecimento
que se faz luz e coragem. Assim se movimenta para dançar a vida.
Hoje encerra o outubro rosa e amanhã começa o novembro azul. Ah! Se tivéssemos governos. Setembro amarelo, outubro rosa, novembro azul. Preciso de psiquiatra e no CAPS não há vaga para esse ano nem devo esperar para o ano que vem. E consulta com psicóloga só daqui a três semanas após o dia da procura. Triste! Nossos governos não ajudam.
Difícil e fácil viver.
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog
literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e
Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do
Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua
Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos
científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e
Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola,
Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e
“Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro
Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens – fotos do autor.
Manuscrito e trabalhado entre 04 de outubro e 31 de outubro de 2021.
Iniciado no dia de São Francisco de Assis, falando de Shiva e encerrando no dia
do Saci.
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