terça-feira, 6 de outubro de 2009

EUTRO

Minhas impressões durante a oficina “Varal de Poesia”,

ministrada por Sandra Bittencourt nos dias 29-9 a 02-10 de 2009

no Centro Cultural Usiminas durante o 4º Salão do Livro do Vale do Aço.

O que põe uma coisa no jeito? É a palavra.

Muito apreendi e quase integralmente foram coisas introspectivas, como os olhares, as lágrimas, as palavras, os sorrisos dos meus colegas participantes. E os meus próprios sorrisos, lágrimas e olhares? Ah! Esses estão em meu coração. E o meu coração se faz visível em minhas escritas.

Pegue um objeto. Vamos, por favor, pegue. Qualquer um. Jogue-o no chão. Pegue-o de novo. Abra a mão. O que esse último ato lhe diz? Eu, você e todos os outros aprendemos através dos sentidos e para tanto é preciso se abrir para si, para o novo, para o mundo. Eu e você. O outro em mim. Eu no outro. Eutro. Jogando fora o problema pode-se pegá-lo de volta. Se abrir a mão dá-se novo significado.


Nasci e ninguém fez uma amostra de sons nem objetos. Nasci e ninguém me fez uma amostra de sons nem objetos. Hoje eu mesmo faço minhas definições, guardo-as um tempo e solto.

Segundo nos foi contado por Sandra algumas tribos indígenas do Brasil e mais ainda em muitas tribos africanas quando nasce uma criança cada membro da tribo sai pela floresta ou pela tribo buscando sons e objetos para apresentar ao recém nascido. O som, imagem ou objeto que atiçar o bebê será sua matriz de vida. Não deixando nunca se perder a matriz para que toda vez que se fizer necessário à criança/jovem/homem ou mulher/idoso tem onde se refugiar por um tempo, onde se fortalecer para resistir, persistir.

Quem sou eu? Da palavra Rubem descobri que sou possessivo, individual, imperativo, acusatório, positivo e tanto mais. Eu, meu, me, um, réu, reme, bem, em, ué, buuum, bumbum, breu.

O que atrapalha uma coisa? É a palavra.


Acabou

Se não me escuta não vou te chamar

Do carnaval se desbota para 4ª feira de cinza

Acabou

Minha dor criança

Minha dor humana

Acabou

Nunca bateram à minha porta

Recomeço então o vôo da borboleta

Acabou

Voa minha alma

Oferecendo a si.

Encontrei num dia de semana

Numa manhã de sol

Uma fada vestida de cor

Com um pandeiro mágico

Ela se despiu

E me deu de si

Numa música

Num jogo de palavras

Depois se foi

Tocando seu pandeiro mágico

Deixando-me seu vestido

Sob as folhas de uma árvore

Que uma vez soltas

Voam e não voltam

Ó deficientes

Com aleijões no amor

Na audição, na visão

Não digo os surdos ou cegos

Mas os que não sabem amar

E não sabem serem amados,

Ouvir, ver, tocar, aspirar, experimentar

Acorde!

A cor é você quem dá.


Encerro nossa conversa com o ensinamento de Guimarães Rosa “Silêncio é a pessoa grande demais”.

O que mantém as coisas no seu melhor estado? É a palavra.

Palavrapalavrapalavrapalavrapalavrapalavrapalavrapalavrapalavrapalavrapalavra.

Um comentário:

Adriane disse...

Que lindo!

Revivi a oficina agora...
Parabéns, soube condensar um texto, quatro dias de pura magia!

Um abraço,

Adriane