domingo, 6 de agosto de 2017

BOM JARDIM – SILÊNCIOS SEGUNDOS

Foto do autor.

Mientras saborea cerveza con soledad, una lluvia de hojas y flores del árbol atrás del chaval lo baña y él no percibe.

Leitura do cronto pelo autor no canal aRTISTA aRTEIRO, conforme endereço abaixo:

“... de olhos admirados como se neles pairasse o espanto de um espetáculo visto e esquecido”¹. Foi assim que vi Jonas. Um sujeito de barba castanha, mas com cabelos e olhos pretos. Camiseta e tênis cinzentos, bermuda vermelha. E, sozinho, tomando cerveja na praça cheia de gente enquanto espera o Festival Roda Viva que retornou após longos anos de vazio.
Jonas desconhece a história do bairro. Não sabe que já era habitado na época do Império. Que depois a grande fábrica comprou o terreno e não pagou. E mais tarde um prefeito a comprou e igualmente fez calote. Ignora isso e mais porque é de fora; não um dos moradores apaixonados do bairro Bom Jardim.
Enquanto saboreia cerveja com solidão, uma chuva de folhas e flores da árvore atrás do rapaz o banha e ele não percebe. Atento admira quem ou o que está em seus pensamentos e não vê o que nem quem passa a sua frente. A música, os músicos, as barracas, os vizinhos, quem o olha, quem o ignora.
Nada admira. Nada vê.
Ninguém.
Olha ao redor, bebe mais um pouco, lê o que aparece no celular sem tirar o que ocupa sua cabeça.
“Que esse desespero é moda em setenta e três”². – Paramos, eu e Vinícius, para ouvir a música que voa nos ares. – “Tem gente estranha...”. Ouço, mas ele não continua. Penso em perguntar. Porém o barulho do trânsito nos cala; então olhamos para nossas frentes, não para o outro.
- Tem gente que... Não sei...
Pergunto ou deixo passar?
- Acho que vou para o Parque das Samambaias encontrar-me com umas pessoas...
- Não acho exemplo de beleza, mas penso que faz bem...
- O quê?
- Sexo, claro! – Respondo após três segundos de silêncio.
- Mas será que faz bem?
- Não sei se, digamos, para saúde, mas para o gozo acho que faz.
- Estou falando de mim.
- Estou falando de nós.
- Nós? Não nos vejo em sua conversa fiada.
- É disso que estou falando. Es como comer castañas hablar con un ser que no conocés.
- O quê?
- Nada. Mas mudei de ideia. O Festival parece que vai começar na hora programada.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Andriely K. Sophia, Luciana Araújo, Juninho Zeff, Alyda Sauer, Pricilla P. Leite, Raiza Priento, Vera Tufik, Dalvina S. Aredes, Gui Givisiez, Marjorie Marj, Teuler Guimarães, Gustavo Nolasco, Raul Gonçalves e Catarina Angela.

Recomendo a leitura de “Minha Janela”, deste macróbio que vos fala; “Decoro”, de Xúnior Matraga; e “Beijo de Despedida”, de Girvany.

¹ TABUCCHI, Antonio. Mulher de Porto Pim. Lisboa: Difil Hesperides. Sonho em forma de carta.

² BELCHIOR. A Palo Seco:

Maiores informações sobre o bairro Bom Jardim:

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. É, por segunda gestão, Secretário da ASSABI – Associação de Amigos da Biblioteca Pública Zumbi dos Palmares (Ipatinga MG). Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).


Manuscritos escritos em inícios de algumas tarde de outubro de 2015 no Feirarte; o cronto foi trabalhado nos dias 18 e 25 de dezembro de 2016 na Praça do Bom Jardim. E concluído em minha casa, no Centro, entre os dias 30 de julho e 06 de agosto de 2017.

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