domingo, 29 de agosto de 2021

INSER

  

El placer humano es el mal

Su semilla es el mal

Así, toda historia lleva siempre el mal.

Es siembra del mal.

 

Morte próxima

Plantando jardim

Vida vai

Vida vem

Mim.

 

Hoje há a crença

Há o que fazer

Desatento ou atento

Tenta

Dorme, acorda

Há o que fazer

É a crença.

 

A satisfação humana é o mal.

Sua semente é o mal

Assim, toda história sempre tem o mal.

Semeia o mal.

 

Às vésperas da morte

Plantava flores

Vida esvaía

Vida florescia.

 

 

Pensei em oferecer aos aniversariantes que gosto. Mas sei que não gostam do que escrevo. Em silêncio comemorarei seus aniversários. Não os esquecerei, mas guardar-me-ei.

 

Escrito e trabalhado entre os dias 25 de junho e 29 de agosto de 2021.

domingo, 22 de agosto de 2021

UXI

OITI, IPÊ, SIBIPIRUNA, PÉ DE VACA

 

 

CASA DOS ARTISTAS MUCHILEIROS

Novo endereço:

Rua Uxi, 144 Limoeiro Novo

35181-415 Timóteo MG

(Para vir de ônibus:

Fabriciano: para Macuco

Timóteo: para Macuco ou para Recanto Verde). 

GUARDA-NOTURNO

(De Girvany de Morais)


A noite é bela,

mas tenho que guardar almas,

as almas são minha missão,

eu preciso dormi-las

no seu justo descanso.

Eu amo a noite que me dá

o sagrado pão,

que me dá a lua e as estrelas,

então tenho que guardá-las,

para que ladrões

não as roubem.

 

Hoje um uxi percebeu que há tristeza boa.

Sempre soube que a tristeza pode ser bonita. Por exemplo, a pintura de um casebre bem pobre ou uma música. Ou a vista da rua onde moro. Pensar no próximo além de si são, entre outras coisas, belas tristezas. 

Para muitos sou uma pessoa, para poucos sou pai, para os demais sou mãe. Mas a tristeza que descobri hoje é que que a ida de meus filhos  não biológicos, mas de verdade – me faz chorar.  Em todos os casos – pássaros filhos e outros pássaros – eles voam do ninho como pássaros que são e árvore que sou.

Estive oiti com o ninho mais duradouro em mim, mas mais de um ano da segunda partida o casal foi morar na cidade vizinha. Amo-os muito. Outros pássaros pousaram e se foram no oiti,

Estive ipê com três Uruguaios. Um inteligente, “na dele”, solidário; outro inteligente, brincalhão, bom coração. E a terceira inteligente e boa pessoa; meu sentimento por ela é de tio. Outros pássaros pousaram e se foram no ipê.

Estive sibipiruna. O segundo a ir-se foi um argentino. Muito gente boa. Sinto muitíssima saudade. Outros pássaros pousaram e se foram na sibipiruna. 

Estou pé de vaca. Hoje tem um ninho com os progenitores e dois filhotes. No parto do caçulinha o pai não pode participar porque perdera os documentos. E eu tive – não como sofrimento, mas como dádiva – participar de todo o trabalho de parto. Fui o primeiro a segurar o bebê no colo e cortei o cordão umbilical. Do casal sou pai real, não biológico, dos filhotes sou um avô verdadeiro. E um dia possivelmente voarão do ninho. Nesse meio tempo outros pássaros pousaram e se foram. Outras mais virão e irão no pé de vaca.

Grandes angústias. E a consternação, nesse caso, é bela.

Árvores ficam; sou uxi. Pássaros voam; abandonam o ninho. E os uxis aguardam numa triste beleza.

Meus filhos, não de sangue, mas de verdade, cometem tantos erros, mas são gente. Não digo homens, mas pessoas. pássaros! É a humanidade sempre está ou deveria estar a progredir. Eles avançam, voam, revoam, avançam.

Seus voos me doem, mas ser pai é libertar os filhos.

Ser árvore é ora sustentar ninhos encantando-se com os alvoroços e ora aguardá-los.

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Marcia Regina, Gonzalo Schnieper e Ronal Faria.

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens – fotos do autor.

 

Escrito na tarde de 13 de junho de 2021. Trabalhado no mesmo ano, mas entre 15 e 22 de agosto.

domingo, 15 de agosto de 2021

JÁ NÃO SOU MAIS JOVEM PARA ACHAR QUE SEI TUDO DE TUDO

 

Terceiro domingo na casa em Timóteo. Bairro Limoeiro.

 

“Eu já vi crianças tendo de fazer todo tipo de trabalho doméstico”. Os Auditores Fiscais do trabalho veem uma realidade que poucos conseguem ver. Não feche os olhos para isso e apoie nosso trabalho pela erradicação da exploração de crianças e adolescentes. (Sinait – Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho). 

- Comecei a trabalhar com sete anos. – Diz SCS. – Até hoje, com setenta e dois anos, trabalho. Defendo meu pão com honra e dignidade

- Parabéns, dona SCS. – Responde Benito. – Trabalhar é bom e gosto. E fico imaginando como seria aos sete anos brincar, ler, estudar. E aos setenta viajar, divertir, novas coisas conhecer. Neste meio tempo, quando jovem e adulto, trabalhar, ler, trabalhar, viajar, trabalhar, estudar, trabalhar, divertir, trabalhar.

- Quando as crianças aprendia trabalhar, tornavam se adultos responsável. – Contesta SM vendo a olhada que recebi de SCS. – Viravam pessoas descente. Agora com essas lei que existe tão se tornando tudo coisas que não vale a pena. A criança que aprende a trabalhar não tem tempo para aprender o que não presta.

- Verdade, SM! – Benito responde. – Criança que trabalha não tem tempo de aprender. Por isso tem tantas igrejas e poucas bibliotecas nos bairros e nas cidades. Ajudar nos serviços da casa, fazer pequenos serviços não é problema e o ECA não só não condena como aprova. Ter que trabalhar pesado quatro, seis, oito, doze horas por dia se foi o seu passado é lamentável, triste. Pena a senhora desejar o mesmo para os outros.

Do salão da igreja algumas pessoas saíam discretamente da palestra. A discussão não interessa; somente a concordância satisfaz...

- Eu tive uma infância feliz. – SM retruca. – Na minha casa somos onze irmãos e aprendemos desde cedo a trabalhar. Viemos de uma família humilde. Meus pais nos ensinou a trabalhar e hoje temos orgulho de tudo que aprendemos.

- Que bom que sua felicidade não lhe impôs o desejo de ler mais, divertir-se mais, estudar mais, posicionar-se no lugar do outro. – Benito intervém outra vez. – Já eu não sou feliz e por isso leio muito, estudo muito, calço o sapato do outro...

- Eu comecei com doze anos e hoje, com cinquenta e sete, estou aposentado e ainda na ativa. – O, até então calado, AB entra na conversa. – Então não me venham falar que trabalho mata. O que mata é o inescrupuloso querer fazer a criança trabalhar acima da sua capacidade física e mental. Fora isso pode sim, mais com todas essas leis erradas, estamos criando uma geração em que tudo está errado.

- AB, sim, verdade. O senhor trabalhou de oito a dez horas por dia nos trabalhos mais pesados e insalubres e ainda estudou bastante... Mas por que perdeu tempo estudando? As quatro horas na escola poderia ser utilizado trabalhando; e assim o senhor teria entre doze e dezesseis horas de utilidade. Mais o tempo que ficou estudando em casa poderia ser utilizado para o benefício da empresa. Então umas dezesseis a vinte horas de valor que o senhor teria.

Benito, o mordaz, volta a falar. E o número de participantes diminui.

- Quando a educação for para todos o espaço político será para poucos. – Pega o livro “Feminismo em Comum: para todas, todes e todos”. – Marcia Tiburi diz “Não há nada mais importante na vida do que aprender a pensar, e não se aprende a pensar sem aprender a perguntar pelas condições e pelos contextos nos quais estão situados os nossos objetos de análise e de interesse”. Não é bonito uma criança vender latinhas para fazer a festa de seu aniversário e não é lição de vida uma senhora de mais de setenta anos entregar lanches para comprar os remédios do marido.

- Condições? Você vem falar de condições!?! As condição é Deus acima de tudo e Brasil acima de todos.

- Não há Deus acima de tudo nem pátria acima de todos se o povo estiver abaixo do nada. Isso é o país em estado de putrefação.

O salão fica somente com Benito e o padre.

- Triste eles não quererem ouvir...

- Tive sorte. Pouco tempo atrás um professor, colega meu, recebeu pedradas por querer ensinar a pensar.

Ao sair da igreja olha para ela e reza o que está na faixa: São Sebastião, homem de fé, protetor do povo. Rogai por nós.

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Denise Maria, Sandro P. Dias, Rômulo Gomes, Marilda Lyra, John Alexander, Hugo Victor, Magali Ramos e Carlos Glauss.

 

TIBURI, Marcia. Feminismo em Comum: para todas, todes e todos. 15ª ed. Rio de Janeiro: Rosas do Tempo, 2021. P. 10.

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens – fotos do autor.


Escrito na madrugada de 12 de junho e trabalhado na noite de 14 de agosto para ser publicado na manhã seguinte. Tudo em 2021.

domingo, 8 de agosto de 2021

EDUCAR PARA VOAR


Domingo passado não foi publicado texto porque mudei de residência e estava sem internete.

 

Todos os professores da Rede Municipal foram obrigados a deixar de aula para assistir a palestra de Ingrid Vilela. Foi horrível, horrível, horrível. Uma mistura de pregação religiosa com autoajuda e grande desperdício de dinheiro público.

 

- Oi! Eu disse que não iria a palestra, mas o diretor ficou falando que a palestrante é excelente. O que vocês acham? Perdi por não ter ido?

- Professora, a mulher não falou nadica de nada sobre educação. Ficou falando que, com exceção dela, todos os seus familiares têm alta comorbidade. Mas ela teve uma série de desgraceiras doenças únicas ou quase únicas no mundo e sobreviveu a todas.

- Entendi. Ela saiu do objetivo, né?

- Não, ela não saiu do objetivo. Ela não entrou no objetivo. Não falou absolutamente nada sobre educação. Se autopromoveu o tempo todo: como ela se cura; como ela tem inteligência única no mundo; e coisas sem sentido como de alguém que queria suicidar-se pulando de uma janela que ficava sobre o carro dela então orou a Deus para o carro transformar-se num pula-pula ou cama elástica e a pessoa batesse no carro e “pluim”, quicasse. Não entendi se a prece foi atendida ou não. – Risos. – Só sei que nada na palestra era ligado à educação. Então a mulher não fugiu do assunto; ela não entrou no assunto.

- Para mim a palestra teve seus valores. Coisas que vou levar pela vida. Outros pontos penso que poderia ter sido melhor abordados. Mas no geral foi válida.

- Que valores levará contigo? Aquele que ela diz que sente prazer quando ouve os outros gritando desesperadamente de dor? “Fico feliz e alegre quando alguém está sofrendo muito com dor; quando frita de dor. Porque é sinal que a pessoa ainda tem fôlego e está viva para gritar”. E a dita cuja ainda usou como exemplo o sofrimento de pessoas famintas.

- Você não entendeu. A doutora Ingrid falou que fica feliz porque é sinal que a pessoa está viva.

- Tá. Então a pessoa está desesperada de tanto sofrimento e fica contente em manter a pessoa nessa situação insuportável. É isso? Pois segundo o cristianismo o lugar onde as pessoas ficam indefina ou infinitamente em sofrimento insuportável é chamado de inferno.

- E a educação para voar? Só vi uma pomba avoada. – Intervém outro colega. Aproveito este momento assim como a participação de outro colega para olhar pela janela a chuvinha miúda no morro à frente. 

- Mal mal uma galinha grasnante. Aquilo não voa não. Só pula atrapalhada. Não desejo essa palestra para nenhum ser humano. Exceto para Boçalnato, mas Boçalnato não é gente então não tem problema.

- Ô, pessoal! Pega leve...

- Pegar leve?!? – Retomo a palavra. – A sujeita disse: “A pandemia não matou ninguém. Só revelou quem tinha debilidades...” Além de ter sido um negacionismo, uma culpabilização das vítimas. Foi também uma forma de inocentar essa política de extermínio dos governos Federal, Estaduais e Municipais.

- E quem era o merda que ficava dizendo “amém” pra tudo que a pastora, digo, pa-les-tran-te falava?

- Não faço ideia. Mas infelizmente é uma prova que têm professores que não são mais referências de coisa boa, de inteligência, coerência...

- E a palestrante cobra caro e tem gente disposta a pagar para ouvir absurdos e ridiculezas.

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Siomar Queiroga, Vera Tufik, Teuler Guimarães, Thieres Ramos e Derick Ândres.

 

Hoje (08/8), 20h lançamento “onláini” de Socos e Alívios, de Girvany de Morais:

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Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagem – foto do autor.

 

Escrito entre os dias 06 e 08 de agosto de 2021.