segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

VOZES

Obax anafisa

e que seu Ano Novo seja mais cultural que comercial.


Meus pais e eu olhamos uma casa velha em uma cidade... Histórica? Em se tratando de Minas, é provável que sim. É um terreno grande, com um casarão todo caindo aos pedaços. Nenhuma porta ou janela nos lugares. Exceto onde a velhinha que mora lá, empregada dos donos, dorme. E nos observa. Devia ter sido lindo, mas agora... só desmanchando para fazer outra. Gostaria de ficar com a casa. Não sabemos se vale a pena então voltamos para Ipatinga.

Nãnãni pum finfim toque toque toque coque. Nãnãni nãnã nãnãni. – É como meu cérebro entende a música árabe instrumental no Tuffik Cozinha Árabe, no bairro Novo Cruzeiro. Vou assistir uma apresentação de dança do ventre com as artistas Meyre Amaral, Karla Cristina, Cleide Ribeiro, Melissa Rodrigues, Fernanda Cabral, Débora Santiago e Diana Priscila. Espero lendo O Outro Gume da Faca, de Fernando Sabino. Pedi um quibe de frango e, porque nunca experimentei, outro de carneiro. Depois de alguns minutos Vera me entrega dizendo uma prece árabe ao servir refeição “Que este alimento te faça tão bem quantas são as sementes da romã”. Explicou-me ela que alimento na mesa é fundamental para tal cultura. São lindas, tanto a cultura como a prece. Assisto as dançarinas com uma leve sensação e um forte sentimento. Leve ereção e forte prazer artístico. Então aprecio os quibes, o livro, a dança e depois vou para casa.

Olhando bem nos seus olhos – Os seus, de você que está aí me lendo. – percebo sua curiosidade se arrefecer. Afinal, onde está o conflito que afirmam não poder faltar? Como poderei atraí-la de novo?

Durmo. Acordo. Saio.

Atravesso o camelódromo, passo pela Praça Primeiro de Maio e um mendigo louco que não lembro de já ter visto alguma vez me chama. Ignoro. Não quero papo com doido que deve, ainda, estar fedendo. O maluco grita meu nome acompanhado por incontáveis desaforos. Ignoro. Não quero nem saber como ele me conhece. Fui onde deveria e de novo atravesso o camelódromo. O cara ainda está lá, xingando-me. Finjo não vê e o homem continua lançando seus impropérios. Penso então que isso só acabará se eu for até sujeito. Estanco, dou meio volta e ficamos cara a cara.

Pele achocolatada bonita apesar da falta de banho, parece ter uns trinta anos, baixo, quase anão, cabelos rastafári imundos, cabeça comprida, estreita. Veste jaqueta dins sobre camisa verde musgo, calça dins, sandálias sobre pés imundos e perebentos. Ele realmente fede. Meu rosto está sério, mas não bravo. Olho bem nos seus olhos e ele levanta a cabeça segurando os meus e sorri. Belo sorriso.

E se vai deixando-me ao por do sol pensando “Comprando a casa para onde irá a velhinha que nos olhava apreensiva?”. E esse mendigo-pessoa que quer reconhecimento... Quem é ele e o que lhe sucederá?

Escrevo e minha voz não se faz ouvir. Ou fará!? Falo, falo, falo e ninguém me ouve. O mundo só pensa, de um modo ou de outro, em falo. Seja o seu poder representado pela moeda ou literalmente. O que eu quero? Natais não comerciais, mas culturais... Um Ano com tudo de novo: sabedoria, amor, vida, provisão, alegria e harmonia. Não apenas bebelança, comilança, festança enquanto o outro... dança. Se ainda fosse arte-dança. Mas esta dança está mais para matança. O que eu quero e espero é Natal e Ano Novo de sabedoria, amor, vida, provisão, alegria e harmonia.


Escrito entre a madrugada de 23 e 26 de dezembro de 2011.

Ofereço como presente de aniversário à

Éderson Caldas, Sérgio Poeta, Ana P. Amorim, Prosperidade do Brasil (Seicho-No-Ie), Seicho-No-Ie Español, Jorge Machado, Joaquim T. Bill, Nathy Costa, Adriano A. Duarte, Francisco J.R. Cabal, Lucas Oliveira e Gilberto Weber Neto.

Cada uma das pessoas acima é muitíssimo querida por mim.

Mas ofereço o cronto ainda mais especialmente para minha mãe que aniversaria dia 26.

Felicidades Maria Ettiene Weber Leite.

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Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.
O cronto é minhas flores para você

e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

MANHÃ DE SÁBADO

Obax anafisa.


“Orientar o olhar para as pedagogias diferenciadas ou cooperativas significa compreender que elas só têm força se provocarem, no espírito do aluno e no dos professores uma outra construção de sentido. O sentido do trabalho, dos saberes, das situações e das aprendizagens escolares é algo construído com base num conjunto de valores e representações e numa situação de troca de interações”¹.

“a prática real da sala de aula nos coloca diante de um cenário no qual ritmos de aprendizagem são diferentes, experiências de vida são distintas, perfis cognitivos e conhecimentos são diversos”¹.


Sábado de manhã, muito de manhã, uma vaquinha, minha vaquinha branca com manchas pretas anda pelas ruas do Centro de Ipatinga. Um estouro de carro a assusta e ela entra na empresa Linnet, na frente de um trator que, surpreso, a persegue. Entre risos consigo salvá-la.
Mas
O humano é um ser vário. Cada qual com sua posição no mundo, que lhe permite ver de um modo único. Cada qual com sua história pessoal que lhe permite contar estórias pessoais. Cada qual com uma educação\formação diferenciada moldando-lhe de modo exclusivo. Portanto, o modo de ensinar não pode ser único para todos. Por mais parecidas que sejam duas pessoas sempre há distinções entre elas.
Assim, eu, enquanto artista-educador, entendo que o aluno (seja da educação formal ou alguma outra) não pode assistir aulas sem modificar algo em si e muito menos possa encerrar o ano letivo do mesmo modo que começou. E minha referência a mudar não é apenas conhecer melhor a gramática, ortografia ou técnicas de redação (no caso do português, por exemplo). É desenvolver-se enquanto ser em paralelo aos conhecimentos da matéria\disciplina. Assim eu faço. E entre minhas formas de trabalhar (dou aulas de iniciação teatral para adolescentes) ministro jogos e exercícios que desenvolvem os sentidos, as emoções, as sensações; que proporcionam a reflexão e discussão. O que chamo de jogo é um diálogo com o outro e exercício é uma conversa consigo mesmo; já as sensações são as percepções mais físicas, e emoções são as percepções sentimentais.
Por que os “monólogos corporais” (exercícios)? Porque o auto conhecimento e a auto aceitação são a chave para uma vida mais feliz, mais construtiva. Quem não se conhece nem se aceita não se abrirá para o outro, para o diferente. Por que os “diálogos corporais” (jogos)? Porque é a saída da teoria da convivência ou da aceitação do diferente (de como é outro) para a prática lúdica das mesmas.
Mesmo dando aulas de iniciação teatral nada me impede de trabalhar outras formas de perceber o mundo e de como se expressar. Por exemplo, ensinei haicai e colhi resultados agradáveis. Primeiro, ensinei as técnicas; depois fiz com que olhassem a paisagem (fomos para um pequeno parque próximo de onde dou as aulas) e se deixassem levar pelas emoções\sensações; por fim criassem o haicai. Abaixo, compartilho uma mostra do que criaram.

Sombra é vazia
Corrente para esconder
Vive no vazio
(Luan Luna).

Lago grande largo
Sensação de liberdade
Faz-me refletir.
(Mariana Oliveira).

Encerro nosso diálogo afirmando que toda disciplina escolar não deve ser vista em separado das demais. É preciso que o professor reconheça e aceite isso para poder ensinar os alunos como conectar uma informação com outra. Vejo que nossos jovens não sabem fazer isso. E nem são preparados a pensar... Apenas guardam, para depois perder, informações vazias e inúteis. Exemplo: quando ministrei aula sobre haicai nenhum dos adolescentes tinha a mais vaga lembrança do que eram sílabas tônicas e átonas. Foi preciso um esforço extra para entenderem o que eram e como usar tal informação. Ao perceber que eram sílabas “fortes” e “fracas” conseguiram transformá-las em informações ricas de possibilidades e úteis para uma criação artística. Também é preciso que os alunos não esperem que o professor os ensine, que o mundo os salve. É preciso que sejam ativos, que decidam fazer a diferença. Que vão e vençam!
Entre risos consigo salvar a vaquinha e a levo para casa. Na verdade, um apartamento. Subimos a escada. Vou para meu quarto e ela para a área transformada em curral. E você pergunta o que é isso? Que texto sem sentido é esse, com vaca e arte-educação? Desculpe. É como estou depois de um semestre na faculdade. Confuso e doido.


Escrito entre 13 e 19 de dezembro de 2011.

Ofereço como presente de aniversário à
Luciana A. Dalenda, Mayron Engel, Alison W. Martins, Dulce Araújo, Vander L. Devidé, Izauro T. Amorim.

Ofereço também à equipe sub-17 do Clube Atlético Mineiro que conquistou dia 17 de dezembro de 2011 o tricampeonato “Future Chanpions”.

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Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.
O cronto e a ilustração são nossas flores para você
e fazemos votos de que encontre neles pedras preciosas.

¹ ANDRÉ, Marli (Org.) – Pedagogia das Diferenças na Sala de Aula – Campinas, SP: Papirus, 1999 – (série prática pedagógica) – capítulo: O Projeto Pedagógico e as Práticas Diferenciadas: o sentido da troca e da colaboração, da pedagoga Laurizete F. Passos, páginas 108 e 110.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

AULA DE LÍNGUA

Obax anafisa.


Língua é a comunicação humana, que a sociedade criou, assim é impossível estudar a sociedade sem estudar a língua e vice-versa. Ela, por ser uma construção social, é também desconstrução de si mesma, o que a torna impossível de ser catalogada integralmente em um livro. E, ressalto, o que modifica a língua é justamente a modificação humana constante.

O texto é um dos meios de comunicação mais complexos ou rico de recursos entre os seres humanos. Assim, dependendo do meio onde foi escrito passa a ter propósito distinto para cada leitor. Outro ponto é que junção entre “informação dada”, que é o que já se conhece, e “informação nova” torna o texto útil e compreensivo. A coesão entre as duas se dá através do enunciado e unindo, no correr da leitura, as informações nos parágrafos. Em outras palavras, um texto pode ser definido como tendo sentido não em si, mas na sua leitura. Outra característica do texto é que as formas atuais de comunicação (a internete, por exemplo), assim como os gêneros textuais, são na verdade antigas formas adaptadas e igualmente influenciadas pela história social. Ou seja, um mesmo texto terá gênero diferente dependendo do suporte onde se encontra. Podendo ser um “tipo textual”, que é definido pela natureza linguística numa sequência, ou um “gênero textual”, que é algo mais concreto e sócio-comunicativo, influenciado pelas convenções e mostrando a sociedade. Resumindo o parágrafo, tudo que é feito linguisticamente pertence a algum gênero. E acrescento ao mesmo que domínio discursivo não é exatamente texto ou discurso, mas dá origem a eles.

Alfabetização não é letramento. A primeira é consequência de um sistema de ensino e pensa no individual. O segundo é coletivo por pensar no como a escrita interfere na sociedade. E como toda e qualquer pessoa consegue se comunicar, não existe alguém iletrado, mesmo sendo analfabeto.


Escrito entre 01 e 12 de dezembro de 2011.

Ofereço como presente de aniversário à

Amandinha Nobre, Gersi Santos, Nadieli Sathler, Rafael Lopes, Cristhianne Almeida, Arthur Yokomizo, Nelson Stefaniak, Viviane Hara, Adriana Magalhães.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.
O cronto e a ilustração são nossas flores para você

e fazemos votos de que encontre neles pedras preciosas.

BAGNO, Marcos – A Lingua é Multipla e Heterogênea.

MARCUSHI, Luiz Antônio – gêneros textuais: definição e funcionalidade.

SANTOS, Janete S. – afinal, o que é linguística aplicada; e letramento, variação lingüística e ensino de português.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

BANDEIRAS

Obax anafisa.


Eu sou um José Silva e sou garçom num bar elegante no Centro de São Paulo. E numa noite de 6ª feira, à mesa, Dr. John Dutra Mendes conversa com o empresário Richard Wilde. Sei os nomes porque Dr. Mendes vem sempre aqui. Os dois, mano, são grandes empresários.

- Gostou da vitória do meu Corinthians? – Diz John.

- Não fiquei triste. Mas disse na outra vez que conversarmos, em Minas, torço para o alvinegro de lá.

- Que perdeu feio para os azuis. Rirri.

- Sim! Feio mesmo. Mas pior é ser derrotado por 9x2 (1927) e melhor ainda é ter 33 vitórias a mais que eles. Mas que tal irmos direto ao assunto que nos trouxe aqui?

- Sim! – Diz John. – Ficamos sabendo que a Black & White venceu uma licitação. E pensamos que nossa empresa possa fornecer os materiais necessários.

- Qual licitação? Conquistamos várias.

- De adaptação de espaço para aleijados em escolas.

Dr. Richard olha meio enviesado, mas apenas diz

- Segundo dados de 2000 do IBGE, quase quinze por cento da população brasileira possui algum tipo de deficiência que dificulta sua convivência com o outro, seja familiar, profissional ou educacional.

- Sei, sei! Mas como ia dizendo, queremos fornecer para sua empresa o material necessário para a construção das escolas de – dando ênfase irônica: portadores de necessidade especiais.

- Portar é algo provisório. Portamos, por exemplo, nossos copos de cerveja ou nossos talões de cheques. São pessoas com necessidade especiais.

- Ah, sim! Ia me esquecendo. Você é cheio de escrúpulos ao falar.

- Não que eu seja cheio de escrúpulos, mas nada impede que amanhã eu seja uma pessoa com necessidade especial. Acidentes... Doenças...

- Somos ricos. Podemos dar um jeito em qualquer situação.

Fico ouvindo a conversa dos dois, já que estão sentados perto do balcão. Dr. Wilde toma a palavra e

- Dr. Mendes! O senhor já reparou na bandeira do Brasil?

- Ah! – Diz espantado – Por quê?

- E na de Minas?

- Bem, já vi algumas vezes. Por quê?

- A bandeira brasileira tem uma frase curiosa. Ordem e Progresso. Segundo alguns historiadores, a frase completa seria Ordem, Progresso e Amor. Mas achavam que amor era uma palavra pouco viril, então a retiram. Pena! Mas ainda penso que amor faz parte da alma do brasileiro, mesmo que invisível... Na bandeira de Minas está escrito LIBERTAS QUÆ SERA TAMEN que significa “Liberdade ainda que tardia”. Na de São Paulo nada diz, mas tem simbolismos também bonitos. – Durante a conversa, o olhar de Dr. Mendes vai de surpreso a incomodado e de lá para irritado – Pensando nas três bandeiras vemos que todas as pessoas, todas mesmo, sem exceção, merecem liberdade e respeito. De dia e de noite lutamos pelo bem do Brasil, como apreendemos na “sua” bandeira. E o país é feito pelo povo. Na “minha” bandeira observamos que, cedo ou tarde, a liberdade será conquistada a qualquer preço. A “nossa” bandeira nos ensina que para se ter progresso, seja na vida pessoal, empresarial ou qualquer outra, é preciso ordem. E ordem, assim penso, só vem com amor. Amor ao trabalho me faz ter ordem. Amor aos clientes faz ter ordem no trabalho. E ordem dá progresso. É como diz uma conhecida minha, mãe do escritor Rubem, “Sem ordem não há progresso”.

Sorrio e me seguro para não dizer algo. Afinal, sou mero garçom diante de tubarões. Mas não consigo deixar de registrar a cara do Dr. Mendes. Rarrá! Acho que não haverá negócios entre eles. Sifu, “seu Mendes”. Rarrá!


Escrito entre 04 e 06 de dezembro de 2011.

Ofereço como presente de aniversário à

Jheniffer Araújo, Maxwell Antunes, Rayssa Rangel, José R. Sobrinho, Cristhianne Almeida.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.
O cronto e a ilustração são nossas flores para você

e fazemos votos de que encontre neles pedras preciosas.