sexta-feira, 13 de março de 2009

CÊ TÁ BRINCANDO

01-09\3\09

“Dez horas. Finalmente. Régio, tô chegando!”. Percorro o já bem conhecido caminho até a rocha e não demora e ele chega.
- Benito, meu amigo.
Sorrio e apertamos as mãos.
- Boa noite!
- Boa noite, Régio!
- Espera! Um barulho... e o cheiro é de humano.
Eu me congelo. Não é possível que o “fedaputa” do Lóri me seguiu.
- É verdade, mesmo! Um centauro, Benito!
- Vocês se conhecem?
Nada consigo falar para o Régio. Somente tenho vergonha e raiva.
- Eu te segui querendo um pouquinho do que você tomou e vejo isso...
- Cala a boca, Lóri.
- Vocês se conhecem!
A raiva na voz do Régio me dói.
- Um humano! Você contou para um humano comum. Tanto te pedi e você me trai.
- Régio! Por favor.
Não é raiva. É decepção na voz do centauro. O que me dói pior. E o seu olhar que tanto gosto não está mais calmo. Está... Está... Está triste. Não vejo raiva. Por favor, sinta raiva. Machuca menos.
- Tenho que voltar.
- Régio, por favor.
- Adeus.
E a cara de palerma do Lóri que só fica olhando a merda que fez.
- O que tá acontecendo, Benito!
A vontade de socá-lo é imensa, mas o que me controla é a lembrança de como tudo aconteceu:

- Cê tá brincado. Um centauro? Rarrarrá.
- É sério, Lóri. Conheci um centauro é fizemos amizade.
- Que droga é essa que cê usou. Quero também.
- Posso te provar...
- Então prova.
Penso melhor. “Que arrependimento ter falado. Prometi ao Régio não contar para ninguém. Não quero perder a amizade dele. Principalmente por causa do Lóri”.
- Cê tá certo. Foi só uma pegadinha.
- Mas me conta aí. Onde arranjou a droga. Quero também.
- Eu viajo por mim mesmo e repetindo Clarice Lispector: “Quero estar alerta, e por mim mesmo. Fui convidado para uma festa onde na certa fumavam maconha. Mas minha alerteza me é mais preciosa”. Acho que viajo tanto dentro de mim que não preciso de drogas. Foi uma fantasia que tive e imaginei centauros e bruxas.

Volto à realidade.
- Benito! Tudo bem? O que está acontecendo?
Não consigo nem responder. De tanta raiva dele e decepção comigo mesmo.
- Benito! Que legal aquele centauro. Ele ficou com raiva por eu ter aparecido?
- Você é um in-te-li-gen-te bur-ro.
- Quê?
- Por que você veio? Agora nunca mais o verei. Por que não some, sua merda desgraçada? Sai da minha frente.
Minhas últimas palavras foram entre lágrimas.
- Benito! Está com raiva só por causa de eu ter aparecido? Pensei que era viagem sua a estória do centauro. Aliás, muito melhor ver o bicho de verdade do que na cabeça apenas.

Nada respondo e saio pela mata, mas procurá-lo onde? Só me resta voltar para casa.

- Benito, onde você vai?
- Não acredito que você ainda está falando comigo. Que não entendeu o que estou sentido. O ódio que estou de você. O ódio maior ainda por mim por ter falado para você.
- Desculpa. Vamos conversar. A gente procura o bicho e...
- Ele não é bicho. E sua voz me deixa com mais ódio ainda.
- Vamos para casa e lá a gente conversa para achar alguma solução e...
- Não vamos para casa. Eu vou para a casa. Você se vira e arruma um lugar bem longe de mim para morar.
A surpresa de Lóri é imensa e tenta falar mais, mas saio depressa perto dele.
- Benito!
Corre atrás de mim, segura meu braço e lhe dou um soco que acho que quebrou minha mão. Espero que a tenha quebrado.

Passaram-se todas as noites de lua cheia do mês. Amanhã começarão outras. Só peço a Deus que ele venha para a gente conversar. E eu pedir perdão.
Ele não veio. Nenhuma das noites.
Passou-se mais um mês. E estamos entrando em outro.
- Não vou desistir. Ele vai voltar. Ele vai voltar.
Ontem assisti o filme Agente Bom de Corte, em inglês, pelo que entendi (não falo tal idioma), o título é “You Don’t Mess With The Zohan”.
Fala sobre a guerra entre Israel e Palestina.
Pelo que observei, o filme tem forte e vulgar apelo sexual.
Mas o que mais me incomodou foi o claríssimo preconceito estadosunindense. Em resumo e palavras minhas, o filme deixa claro “nós lhe detestamos, mas fujam de seus países, verdadeiras merdas desgracentas repletos de ódios, e venham para o USA serem nossos felizes escravos”.
Para mim, um ilustre ninguém, penso que nenhum outro filme com Adam Sandler foi tão ruim e claramente comercial e preconceituoso.

Pior que isso é só a situação política de Ipatinga, onde voto não vale nada (como muitos sempre disseram e eu duvidava). O Prefeito eleito não pode assumir por questões prescritas (apesar de eu discordar fortemente de prescrições, lei é lei) e o REJEITADO por mais ou menos 70% da população assumir a Prefeitura. E agora temos que nos sujeitar a um megalomaníaco que mesmo “deposto” continua forçando sua permanência no poder, que ele jura não querer. Rarrarrá.

quarta-feira, 11 de março de 2009

OLHOS

05-09\3\09


- Que você ta mexendo aí.
- Só estou querendo ver.
- Fala baixo. É seu?
-
- É seu? Te pertence?
- Não!
- Fala baixo, idiota. Então por que mexe?
-
- Pra que cê tem que mexer no que não te pertence.
- Só quero ver.
- Fala baixo, seu fedaputa. Pra que vai acordar todo mundo.
Eu o empurro de leve e ele se assusta, cai batendo a cabeça na porta.
- Ai! Você me bateu.
Espantado, somente olho.
Mamãe sai de seu quarto.
- Mamãe, ele me bateu.

Batem à porta. É a PD (Policia da Desarmonia) para me levar para a correção. Não tenho escolha. É o melhor para mim, ensinaram-me. É o melhor para todos.
Nos meus olhos lágrimas por minhas falhas.
Em seus olhos, alívio.
Nos olhos de mamãe, preocupação.

Seis meses de reclusão.
03:30h – levantar. Ir ao banheiro.
04:00h – Salão comum para o “minha culpa, minha tão grande culpa”.
04:30h – Oração Eu te perdôo. Você me perdoa.
05:00h – Meditação. Se desconcentrar, varinha no lombo.
08:00h – Café. A alimentação é farta e gostosa. E tempo livre.
09:00h – Palestras.
12:00h – Almoço. A alimentação é farta e gostosa. E tempo livre.
Que temos hoje?
É o que você tá vendo.
Que isso, cara. Mais respeito.
Respeito é para quem merece. Não para um recluso.
Antes que minha exaltação chegasse ao auge surgem dois PD: Parem os dois.
Recluso 73512. Você vai para o reflectório até o despertar de amanhã. GS
(Guarda da Serenidade). Converse com seu Líder. Ambos, agora! A Grande Fé
santifica. Respondemos: Purificados ficamos.
13:30h – Oração Eu me perdôo.
14:00h – Trabalho de capinar.
Oi! pega a enxada.
Pega você.
Você tá aqui por quê?
Porque quis.
Estou aqui por brigar com um irmão.
Quem mandou tê-los.
Não gosto de capinar.
É carpir que se fala, o caipira.
Chegam dois PD: Parem os dois. Recluso 73512. Você vai para o reflectório
passar os dias de hoje e amanhã. Sairá no despertar de depois de amanhã.
Recluso 64421. Você vai para o reflectório passar o dia de hoje. Sairá no
despertar de amanhã. A Grande Fé santifica. Respondemos: Purificados
ficamos.
16:00h – Café. A alimentação é farta e gostosa.
16:30h – Banho. O horário é acordo com a Cia Energética para evitar apagão.
Estou aqui porque lutei contra o sistema.
(silêncio)
E você?
(silêncio)
Tentei contrabandear literatura proibida. E você?
Quero tomar banho.
É verdade que brigou com um irmão?
(silêncio)
Cara, que tolice. Se queria brigar atacasse um estranho. Na rua eles somente
lêem nossos pensamentos. Em casa é para ficarmos em paz. Em casa eles nos
vêm e ouvem até com aparelhagem. Não é possível que você seja tão estúpido.
Sou estúpido o suficiente para te dar uma porrada. Eles estão nos lendo, vendo
e ouvindo.
Chegam dois PD: Parem os dois. Recluso 9214. Você vai para o reflectório
passar os cinco próximos dias. Saindo ao despertar. Recluso 73512. Você vai
para o reflectório passar os dias de hoje e amanhã. Sairá no despertar de depois
de amanhã. A Grande Fé santifica. Respondemos: Purificados ficamos.
17:30h – Oração pela Paz Mundial.
18:00h – Jantar. A alimentação é farta e gostosa. E tempo livre.
19:00h – Aulas. Oração. Meditação.
21:30h – Tempo livre.
22:00h – Recolher.

Seis meses de comportamento quase exemplar. Se não fosse a antipatia por alguns GS e a impaciência com alguns reclusos...
Em casa.
Nos meus olhos sorrisos por estar de volta.
Em seus olhos, “você de volta?”.
Nos olhos de mamãe, esperança de paz.

Espero conseguir. Ou um ano sem alimentação farta e gostosa. Sem tempo livre. Com oito horas de capinação e duas horas de sono.
A Grande Fé santifica.



Sobre Recluso 9214 veja na revista cultural Nota Independente – www.notaindependente.com.br – o texto 08 NI 1501 0702 – postado em Matérias Anteriores.

VOCÊ JÁ VIU O ORVALHO

Você já viu o orvalho?
E a serração, você já viu? Não! Eu não falo da dificuldade de visão que ela nos impõe. Pergunto se você já se emocionou com ela e não falo de alguma raiva ou algo assim que sentiu por uma dificuldade que teve por causa da serração. Você já foi “tocado” pela serração, pelo orvalho?

Perguntaram-me se sei de cor a cor do muro do vizinho. Acho que o do vizinho da esquerda é marrom-acinzentado e o da direita, branco. Mas tenho certeza que no muro do vizinho da esquerda está cheio de arranhados que são coisas escritas. Sei que no muro do vizinho da frente tem uma goiabeira que da janela de meu quarto não vejo porque uma outra árvore a esconde. E que atrás do muro do vizinho da direita tem uma escada sendo construída.

Eu sei que dum cantinho da janela de meu quarto vejo um cantinho da mata próxima de minha casa, que não é minha. É alugada.
Eu sei que vejo sabiás no asfalto, joãos-de-barro, pica-paus, beija-flores, pardais sem conta em meu bairro.
Sei que sou uma ilha cercada de cachorros por todos os lados. Tenho três e um “agregado”. Esse último o estou chamando assim, porque ele não é nosso, mas como ficamos com dó e lhe demos comida ele passou a dormir em nossa varanda. Os quatro cachorros estão em meu quarto enquanto lhe escrevo. Cam está à minha frente. Decidido está à minha direita. Vitório (o agregado, é assim que o chamamos) está à minha esquerda. E Haicai está atrás de mim.
Como já disse, sou uma ilha cercada de cachorros. Você é uma ilha solitária? Vazia? Tem algum bichinho? Alguma plantinha? Eu sou um solitário muito bem acompanhado. Tenho cachorrinhos carinhosos. Tenho uma mãe maravilhosa. Bons irmãos. Inúmeros bons e verdadeiros amigos e dentre eles um maior. Tenho você, que me ler. Na religião que pratico tem um Hino Sagrado que diz assim: “Sozinho eu vim e eu sozinho parece que eu vivo, porém somos dois: é a outra pessoa constituída por Deus”*. Acho que não preciso comentar o Hino, né. Caso contrário sinto que gastaria umas duas páginas pelo menos.

Você já viu uma flor vencer um cimento ou um asfalto? Eu já. Em São Paulo, uma humilde e linda florzinha conseguiu se fazer presente no asfalto, quase na calçada. Fiquei meia hora olhando e ninguém a viu. O quintal de minha casa é todo cimentado e um pé de abóbora conseguiu nascer por um buraquinho com menos de dois por três centímetros e se espalhou por 60% do quintal. E quanta abóbora tenho comido. Já viu como é a flor de abóbora? Ela é fantástica. Amarela. Parece áspera e enrugada, mas é macia e suave. O que prova que não dá para julgarmos pelas aparências.

Você já venceu alguém? Foi legal? O que sentiu? Como reagiram as pessoas ao redor? Como reagiu o perdedor? Valeu a pena?
Mais importante e mais difícil, você já se venceu alguma vez?

Estou lendo, da editora Codecri, a 3ª edição do livrinho “Fernando Gabeira – carta sobre a anistia – a entrevista do Pasquim – conversação sobre 1968”, que foi publicado em 1980 e foi descartada pela Biblioteca Pública Municipal de Ipatinga. Entre outras coisas, talvez até mais importante, Gabeira conta uma estória ou história de um exilado que quando finalmente obteu autorização para voltar para casa decidiu retornar no carnaval vestido de havaiano como uma comemoração pelo fim do frio europeu que o atormentou por anos. Na véspera de sua volta ele distribuiu tudo, inclusive as roupas. No aeroporto, todo contente, esperava o avião, quando uma voz de mulher anunciou nos alto-falantes que foram cancelados os vôos naquele dia. “Você pode imaginar o que um alemão, voltando do trabalho, viu no metrô daquele dia. Coisas que não acontecem na volta para casa: um homem de cabelo preto, vestido de havaiano, chorando, com um passaporte verde na mão e dizendo uma palavra que parecia preeupiu, praquepiu, pruquepeíiu, mas que a gente sabe que se abrevia assim: PQP” (página 12). Li e ri. E lacrimejei. Ai!
Ipatinga! Minha linda e culta Ipatinga. Voto não vale nada!
Mais de 70% da população votante rejeitou o candidato à reeleição como Prefeito e ele ainda assim tomou posse. O primeiro e o terceiro lugar, juntos, ultrapassaram 70% dos votos válidos. Mas a “Injustiça Eleitoreira”, pois não temos TRE, permitiu um candidato que não pôde assumir e a “candidíase”, ou algo pior, também inelegível, ficou com o “desmando político”. Quintão, que tudo faz para acabar com a nossa cultura, resolveu comprar os artistas com meio milhão de Reais “dando” para Projetos que serão enviados à Lei Municipal de “Incentivo” a Cultura. Ai! Chega. Vou parafrasear Carmem Miranda “Yes, nós temos abobrinha”. O que me dói é não termos jovens que tenham esperança e nada fazem para melhorar nossa sociedade.
E nada mais digo.
Por hora, pelo menos.

Passou-se uma semana e
O “agregado” passou a ser membro efetivo da família.
O Quintão foi expulso da Prefeitura e ele jura que não tem nenhum interesse em “poder”. Quer é – uarrarrá – o bem da cidade.
Recebi uma mensagem de uma “Cara Anônima” chocada com a situação política de Ipatinga. Ela mora em Itabirito e uns vinte ou trinta anos atrás vinha passar férias em Ipatinga e lembra com saudades da cidade. Pareceu-me ser ela uma pensante. Que “olha para todos os lados” e percebe que o Quintão não é flor que se cheire nem que o Chico seja algum santo. Mas muito melhor é seguir a vontade da população, principalmente se ela estiver certa.
Ontem comecei no texto “Toupeira” e encerro aqui:
Vi no jornal Diário do Aço de 03-3-09, página 05, o juiz Benjamim Alves Rabello Filho, do TER-MG fazer uns descomentários sobre a pendenga Chico-Quintão. Falou tão complicado que faltou elegância. Palavras como “impetração”, “alcaide” e o pior, acho, “defenestrado” “abundaram”, digo. Além de muitos outros “despautérios”. Uarrarrá. Creio que num bom texto, numa boa fala, colocar uma ou outra palavra “elegante” como “alcaide”, por exemplo, dá até um certo charme, um quê de conhecimento, mas quando se abusa de palavras rebuscadas e frases complexas me soa mais como não sabe o que dizer, ou então quer enrolar o povo, como certos políticos, ou ainda o que quer é aparecer. Sei lá. Lembro de um conhecido meu falando para quem quisesse, ou não, ouvir quando esteve “nazorópia” que o que mais gostou foi da “Torre Eifel” em Londres e da “Torre que Pisa” em Paris.
E fico por aqui.


* Viver Junto com Deus – Seicho-No-Ie + informações: http://sijognaluz.blogspot.com

sexta-feira, 6 de março de 2009

DIVISÕES

No jornal Diário do Aço de 05-3-09, na matéria “Vereadores divididos sobre o futuro político de Ipatinga” percebe-se que:

Os Vereadores Pedro Filipe (PTB), Nilsinho (PMDB) e, como era de se esperar (e desesperar-nos), Nardyello Rocha (PMDB) são sujeitos sem opiniões. Não sabem o que querem da vida, como se pode ver nas (¿) opiniões (?) deles sobre a situação política que o município esta vivendo. Estão por cima do muro.

Os demais Vereadores têm opiniões, mesmo que sejam contrárias à desse pequeno pensante. Aceitem os meus humildes e sinceros parabéns!

Os Vereadores Sebastião Guedes (PT), Saulo Manoel (PT), Dário Teixeira (PT), Agnaldo Bicalho (PT) e, parece, Adelson Fernandes (PSB) acreditam que o Prefeito eleito deva assumir o posto que os cidadãos lhe confiaram. Será que os Vereadores Petistas acreditam nisso por causa do partido ou por convicção? Não estou fazendo nenhuma afirmação subliminar. Estou é questionando mesmo. Não tenho resposta.

O Vereador Nilton Manoel (PMDB) crê que o correto é que o Sebastião Quintão fique no cargo em que uns 70% da população o rejeitou. Será que sua crença é embasada numa convicção da honestidade do Quintão ou é interesseira? Repito que não estou afirmando nada. Apenas estou curioso. Será que os seguidores do Quintão o acompanham por algum interesse ou porque acreditam nele? E se acreditam nele como podem não ver o que ele fez e desfez?

Os Vereadores Amigão (PV), Maria do Amparo (PDT) e Roberto Carlos (PV) acreditam que uma nova eleição é a melhor saída. E os “Pevistas” querem uma nova eleição por acreditarem simplesmente que isso é bom para o povo ou porque anseiam que Rosângela Reis concorra de novo? E mais uma vez pergunto apenas porque sou curioso.

O Prefeito em exercício, Presidente da Câmara, sr. Robson Gomes (PPS) é o único que penso ser, no momento, lícito não dar sua opinião por estar ocupando o cargo de Prefeito, o que lhe exige imparcialidade.

Gostaria de um dia poder acreditar que haja idoneidade na política e honestidade nos políticos...
Ontem estive conversando com um amigo. Estava lhe falando que muitos de meus textos são políticos, mas que não gosto disso. Preferia falar apenas de flores e outros amores, falar de ficções, fantasias e muito mais. Gostaria que a nossa sociedade fosse de fraternidade. Mas não consigo. Tenho que falar. Você que me lê conhece aquela estória do incêndio onde todos os animais fugiam da floresta e apenas o beija-flor ia até o riacho pegar com seu biquinho um pouquinho de água e jogava sobre o fogo? E que quando a onça lhe disse “que adianta isso? Você é tão pequeno que isso de nada adianta”, ele simplesmente respondeu: “Faço o que posso. E se todos fizessem sua parte o fogo acabaria”? Eu me sinto o beija-flor. Faço o que posso. E se cada um fizer a sua parte... É como na história de Nena de Castro que gostaria de atender ao pedido da mãe “Filha, não fale sobre coisas perigosas. Fale só sobre flores”, mas que infelizmente não pode atender, pois no mundo não tem só flores...

Mas como no fundo tenho fé que muitos querem fazer da Terra o Mundo Ideal, principalmente os jovens encerro nosso bate-papo com as palavras de Tiradentes “Se cada um quisesse poderíamos fazer do Brasil uma grande nação”.

SEXO

"O sonho pelo qual brigo exige que eu invente em mim a coragem de lutar ao lado da coragem de amar".
Paulo Freire

As coisas estão tão fáceis que já estão banais. Na manhã de um domingo do ano passado, enquanto me encaminhava para a Seicho-No-Ie (Religião que ensina a Grande Harmonia) uma bela adolescente me pediu R$1,00. Como achei que ela estava com fome dei o dinheiro. Enquanto estava indo embora ela me perguntou “Não vai querer?”. Só aí entendi o que ela estava fazendo. Até o sexo está sem graça, banal. Duas semanas atrás, numa quarta-feira, no Centro de Ipatinga, por volta de duas horas da tarde, uma outra adolescente me parou e perguntou “Não quer dar uma namoradinha”. E ontem (05-3-09), por volta das 16 horas, eu estava na porta da Biblioteca Pública de Ipatinga conversando com uma amiga e comendo uma salada de frutas quando uma bela jovem simplesmente parou, passou o dedo no meu doce e o lambeu de um jeito e com um olhar, digamos, muito erótico. Em todos os casos agradeci, dispensei e estou orando por elas.

“O desejo passional daqueles que buscam os prazeres temporários de contatos meramente físicos não é o amor verdadeiro, ainda que as pessoas envolvidas pensem em estar amando”.
(A Verdade em Orações – Dr. Masaharu Taniguchi – pág. 156)

Além do perigo que está para a população, pois estão freqüentes os casos dos(as) profissionais do sexo roubarem seus clientes, minhas grandes questão são: onde estão as políticas públicas? O que, enquanto cidadãos, estamos fazendo?
Mas pior que se deparar com tais situações constrangedoras em pleno dia é ver que os jovens não estão se valorizando. Vendendo a si mesmo por R$1,00. Nem que se fosse por R$1.000,00 ou mais. E uma vez obtido tais prazeres, para camuflar o vazio que sempre sentem, fumam, embriagam-se ou usam outras drogas piores. Mantendo um círculo vicioso.

Rubem Leite
Artista cênico, literário e contador de estórias
http://sijognaluz.blogspot.com

quarta-feira, 4 de março de 2009

VOCÊ JÁ VIU O ORVALHO

Você já viu o orvalho?
E a serração, você já viu? Não! Eu não falo da dificuldade de visão que ela nos impõe. Pergunto se você já se emocionou com ela e não falo de alguma raiva ou algo assim que sentiu por uma dificuldade que teve por causa da serração. Você já foi “tocado” pela serração, pelo orvalho?

Perguntaram-me se sei de cor a cor do muro do vizinho. Acho que o do vizinho da esquerda é marrom-acinzentado e o da direita, branco. Mas tenho certeza que no muro do vizinho da esquerda está cheio de arranhados que são coisas escritas. Sei que no muro do vizinho da frente tem uma goiabeira que da janela de meu quarto não vejo porque uma outra árvore a esconde. E que atrás do muro do vizinho da direita tem uma escada sendo construída.

Eu sei que dum cantinho da janela de meu quarto vejo um cantinho da mata próxima de minha casa, que não é minha. É alugada.
Eu sei que vejo sabiás no asfalto, joãos-de-barro, pica-paus, beija-flores, pardais sem conta em meu bairro.
Sei que sou uma ilha cercada de cachorros por todos os lados. Tenho três e um “agregado”. Esse último o estou chamando assim, porque ele não é nosso, mas como ficamos com dó e lhe demos comida ele passou a dormir em nossa varanda. Os quatro cachorros estão em meu quarto enquanto lhe escrevo. Cam está à minha frente. Decidido está à minha direita. Vitório (o agregado, é assim que o chamamos) está à minha esquerda. E Haicai está atrás de mim.
Como já disse, sou uma ilha cercada de cachorros. Você é uma ilha solitária? Vazia? Tem algum bichinho? Alguma plantinha? Eu sou um solitário muito bem acompanhado. Tenho cachorrinhos carinhosos. Tenho uma mãe maravilhosa. Bons irmãos. Inúmeros bons e verdadeiros amigos e dentre eles um maior. Tenho você, que me ler. Na religião que pratico tem um Hino Sagrado que diz assim: “Sozinho eu vim e eu sozinho parece que eu vivo, porém somos dois: é a outra pessoa constituída por Deus”*. Acho que não preciso comentar o Hino, né. Caso contrário sinto que gastaria umas duas páginas pelo menos.

Você já viu uma flor vencer um cimento ou um asfalto? Eu já. Em São Paulo, uma humilde e linda florzinha conseguiu se fazer presente no asfalto, quase na calçada. Fiquei meia hora olhando e ninguém a viu. O quintal de minha casa é todo cimentado e um pé de abóbora conseguiu nascer por um buraquinho com menos de dois por três centímetros e se espalhou por 60% do quintal. E quanta abóbora tenho comido. Já viu como é a flor de abóbora? Ela é fantástica. Amarela. Parece áspera e enrugada, mas é macia e suave. O que prova que não dá para julgarmos pelas aparências.

Você já venceu alguém? Foi legal? O que sentiu? Como reagiram as pessoas ao redor? Como reagiu o perdedor? Valeu a pena?
Mais importante e mais difícil, você já se venceu alguma vez?

Estou lendo, da editora Codecri, a 3ª edição do livrinho “Fernando Gabeira – carta sobre a anistia – a entrevista do Pasquim – conversação sobre 1968”, que foi publicado em 1980 e foi descartada pela Biblioteca Pública Municipal de Ipatinga. Entre outras coisas, talvez até mais importante, Gabeira conta uma estória ou história de um exilado que quando finalmente obteu autorização para voltar para casa decidiu retornar no carnaval vestido de havaiano como uma comemoração pelo fim do frio europeu que o atormentou por anos. Na véspera de sua volta ele distribuiu tudo, inclusive as roupas. No aeroporto, todo contente, esperava o avião, quando uma voz de mulher anunciou nos alto-falantes que foram cancelados os vôos naquele dia. “Você pode imaginar o que um alemão, voltando do trabalho, viu no metrô daquele dia. Coisas que não acontecem na volta para casa: um homem de cabelo preto, vestido de havaiano, chorando, com um passaporte verde na mão e dizendo uma palavra que parecia preeupiu, praquepiu, pruquepeíiu, mas que a gente sabe que se abrevia assim: PQP” (página 12). Li e ri. E lacrimejei. Ai!
Ipatinga! Minha linda e culta Ipatinga. Voto não vale nada!
Mais de 70% da população votante rejeitou o candidato à reeleição como Prefeito e ele ainda assim tomou posse. O primeiro e o terceiro lugar, juntos, ultrapassaram 70% dos votos válidos. Mas a “Injustiça Eleitoreira”, pois não temos TRE, permitiu um candidato que não pôde assumir e a “candidíase”, ou algo pior, também inelegível, ficou com o “desmando político”. Quintão, que tudo faz para acabar com a nossa cultura, resolveu comprar os artistas com meio milhão de Reais “dando” para Projetos que serão enviados à Lei Municipal de “Incentivo” a Cultura. Ai! Chega. Vou parafrasear Carmem Miranda “Yes, nós temos abobrinha”. O que me dói é não termos jovens que tenham esperança e nada fazem para melhorar nossa sociedade.
E nada mais digo.
Por hora, pelo menos.

Passou-se uma semana e
O “agregado” passou a ser membro efetivo da família.
O Quintão foi expulso da Prefeitura e ele jura que não tem nenhum interesse em “poder”. Quer é – uarrarrá – o bem da cidade.
Recebi uma mensagem de uma “Cara Anônima” chocada com a situação política de Ipatinga. Ela mora em Itabirito e uns vinte ou trinta anos atrás vinha passar férias em Ipatinga e lembra com saudades da cidade. Pareceu-me ser ela uma pensante. Que “olha para todos os lados” e percebe que o Quintão não é flor que se cheire nem que o Chico seja algum santo. Mas muito melhor é seguir a vontade da população, principalmente se ela estiver certa.
Ontem comecei no texto “Toupeira” e encerro aqui:
Vi no jornal Diário do Aço de 03-3-09, página 05, o juiz Benjamim Alves Rabello Filho, do TER-MG fazer uns descomentários sobre a pendenga Chico-Quintão. Falou tão complicado que faltou elegância. Palavras como “impetração”, “alcaide” e o pior, acho, “defenestrado” “abundaram”, digo. Além de muitos outros “despautérios”. Uarrarrá. Creio que num bom texto, numa boa fala, colocar uma ou outra palavra “elegante” como “alcaide”, por exemplo, dá até um certo charme, um quê de conhecimento, mas quando se abusa de palavras rebuscadas e frases complexas me soa mais como não sabe o que dizer, ou então quer enrolar o povo, como certos políticos, ou ainda o que quer é aparecer. Sei lá. Lembro de um conhecido meu falando para quem quisesse, ou não, ouvir quando esteve “nazorópia” que o que mais gostou foi da “Torre Eifel” em Londres e da “Torre que Pisa” em Paris.
E fico por aqui.

Aliás, passou-se mais um dia.
E Nena de Castro diz que o linguajar do juiz não é deselegante, mas sim que está no melhor"juridiquez". Concordo! Em parte. Para mim está no pior juridiquez... Uarrarrá.
E agora vai. Fico por aqui de verdade. Até a próxima.


* Viver Junto com Deus – Seicho-No-Ie + informações: http://sijognaluz.blogspot.com

terça-feira, 3 de março de 2009

E Querem que a Gente Entenda

Gente!
E quer que a gente entenda:

O “Meritíssimo Juiz” (MJ) – Ela deu os motivos e expôs suas razões de decidir, inclusive o quanto cancelar os atos INSTRUTÓRIOS que já designara, o que certamente terá tomado de surpresa as partes envolvidas. De outro lado, merecem exame detido as bem lançadas e bem postas razões e os fundamentos que acompanham a IMPETRAÇÃO.

A Plebe Rude (PR) falando para Plebe Ignara (PI) – Eim? A muié ta co diarréia ou ta co emorroida? E num quer passar a noite co maridu? É isso que ce ta dizendu?

MJ – O que digo é que a peculiaridade do caso não torna estranho o querer-se o EFEITO SUSPENSIVO a recurso a ser INTERPOSTO. Fortes que sejam os FUNDAMENTOS DA SÚPLICA, penso que se possa e se deva aguardar a regular distribuição do feito.

PI para PR – Ah! É hemorróidas e ta com problemas para colocar o troço no lugar. E o marido ta que pede, mas ela não dá e não dá.

MJ – Não ignoro mesmo que haja urgência e até, por certo, uma certa ânsia pela decisão. Afinal – e fique claro que o que se segue não é fundamentado para embasar o que se decide –, é peculiar a situação em que o ELEITO NÃO COMO SE EMPOSSADO e o OCUPANTE DO CARGO, O ORA IMPETRANTE, se colocou em segundo lugar.

PR – To achandu que ela ta disisperada, mas o pobrema é outro. Ela num pode casa co o amô dela e teve que ficar co um que é macho para caramba.

PI – Pode ser, mas não acho que seja macho para caramba. No máximo um prevaricador das coisas alheias.

PR – Pre o quê?

PI – Prevaricador. Um que faz farra com o que não lhe pertence e, geralmente, faz mal feito.

PR – Peraí qui u homi vai falá bunito di noivo.

MJ – ... E, agora, justamente, ele se vê DEFENESTRADO do posto de ALCAIDE pela decisão aqui atacada. Como quer que seja, tenho que se há de dar normal e regular seguimento ao presente Mandato até que todas as SÚPLICAS DA INICIAL sejam oportunamente examinadas.

PR – Achu qui é nada dissu. O marido se chama Alcaide e quer o fiofó dela que si recusa a dá, pois acha que isso não é normal e errado.

PI – Sei não. Quem toma no fiofó é sempre o povão, pois como diz Leide Zeferina “Sabuco só quebra no c... do pobre”.


Olha gente! Sou mesmo obrigado a reconhecer o quanto sou ignorante. Sinto-me uma topeira com déficit de inteligência... Juro que não consigo entender afirmações como esta do Sebastião Quintão:

“... esse negócio de eleição e poder é coisa de pouca importância para nós. Não queremos o poder a qualquer custo, como muitos fazem”*.
Se é verdade que não quer poder, como ele, REJEITADO por mais de 70% da população continuou na Prefeitura? Tanto fez para impedir que o Prefeito ELEITO PELO POVO assumisse o cargo que lhe foi confiado pelos cidadãos?
Se é verdade que não quer mandar e desmandar ao seu bel prazer como pode ter ameaçado tantas pessoas, funcionários públicos em sua maioria? E tentar corromper a classe artística dando meio milhão para projetos culturais, sendo que nos anos anteriores ele foi diminuindo, ano a ano, os valores a serem encaminhados para a Lei Municipal de Incentivo a Cultura? E ele dizer que é “descabida” uma nova eleição, que vai, definitivamente, com a graça de Deus, lhe retirar da Prefeitura?
Realmente! Não consigo entender certas coisas. Falta-me inteligência, com certeza.

* Jornal Diário do Aço – 03-3-2009 – pág. 4
As falas do Meritíssimo Juiz também foram tiradas do mesmo jornal e data acima.
Chegou às locadoras o filme mineiro "5 frações de uma quase história", no qual eu trabalhei como Assistente de Produção de Elenco, e que eu e a Diane Mazzoni participamos com figurante em alguns dos capítulos.Assistam!!!!