segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

TRAFICANTE

Primeiro dá uma balinha.

Depois dá um papagaio (pipa).

Depois, uma colinha.

Agora é um tinerzinho.

Passa para a maconha.

Chega à cocainazinha.

Depois outras mais pesadas.

Por fim, para desgraçar de vez com a vida do cidadão,

Apresenta-lhe o Cruzeiro.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

CAMISAS AZUIS


Escrita entre 19 e 24 de janeiro de 2011.

Rubem Leite.


Inspirado no trabalho do desenhista Rodrigo Lima, de SP, que ilustra o nosso cronto.

Mas no fim das contas, tudo é por minha conta e risco...


Ofereço como presente de aniversário aos meus queridos

Alexandre Farah, Nelson Bam Bam e meus

sobrinhos Thais Macedo e Raul Leite.


- Ei! Oi!

-

- É concê mesmo! É! Você que está aí, lendo-me!

-

- Vou contar uma estória. A minha história. Só para você se situar... Eu sou irmão do cronto anterior. O “Fase Sombria”. Mas sou só meio irmão. Ou será dois terços... Assim como ele não tenho mãe, mas tenho dois pais e não três feito o Fase. O Rodrigo que me deu uma imagem, um rosto e o Rubem que me dá voz e o que dizer. Mas vamos ao que tenho para lhe falar. Imagine a cena

Em um canto da área de serviço há uma cesta de roupas recém lavadas, atrás tem um tanque junto a uma janela basculante com vista para a cozinha. A maravilhosa cozinha mineira. Grande! O melhor lugar da casinha para receber quem a gente gosta. No outro canto da área há uma bola, um carrinho e entre eles duas bonecas. Uma menina, onze anos, sai da cozinha. Ela está com uma vela apagada, anda pelo quintal, volta, acende a vela, encaminha-se ate o tanque, prende em seu topo a vela e retorna para a cozinha depois de olhar para os brinquedos que não a deixam brincar. Pela mesma porta sai minuto depois um rapaz, adolescente, e pára entre a cesta e os brinquedos. Ele é só e como queria companhia, apoio, aceitação. Zêro, seu apelido, veste camisa azul, como as pendurada no varal, e senta na frente da boneca e põe ao seu lado o carrinho, à sua direita, e a bola, à sua esquerda. E ele olha para você. Mira bem fundo nos seus olhos. Pergunto se você vai ter coragem de manter o olhar. Terá?

Reminiscências

E vozes vêm da casa vizinha. A da esquerda.

- Dna. Tolina. Bom dia!

- Bom dia, seu Malício. O que você quer?

Daqui em diante a conversa se torna confusa devido à distância, aos muros e paredes, mas parece que o homem faz comentários desagradáveis sobre a conduta de Vagabinha, a filha da vizinha. Que a menina em vez de ir para a faculdade vai para a praça sair com homens. Depois da fofoca do seu Malício e da defesa apaixonada de Dna. Tolina ele se vai e não demora, chega a garota.

- Bom dia, mamãe. Dormiu bem?

- Como posso dormir, Vagabinha, se você sai pelas horonha e chega junto com o sol?

- Ora mamãezinha. Fui para a facu. Mas como pagar a mensalidade tá difícil, fui para a casa de uns amigos dá, digo, estudar.

Passa o dia, a filha dorme, a vizinha arruma a casa e sai para o emprego. De noite disfarçadamente segue a filha e a vê entrando num carro com três homens. Cacuras (para quem não sabe, cacura é pessoa mais velha). No dia seguinte, para a delícia do seu Malício, Dna. Tolina grita, bate e expulsa a filha de casa.

- Mããããe!

- Não me chame de mãe que não sou peixe para ter filha piranha. Vai embora e não volte mais. – Tranca a porta deixando a garota chorando agarrada à porta.

Em casa, seu Malício põe a Bíblia debaixo do sovaco, chama a mulher, ajoelham e ele proclama

- Aleluia, irmão, aleluia! Senhor, ó Senhor! Queremos agradecer, ó Senhor, porque essa casa, ó Senhor, é do Senhor. Abençoe essa casa, Senhor, porque só nós prestamos, ó Senhor. Todos os nossos vizinhos, ó Senhor, são pecadores. Só nós, ó Senhor, somos bons. Aleluia! Leve todos eles para o inferno, ó Senhor. Aleluia! Leve todos para o inferno e somente nós, mais ninguém, ó Senhor, leva para o Céu. Aleluia, aleluia que o diabo em vem, ó Senhor. Aleluia. Eparrê, meu pai. Ave-Maria, cheia de graça, o Senhor é conosco. Bendito sou eu entre as mulheres...

Depois critica sua esposa, Dna. Bobinha, por ainda não ter feito a comida. Sendo que ela não tem nada para fazer o dia inteiro, pois se tivesse não ficava vendo novela. Lavar roupa, passá-la, lavar o banheiro, varrer o quintal, varrer a casa, passar pano na casa, costurar só cansam e tomam tempo de mulher preguiçosa e desocupada.

- Bibinha, meu filhinho – diz a mãe – sai do banheiro para comermos.

- Já vou, mámi. Estou ocupaaado no banheeeiro.

- Esse menino não sai do banheiro. – diz Dna. Bobinha – Não sei o que é isso.

- Rerrê! – Seu Malício fala baixinho – Isso é que é filho macho. Orgulho do pai.

Depois do jantar Bibinha fala

- Pápi, mámi! Vou sair com umas amigasss.

- Vai filhão! Aposto que vai comer todas elas. Orgulho do papai.

Depois que o filho sai

- Tá na hora da novena na igreja. Mas hoje vou sozinho porque é o encontro de homens com Nossa Senhora dos Prazeres.

Deixa a mulher sonhando com o lote que estão comprando no Céu e vai para a igreja, digo, bordel e encontra Bibinha abraçado com dois homens.

- BIBINHA VOCÊ É BIBA. É BICHONA.

Arrasta aos safanões o filho pela rua afora.

Em casa, xinga a mulher por não saber educar o filho e o expulsa.

- Onde você o encontrou? – Pergunta a mulher.

- No bordel.

- Se você foi à igreja como o achou no bordel? – Fala entendendo tudo pela primeira vez na vida. O marido não sabendo se justificar tenta apelar.

- Cala a boca que aqui você não manda mais. – Diz Dna. Bobinha. – Você não é digno.

- Mulheeer...

- Se alguém vai sair daqui é você. Ele fica.

- Mulheeeeer!

- Se não estiver satisfeito, rua. Com você ou sem você Bibinha fica.

Discutem bom tempo, mas não vou repetir o bate-boca. Só dizer que seu Malício acaba abaixando a cabeça.

- Mámi! Acho que a senhuoora deveria aconselhar Dna. Toliiina a trazer Vagabiiinha de volta. Lembra quando a senhuoora adoeceu e ela cuidou da casa sem cobrar naaada?

- É! Ela é boa menina. – Uma pausa para pensar e – Vamos, filhinha! Era essa roupa que cê estava usando? – Pega o filho pelas mãos, leva-o para o quartinho de costura – Vem que mamãe vai fazer um vestidinho lindo para a filhinha dela. E depois vou conversar com a vizinha. Acho que... Acho que temos que dar as mãos... nos unir contra os preconceitos. Concorda, filha?

- Dar as mãos, mámi? Concooorrrdo! E se ela não quiser Vagabiiinha de volta, mámi?

- A garota passa a morar aqui e se seu pai não se comportar... Ele vai para a rua.

Fim das reminiscências

E Zêro em sua camisa azul começa a brincar com a bola. Levanta-a acima de sua cabeça e a solta. Bate no chão e volta para suas mãos. Levanta-a, solta e quica. De novo. De novo. De novo. A menina olha pela janela. O garoto joga a bola com força... e não volta para suas mãos. A menina sem ser vista nem ouvida pelo garoto volta para dentro da casa. Nasce um sorriso suave. O rapaz pega o carrinho e brinca. E brinca sem sair do lugar. O sorriso cresce. “Vrum. Vruuum. Vruuuuuuuum”! Seu rosto é só sorriso. Pára! Torce seu corpo para a direita pega uma camisa azul, venda seus olhos. Água escorre pelo seu rosto. Lavando-o! Pára! Apalpa ao seu redor e encontra a boneca. Nasce-lhe uma dúvida. A Cruel! Com qual brincar? O sorriso vai se esvaindo aos poucos. Tateando vai até o tanque e pega um batom que fica sempre ali. Vai de uma orelha a outra passando-o pela boca. Esfrega-o na boca. Tateando pega uma roupa. Azul. A menina sai da cozinha, pega o rapaz pela mão. Tira-lhe a venda. Sorri-lhe! Ele responde com outro sorriso. O maior e mais verdadeiro sorriso. E ambos, comigo, encaram a você, que lê. Vão para a vela no tanque, acendem e dão para você. Que fará?

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

FASE SOMBRIA


Escrita entre 16 e 17 de janeiro de 2011.

Rubem Leite.


Inspirado no trabalho do desenhista Rodrigo Lima, de SP, que ilustra o nosso cronto;

e nos dois primeiros parágrafos no texto homônimo escrito por Leandro da Silva.

Mas no fim das contas, tudo é por minha conta e risco...


Ofereço como presente de aniversário aos meus queridos

Marrione Warley (ator) e Rafael Varela (escritor).


Nunca antes havia pensado que viria outra fase tão atemorizante e medonha na minha vida. Já não bastava o orfanato – verdadeira prisão – que experimentei no meu passado? Convivo com alguns amigos... Não! Com alguns colegas, mas vejo-me sempre na caverna da aflição. Adulto, já percorri São Paulo. Agora ando vagando sem rumo pelas ruas de Minas. Belo Horizonte, São João Del-Rei, Tiradentes. Lugares onde conheci gente boa. Mas agora estou em Ipatinga. Onde conheci um de meus pais. Sabe! Sou um cara diferente. Tenho três pais e nenhuma mãe... Rodrigo, Leandro e Rubem. Rodrigo me deu um rosto. Leandro me ensinou as primeiras palavras e Rubem está me dando voz e o que dizer. Mas não é sobre isso que estamos conversando, né. Falávamos que ando vagando sem destino. Tentando encontrar uma solução para derribá-la. Espera um instantinho. Vou pegar um cálice de vinho e olhar no dicionário a palavra que me veio a mente... Derribar. Daqui a pouco a gente volta. Com licença.

Voltei! É como pensei. Derribar é derrubar, destruir. Quero demolir minha caverna interior da solidão. Ah, desculpa! Que grosseria a minha. Aceita um vinhozinho? É tinto seco. Sim? Não? Fique a vontade enquanto continuamos nossa conversa. Ao deitar para descansar da fadiga do dia, encontro no caminho a senhora solidão, seduzindo-me. Meus sonhos tornaram-se monstros. O que fazer diante deste cenário macabro? Em um dado momento, percebo que meus pensamentos recebem a visita de invasores... Desagradáveis? Desagradável é dizer pouco. Não tenho palavras.

Uma mão de homem me aperta o coração. Olhos de mulheres pelas ruas vão me seguindo e mesmo assim não consigo fugir. Meus amigos... não, meus colegas não se aproximam. Quer ver? Vou ligar para um.

- Olá! Vladimir?

- ...

- Ah! Não? Sabe se ele demora?

- ...

- Na padaria? Comprar pão? Então tá. Tudo bem se daqui a pouco eu ligar de novo?

- Então tá. Adeus.

Mas como eu ia dizendo... Pera aí. Você não fala nada?

- ...

- Então tá.

Mas como ia dizendo. Sinto meu coração apertado por máscula mão e sinto-me perseguido por fêmeos olhos. Que será isso? Esquizofrenia? Olho para o alto e aves voam. Não vejo um “balé”, não percebo suas cores, não reconheço sua espécie. Para mim é tudo abutre rondando minha morte que não vem. Vou ler um pouquinho. – Pega “Uma Paixão em Preto e Branco”, de Roberto Drummond. – Fique à vontade, sim!

Quarenta e seis minutos. Já deu tempo.

- Alô! É o Vladimir?

- ...

- Ah! Não? Ele ainda não chegou?

- ...

- Não minta! Ele é que não quer me atender.

- ...

- Que padaria é essa que leva uma hora para ir e voltar?

- ...

- Primeiro foi um garoto que atendeu e disse que ele foi à padaria e agora a senhora está dizendo que ele está no clube.

- ...

- Mentirosos! É o que são. Adeus!

Viu? Viu? Quero por abaixo minha caverna interior da solidão. Mas não consigo. Por quê? Por quê? Por quê? Só encontro a senhora solidão, seduzindo-me num cenário macabro de sonhos monstruosos. Vou pegar um livro. Você lê comigo?

Passos

Pássaros pintados

Paz de parceiros desconhecidos.

O poema é do autor. Gostou? Eu gostei. Mas o livro não me deu paz. Ajudou... Mas... O que eu busco é o amor ideal, terno, erótico. E a vida me desafia, a pobreza me desespera, de coragem eu necessito. Sou vulnerável, vencido, mas sou guerreiro. “Sou brasileiro. Não desisto nunca”. CHEGA! Não quero mais. – Um choro sem lágrimas. – Se não tenho amigos vou em frente sozinho. Com livros, verdadeiros amigos certos para horas incertas. Quer ver? – Pega outro livro, um folhetim, na verdade, de Bruno Grossi e lê – “O frio ainda reprime meu corpo coberto por um edredom, cachecol, blusa de frio e chapéu. O sol começa a chegar e o programa a acabar. Ouvir estas melodias em meio à Serra é bom demais”. Dá uma esperança, não dá? Se não tenho meu amor eu me amarei. Se não tenho dinheiro para comprar o que quero comprarei o que posso. Se não tenho coragem irei assim mesmo. Mas irei. E vencerei. – Olha para o céu e vê os pássaros. – São andorinhas. Várias! Faremos verão.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

VOCÊ NÃO LIGA PRA MIM – II

Rubem Leite

Escrito entre 04 a 11 de janeiro de 2011.


Ofereço como presente de aniversário à minha querida sobrinha

Elizabeth Macedo Leite Mendes.

Por causa dela digo: Viva Portugal. Viiiiivaaa! Urru!

Ofereço também ao meu amigo Eddy, mais conhecido por Didi Peres,

que se encontra passeando em Salvador – Bahia (estou contentíssimo por ele).

Continuação e conclusão do cronto de ontem.


Como vimos na primeira parte, Júlio namorou um montão de gente até que, cansado, ficou um tempão sem procurar nem ter ninguém. Uma semana. Uarrarrá! No momento, Caetano canta no cd Capullito de Alelí e

- Menino! Você tem que ir. É tudo de bom.

- Não sei, Rosa.

- Que isso, Júlio. Você vai entrar de férias para ficar em casa? Eu só não vou com você porque estou com pouco dinheiro e o Antônio está planejando alguma coisa que promete... Rarrarrá!

Agora Caetano canta Vampiro.

- Você e Antônio. Tudo bem?

- Claro querido. Ele é louco por mim. Adora dizer meu nome quando... unru... você sabe.

- Querida, gosto de seu nome. Onde você arranjou esse nome? Desde quando você se chama Rosa?

- É, meu querido, obrigada! Mamãe foi muito feliz na escolha. “Guimarães Rosa! Porque gosto de ler e quem sabe você não se torne um grande escritor” dizia ela. Mas não enrola não. Você vai para a Bahia sim. Eu fui ano passado e no próximo vou de novo. Ou para algum outro estado do Nordeste. Vai querido. Você merece.

- Está bem. Você venceu. Batata frita”. Que agência de viagem você recomenda?

- Aaiii! Que música veeelha. Acho que a mesma que eu fui. É a que recomendo. E estive olhando ontem e vi que dia dez vai sair uma nova excursão.

Preparam-se tudo. E dá para perceber que o Júlio não é cidadão de classe média baixa. Mas também não é rico. Apenas econômico, quase pão duro, esclareço enquanto pai dele. Sou também pai do Dimas, Rosa e dos outros que falamos acima e os que falarei abaixo antes de irmos para a viagem...

Os dias passaram até que a viagem aconteceu. Aliás, está acontecendo agora.

Salvador, Porto Seguro, Ilhéus e outras cidades costeiras e do interior do estado. Cada praia mais linda que a outra e cada fazenda de cacau. Conheceu também uma fazenda produtora de frutas típicas do Nordeste, exóticas para nós, do “Sul”. Conheceu ainda Martin Luterquim da Silva, o negão capataz da Fazenda Fruto da Terra e Castro Alves, dono de uma das fazendas de cacau que visitou. Fez ainda amizade... amizade com Clara (não a da novela... Uarrarrá), Clarice e Roberta, duas baianas para não botar defeito. Depois da boa noite que tiveram saiu cantando “‘Que é que a baiana tem? O que é que a baiana tem? Como ela requebra beeeeem. O que é que a baiana teeem? O que é que a baiana teeem? Quando você se requebrar caia por cima de mim, caia por cima de mim, caia por cima de mim’. E como caíram. Eita sô”. Depois contratou o serviço de uma lancha que sairia a noite para passar o próximo dia numa ilha fora dos limites do Brasil. Quatorze pessoas além dele e do piloto. Advinha quem ele encontrou na lancha? Dimas! Pensou em ficar irritado, mas mudou de idéia. Quem sabe o que adviria do reencontro? Com a aurora chegam, abordam e os turistas nadam, comem, conversam, nadam, comem, namoram, nadam até a hora de irem embora. Júlio se afastara em busca de paisagens que pudesse admirar e, coisa rara dele fazer, pensar. Dentre as coisas que ponderou: “Cadê o Dimas, que não o vi o dia inteiro?”. Nesse meio tempo a lancha se foi sem dar por ele. Afinal o que o piloto queria já recebeu – o pagamento – e todos ali são adultos. Que se virem. É como pensa o sujeito. Bem! Para efeito de nosso cronto... Uma semana se passou e Júlio só não morreu de fome naquela ilha inóspita graças ao Dimas que, na vinda, antes do sol nascer, mergulhara sem ser visto e se escondera numa gruta. Às noites trazia peixes e assavam.

- Onde você fica que não te vejo? – Sempre pergunta e Dimas nunca responde. Falam de tudo, menos disso. – Como vamos sair daqui?

Passa a semana e Júlio até que está bem alimentado, mas Dimas... não mudou nada em sua aparência, mas fica cada vez mais letárgico e nem dormem juntos (se é que me entende no que quero dizer... Uarrarrá).

- Eu vim caçar – Finalmente diz Dimas. – Mas você estava no barco.

- Quê? – Fala meio rindo até ver os olhos do ex-namorado.

- Era por isso que nunca aparecia nem apareço durante o dia.

Júlio pensa em perguntar, ou falar algo, mas se cala meio assustado.

- Era por isso que eu só lhe dava o que podia. Mais, eu lhe mataria.

Júlio pensa em perguntar o significado, mas ainda está com medo sem saber do quê.

- Estou muito tempo sem me alimentar.

Júlio olha para os peixes. Dimas ri.

- Isso não me serve.

Fala e se levanta indo para Júlio.

- É sangue que preciso.

Júlio acredita no que vê, fecha os olhos e espera apavorado.

Dimas vai para o mar.

- Não posso morrer. Mas não vou te atacar. Não consigo chegar ao continente. Mas vou-me embora. – Continuando sem olhar para trás – Tente sobreviver, pois não agüentarei mais ficar aqui. – Some no mar.

E Rosa preocupada fez um escarcéu. A Guarda Costeira procurou e no décimo dia, terceiro sem comida, encontram quem estivera perdido.

Depois disso nunca mais viu Dimas nem soube o que lhe acontecera.

Depois disso nunca mais teve nem foi de ninguém.

Quero dizer, para ele Dina, Diná e o loiro Dimas não eram ninguém. E o que são três para quem tivera dezenas? E o que são pessoas para quem conhecera Dimas? Alto, forte, pele exótica e

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

VOCÊ NÃO LIGA PRA MIM – I

Rubem Leite

Escrito entre 04 a 10 de janeiro de 2011.


Ofereço como presente de aniversário aos meus queridos

Paula Góthic, Cireno Carneiro e Perna de Palco (grupo de teatro).



Oi! No nosso cronto de hoje falaremos de Júlio Guedes. Ele tem mais de um metro e setenta, gordinho para musculoso, cabelos vermelhos, olhos verdes e pele mais do que branca. E ele é todo bem feito. E o tema de nossa conversa é que o cara é muito namorador...

A primeira namorada de Júlio foi Dalila num longo relacionamento de três semanas. Os dois se conheceram num domingo no RIC (Recanto Ideal Clube). Ainda no segundo para terceiro dia, com quinze anos, foram para a cama. Ou seria o sofá da casa dela? Mas o que vem ao caso é que cansado de papo besta uma tarde Júlio fingiu dormir enquanto Dalila o visitava e ela falava, falava, falava. Até que se sentiu irritada e foi embora furiosa para nunca mais voltar.

A segunda foi Stephany. Mas o que ela queria era apenas que Júlio fizesse os deveres de casa para ela. Afinal para que perder tempo aprendendo se o que ela vai investir é num homem rico? Então é melhor passar as tarde no shopping. E o pior que nem dá ela dava. Enfim, duas semanas depois de ser explorado: “bye bye Stephany”.

O primeiro namorado dele foi Francisco. Isso mesmo. Júlio se descobriu bissexual. E o namoro com Francisco foi chato. Os dois morriam de medo do que os outros falariam deles. Não durou nem duas semanas. É nisso que dá namorar adolescente. São muito confusos e medrosos.

Depois namorou Joana. Joana era legal. E como dava bem. Digo, se davam bem. Durou quase dois meses. Até que Joana conheceu o Dantas. Vinte anos mais velho. E rico. E interessante. Até Júlio tirou uma lasquinha dele. Mais não vem ao caso já que não foi namoro... Só uma noitada.

Depois namorou Lucimara, Platão, Laura, Meyre, Luzia, Cidinha, Clarinha, Carlinha, Fabiana, Agostinho, Marina, Marília, Vanda, Lucy, Jéssica, Brenda, Sócrates, Joyce, Jhennifer Karen, Carolayne, Larrisa Gyovanna, Thomaz, Andrielly, Juliana.

- Você não liga pra mim. – Diz Júlio para Dimas.

No aparelho de cd Raul Seixas declama Magia de Amor. Os dois se conhecem a quase um ano. Descobriram que se amam, mas somente passam as noites juntos. Sempre porque Dimas recusa encontros diurnos. “Os dias são para trabalhar e as noites para curtir” é o que sempre fala Dimas. Tá legal! É verdade que Dimas adora ligar duas, três vezes durante o dia. “Mas é só para matar a saudade durante os intervalos de trabalho” fala para Júlio. Dimas Verne tem menos de um metro e noventa, magro, musculoso, cabelos e olhos negríssimos, pele no exótico tom marrom empalidecido. E que mãos... Que pés... E que...

- Você não liga pra mim.

Ouvindo isso Dimas abaixa a cabeça sem nada dizer. Como provar tudo o que sente? “Não! Não posso dizer o quanto sofro, pois dizer que me sacrifico por ele é o mesmo que falar que Júlio é a causa de minha desgraça. E ele não é. Júlio é o meu tudo”. Então se mantém calado.

- Ou você mora comigo ou pode ir embora. Não gosto de migalhas. Eu quero TUDO. TUDO entende?

- Eu lhe dou tudo que posso.

- Não quero apenas o disponível. Quero você comigo. Assumindo-me. Assumindo-se.

- Não tenho vergon...

- Então mude para cá. Ou eu para sua casa.

- Não posso.

- Por quê? Isso de ser por causa do trabalho não me convence, faça o favor. Fale, mude ou vá embora.

A discussão perdura ainda por mais de uma hora. Então Dimas sai. Tenta uma lágrima e nada. Júlio chora. O resto do ano passa com um sem notícias do outro. Júlio no mesmo trabalho, na mesma casinha da rua Santa Inês no Novo Cruzeiro, em Ipatinga, com os mesmos amigos. Dimas, pelo mundo.

Depois Júlio conhece Frantielly no Parque Ipanema ouvindo na passagem de ano uma dupla sertaneja. Foi boa a virada. Viraram para lá e para cá a noite toda. Rarrá! E junto com o nascer do sol os dois se deram o derradeiro gozo. E se foram cada um para seu canto.

Aí foi a vez da escritora Clevane Pessoa. Foi o namoro mais longo do Júlio. Salvo o com Dimas. Foram quatro meses e meio de cultura e prazer. Clevane leu para ele uma boa estória chamada A Semente. De sua autoria. E está no livro Prosa Gerais, que ela lhe deu. Publicado pelo CLESI em 2006. Assistiram muitas peças de teatro e dança. Foram a muitas apresentações musicais, como o Live Jazz. Leram bastante a revista Nota Independente. E otras cosita mas.

Um dia no FeirArte conheceu Lôbo. Um quase cinquentão. Cabelos pretos e outros grisalhos. Cavanhaque. Mais ou menos da mesma altura e corpo de Júlio. Motorista de van escolar. Safado. Três meses de múltiplos gemidos duplos nos motéis da cidade.

Depois namorou Marcos, Sebastião, Rodrigo Magno, Marta, Morgana Valente, Vivian, as gêmeas Dôra e Dóra (ao mesmo tempo, num “menage a troá”), Marcus Vinícius, Rodrigo Alves, Toni Ramos (não o da tv), Fernando, Luiz Felipe, Raymunda, Marlon, voltou para Clevane, depois voltou para Luiz Felipe, Cláudio, Geraldo Magela, voltou para Fernando, Carlos Peixoto, de novo o Toni, Célio, mais uma vez o Fernando, Andréia, Fernando “traveis”, Toni, Frederic, Toni, Paulo César, Frederica, Desio e Andréia. Então, cansando, Júlio fica um tempão sem procurar nem ter ninguém. Uma semana. Até que no cd Caetano canta Capullito de Alelí. Enquanto isso

Amanhã apresento a conclusão do cronto. Espero que esteja gostando. Inté!

domingo, 2 de janeiro de 2011

PECADO VENIAL

Do poeta HOMERO FREI

Enviado por minha diva Sonia Frei

Que me desejou, e eu compartilho com você: “Que 2011 seja, para você, de muita cena, muito lápis gasto em folhas de papel, muita independência e, muita arte e manha!”.




Poesia, meu amor, se tu morresses,
Se teu corpo de lágrimas sonoras
Eu sepultasse em minha dor amiga
E a minha voz antiga se calasse;


Se eu te perdesse como fui perdendo
As estrelas da noite que não tive,
Os caminhos do amor que me mataram
Pela conquista de uma paz vazia;


Se tu morresses, Poesia, o mundo
Esqueceria de esquecer a vida
E o céu viria conversar com a gente!


Tudo era Deus! E o meu amor tão nada
Morreria de medo que eu morresse
E eu seria nascê-lo para sempre!