segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

FASE SOMBRIA


Escrita entre 16 e 17 de janeiro de 2011.

Rubem Leite.


Inspirado no trabalho do desenhista Rodrigo Lima, de SP, que ilustra o nosso cronto;

e nos dois primeiros parágrafos no texto homônimo escrito por Leandro da Silva.

Mas no fim das contas, tudo é por minha conta e risco...


Ofereço como presente de aniversário aos meus queridos

Marrione Warley (ator) e Rafael Varela (escritor).


Nunca antes havia pensado que viria outra fase tão atemorizante e medonha na minha vida. Já não bastava o orfanato – verdadeira prisão – que experimentei no meu passado? Convivo com alguns amigos... Não! Com alguns colegas, mas vejo-me sempre na caverna da aflição. Adulto, já percorri São Paulo. Agora ando vagando sem rumo pelas ruas de Minas. Belo Horizonte, São João Del-Rei, Tiradentes. Lugares onde conheci gente boa. Mas agora estou em Ipatinga. Onde conheci um de meus pais. Sabe! Sou um cara diferente. Tenho três pais e nenhuma mãe... Rodrigo, Leandro e Rubem. Rodrigo me deu um rosto. Leandro me ensinou as primeiras palavras e Rubem está me dando voz e o que dizer. Mas não é sobre isso que estamos conversando, né. Falávamos que ando vagando sem destino. Tentando encontrar uma solução para derribá-la. Espera um instantinho. Vou pegar um cálice de vinho e olhar no dicionário a palavra que me veio a mente... Derribar. Daqui a pouco a gente volta. Com licença.

Voltei! É como pensei. Derribar é derrubar, destruir. Quero demolir minha caverna interior da solidão. Ah, desculpa! Que grosseria a minha. Aceita um vinhozinho? É tinto seco. Sim? Não? Fique a vontade enquanto continuamos nossa conversa. Ao deitar para descansar da fadiga do dia, encontro no caminho a senhora solidão, seduzindo-me. Meus sonhos tornaram-se monstros. O que fazer diante deste cenário macabro? Em um dado momento, percebo que meus pensamentos recebem a visita de invasores... Desagradáveis? Desagradável é dizer pouco. Não tenho palavras.

Uma mão de homem me aperta o coração. Olhos de mulheres pelas ruas vão me seguindo e mesmo assim não consigo fugir. Meus amigos... não, meus colegas não se aproximam. Quer ver? Vou ligar para um.

- Olá! Vladimir?

- ...

- Ah! Não? Sabe se ele demora?

- ...

- Na padaria? Comprar pão? Então tá. Tudo bem se daqui a pouco eu ligar de novo?

- Então tá. Adeus.

Mas como eu ia dizendo... Pera aí. Você não fala nada?

- ...

- Então tá.

Mas como ia dizendo. Sinto meu coração apertado por máscula mão e sinto-me perseguido por fêmeos olhos. Que será isso? Esquizofrenia? Olho para o alto e aves voam. Não vejo um “balé”, não percebo suas cores, não reconheço sua espécie. Para mim é tudo abutre rondando minha morte que não vem. Vou ler um pouquinho. – Pega “Uma Paixão em Preto e Branco”, de Roberto Drummond. – Fique à vontade, sim!

Quarenta e seis minutos. Já deu tempo.

- Alô! É o Vladimir?

- ...

- Ah! Não? Ele ainda não chegou?

- ...

- Não minta! Ele é que não quer me atender.

- ...

- Que padaria é essa que leva uma hora para ir e voltar?

- ...

- Primeiro foi um garoto que atendeu e disse que ele foi à padaria e agora a senhora está dizendo que ele está no clube.

- ...

- Mentirosos! É o que são. Adeus!

Viu? Viu? Quero por abaixo minha caverna interior da solidão. Mas não consigo. Por quê? Por quê? Por quê? Só encontro a senhora solidão, seduzindo-me num cenário macabro de sonhos monstruosos. Vou pegar um livro. Você lê comigo?

Passos

Pássaros pintados

Paz de parceiros desconhecidos.

O poema é do autor. Gostou? Eu gostei. Mas o livro não me deu paz. Ajudou... Mas... O que eu busco é o amor ideal, terno, erótico. E a vida me desafia, a pobreza me desespera, de coragem eu necessito. Sou vulnerável, vencido, mas sou guerreiro. “Sou brasileiro. Não desisto nunca”. CHEGA! Não quero mais. – Um choro sem lágrimas. – Se não tenho amigos vou em frente sozinho. Com livros, verdadeiros amigos certos para horas incertas. Quer ver? – Pega outro livro, um folhetim, na verdade, de Bruno Grossi e lê – “O frio ainda reprime meu corpo coberto por um edredom, cachecol, blusa de frio e chapéu. O sol começa a chegar e o programa a acabar. Ouvir estas melodias em meio à Serra é bom demais”. Dá uma esperança, não dá? Se não tenho meu amor eu me amarei. Se não tenho dinheiro para comprar o que quero comprarei o que posso. Se não tenho coragem irei assim mesmo. Mas irei. E vencerei. – Olha para o céu e vê os pássaros. – São andorinhas. Várias! Faremos verão.

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