domingo, 27 de junho de 2021

BATEU, DOEU. PEGA QUE É TEU¹


Pegó, dolió. Agarra que es tuyo, mi amor:

“Las nuevas prostituciones en Latinoamérica”. Alguien gritaba. Se acerca y escucha mejor: “Las Nuevas Constituciones en Latinoamérica”. Pero… En verdad, ¿los Senados se ocupan de la Constitución o de la prostitución?

Todos hablan de Bozalnato sacando el tapabocas de un niño, pero nadie charla de quién lo entregó en las manos del monstruo. Creo yo que es como un ritual satánico. Quien ofrece el sacrificio es lo peor villano, no el monstruo.

La ligación entre la prostitución, la constitución y esa escena es el moralismo.

Sexualidad, sensualidad, sexo, género, salud, política, sociedad… Tantas cosas a decir, pero el placer a la ignorancia, a los discursos de odio son tantos que me callo. Así como Caio Fernando Abreu no son para esos que escribo y de un trozo de un texto de él – A Morte dos Girassóis – termino mi discurso:

“Me fue a cuidar de que restaba, que es siempre lo que necesita hacer” (traducción libre). 

Nelson Rodrigues escutou um camelô gritando seu produto: A nova prostituição do Brasil. Surpreso, Nelson percebeu que ninguém ficou curioso ou escandalizado. Aproximou-se para ver o produto e percebeu que escutara errado. O camelô vendia exemplares da Nova Constituição do Brasil.

Mas será que realmente o Senado lida com a Constituição? Ou lida com prostituição?

Bem. Estou lendo o Beijo no Asfalto. E vejo o delegado Cunha se deslumbrando com o descaro do repórter Amado Ribeiro.

Como o homoerotismo masculino é potente e latente. Atenção! Não disse homossexualidade, mas homoerotismo. É comprovado cientificamente que cinquenta por cento dos sonhos de qualquer mulher é com outra mulher e a segunda metade é com outras coisas. E setenta por cento dos sonhos de qualquer homem é com outro homem e o restante com mulheres, coisas etc.

Estes sonhos – dos homens ou das mulheres – não envolvem obrigatoriamente o ato sexual. Mas o foco é o próprio sexo/gênero.

O gosto dos homens em admirar fisiculturismo, boxe, futebol e outros esportes é o corpo masculino. Mesmo quando heterossexual.

Alguns meses atrás publiquei aqui, no aRTISTA aRTEIRO, a história de uma família desajustada ( http://artedoartista.blogspot.com/2021/02/anturio-vida.html ). Mãe que queimava com cigarro os próprios filhos. O mais velho acabou morrendo numa sarjeta e o mais novo fora adotado por dois homens e teve um bom futuro.

No antúrio, o que nós chamamos de flor é, na verdade, folha. É uma “artimanha” da planta para atrair polinizadores. A flor é tão pequena que apenas vemos pontinhos pretos. No cronto em questão, todos na família possuem nomes de flor: Crisântema, Antúrio e Jacinto. Mas a vida deles de nenhum deles fora “um mar de rosas”. O único que escapou foi o bebê. Os outros dois padeceram a ironia de suas vidas serem falsas flores.

Iouloúdi é flor em grego e este passou a ser o nome de Jacinto, o bebê: Iouloúdi Rosa da Silva.

Iouloúdi se tornou um “adolescente cuja graça leve que esconde uma alma profunda”. Mais tarde, ainda bem jovem, mas não adolescente, ele beijou um homem.

Talvez você pense: E daí? Ele foi criado por viados. Mas o rapaz se encanta é com as mulheres.

O garotão beijou um homem que agonizava antes de morrer. Mas as pessoas – muita, muita gente – verão que ele é homossexual por causa dos pais.

O rapaz é bom leitor, mas até então não conhecia Nelson Rodrigues. O engraçado é que fez como em O Beijo no Asfalto. Beijou um moribundo. E os muitos que se calavam por ele ser adotado por bichas passaram a falar.

Iouloúdi tem uma sofrida simpatia. Seu coração ainda é puro; ele não sabe o porquê é atormentado por tantos.

Mas no mundo não existe apenas Iouloúdi. Há Benito, Aparecifo, Cimam, Cintia, Jhenifer...

Ainda precisam acontecer coisas como:

Com raiva corri até você e mesmo tentando desviar-se o derrubei no chão.

- Sou homem. – Gritou.

- Gay é homem. – Gritei.

E sexualidade não é tudo neste cronto.

Poucos dias antes desta publicação uma cena “político-saúde” foi muitíssimo comentada no Caralivro. Mas a observei de outra forma. Vi assim:

Todos falam do Boçalnato tirando a máscara do menino, mas ninguém fala de quem o entregou nas mãos do monstro. Para mim é como um ritual satânico. Quem oferece o sacrifício é o maior vilão, não o monstro.

O elo entre essa cena, a sexualidade, a prostituição e a Constituição é o moralismo.

Poucos anos atrás os quase cinquenta e oito milhões que gritaram “tem homem pelado no museu” sobre uma criança que viu uma performance artística. Hoje estes estão calados diante da cena do Escatológico tirando a máscara da criança em plena pandemia.

Quem grita “tem monstro infectando criança” é quem compreendeu que uma coisa é uma mãe consciente da arte, que o corpo não é tabu, mas natural; e outra são os pais entregando seu filho a um genocida.

Na semana passada, em uma das aulas para o sexto ano, expliquei sobre adjetivo concordar obrigatoriamente com o substantivo em gênero e número, mas não em grau. Exemplo: bonito concorda com gato, porém bonita não concorda com gato. Entretanto pode-se dizer gatinho bonitão.

Antes da explicação perguntei quem sabe o que é gênero, número e grau. Em algumas turmas ouvi que gênero é sexo. Então, sempre com palavras adequadas à idade, expliquei: sexo é genital e gênero é cultural. Homem diz “muito obrigado” e mulher fala “muito obrigada”; aceita-se que homem tenha cabelo comprido, mas ainda isso é associado à mulher; menino usa azul e pode fazer xixi na rua enquanto menina usa rosa e não pode fazer xixi na rua. Não disse, talvez por serem crianças, que homem pode bater na mulher e mulher deve apanhar (apesar, graças a Deus, que estamos lutando para acabar com a violência doméstica; entretanto essa luta é contemporânea). Tudo isso são papéis de gênero.

Sexualidade, sensualidade, sexo, gênero, saúde, política, sociedade... Tantas coisas a dizer, mas o gosto pela ignorância, pelos discursos de ódio são tantos que me calo. Como Caio Fernando Abreu não são para esses que escrevo e com um trecho do texto dele – A Morte dos Girassóis – encerro minha fala:

“Fui cuidar do que restava, que é sempre o que se deve fazer”.

 

 

Ofereço como presente ao aniversariante Daniel Cristiano. Ofereço também Ronix Malabardo, Educadores Conectados e Gustavo Drumond.

27 de junho de 1214 é o "nascimento" da Língua Portuguesa. Data do mais antigo registo escrito.

 

Recomendo a leitura de:

“Pequenas Epifanias”, de Caio Fernando Abreu; editora Nova Fronteira.

“Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues; editora Nova Fronteira.

 

¹ Jout Jout em Saia Justa no GNT, publicado em 28 de junho de 2020: https://www.facebook.com/gnt/videos/620209198595381

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagem:

Fiat lux, foto de Erika Aviles.

 

Manuscrito, digitado e trabalhado entre o final da manhã ou início da tarde de 14 de março até a manhã de 27 de junho de 2021.

domingo, 20 de junho de 2021

DANAÇÃO DA NAÇÃO


Uma névoa... Não! Muito pequena para ser névoa. É gás. O vento cada vez mais forte não dispersou o gás que tinha, reparei, uma forma... Uns dois metros de altura, uns cinquenta ou sessenta centímetros no seu meio, seu alto quase tem um separação... como se fosse uma quase esfera pequena acima da parte ovalada... No ar, indo de uns dez a cinquenta centímetros, subindo, descendo, o gás. Uma parte à sua esquerda se destaca sem se desprender erguendo como se fosse um braço. O corpo gasoso, sim, só pode ser um corpo, e vivo, deslizou pelos vários metros que nos separava. Percebi uma forma levemente humana e quanto mais se aproximava, mais sólida parecia se tornar. Um corpo de homem. Parou com os pés no chão tão próximo de mim que se erguesse outra vez seu braço me tocaria. O medo que me silenciou começou a se esvair abrindo a minha boca e ele me disse

- Não se assuste. Está perdido?

Respondo para uma coisa dessa? Você responderia?

- Não se assuste. Posso te ajudar a encontrar o caminho para onde quer ir.

- Muito obrigado! Mas não precisa se incomodar.

- Não é incômodo. Vem! Vem!

Não saio do lugar então ele vem até mim. Dou um passo para trás. Ele não para.

- Não precisa ter medo. O caminho é por aqui.

Fala passando por mim. A luz da lanterna quase não o pegando mais sigo-o.

- Meu nome é Guino. O seu?

Guino é bem mais alto que eu. E adulto. Branco, cabelos pretos. Rosto comprido. Calça preta, camisa branca. Não é feio. A única coisa que assusta é um gás se solidificar...

- Ah! Meu nome é Breno.

Enquanto andamos, Guino não parou de falar sobre a noite, a floresta, livros (acho que viu o que estava comigo), mulheres, animais. Comida. Não sei porque resolvi olhar para ele através do meu espelho que peguei no meu farnel. Na mesma hora ele se virou pela primeira vez para me olhar e se vê. Seus olhos se avermelham de ódio, seu rosto estava horrível, suas mãos... duas garras e seus dentes enormes. No espelho, sob sua forma transparente ele me abraça. Beija meu pescoço. Meu pênis erige-se enquanto meu corpo amolece. Foi a melhor coisa do mundo. É a melhor coisa do mundo.

 

Em português:

 

Na Argentina e no Uruguai os casais trocam doces e juras de amor, pois é o Día de San Valentín; o dia dos namorados destes e outros países. Mas esta história não se passa fora, mas dentro do Brasil.

Aqui o dia amanheceu nublado e neblinado; algo meio avermelhado, meio cinza. Isso em todos os estados e municípios do país. Em todos!

Guino é do poder econômico e todos do poder econômico, são como Guino. Com mais de quatro anos de planejamentos e estratégias, Guino e seus semelhantes, assumem o poder político.

Com a venda das águas brasileiras; desgaste do saneamento básico; tomada das reservas indígenas; extermínio da população do MST; uso indiscriminado de agrotóxico da Bayer, Monsanto, BASF, Dow AgroSciences, Du Pont, Syngenta e a mais popular e perigosa: Roundup; queimadas no Pantanal mais as queimadas e desmatamentos na Amazônia. Não se pode esquecer dos desenvolvimentos de empresas de ônibus e, principalmente, de caminhões; com o desvio de dinheiro para maquinários ecológicos ou menos poluentes compraram os mais baratos, mais nocivos e com tecnologia ultrapassada; o descuido com a FIOCRUZ, com o Butantã, com as Universidades Federais; a recusa em comprar vacinas contra covid-19. O não gasto em desenvolvimento foi contabilizado, mas ficaram nos bolsos dos empresários.

Guino e seus pares somados aos quase cinquenta e oito milhões de Párias criaram o clima nublado, neblinado e vermelho acinzentado fazendo a danação da nação. Disse antes que isso aconteceu em todos os municípios do Brasil; mas aqui cabe uma correção. Nuvens e neblinas não obedecem às fronteiras. Para os padrões humanos elas têm organização aleatória. Há partes do Oceano Atlântico cobertas e partes costeiras descobertas. Há cidades antes das fronteiras com países Sul Americanos e há cidades nessas nações cobertas pelo mal.

Sim, pelo mal. Explico-me se ainda não entendeu (o que acho pouco provável).

Na epígrafe já foi muito bem explicitado que Guino é um vampiro. Já falei dele em outras histórias. E agora ele tomou posse do Brasil.

Durante os anos de preparação os alimentos para os humanos foram garantindo pelas indústrias de agrotóxicos; cuja renda maior passou a ser a venda de sementes geneticamente modificadas. Nada saudáveis, mas tornam o sangue mais saboroso.

E agora a luz que chega ao território nacional é ineficiente para controlar os vampiros. Uns poucos mil vampiros, cinquenta e oito milhões de semivampiros (estes são os Párias); e no Planalto Central o Escatológico assinando documento e não dizendo coisa com coisa desviando a atenção.

O ataque começou assim:

No correr do dia treze de fevereiro de 2021 o céu formou um pálio cobrindo parte da Terra do Sol.

Às 3:33 da madrugada do dia quatorze, Guino deu seu grito de guerra ecoado pelos outros vampiros.

Os Párias despertaram. Saíram de sua zona de falsa consciência para sua natureza de inconsequente inconsciência.

Atacaram, destroçaram seus pais, avós, seus filhos, netos, seus maridos ou esposas. Depois foram aos vizinhos.

Em pouco tempo duzentos mil mortos. Quatro meses depois já eram meio milhão; e o número a crescer exponencialmente.

Um exemplo:

O advogado Sá Teixeira ainda dormia quando o eco vampírico despertou o gene ruim. Suas pupilas avermelharam, sua íris ficou amarela e a esclerótica, arroxeada. Os caninos dobraram de tamanho, arquearam como dentes de serpentes e afinaram como agulhas com um sulco por onde escorre os venenos.

O primeiro veneno é paralisante, anestesiante e contrastando com eficiência sensibiliza os genitais excitando-os mesmo sem toques. Assim, o vampiro suga o sangue, come a carne da presa sem este reagir.

Após algumas vítimas o Pária consegue controlar-se o suficiente para imobilizar a presa, alimentar-se sem destroçá-la e inocular o segundo veneno.

Para produzir o segundo veneno o Pária necessita de sangue e carne para suas glândulas digestivas produzirem uma espécie de vômito que vai para a boca e diluindo-se forma a saliva. As gengivas absorvem o veneno e através dos dentes modificados transforma a vítima em outro Pária. Uma vez lançado o veneno transformador a fome retorna para destroçar novas presas. Assim é formado o ciclo.

O advogado Sá Teixeira e sua mulher, uma médica, passaram pelo mesmo processo. Ainda dormindo os olhos, os dentes, os órgãos digestivos, as mãos e unhas se modificaram nas poucas horas antes do que seria o nascer do sol.

Abriram os olhos juntos, olharam-se e não se reconheceram. Rosnaram um para o outro, mas não servindo de comida saíram da cama.

A mulher foi para o quarto ao lado e o marido para a cozinha.

No quarto, duas crianças e na cozinha a sogra preparava o café.

A velha deu um leve grito de surto, mas empurrada para a parede recebeu a mordida. Ficou vendo o genro acabar com seu sangue e arrancar partes de seu pescoço, seios flácidos e braços. Foi gostoso como orgasmos múltiplos.

A criança mais perto da porta não gritou; paralisada antes de assustar-se. Sem conseguir abrir os olhos sentiu seu sangue molhar a cama enquanto sentia um prazer desconhecido.

O som da carne destroçando-se acordou a criança da outra cama ao mesmo tempo que o pai ia para o quarto do filho adolescente.

O grito da criança acordou o irmão no outro aposento e chamou a atenção da mãe.

A criança tentou correr e o adolescente quis avançar para o pai sem saber o que lhe esperava.

A criança quebrou a janela ao ser jogada contra ela e o sangue jorrou pelos cortes; atiçando a Pária.

O adolescente sentiu seu pau e se assustou com o tesão sem sentido pelo pai. Morreu sem entender porque seu pai o devorava e porque ejaculava.

Sem mais ninguém na casa o casal saíra desvairado à rua. Em algumas casas acontecia o mesmo e outras casas eram invadidas.

O céu cinza e o ar nublado não eram percebidos pelos Párias e as presas não tinham tempo de observá-las.

No Brasil e no mundo há outros grupos não humanos. A maioria não é parasita; como os bruxos, sacis, curupiras...

Saci.

Vampiros não ousam enfrentá-los. Se estes não indestrutíveis também não são presas fáceis. Os Párias não dispõem de razão, mas não atacam os não humanos por instinto.

Os não humanos não se envolvem nos negócios dos vampiros. Porém desta vez o clima intervém no seu habitat.

A primeira medida que tomaram foi a criação de redomas com consistência de bolhas. E mesmo nos centros urbanos o ar é bom, a neblina não é tóxica e quando o céu se nubla é a natureza em um de seus momentos.

A segunda medida tomada foi não entrar em guerra. O planeta se cuida mesmo sem gente humana ou não humana. Em verdade, o planeta não necessita de gente. Os não humanos sabem disso e deixam a natureza fluir. Enquanto ela se equilibra os não humanos criam campos urbanos ou silvestres para eles, para os animais, plantas e humanos que os encontrar.

Meses depois do Valentim da Morte em um acampamento, humanos e não humanos festejam a lua no céu limpo.

Lima e Barreto se beijam debaixo de um caramanchão. Uma mulher passa perto deles e bate a cabeça num enfeite. Rindo, Barreto diz “só mesmo humano para não diferenciar lata de flor”.

O tempo não para e não sobra mais humanos fora dos acampamentos mágicos. Do Brasil não resta muita coisa então Guino vai de país em país da América Latina e depois para a parte Norte do continente. Os Párias vão se inanindo à extinção. Após o fim da América quais serão os próximos países? O que sei é que o mundo não precisa de gente...

O planeta continua se cuidando (é por isso que o mundo permitiu os parasitas, para limpar-se). Um dia a vida como foi até o século XXI não mais subsistirá. Parasitas se extinguem com a morte do hospedeiro. O que será dos vampiros? Dos Párias já sabemos, mas dos conscientes? De qualquer modo a Terra está tranquila.

Os não humanos estão igualmente tranquilos. Se a natureza os selecionar continuarão no que disse Antoine Laurent Lavoisier.

 

 

Principales partes en español:

CONDENACIÓN DE LA NACIÓN

 

Guino es del poder económico y todos del poder económico son vampiros. Tras años de planes y estrategias Guino y sus pares asumen el poder político.

Con la venda de las aguas brasileñas; desgaste del saneamiento básico; tomada de las reservas indígenas; exterminio de la población de las reformas agrarias; uso indiscriminado de pesticidas de la Bayer, Monsanto, Basf, Dow AgroSciences, Du Pont, Syngemta y la más popular y peligrosa: Roundup; quemadas en el Pantanal más las quemadas y derribada de Floresta Amazónica. No se puede olvidar del desarrollo de empresas de autobús y camiones; del desvío de dinero para la ecología; ni del descuido con la FIOCRUZ, con el Butantan, con las Universidades públicas; la recusa en comprar vacunas contra el covid-19…

Guino y sus iguales más los casi cincuenta y ocho millones de Parias crearon el clima nublado, brumoso y rojo grisáceo haciendo la condenación de la nación.

En los años de preparación los alimentos para los humanos fueron garantizados por las industrias agrícolas; cuya renta principal era la venda de semillas genéticamente modificadas. Nada saludables, pero tornan la sangra más rica.

Con la luz que ahora llega al territorio nacional es ineficiente para controlar a los vampiros unos mil vampiros, cincuenta y ocho millones de semivampiros (eses son los Parias); y Brasilia el Escatológico firmando documentos y nunca dando pie con bola descarrilla la atención.

El ataque empezó así:

En el correr del día trece de febrero de 2021 el cielo fue cubierto por una pabellón a empanar el Sol.

A las 3:33 de la madrugada del día catorce, Guino hizo el grito de guerra que despertó a los Parias. Ellos salieron de su zona de falsa consciencia para su naturaleza de inconsecuente inconsciencia.

Atacaron, destrozaron sus padres, abuelos, hijos, nietos, maridos, esposas… Después a los vecinos. En un rato, doscientos mil muertos. Cuatro meses después ya eran quinientos mil muertos y el número a crecer exponencialmente.

El eco del grito vampírico despertó el gene malo; enrojeció la pupilas, las iris amarillaron y la esclerótica se quedaron moradas. Los colmillos doblaron de tamaño, arquearon como dientes de serpientes y afilaron como agujas de donde salían los venenos.

El primer veneno es paralizante, anestésico y provoca sensibilización y excitación de los genitales. Así el Paria chupa la sangre y come la carne sin la presa reaccionar.

Tras un par de víctimas el Paria consigue controlarse el suficiente para inmovilizar la presa, alimentarse sin destrozarla e inocular el segundo veneno.

Para producir el según veneno el Paria necesita de sangre y carne para sus glándulas digestivas produjeren una especie de vómito que va para la boca y diluyéndose se forma la saliva. Las encías absorben el veneno y a través de los dientes modificados convierte a la víctima en otro Paria. Una vez lanzado el veneno cambiante el hambre retorna para destrozar nuevas presas. Así es formado el ciclo.

No Brasil hay otros grupo no humanos. La mayoría nos es de parásitos; como los brujos, los sacís, los curupiras…

Curupira.

Porque son inteligentes los vampiros no los enfrentan. Y por instinto los Parias también no los enfrentan. Y los demás no humanos no se involucran en los asuntos de los vampiros. Sin embargo, ahora el clima interviene en sus reinos.

La primera medida que tomaron fue la creación de redomas con consistencia de burbujas con la capacidad de limpiar la polución y virus.

La segunda medida tomada fue no entrar en guerra. El planeta se cuida mismo sin gente humana o no humana. En verdad, el planeta no necesita de personas. Los no humanos saben de eso y dejan la naturaleza fluir. Mientras ella se equilibra los no humanos crean campos urbanos y silvestres para ellos, para los animales, plantas y, si los encuentran, para los humanos.

Meses después del Valentín de la Muerte en un acampamento, humanos y no humanos, festejan la luna en el cielo limpio.

El tiempo no para y no hay más humanos fueran de los acampamentos mágicos. De Brasil no hay mucha cosa más y por eso Guino se traslada de un país a otro en toda Latinoamérica hasta ocupar todo el continente, de Sur a Norte. Los Parias se van muriendo de inanición. Después de América, ¿cuáles países y continentes se han de morir? No sé, pero el mundo no necesita de personas…

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Faire (Amnon K. Oliveira), Jaydson Sousa, Salomão A. Costa, Vilma Zeferino e Feliciana Saldanha.

 

BORGES, Helena (o Globo). Estudo mapeia as dez empresas que dominam o mercado de agrotóxicos no mundo. Disponível: https://actbr.org.br/post/estudo-mapeia-as-dez-empresas-que-dominam-o-mercado-de-agrotoxicos-no-mundo/17568/ . Acesso 22 Fev 2021.

 


Rubem Leite
é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens:

Saci: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/trick-ou-treat-dizia-o-saci-polarizacao-do-dia-das-bruxas.phtml

Curupira: https://dana.com.br/social/nossos-projetos/lendas-brasileiras/curupira/

Autor: Vinícius Siman.

 

Na madrugada de 14 de fevereiro de 2021 tive o sonho ruim que deu origem a este cronto. No hospital Municipal de Ipatinga, acompanhando minha mãe, escrevi o manuscrito enquanto ela descansava. Dia 16 de fevereiro ela falece por parada cardíaca súbita motivada pelo convid-19. O cronto foi digitado e trabalhado entre os dias 22 de fevereiro e 20 de junho do mesmo ano.

domingo, 13 de junho de 2021

DURA TERRA

 

Santo Antônio de Batalha,

Faz de mim batalhador.

Corre e gira Pomba Gira,

Tranca Rua e Marabô.

Laroyê Exu!¹

 

Quem me abraçava antigamente,

Meu Santo Antônio,

Hoje quer me derrubar.

Saravá, meu Santo Antônio,

Sou filho seu.

Abençoai meus inimigos,

Meu Santo Antônio,

Pelo amor de Deus.²

 

O galo cantou

Tornou a cantar

Santo Antônio amarrador

Ele sabe desamarrar.³

  

 

Para que escrever?

Para que ensinar?

 

Chove há três dias.

– Ninguém ressuscitou  –.

Chuva miúda,

Boa pra terra

– Terra boa pra plantar

Para cultivar meio milhão

E ver se vinga o fim do vilão  –.

Chuva miúda

A esfriar o tempo.

 

Olho

Um estudante

Tento ver seu rosto.

Olho

Uma gente

Tento ver seu rosto.

 

E

 

Desânimo!

Do que está,

Do que virá:

Medo!

As religiões,

As políticas:

Ignorância!

 

Brasil:

 

Alvo

Corpo

Negro

Branco

Corpo

Salvo

 

Santo Antônio,

O que quero

É sair, inexistir

Mas o que tenho

É ser batalhador

 

Ouço do vento

Ou da fantasia

Ou talvez do santo:

Quem te lançou palavras

Lança-te pedras.

Quem te laçou com abraços

E disse: Toma, é teu!

É quem te desenlaça

Dizendo sobre o que te entregou:

Não tomes o que é meu!

 

Para isso escreve

Para isso ensina.

Drummond diz:

“Se você morresse

Mas você não morre,

Você é duro”.

E sou Santo Antônio, o Exu!

Sou terra

Terra da terra

O que está por baixo e por cima

O que se faz por baixo e por cima

Sou terra.

E por isso

Se Tranco Rua

Também abro Caminhos.

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Mª Silva Bueno e Alexis Senshi.

Ofereço ao meu mais recente contato no Caralivro e, espero, amigo na vida: Gustavo Drumond.

Ofereço a família Jah a partir pelo mundo: meus filhos Andrés e Erika, meus netos Lion e Kael.

 

Recomendo a leitura de:

“O pássaro e o que sofre”, de Eraldo Maia:

http://eraldomaia.blogspot.com/2021/06/o-passaro-e-o-que-sofre.html

“Nudez infinita”, de António MR Martins:

http://poesia-avulsa.blogspot.com/2021/06/nudez-infinita.html

 

¹ Exu – Santo Antônio de Batalha:

https://www.youtube.com/watch?v=bCPEVQBGiD4

² Ponto de Descarrego – Santo Antônio da Ribeira:

https://www.youtube.com/watch?v=aDP-s0pJ6Gk

³ Pontos para Santo Antônio:

https://www.youtube.com/watch?v=6qLW9d0idB0

Observações:

No sincretismo Santo Antônio é Exu. Marabô é designação do Exu da Terra; entidade muito poderosa. E laroyê é uma das muitas formas de cumprimentar Exu. (Informações a mim repassada pelo músico Rubens Ramalho).

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens:

Santo Antônio, foto tirada pelo autor (a imagem me foi presenteada por Vinícius Siman);

Rubem dando bandeira, foto tirada por Vinícius Siman.

 

Escrito e trabalhado entre 10 de março e 13 de junho de 2021.

domingo, 6 de junho de 2021

MORREU POR IMPUNIDADE

 

Pai meu que está no Céu, santificado é só o meu nome. Venha a mim o meu reino (e para de enrolar, seu va-ga-bun-do). Seja feita a minha vontade assim na terra plana como no Céu. O pão meu de cada dia (pão nada, que isso é coisa de pobre; só comida cara) me dá agora (que não sou obrigado a esperar). Nada tenho que ser perdoado, mas perdoo Jesus, o comunista. E não perdoo quem me ofende. Não me deixeis cair na tentação de amar meu próximo e empurrai aos demais pros infernos.

Armem.

 

Os dias são domingo e depois segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado, domingo, segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado, domingo, segunda terça, quarta, quinta, sexta, sábado...

O dia e a noite, o dia e a noite, o dia e a noite... Se fazem madrugada, manhã, tarde, noite, madrugada, manhã, tarde, noite, madrugada, manhã, tarde, noite...

Estamos em junho que se seguirá por julho, agosto, setembro, outubro, novembro, dezembro, janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho, julho, agosto, setembro...

Milênios antes da Via-Láctea, milênios com Via-Láctea, milênios depois da Via-Láctea... Milênio de formação da Terra, milênios antes dos sapiens, milênios com os sapiens e milênios após.

 

 

Ouvi num vídeo da atriz Denise Fraga que me tirou lágrima. Ela se encontrara com uma amiga de baixa instrução que chorava a morte do irmão morto pelo covid. Essa pessoa comentou com a atriz:

- Meu irmão morreu de covid porque estava com a impunidade baixa.

A atriz, naquele momento de dor da amiga, decidiu não corrigir o erro: não é impunidade; é imunidade. Mas ela teve vontade de dizer:

- O seu irmão não morreu de impunidade baixa. Ele morreu de covid por causa da impunidade alta.

O Pazuello foi castigado com uma pensão vitalícia. – Dou uma triste risada. – E todas essas pessoas que cometem os mais bárbaros crimes contra os mais fracos nada lhes acontecerá porque sua impunidade é altíssima. Nada vai lhes acontecer. Denise Fraga fala da ironia que o problema não foi a baixa imunidade do rapaz e sim a alta impunidade... – não da elite porque isso exigiria elevado teor intelectual entre outras coisas. – Alta impunidade de quem está no poder.

 

Um gemido ou arfar desalentado escapa de meu peito.

 

Não deveríamos permitir que pessoas como os prefeitos de Coronel Fabriciano, Ipatinga e Timóteo, policiais, militares, empresários, vereadores, deputados, senadores, governadores, presidentes saiam impunes.

- A ética tinha que ser uma realidade. – Diz um inteligente amigo. – Não importa quem deveria ser julgado segundo as leis e comprovado o crime, condenado. O essencial é a educação. Educação é a chave de tudo.

- Não há como dizer que educação... – Não consigo completar a relevância da educação. Há muita amargura em meu corpo para a lógica sair com facilidade. – Temos que educar as crianças, educar os pais, educar os políticos, educar os policiais, educar os sacerdotes de todos os credos, educar os médicos, os advogados, quem varre rua, quem caminha pelas ruas, quem está vendendo, quem está comprando. Sem educação nada funciona. Mas quem educará? Quarta-feira fui a um advogado e vi pela tela de seu computador a página de watzap. Um dos grupos que ele segue é “somos todos Boçalnato”. Precisamos educar sobretudo aos professores. Mas quem seria os educadores? Faz tempos e tempos que digo que os professores deveriam ser a elite intelectual dos municípios. E só a escola onde trabalho grande parte foi eleitora do Boçalnato. Vê-se que eles não têm nenhum intelecto. O que estão ensinando? Se só conseguem dizer “petêêê, Luladrão! Miiiito!”. Mas eu concordo com o senhor, educação é... O que não consigo ver é quem educará.

- Essa CPI – Diz uma amiga igualmente inteligente – só desperta angústia, ódio... Na Praça Primeiro de Maio, no Centro de Ipatinga tem uma barraca buscando filiação para o partido do Boçalnato. Parece que eles existem para despertar empatia. Mas como ter empatia com gente assim? Se eles exterminam os índios; fizeram dois homens perderem um de seus olhos; ameaçaram estuprar uma criança de cinco anos por ser filha de uma importante política da esquerda. Gostaria poder confrontar essa gente, mas me sinto com medo. Não sei o que dizer-lhes.

- Confrontar, comentar como? Dizer o que para eles? Boçalnato, antes de ser eleito, já se declarava corrupto, que sonegava impostos; que ia tirar até o último centímetro de terra dos indígenas; que negro se pesa em arroba. E aí vai... Não há como confrontar uma pessoa que não se importa com nada disso. Não há como discutir. Ouvi uma história:

Um burro e um tigre discutiam sobre a cor da mata. O burro zurrava que era azul e o tigre bramia que era verde. Depois de tanto discutirem decidiram conversar com o rei leão.

O burro azurrou enfaticamente que a mata era azul e que o tigre deveria ser punido por espalhar “fêiqui nius”.

O rei leão declarou:

- Tudo bem, senhor burro. O tigre terá como punição a obrigação de ficar calado por quatro anos.

O burro saiu todo contente a ornejar sua sapiência e o merecido castigo do tigre mentiroso.

- Rei leão, por que vossa majestade concordou com o burro e me castigou se sabe que a mata é verde?

- Puni a vossa alteza porque nunca se discute com burros. Eles são incapazes de compreender a verdade. Espero que o senhor nunca mais perca seu tempo com os imbecis.

E a verdade é que estamos indo para quatro anos sofrendo os males causados pela récua nacional. Eu mesmo discuti com esses imbecis, mas foi em vão. Já foi dito, não me lembro por quem, que os idiotas vencerão o mundo não pela capacidade, mas pela quantidade.

E por que não me calo? Porque sou cigarra a gritar até estourar-me... Esta é minha natureza. Ou talvez até ser devorado pelas formigas milicianas. Essa é a natureza humana.

- Precisamos da Luz de Buda, de Cristo, de Olorum. Precisamos de Luz divina para trilhar sem nos perdemos.

- Precisamos de luz sim. Mas me lembro daquela música:

Diz que Deus dará, diz que Deus dará, mas se Deus não der, ó nega, como é que vai ficar?

- Realmente não podemos transferir a conta para Deus. O problema é nosso. – Uma pausa. – Mas minha esperança é que essas cobras se engulam.

 

Os dias são domingo e depois segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado...

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Adinagruber C. Lima, Éder Rodrigues, Neusa Silva, Luciano A. Maciel, Edney Costa e Claudiane Dias. 



Rubem Leite
é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens: fotos do autor.

 

Escrito entre os dias 04 e 06 de junho de 2021.