segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

CANTO DE PÁSSARO

CANTO DE PÁJARO


Potira itapitanga.

Sábado, dia 26 de dezembro, foi aniversário de minha mãe
Maria Ettiene Weber Leite.

My mother’s voice is song of the bird.

Bye-bye old year.
Adiós año viejo.
Adeus ano velho.


Em português

A voz de minha mãe é canto de ave.
E ela vestiu hoje uma camisa puída
Estranhamente a cidade ficou menos poluída
Da manga se desprega a renda
E não nos sentimos com menos renda
Sua camisa foi anteriormente de sua mãe e antes foi de sua avó
Mais de cem anos... um retrô curió.

Paro de escrever um instante e vejo o salão verde repleto de damas de vermelho dançando umas com as outras. Alheias ou desinteressadas pelos machos aqui fora. E nós olhando-as ignorados. Um segundo de violência passou por minha cabeça e envergonhado olho para os lados. “E meu medo de que nunca mudemos?”. A vergonha me para, graças a Deus. Pena que ainda haja o que deter...
- Benito, o que tanto você cisma?
- O besouro e as flores...
- O quê?
- Nada! – O Feirarte está vazio de barracas; mas cheio de frequentadores, porém não tanto como deveria. E o vento passeia entre as árvores, barracas, pessoas. – O que acha do cantor?
- Bom! Qual o nome dele?
- Dário de Freitas.
- É, ele é bom.
Na mesa ao lado alguém olha o cantor de um modo que pensei ser apaixonado, mas que na verdade acho que não seja. Pena! Mas na verdade eu gostaria que seu olhar fosse para mim e que fosse de amor. Não paixão. Amor! Mas não me olha e vou-me embora.
As damas do salão verde dançam com o vento e dormem com os besouros. E meu medo de que nunca mudemos se encolhe enquanto escrevo antes do ano novo.


En español

La voz de mi madre es canto de ave.
Y ella se vistió hoy una camisa raída
Extrañamente la ciudad se quedó menos contaminada
De la manga se despega la randa
Y no nos sentimos con menos renda
Su camisa ya sido de su madre y antes fue de su vuela
Más de cien años… un retro curió¹

Paro de escribir un ratito y miro el salón de baile verde cargado de damas de rojo danzando unas con las otras. Ajenas o desinteresadas por los machos aquí fuera. Y nosotros mirándolas ignorados. Un segundo de violencia cruzó mi cabeza y con vergüenza ojo alrededor. “¿Y mi miedo de que nunca nos cambiemos?”. La vergüenza me estanca, gracias a Dios. Es una lástima que todavía haya lo que detener…
- Benito, ¿qué tanto devaneas?
- El escarabajo y las flores…
- ¿Qué?
- ¡Nada! – El Feirarte está vacío de puestos; sin embargo, está lleno de asiduos, pero no tanto como debería. Y el viento pasea entre los árboles, puestos, personas. – ¿Qué piensas del cantante?
- Él es bueno. ¿De dónde es y cómo se llama?
- Él es argentino y su nombre es Sandro. Me gusta la música Penumbras que estay cantando ahora. “Ternura que sin prisa apura \ caricias que brinda el amor”.
- Él es bueno.
- ¡Sí, verdad! Qué triste que él está muerto…
En la mesa al lado alguien mira el cantante de una manera que pensé ser apasionada, pero que en verdad creo que no sea. ¡Qué lástima! Sin embargo, en verdad me gustaría que su mirada fuese para mí e que fuese de amor. No pasión. ¡Amor! Pero no me mira y me voy.
Las damas del salón verde bailan con el viento y se acostan con los escarabajos. Y mi miedo de que nunca cambiemos se encoge mientras escribo antes del año nuevo.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Ítalo Rafael, Souza Maria, Didier Ferreira, Kívia Kiara, Marconio Souza, Ivanete Valverde, Melyssa Freitas, Gustavo A. Spada, Bill (Joaquim Tiago), Nathy Costa, Alvine Kengni, Felipe Moreira, Maximiano Lagares, Flavia, Rohdt, María J. Izquierdo, Mayron Engel e Felipe Freitas.

Ofereço também às bodas de meus irmãos
Elecir J. Macedo e Mª Fátima W.L. Macedo, Ricardo A.W. Leite e Imperatriz B.W. Leite (Theia).

Recomendo a leitura do poema de Jackeline V. Valentim: http://zumbiliterario.blogspot.com.br/2015/12/blog-post.html

¹ Curió es una ave brasileña de bello canto; he hecho un juguete de palabras: curió y curiosidad.

Potira itapitanga são duas palavras que vem do tupi e significam “flor” e “pedra vermelha” (rubi). É meu desejo que cada leitor encontre em meus textos flores e pedras preciosas.


Sem registro da data de início da criação do poema. Porém o texto inteiro foi trabalhado entre os dias 08 de junho e 28 de dezembro 2015.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

AÇÕES

Potira itapitanga.


A manhã está linda. Não importa se nublada. Encostado no muro cinzento estou sentado tendo outro muro marrom-acinzentado diante de mim, oitis bem verdejantes, um de cada lado, e acima de mim galhos de uma árvore morta pelas constantes fogueirinhas que drogaditos fizeram em sua base. Estou parado em uma linda manhã nublada. Nada fazendo porque estou fazendo tudo o que passo. Estou escrevendo e...
- Oi!
- Oi!
- Onde você estava ontem? Eu te procurei e não achei em lugar nenhum.
- Eu estava na praia.
- Estava bom lá?
- Não! Teve um momento que fiquei com medo.
- De quê?
- De um sorriso...
- Quê?
- Era o sorriso de um tubarão.
- Ai, que susto!
- Mas o terror passou logo.
- ?
- Suspirei aliviado quando lembrei que não era um político sorrindo...
- Pois é! Já pensou se fosse do governador do Paraná?
- Eita! Eu sou professor...
- E eu sou estudante...
- Então cuidado para não ir para São Paulo...
- Deus me livre.
- Rerrê.
- Vou indo. Vejo que está ocupado segurando este caderno e... que livro é esse?
- São dois na verdade. Um é Antología, de Federico Garcia Lorca e o outro é ¡A Escena!, de vários autores.
- Estão em espanhol?
- Sim, estão.
- Então... Até mais.
- Até! – E volto ao que fazia antes.

Entre as rendas dos galhos negros
Meia lua brilha entre cinzas nuvens
Entre as ruas de pedras cinzentas
Íntegro entre os não íntegros.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Alexsandra Gregório, Clayton Heringe, Natalia Coutto, Alison W. Martins, Jhoyce Oliveira, Maria de Maria, Simone Silva, Eliés F. Souza, Diego Cortezao, Deiverson Tófano, Éderson Caldas e Ítalo Rafael.

Recomendo a leitura de http://www.carosamigos.com.br/index.php/especial-mariana/5769-a-terceira-margem-do-rio-doce

Escrito entre o princípio da manhã de 10 de maio e 21 de dezembro de 2015.


segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

RUMO

RUMBODIRECTION





DESAFIO AOS POETAS: FOTO POESIA.
A foto foi tirada por Alex Mendes do Conjunto Retrato e nos sugere milhares de situações. Fica ai o desafio a todos os poetas do FACE para criarem uma poesia através deste flagrante. Boa Sorte.
Ivan Ferretti Machado – feicebuque – 05 de agosto de 2014.


Potira itapitanga.


Ler é um embate entre o que já sabemos do mundo da realidade física e social. (...) É que as palavras pretendem dizer uma coisa e muitas vezes terminam por dizer outra. (...) O ato de ler é um vaivém constante entre o conhecido e o desconhecido, um olhar para a frente e para trás, na página do livro, e isso se dá em qualquer fase da vida, em qualquer idade, em qualquer tipo de texto, consabidamente literários ou não.
SARMENTO LIMA.


Em português

Perde-se no tempo
Uma vida
Mas sigo meu caminho
De pedra
Rumo ao meu destino
De árvore


En español

Se pierde en el tiempo
Una vida
Pero sigo mi camino
De piedra
Rumbo a mi destino
De árbol


En English

Lose a life
In the time
But, I take my route
Of the rock
In the direction of my destiny
Of the tree


Ofereço como presente aos aniversariantes
Ione Dumont, Lenilson Fonsêca, Patricia Rodrigues, Bernardo Baião, Martínez John, Kemilly Almeida, Lucas Alvisi, Renata Sousa, Dado Aragon, Heloisa Davino, Fabio S. Rodrigues, Marilene Tuler, Wyllon Jheffer, Drika Nunes, Thaylyny Emanuela, Gersi Santos, Graciela Pedra, Rodrigo P. Di Stani e Ícaro Freitas.

Agradeço a Deus pelo meu pai, de quem herdei o nome e muito do que tenho de bom, que faria noventa anos no dia 15. Muito obrigado! ¡Muchas gracias! Thank you!

SARAU COM ARAK no Tuffik Cozinha Árabe, bairro Novo Cruzeiro Ipatinga, 14-12, 19:30h.

Recomendo a leitura de “Ecos”, de Ely Monteiro e “Caminhos”, de Pedro du Bois. Respectivamente:

Revisão em inglês: Sônia Frei.

SARMENTO LIMA, Roberto. Folhas ao Vento; revista Conhecimento Prático Língua Portuguesa, nº 46. Editora Escala.

Escrito entre 05 de agosto de 2014 e 14 de dezembro de 2015.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

FOGUEIRA

Potira itapitanga.


Sembrando hogueras,
Donde joven y desnuda
La imaginación se quema.

Corrí el mejor de los caminos,
Montado en potra de nácar
Sin bridas y sin estribos.
LORCA.


Oi! Eu sou Berenice. Qual é seu nome? – Pausa para você responder. – Prazer em te conhecer. Eu fui fecundada no fim da tarde do quinto dia do quinto mês, gestada entre os dias 06 de maio e 06 de dezembro e nasci no dia 07. Tudo no ano de 2015. Porém, enquanto personagem, eu tenho perpétuos vinte e um aninhos. Tenho um metro e setenta, cabelos naturalmente vermelhos, olhos verdes e, por incrível que pareça, minha pele é quase mulata. Devo ser algum tipo de mutante. Pena que não tenho superpoderes. Exceto, talvez, minha beleza e gostosura... Mas vamos à história que papai quer contar através de mim.
Na Biblioteca Pública Central de Ideias peguei dois livros: “Aritmética de Emília” e “Geografia de Dona Benta”. É que papai gosta muito de literatura infantojuvenil. E ele está, polêmicas à parte, encantando com Monteiro Lobato. Portanto eu também estou lendo. E vim embora montada na minha bicicleta. No bicicletário um homem magro, músculos definidos, uns quarenta e três anos, pele igual à minha, cabelos curtos e negros, olhos castanhos bem escuros, bonito e gostosinho. Mas você deve ter notado que mal o percebo... Pego minha bicicleta e saio. Espero o semáforo abrir para atravessar a BR. Enquanto isso o homem se aproxima correndo e pergunta se apertei o botão para a mudança do sinal. Atravessamos quando o sinal abre e como estávamos indo para a mesma direção ele começa a conversar comigo.
- Eu sou Diônata. E você?
- Berenice.
- Importa de irmos conversando? É muito chato correr sozinho.
- Não. Podemos conversar. – Digo enquanto penso “Acho que vou comer esse homem”.
- Eu sou fã de Ayrton Senna e ele era fã meu. Nem acredito que dia primeiro de maio fez vinte e um anos que ele morreu. – Nada falo, mas penso: Fui fecundada quatro dias depois do aniversário de sua morte. – Eu era sempre campeão de corrida, sabe. Estava sempre no pódio. Sempre entre os três primeiros. Mas, confesso, comecei a me empolgar com o dinheiro que ganhava. Estava sempre em festas e acabei me envolvendo com bebidas. Passei a ficar longe do pódio... Não gostei e me deprimi. Desisti. Fui ficando gordo... Acredita que dois meses e meio atrás eu pesava mais de oitenta quilos? E agora estou com sessenta e cinco. Sabe como emagreci? Água de berinjela. Se faz assim: pega uma garrafa de dois litros e meio, mas só coloca dois litros d’água. Parte uma berinjela em fatias, como se fosse batata palito, e coloca na água. Deixa por pelos menos de um dia para outro. Ao acordar beba um copo com limão e durante o dia pelo menos três copos, mas sem limão. Emagrece que é uma beleza. Também tem o pó... – Por que ele insiste em explicar-me a receita? Estará me chamando de gorda? Ótimo! Porque não sou magrela mesmo; sou gostosa. – A berinjela que usou, você põe para secar ao sol por uns dois dias, mas não pode pegar chuva nem ficar no sereno. Aquece o forno, ponha a berinjela seca e deixe por dois minutos. Depois moa no liquidificador e coloque uma colher do pó na comida. É bão de mais. Sabe! O Senna era um cara bom. Ele sempre ajudava pessoas com câncer. Até hoje fazem isso em nome dele. Pode pedalar mais rápido que corro mais que isso. – Ele acelerou e deu para ver a bundinha dele. A coceirinha que eu já estava sentido ficou ainda maior e melhor... – Eu estou mudando de emprego. Fiz um teste para uma empresa belga com escritórios em diversas cidades do Brasil. Eu passei e devo ir para o Rio ou São Paulo. Você conhece alguma língua?
- Além do português falo inglês e espanhol. Aprendi com meu pai.
- Eu só o português e o inglês. Estou pensando em estudar também o francês, por causa da empresa. Quero crescer bastante.
- Eu pretendo conhecer italiano e francês.
- Línguas bonitas... Sabe! Fiquei quase vinte anos fora das corridas, mas no final de 2014 foi me dando uma vontade de voltar. Fevereiro retornei, mas quis correr como se ainda tivesse vinte anos. Não deu. Tive que ficar duas semanas me recuperando. Desde então tenho aumentado o ritmo aos poucos e hoje estou quase bom. Penso em participar da equipe de elite da São Silvestre. Você tem namorado?
- Não! Ainda não.
- Também estou sem namorada. Terminamos umas duas semanas atrás. O emprego na empresa belga me pagará um bom salário. Bem maior do que eu recebia na outra empresa. – No meio da ciclovia uma moto parada e um sujeito ao celular. Ambos ocupando mais da metade da pista. – Para onde você está indo, Berenice?
- Para o Centro.
- Ah! Estou indo para o Iguaçu. Vou atravessar o bairro até chegar ao meu. Estou cansado e me esforcei hoje mais do que das outras vezes. Mas estou querendo sempre me superar. Já fui muito bobo. Não aproveitei o que tinha nem o que podia fazer. Mas se não posso voltar no tempo, posso valorizar o que conquistarei daqui para frente: Namoro, trabalho, esporte. Vou entrar aqui. Se você quiser, Berenice, poderá me encontrar no facebook. Eu gostaria de encontrar você depois.
Trocamos nossos endereços no sítio de relacionamentos. Vamos ver quando ele vai me dar.


Ofereço como presente de aniversário a
Cleber L. Assis, Regina M.T.P. Simão, Alfredo Pires, Chimeni Lins, Camila Santos, Nubia Teodoro e Rayssa Rangel.
Comemoro também o aniversário da Biblioteca Leitura e Olhares.


LORCA, Federico García. Antología. Madrid: LIBSA, 2001. Poemas Romance de la guarda civil española y La casada Infiel.