Potira
itapitanga.
Sembrando hogueras,
Donde joven y desnuda
La imaginación se quema.
Corrí el mejor de los caminos,
Montado en potra de nácar
Sin bridas y sin estribos.
LORCA.
Oi! Eu sou Berenice. Qual é seu nome? – Pausa para você responder. – Prazer em te conhecer. Eu
fui fecundada no fim da tarde do quinto dia do quinto mês, gestada entre os
dias 06 de maio e 06 de dezembro e nasci no dia 07. Tudo no ano de 2015. Porém,
enquanto personagem, eu tenho perpétuos vinte e um aninhos. Tenho um metro e
setenta, cabelos naturalmente vermelhos, olhos verdes e, por incrível que
pareça, minha pele é quase mulata. Devo ser algum tipo de mutante. Pena que não
tenho superpoderes. Exceto, talvez, minha beleza e gostosura... Mas vamos à
história que papai quer contar através de mim.
Na Biblioteca Pública Central de Ideias peguei dois livros: “Aritmética
de Emília” e “Geografia de Dona Benta”. É que papai gosta muito de literatura
infantojuvenil. E ele está, polêmicas à parte, encantando com Monteiro Lobato.
Portanto eu também estou lendo. E vim embora montada na minha bicicleta. No
bicicletário um homem magro, músculos definidos, uns quarenta e três anos, pele
igual à minha, cabelos curtos e negros, olhos castanhos bem escuros, bonito e
gostosinho. Mas você deve ter notado que mal o percebo... Pego minha bicicleta
e saio. Espero o semáforo abrir para atravessar a BR. Enquanto isso o homem se
aproxima correndo e pergunta se apertei o botão para a mudança do sinal. Atravessamos
quando o sinal abre e como estávamos indo para a mesma direção ele começa a
conversar comigo.
- Eu sou Diônata. E você?
- Berenice.
- Importa de irmos conversando? É muito chato correr sozinho.
- Não. Podemos conversar. – Digo enquanto penso “Acho que vou comer esse
homem”.
- Eu sou fã de Ayrton Senna e ele era fã meu. Nem acredito que dia
primeiro de maio fez vinte e um anos que ele morreu. – Nada falo, mas penso: Fui
fecundada quatro dias depois do aniversário de sua morte. – Eu era sempre
campeão de corrida, sabe. Estava sempre no pódio. Sempre entre os três
primeiros. Mas, confesso, comecei a me empolgar com o dinheiro que ganhava.
Estava sempre em festas e acabei me envolvendo com bebidas. Passei a ficar
longe do pódio... Não gostei e me deprimi. Desisti. Fui ficando gordo... Acredita
que dois meses e meio atrás eu pesava mais de oitenta quilos? E agora estou com
sessenta e cinco. Sabe como emagreci? Água de berinjela. Se faz assim: pega uma
garrafa de dois litros e meio, mas só coloca dois litros d’água. Parte uma
berinjela em fatias, como se fosse batata palito, e coloca na água. Deixa por
pelos menos de um dia para outro. Ao acordar beba um copo com limão e durante o
dia pelo menos três copos, mas sem limão. Emagrece que é uma beleza. Também tem
o pó... – Por que ele insiste em explicar-me a receita? Estará me chamando de
gorda? Ótimo! Porque não sou magrela mesmo; sou gostosa. – A berinjela que usou,
você põe para secar ao sol por uns dois dias, mas não pode pegar chuva nem
ficar no sereno. Aquece o forno, ponha a berinjela seca e deixe por dois
minutos. Depois moa no liquidificador e coloque uma colher do pó na comida. É
bão de mais. Sabe! O Senna era um cara bom. Ele sempre ajudava pessoas com
câncer. Até hoje fazem isso em nome dele. Pode pedalar mais rápido que corro
mais que isso. – Ele acelerou e deu para ver a bundinha dele. A coceirinha que
eu já estava sentido ficou ainda maior e melhor... – Eu estou mudando de
emprego. Fiz um teste para uma empresa belga com escritórios em diversas
cidades do Brasil. Eu passei e devo ir para o Rio ou São Paulo. Você conhece
alguma língua?
- Além do português falo inglês e espanhol. Aprendi com meu pai.
- Eu só o português e o inglês. Estou pensando em estudar também o
francês, por causa da empresa. Quero crescer bastante.
- Eu pretendo conhecer italiano e francês.
- Línguas bonitas... Sabe! Fiquei quase vinte anos fora das corridas, mas
no final de 2014 foi me dando uma vontade de voltar. Fevereiro retornei, mas
quis correr como se ainda tivesse vinte anos. Não deu. Tive que ficar duas
semanas me recuperando. Desde então tenho aumentado o ritmo aos poucos e hoje
estou quase bom. Penso em participar da equipe de elite da São Silvestre. Você
tem namorado?
- Não! Ainda não.
- Também estou sem namorada. Terminamos umas duas semanas atrás. O
emprego na empresa belga me pagará um bom salário. Bem maior do que eu recebia
na outra empresa. – No meio da ciclovia uma moto parada e um sujeito ao
celular. Ambos ocupando mais da metade da pista. – Para onde você está indo,
Berenice?
- Para o Centro.
- Ah! Estou indo para o Iguaçu. Vou atravessar o bairro até chegar ao
meu. Estou cansado e me esforcei hoje mais do que das outras vezes. Mas estou
querendo sempre me superar. Já fui muito bobo. Não aproveitei o que tinha nem o
que podia fazer. Mas se não posso voltar no tempo, posso valorizar o que
conquistarei daqui para frente: Namoro, trabalho, esporte. Vou entrar aqui. Se
você quiser, Berenice, poderá me encontrar no facebook. Eu gostaria de
encontrar você depois.
Trocamos nossos endereços no sítio de relacionamentos. Vamos ver quando
ele vai me dar.
Ofereço como presente de aniversário a
Cleber L. Assis, Regina M.T.P. Simão, Alfredo Pires, Chimeni
Lins, Camila Santos, Nubia Teodoro e Rayssa Rangel.
Comemoro também o aniversário da Biblioteca Leitura e
Olhares.
LORCA,
Federico García. Antología. Madrid:
LIBSA, 2001. Poemas Romance de la guarda civil española y La casada Infiel.
3 comentários:
Olá amigo ´crontista´, agradeço as criativas linhas e a dedicatória. Abç
Hummmmmmmmmmmm... Essa mania de ler Lobato num momento que ele está sendo chamado de racista... Gostei da Berenice... De suas qualidades e até de sua cor. Nada tenho contra cores sejam elas pretas, brancas, amarelas ou vermelhas, ou a miríades de cores de suas misturas. O sangue é vermelho e o leite é b ranco, o resto é balela... Lindo "conto" e o Ayrton Senna e seu fã. Bela jogada. Parabéns Rubem Leite, por mais está joia literária. Linda semana da amizade.
Pois, pois, que cronto maluco! Pois, estou com Josmar Divino Ferreira: sangue e leite, o resto é balela. Beijo, querido arteiro.
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