terça-feira, 26 de julho de 2011

duas coisas em julho de 2011

“... até murchar como uma fruta que não é colhida a tempo e cai apodrecida da árvore para o chão”.

LISPECTOR, Clarice – Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres – pág. 71, Editora Sabiá Ltda – 2ª edição

Cicuta suicida

Venerada pelos povos.

Quem chora flores doídas?

Diferenças corvos.


r-o RO. n-a... n-a? n-a-l NAL. d-i, d-i-n. Ah... não! d-i DI. n-h-o. NHO. RONALDINHO. Escreveu o Gaúcho e a Academia Brasileira de Letras lhe deu um prêmio. O Prêmio Machado de Assis.

Máxima dos Dentes: “Não sabia que as letras tinham uma academia pra malhar”.

PROMOVER O BEM DE TODOS ou IGUAIS NA DIFERENÇA – parte 4

Obax anafisa.

- Como bem nos mostrou meus clientes – Interrompe Nena e aproveitando o gancho – e feito eles leio e gosto da Bíblia, mas sabemos que ela foi escrita para uma outra época, outra cultura. A Verdade é absoluta e quem a inspirou foi Deus, mas quem a escreveu foram homens que colocaram no papel a Verdade conforme entenderam. E nem sempre como é. Assim como eu e a douta colega, que graças a Deus somos mulheres, sabemos que podemos propagar a Boa Nova, ensinar, defender ou acusar aos homens, mesmo que nos tenha sido proibido por uma sumidade Bíblica... É importante que todos saibam: a Bíblia foi inscrita por inspiração Divina, mas por pessoas que anotaram no papel conforme tinham capacidade de entender e segundo a cultura e sociedade de priscas eras. E que atualmente, a sociedade já evoluída, deve se portar de modo muito mais maduro. Como declarou Cristo que após Ele viria outro, mais conhecido por Paráclito, para continuar sua Missão de Ensinar a humanidade a Verdade da Vida. E como disse Paulo em uma passagem como devem se portar escravos e senhores e em outra passagem que a sociedade ideal haveria de acabar com tais desigualdades sociais. Ou seja, ambos reconheceram que se conteúdo não é para ser seguido a risca, mas com consciência que foi escrito para pessoas com outra visão. E que essa visão mudaria. Como mudou do Antigo Testamento, que aceitava vingança, por exemplo “Olho por olho...” para o Novo Testamento, que prioriza o amor “ore por quem te persegue” ou “ame seu próximo com a si mesmo”.

- Chega! – Ordena o Juiz. – Aqui não é uma igreja. Atenham-se à jurisprudência.

- Sim! Meritíssimo! – Respondem os quatro.

- Eu! Enquanto interessada no bem estar do adolescente embaso-me na Constituição da República Federativa do Brasil e no Estatuto da Criança e do Adolescente para provar o porquê dos homossexuais não poderem adotar, pois “A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente”. E eles querem o adolescente em questão porque já está em idade em que poderão servi-los sexualmente.

- É um absurdo o que a nobre colega diz, uma vez que, além de ficar fazendo suposições, já decidiu que os meus clientes estão com más intenções. “É dever da família, da sociedade, do Estado e do Município assegurar ao adolescente em questão, como todos os outros, e com absoluta prioridade, o direito à vida, ao respeito, à liberdade e, ressalvo, à convivência familiar. Salvando o menor de idade em questão de toda a forma de negligência e violência”, como os meus clientes têm feito.

- Dra. Nena, “Não se colocará em família substituta a pessoa que não ofereça ambiente familiar adequado”. Primeiro, os seus clientes não são uma família e sim dois homens que vivem maritalmente. Segundo, um local onde se ensina o homossexualismo não é um ambiente adequado. Ainda a questão que o adotante deve ter dezesseis anos ou mais que o adotando. E as diferenças de idade entre seus clientes e o rapaz em questão estão... – examinando seus papéis – entre dez e sete anos apenas. Impedindo a adoção! – Grita!

- “Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos casos de tutela e adoção, para atender as situações peculiares ou suprir a falta eventual dos pais e responsável, podendo ser definido o direito de representação”. Com isso é visto que meus clientes poderão fazer, como já estão fazendo, o melhor para o adolescente. Dando-lhe afeto, respeito, cuidados. Como podem devidamente atestar todas as testemunhas. E meus clientes não estão pedindo a adoção do adolescente que se encontrava em situação mais do que de risco, como podem ver nos autos. E sim serem os responsáveis legais, tê-lo sob a sua guarda o que permitirá a eles fazerem muito mais, como matriculá-lo numa escola e garantir acesso às entidades de saúde. Inseri-lo enfim na comunidade.

Acima e na 3ª parte do presente cronto vimos o correr da segunda audiência que não foi suficiente para resolver a situação do João. No parágrafo imediatamente abaixo, Luiz e eu iremos resumir as três audiências seguintes que tivemos. Mas será Luiz que falará.

Oi, você que lê Rubem, é um prazer falar com você. Então vamos aos fatos, mas como as audiências foram acaloradas e para não prolongar permita-me resumir. Na terceira audiência fizeram de início o que deviam fazer em primeiro lugar: conversar com João, que contou como é a convivência conosco. Que não tinha nem sequer nome uma vez que nunca foi registrado, pois seus pais, mesmo pressionados, nunca cumpriram o dever social de reconhecê-lo. Porque sendo inteligente, aprendeu a ler e escrever através de ong’s ou porque Diretoras de diversas escolas públicas o aceitavam por caridade. E um dia, cansado de apanhar, fugiu e ficou vagando por uns três anos na rua até nos encontramos e sua vida se tornou muito boa. E que se sentiria feliz se não fosse proibido ou impedido de ser feliz. Depois, os pais dele foram convocados para a quarta audiência e o juiz chegou à conclusão que o “Poder Familiar” deveria lhes ser suprimido. E como creio que você está imaginando, na quinta audiência João foi reconhecido, não como filho nosso, porque não temos idade para sermos pais dele, mas como “Menor Sobre Guarda”. Somos agora como irmãos mais velhos para ele. E como João já morava conosco não foi preciso o período de “estágio de convivência”, mas vamos receber por alguns meses visitas de assistentes sociais para acompanhar o caso. E foi decidido que ele teria como sobrenomes o meu e o do Lúcio.

- É assim mesmo, Luiz. E assim esse final foi feliz. E para enriquecer ainda mais o belo final vou falar as últimas palavras do Juiz: “... Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.

- Bom, Lúcio! Acho que ficou claro o resumo acima. Então você deve contar a conversa que teve com Dna Ione Tofanelli antes das audiências. Afinal “ela é o cara” na questão criança-adolescente em todo o Vale do Aço.

- Farei isso.

- Lúcio! Segundo o “Guia Comentado” da Associação dos Magistrados Brasileiros, o artigo 42, do Estatuto da Criança e do Adolescente, sofrendo influência do artigo 226 da Constituição do Brasil permite ao Juiz não aceitar a adoção por pessoas do mesmo sexo figurando como pai e como mãe, pois a Constituição reconhece como união estável só aquela constituída por homem e mulher.

- Duas coisas, Dna. Ione. Não queremos ser pai e mãe, mas sim dois pais, homens. E aqui no município? É maior ou é menor a probabilidade do Juiz autorizar a adoção?

- Bem! Em outras cidades decisões judiciais superaram esse entendimento e deram adoções a pessoas em união homoafetiva. Mas o grande problema é que vocês dois não têm idade legal para adotar o João. É esse o nome do garoto, não é?

- Sim!

- Em Ipatinga, é mais provável que vocês consigam ter a guarda do João. Mas uma coisa você e Luiz terão que entender. Ter a guarda não é o mesmo que adotar. Isso significa que os pais dele podem, a qualquer momento, exigir a guarda do filho.

- Sabemos que não podemos adotar por causa da pouca diferença de idade. O que a gente gostaria é que ele fosse reconhecido não como filho, mas legalizado como um irmão. A senhora está me entendendo? É como se ele fosse uma adoção não para se tornar filho e sim para se tornar legalmente nosso irmão estando sob nossa guarda. Não existe um meio disso acontecer?

- Nunca ouvi falar de nenhum caso assim. Não acredito que haja essa possibilidade. O que vocês podem fazer é entrar com o caso. O Juiz irá procurar os pais de João para tentar a sua volta ao lar ou então a destituição do “pátrio poder” que hoje se chama “Poder Familiar”. Para depois então entrar com o pedido de guarda do menino. Mas é bom que ambos entendam que isso nunca impedirá os pais de visitar o filho, exceto se conseguirem provar que é perniciosa a presença dos pais. Mas também dará a vocês o direito de exigirem dos pais uma pensão.

- Mas não queremos pensão. Podemos até aceitar que eles o visitem regularmente. Mas queremos ter segurança na guarda, ou seja, que ninguém venha nos tomar João.

- Entendo! E será até mais provável, pelo que me contaram, que os pais do garoto apareçam para pedir dinheiro. Coisa que nunca poderão dar para não serem acusados de estarem comprando, comercializando mesmo uma pessoa. E nesse caso, se eles pedirem, vocês poderão entrar em juízo denunciando-os. Mas em resumo. Entrem com o pedido de guarda. O Juiz irá convocar os pais do garoto. E só depois vai deferir ou não a guarda. E saibam que isso, apesar de não ser o mesmo que adoção, poderá ainda assim dar-lhes autoridade até para contestar os pais, protegendo-o dos mesmos.


Ofereço como um desejo de respeito às diferenças de

ideias, crenças, cor, sexualidade e tudo mais.

Igualmente ofereço aos mortos em Oslo, Noruega,

e ainda mais aos seus entes queridos e a todos que sofrem com a falta de fraternidade.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.

O cronto é minha flor para você

e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

O cronto é um trecho (modificado) de um romance que estou criando.

Convido a lerem os crontos Lúcio, aqui no aRTISTA e aRTEIRO; e na coluna CRONISTA DE 5ª Foi Isso e Luiz na extinta revista cultural Nota Independente.

No conto, a base legal das discussões sobre adoção ou não por homossexuais se encontra nos:

Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1.988:

Artigo 3 – IV

Artigo 226, parágrafo 3

Artigo 228

Artigo 228 §5º

Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 8069, de 13 de julho de 1.990:

Livro I – Parte Geral, Título II, capítulo III, Seção III – Família Substituta:

Artigo 28

Artigo 28 §1º, §2º

Artigo 29

Artigo 33 §1º, §2º

Sub Seção IV:

Artigo 42

Artigo 42 §3º

Artigo 45 §2º

Artigo 46 §1º

No cronto, João adquiriu os sobrenomes de Luiz e Lúcio, mas na verdade, em caso de guarda isso não aconteceria. Assim, para registrar, num caso real, teria que ser outro sobrenome que não fossem de nenhum daqueles que possuem a guarda. Somente em adoção isso seria possível.

E sobre a convivência familiar de Luiz e Lúcio, o cronto foi escrito antes da lei sobre união estável de pessoas do mesmo sexo entrar em vigor. Talvez futuramente eu faça uma quinta parte falando sobre a união estável ou, quiçá, “casamento” dos dois.

terça-feira, 19 de julho de 2011

DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS ou IGUAIS NA DIFERENÇA – parte 3

Obax anafisa.


Fala o Juiz

- Estou vendo que os senhores querem ter a guarda do garoto João. Mas não estou vendo cadastro de nenhum dos dois na fila de adoção.

Fala o Promotor

- Querem ter sob a guarda de vocês um adolescente? Um rapaz, ainda por cima? Um jovem cheio de energia e vigor?

Apesar de obviamente percebermos aonde ele quer chegar, questiono

- O que o doutor está querendo perguntar com tantas interrogações?

- Pois então vou ser bem claro. Pedofilia. Um casal guei com um adolescente só pode está querendo sexo.

- Se conversar com João – digo – perceberá que isso nunca aconteceu e que nosso sentimento está mais para pais...

- Pais? Qual dos dois é a mãe?

- Suas perguntas estão sendo pertinentes, nobre colega, só que não se trata disso e acontece que ambos são homens o que exclui a possibilidade de um ser mulher. – Interfere Dra. Marilene, nossa advogada. Também conhecida por Nena de Castro, como, a seu pedido, doravante será tratada.

- Permita-me responder – digo – a moderna psicologia afirma – ou seja, a ciência – que para dois homens se amarem ou para duas mulheres se amarem um não precisa necessariamente assumir papel contrário à sua natureza. Em outras palavras, um homem não precisa deixar de ser homem e nem uma mulher precisa deixar de ser mulher. Este é o nosso caso, ou seja, eu e Luiz somos homens. Masculinos. Viris.

- Em muitos casos não é isso que acontece...

- Outros casos não estão em julgamento. – Fala nossa advogada. – Estamos discutindo o caso João, que não tem família, e de meus clientes de ilibada idoneidade, que querem ter a guarda dele. E é nisso que o doutor deve se ater.

- Depravação é depravação...

- Os homossexuais são acima de tudo seres humanos e como tais devem ser respeitados. Os transgêneros e os transexuais são igualmente seres humanos e como tais devem ser respeitados. – Interfere o Juiz. – Atenha-se aos fatos e ao caso, por favor.

Sem chegarem a nenhuma conclusão é marcada outra audiência. A nova promotora é ainda mais preconceituosa que seu antecessor. Começa falando que a Bíblia condena os homossexuais; passa para “os homossexuais merecem prisão, castração”. E encerra dizendo que somos os males na terra. Diz que a Bíblia deve ser seguida à risca. E muitas outras coisas. Não discordo que a Bíblia seja maravilhosa. E como a Promotora gosta muito da Bíblia, e as discussões estão mais para bíblicas do que jurídicas, Luiz e eu a valorizamos como instrumento de defesa e audaciosamente tomamos a palavra.

- Diz o Senhor – fala a Promotora – que não herdarão o Reino de Deus os efeminados, os sodomitas, os imorais. Está na primeira carta de São Paulo aos Coríntios, capítulo 06, versículo 10.

- Segundo Êxodo, capítulo 21, versículo 7 – Respondo – um pai pode vender sua filha como escrava. Nos dias de hoje, segundo a doutora, qual seria o preço justo? Segundo Levítico 15,19-24 um homem não pode tocar em mulher menstruada, mas minhas amigas se sentem ofendidas se não quero beijá-las nesse período. Ainda em Levítico está escrito que podemos ter escravos, desde que sejam estrangeiros. Um Pastor, conhecido meu, disse que não precisa ser estrangeiro. Basta ser do Nordeste ou do Norte de Minas. Afinal, segundo ele, são todos miseráveis e incultos.

- Ignorância é dizer isso... – Interage Luiz.

- Já um Padre, outro conhecido meu, discordou dizendo “Por que não também os do Norte ou do Sul, ou mesmo do Sudeste”? – Retomo a palavra. – Mas como diz a senhora, devemos seguir estritamente o que está escrito na Bíblia, será que não podiam escravizar os paraguaios, por exemplo? A guerra acontecida décadas atrás foi inútil. Já que, instigados pela Inglaterra, acabamos com a possibilidade de crescimento daquele país, porque não os trouxemos como escravos também? Teríamos matado dois coelhos com uma só cajadada e ainda ficaríamos com aquelas terras para nós. É óbvio que não penso assim, mas se me embasar na Bíblia poderia crer nisso.

- Blasfêmia! – Diz ignorando a colocação que demos. – Em Romanos, capítulo 01, versículos 26 e 27, está claro que não é natural homem se deitar com homem e nem mulher se deitar com mulher por se arderem de paixão.

- E segundo Êxodo 35, 02, é pecado trabalhar aos sábados. A senhora, doutora, faz questão de obedecer fielmente a Bíblia e matar os piões da Indústria que vão aos sábados para lá? Ou prefere que outro suje as mãos? – Respondo. – Um amigo meu acha que homossexualidade é abominação maior que trabalhar aos sábados, ou, como muitas Igrejas Cristãs mudaram e mudam a Bíblia segundo suas conveniências ou crenças, aos domingos. Não sei. Deveria ser tão horrível quanto. Afinal, segundo muitos, a Bíblia é para ser seguida a risca, sem interpretações adequadas à época, local e pessoa. De novo em Levítico, dessa vez em 21, 20, diz que quem tem defeitos na visão não pode se aproximar do altar de Deus. Mas o Padre e o Pastor de quem acabei de falar, e a senhora, que vi ontem entrando na igreja, usam óculos. Não entendo então como podem se aproximarem do altar de Deus sem cometerem, só por isso, grande pecado.

Luiz toma a palavra: Mas o pior não é isso. Fi...

- Como se atrevem a tentar me rebaixar. Não sou da laia dos senhores. Em Levítico, capítulo 20, versículo 13, o Senhor diz que homem que deita com outro homem como se fosse mulher é réu de morte por ser abominável. Que seu sangue amaldiçoado escorra pela terra.

- ... Mas o pior não é isso. – Continua Luiz. – Fiquei sabendo que a senhora, doutora, é praticante da Renovação Carismática Católica, Ministra da Palavra. É verdade? Eis o pecado dos pecados. A blasfêmia das blasfêmias. Permita-nos ler o que São Paulo disse. – Luiz se cala e Lúcio pega a parte com as Epístolas em seu Novo Testamento em braile, abre e lê: “A mulher, aprenda, em silêncio, com toda a sujeição. Não permito à mulher que ensine, nem que tenha domínio sobre o homem, mas esteja em silêncio”. – Luiz retoma a palavra: Querem confirmar? Está na primeira carta de São Paulo a Timóteo, capítulo 02, versículos 11 e 12. E a senhora, sendo apenas uma mulher, nada mais que uma mulher, está tentando ensinar a nós: HOMENS.

- Quer dizer, segundo a Bíblia toda mulher é indigna e incapacitada para falar em público, seja na Igreja, como Ministra da Palavra, ou seja como Promotora. Luiz e eu, porém, acreditamos que as mulheres têm sensibilidade, dignidade e capacidade mais do que suficientes para ensinar, para falar publicamente.

- Particularmente, eu e Lúcio, discordamos que mulheres não possam exercer tais profissões. – Volta Luiz a falar. – Pelo contrário, temos certeza que homens e mulheres são os instrumentos de Deus para fazer da Terra o Mundo Ideal. O que nos assusta são pessoas que querem usar a Bíblia para condenar o que lhe é diferente, mas a ignoram quando seu ensinamento acusa a elas mesmas. O que nos incomoda mesmo é darem dois pesos e duas medidas à Bíblia. Considerando-a importante e infalível quando se pode usá-la contra o outro, mas quando fala contra o que pensam ou fazem a ignoram. Sempre. Dois pesos e duas medidas. Não se adaptam nunca à Bíblia, mas a adaptam à própria necessidade. Não se deixando instruir por ela, mas fazendo dela instrumento de opressão e domínio.

- Como bem nos mostrou meus clientes – Interrompe Nena e aproveitando o gancho – e feito eles leio e gosto da Bíblia. A Verdade é absoluta e quem a inspirou foi Deus, mas quem a escreveu foram pessoas que colocaram no papel a Verdade conforme entenderam. E nem sempre como é. Assim como eu e a douta colega, que graças a Deus somos mulheres, sabemos que podemos propagar a Boa Nova, ensinar, defender ou acusar aos homens, mesmo que nos tenha sido proibido por uma sumidade Bíblica... Tanto Cristo quanto Paulo reconheceram que seu conteúdo não é para ser seguido a risca, mas com consciência que foi escrito para pessoas com outra visão. E que essa visão mudaria.

- Chega! – Ordena o Juiz que até então apenas acompanhava a discussão com um sorriso. – Aqui não é uma igreja. Atenham-se à jurisprudência.


Ofereço como presente de aniversário a Filipe Fernandes,

e aos meus professores, tutores e colegas da UFOP

no Curso de Educação em Direitos Humanos:

Marcos M. Siqueira, S. Silva, Leonardo T. Pinheiro, Dirley S. Vaz, Elizangela F Nascimento, Margareth Diniz, Isabel C.R. Ferreira, Juliany C. R. Ferreira, Stela Maris M.S. Araújo, Wanderson O. Lopes, Eiorli B. Nobre, Marcos E. Sousa, Mª do Carmo de Lima, Pollyane Ap. S. Alves, Ana Mª N. Amorim, Jesulina L.P.P. Miranda, Carolina Montolli, Andrea M. Carmona, Osvaldo O. Castro, Welingta C. Paula, Carlos E.S. Meireles, Marcia E. Nobre, Priscila T.K. Sodré, Janaina D.R. Nazario, Fernando T. David, João B. Pires, Mª das Gracas P. Sousa, Rejania C.F. Cavalcante, Margarete Miranda, Monica Rahme, Antonia Ap. R. Brandão, Viviane O.B. Silva, Nair D. Rodrigues.


Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.

O cronto é minha flor para você

e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

O cronto é um trecho (modificado) de um romance que estou criando.

Convido a ler também

Lúcio, aqui no aRTISTA e aRTEIRO; e na coluna CRONISTA DE 5ª Foi Isso e Luiz na extinta revista cultural Nota Independente.

terça-feira, 12 de julho de 2011

PRACINHA AO POENTE ou IGUAIS NA DIFERENÇA – parte 2

Obax anafisa.


Quinta-feira João foi à pracinha do bairro com o poente. A noite passou. Sexta chegou. Passou. Sábado. Domingo. Segunda-feira João chegou da pracinha com a aurora.

- Onde você estava, moleque? – Pergunto.

- Por aí.

- Senta. Vamos tomar café. – Contemporiza Luiz.

Entre um pão e outro

- João! Onde você esteve?

- Estão bravos comigo.

- Estou! – Confirmo e continuo: Estávamos mais preocupados. Mas o que aconteceu que você sumiu? – Então ele contou. Encontrou uma antiga galera que o convidou para uma noite irada que se estendeu por todo o fim de semana porque conheceu Júlia e ela iria para o sítio de seu pai que aceitou a presença do garoto porque ambos garantiram que eram colegas de escola e que tinham a autorização do pai dele que era militar. Fiquei uma fera com aquele irresponsável. Luiz é que me impediu de ligar para o sujeito naquela hora.

- João! – Eu disse. – Quero que compreenda umas coisas. Você é bem vindo aqui. Entende isso?

- Ah! Sim!

- Entende também que gostamos de você e que te queremos bem?

- Sim. Por quê?

- Porque Luiz e eu queremos adotar você...

- Sério?

Resisto, mas não seguro o sorriso.

- Sério! Mas queremos saber se você quer morar conosco. Você quer?

- É o que mais quero.

- Então terá que entender que aqui é uma família. Uma comunidade onde existem regras para serem seguidas. Não burladas.

- Sabe o que burlada? – Interrompe Luiz, participando.

- Sei! É desobedecida.

- Somos uma família – continuo – e isso significa que um cuida do outro. Que ninguém abandona ninguém. Que damos satisfação do que fazemos. E tudo isso porque todos se respeitam, se gostam, se amam.

- Sabe o que Lúcio está querendo dizer?

João fica em silêncio olhando para a caneca de café com leite.

- O que estou querendo dizer que nós amamos você. E que estamos te dando uma oportunidade de sermos uma família. Está acompanhando o raciocínio?

- Acho que sim.

- Em resumo – Luiz toma a palavra – queremos que você more legalmente conosco e que estamos te dando uma escolha.

- A escolha – concluo – é entre continuar na rua com os atrativos irados das velhas galeras. Ou ter uma família, ser parte da nossa família, com suas normas.

- Aqui não é hotel para vir só para dormir. – Fala Luiz. – É um lar com direitos e deveres.

- Não estou gostando do papo. Quero sair...

- Mas vai ficar até encerrarmos o assunto. – Interrompo. – Estamos te dando uma escolha. Aqui não é pensão para você entrar e sair ou sumir sem dar satisfações. Você escolhe: Vai para onde quiser ir. O que nos deixará muito infeliz. Mas você é livre para ir e vir então respeitaremos sua decisão de ir embora morar com a galera. Ou você fica, o que nos deixará completamente feliz. Mas seguindo as normas e usufruindo dos direitos e deveres de um membro da NOSSA família.

- Você decide. – Encerra Luiz e se levanta.

- Pense o dia todo e nos dê a resposta quando chegarmos do serviço hoje à noite. – Também me levanto e vou para o quarto junto com Luiz para vestirmos nossos uniformes de trabalho.

Na sala de espera do Fórum de Ipatinga

- Filho! – Fala meu pai. – Se a situação não for favorável não se preocupe porque sua mãe e eu estamos dispostos a adotar o João.

- Faço minhas as palavras de seu pai, Lúcio. – Diz Cloenes, mãe do Luiz. – Se eles não puderem, João vai morar comigo e com Lucas.

- Papai, mamãe, e Cloenes, mas aí João teria que morar com vocês, não conosco. Agradecemos, mas não é o que queremos.

- Sabemos que a intenção dos senhores – continua Luiz – é boa e movida pelo afeto. Se não pudermos ficar com ele então que os senhores, ou mamãe, o adotem. Mas acreditamos que tudo vai dar certo. E queremos evitar isso para que não haja má interpretação do Juiz achando que estamos empurrando-o de um lado para outro. O senhor entende?


Ofereço como presente de aniversário aos meus queridos

Fran Reis, Solange Magalhães, Telmo Brum, Antonio Alves, Daniela Marins, João F.B. Araújo, Carla Weber, Luciana Aguiar e Rocheli Anício.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.

O cronto é minha flor para você

e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

O cronto é um trecho (modificado) de um romance que estou criando.

Convido a ler também

Lúcio, aqui no aRTISTA e aRTEIRO; e no extinto CRONISTA DE 5ª Foi Isso e Luiz.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

SEIS HORAS DE UMA MANHÃ RADIANTE – Ou IGUAIS NA DIFERENÇA parte 1

Obax anafisa.




Seis horas de uma manhã radiante. Carros passam. Pássaros cantam em nosso primeiro despertar em nossa primeira casa.
- Bom dia, Lúcio! – Falo bocejando.
- Bom dia, Luiz! Estou faminto.
- Uarrarrá! Eu também. Você compra o pão enquanto faço o café.
- Temos que repor nossas energias...
Não resisto e gargalho pensando em nossa noite. Então levantamos e vamos ao banheiro.
- Lucio! O que nós dois ou mesmo dez homens podem fazer ao mesmo tempo no mesmo lugar e duas mulheres não conseguem?
- ?
- Mijar na privada...
- Uarrarrá!
Depois da higiene matinal cada qual vai fazer sua parte para o desjejum. Assim que abre a porta Luiz me chama baixinho:
- Lúcio! Tem um garoto na varanda.
- Quê? – Encaminho para a varanda.
- Garoto! Ô garoto! – Chama Luiz.
O menino levanta num pulo assustado. E sinto que ele vai sair correndo.
- Espera! – Digo. – Está com fome?
Silêncio.
- Diga sim ou não, garoto. Como pode ver eu não posso ver.
- O que você prefere? R$10,00 hoje ou ter sua fome saciada todas as manhãs? – Pergunta Luiz.
Numa voz sumida:
- Saciada.
- Então faça o seguinte: Vamos te dar R$10,00 e você vai à padaria comprar dez pães e um litro de leite.
- Se sumir com o dinheiro ele será seu, mas nunca mais terá nada de nós. – Completo. – E muito menos respeito. Se voltar, inclusive com o troco, vai tomar café conosco e poderá voltar amanhã e nas outras também. E quero a notinha.
Enquanto o garoto vai, faço o café e Luiz arruma a mesa.
- Acha que ele volta?
- Penso que sim. Afinal é comida garantida.
- Sei não, Lúcio! Gente da rua não costuma pensar assim. Pensa apenas no agora. O amanhã está muito distante.
- É esperar para ver.
Na mesa banana, laranja, mamão, xícaras, manteiga, queijo, garrafa de café bem forte, do jeito que gostamos.
Palmas e Luiz atende.
- Entre.
- Lave as mãos e sente-se à mesa conosco. – Digo. – O banheiro é naquela porta ali. Vá lavar as mãos.
- Eu Sou Lúcio. Ele é Luiz. E você?
- João.
- Estamos de saída. Vamos trabalhar. E como dissemos. Você poderá tomar café amanhã conosco. Basta está aqui às seis horas, como hoje, pegar o dinheiro para ir à padaria. Tudo bem para você?
- Sim senhor.
- Senhor não. Chame a gente pelo nome. Lúcio e Luiz.

Passando algumas semanas, menos de um mês, o tempo começou a esfriar.

- Demorou a aparecer.
- Boa noite, Luiz.
- Lúcio! Ele chegou.
- Entra com ele.
Uma vez dentro de casa. Luiz começa a falar
- João! Lúcio observou que está começando a esfriar e que não fica legal você ficar aí fora nesse tempo. Queremos convidar você a dormir no quartinho vago, o que a gente colocou nossos livros.
O brilho dos olhos foi sua resposta.
- Mas para isso você vai ter que tomar banho. Não dará para ficar aqui desse jeito. – Completo. – Hoje você dorme com uma de nossas camisas e amanhã... Isso é, se você aceitar morar aqui, conosco... e amanhã, aproveitando que será sábado, a gente sai para comprar umas roupas novas para você.
- É sério?
- Sim!
- É claro que aceito.
- Então vá tomar banho enquanto procuro coisas para você vestir. Depois a gente janta. – Diz Luiz.
- E lava direito o sovaco, os pés, o pescoço. E não se esqueça do pinto. Peru sujo ninguém merece.
- Não fale assim, Lúcio. Ele pode pensar que estamos tendo más intenções.
- Que isso? O garoto é inteligente e já tem quase quinze anos...
- Por isso mesmo.
- Mas não estamos tendo.
- Está certo. Está certo. Entendi. – Percebo pela voz que Luiz está sorrindo.

Baf. É o barulho da porta batendo com força.

- Que isso, João? Que te aconteceu? – Do umbral do nosso quarto Luiz pergunta.
- O que foi? – Pergunto.
- João está com sangue escorrendo da boca, roupas sujas e camisa rasgada.
Ouço os passos dele em direção ao quarto.
- Êpa! Para ir para o quarto vai ter que tomar banho primeiro.
- Para que tomar banho? Não quero tomar banho.
- Primeiro e mais importante porque é para cuidar de sua saúde. Segundo porque não tenho que agüentar fedor. Terceiro porque higiene é regra da casa.
- É por isso que eu sumo por dias. Se querem que eu fique terá que ser como quero.
- NÓS queremos que fique, mas se VOCÊ quiser ficar vai ter que seguir as regras da casa.
Um minuto de indecisão e entra no banheiro. Com a porta fechada entre nós conversamos
- Que aconteceu?
- Nada não, Lúcio. Vocês é que chegaram cedo.
- Chegamos na hora. E como assim nada não?
- É nada não, já disse. Dá licença que quero tomar banho meu banho em paz.
- Não tente me enrolar porque senão vai voltar e tomar outro banho até se limpar.
Fomos para a sala estudar e depois fomos falar com ele que estava deitado de cara fechada na cama. Nada dissemos por um tempão.
- Falaram coisas feias de vocês dois.
Já imaginando o que disseram nem pergunto o que seja. Continua o garoto
- Disseram que vocês são bichonas.
- Bem! É um termo feio. Preconceituoso. Mas você já percebeu que eu e Luiz nos amamos.
- Mas vocês não são um homem e uma mulher... São dois hômis...
- Sim. E ainda assim nos amamos. – Continua Luiz.
- Quem é a mulher e quem é o homem?
- Que pergunta? Você já acabou de dizer, portanto reconhece, que ambos somos homens. – Continuo.
- Ninguém aqui é mulher, João. – Somos dois homens que se amam e querem viver juntos.
- Não consigo entender...
- Então apenas aceite. Ou melhor, respeite. – digo – E com o tempo talvez você entenda. Mas o mais importante é não nos julgar nem condenar e sim respeitar e, se possível, aceitar.
- O que mais eles disseram? – Perguntou Luiz.
- ... Nada...
- Fala! – Eu disse.
- Disseram que vocês fazem coisas feias comigo. Que sou a puta de dois viados.
Minha boca escancara e pergunto “você deu uns socos neles”?
- Sim!
- Quem apanhou mais?
- Eles.
- Eram quantos?
- Três. Do meu tamanho... Um ficou só xingando e os outros quiserem me bater.
- E você bateu nos dois?
- Sim...
- Estou orgulhoso de você. Você é macho pra caramba. E defendeu-nos.
João fica em silêncio. Então pergunto “O que está pegando”?
- ...
- Pode falar.
- Será que eu sou guei?
- Por que pergunta?
- Nada não.
- Fala. – Ordena Luiz.
- Não fiquem chateados não... Mas é que moro com vocês e... e...
- Não tem nada a ver. – Digo.
- Te incomodaria ser guei? – Completa Luiz.
- Não sei... Estou confuso.
- Se você for guei gostaremos de você do mesmo jeito, como filho. – Continua Luiz. – E se não for continuaremos com o mesmo sentimento.
- O importante é ser feliz sem prejudicar ninguém e se possível fazendo os outros felizes também. – Completo e continuo: Credo! Que frase mais clichê. Ou será piegas? Bem, o que importa é que é verdadeira.
- João, você acha que eu e Lúcio somos mulherzinhas? – Luiz toma a palavra. – Não acha que somos bem machos?...
Pensa olhando para nós por quase um minuto
- Não! Acho que vocês são machos pra caramba.
- Uarrarrá. Levanta. Vamos jantar. – Digo.
Depois do jantar João vai dormir.
- Luiz! A situação do João está irregular. Temos que ajeitar isso.
- É, mas como? Onde?
- Talvez no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente.
- Sim. Precisamos ver o que podemos fazer. Além do mais o ano está quase acabando e ano que vem ele vai ter que estudar.




Ofereço como presente de aniversário aos meus queridos
Ana Cristina, Nega, Bárbara Pavione e Maykon Moreira.

O cronto é um trecho (modificado) de um romance que estou criando.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas.
O cronto é minha flor para você
e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

terça-feira, 5 de julho de 2011