domingo, 27 de junho de 2010

25 e 15

Rubem Leite

27 de junho – domingo.


Sexta-feira e ontem, sábado, aconteceram duas coisas maravilhosas. A comemoração de dois aniversários. Anteontem, CLESI (Clube de Escritores de Ipatinga). Ontem, Farroupilha.

No CLESI vi gente que muitíssimo gosto, revi gente boa, conheci novos artesãos da palavra e senti saudades dum casal de ilustradores, meus amigos. Todos os premiados foram mais do que justíssimos a sua escolha. Agradei-me profundamente com a homenagem que Governador Valadares prestou à Nena de Castro e ao CLESI, reconhecendo o quanto ele investe na formação de novos jovens poetas.

Mágica! Um risco

Se fez verbo entre nós.

Escritores chove.

No Farroupilha o que não faltou foram boas apresentações artísticas e o que abundou foi gente boa. Flores astrais para cada artista, para cada amigo eu ofereço como usurpador, pois elas não são minhas. Acredito no que ouvi. Eu e todos os artistas somos traficantes, bandidos, marginais. Traficamos arte; criaturas que, fugindo à ação da justiça, vivem do roubo (do sossego dos acomodados e do medo dos incomodados); marginalizados por ousarmos ser o que somos.

Há farra nos sons

E o silêncio alegra a alma.

As estrelas cantam.


quinta-feira, 24 de junho de 2010

GOOOOOOOOOL

Rubem Leite – refletindo a ilustração de Tiago Costa no cronto EU SOU UM MENINO 2, na revista cultural Nota Independente ( www.notaindependente.com.br ) – 24-6-10


Um Brasil olha feroz

Outro Brasil atrás das grades

Eu sou um branco quase preto

Entre pretos quase brancos

Quem é você?

Não sou as palavras que embotam.

Um olhar para trás e vai-se embora

– Uma rede de palavras.


quarta-feira, 23 de junho de 2010

Start-Up


Olá amigos!

A Meia Cia. de Dança apresenta seu novo trabalho:

" Start-Up "

Um diálogo entre o corpo e as mídias

Onde? Teatro do Centro Cultural Usiminas

Quando? 23 de Junho (Quarta-Feira)

Hora? Às 20h30min

Aguardamos você!

Abraços!


O PÃO NOSSO DE CADA DIA

Início da noite de 22 de junho de 2010

Ofereço aos meus queridos aniversariantes:

Thiago Lopes – Palhaço Graveto;

Ana Cristina – grandiosa cantora;

Guilhermina Maria.

Caminho de minha casa para o bairro vizinho para comprar o pão de amanhã. Á minha direita, o kartódromo, e à minha esquerda, o mangueiral. Atrás, escuto o pastor pregando e com sua voz gemida, sofrida, agoniada – voz de cristão – profere glórias e aleluias a torto e a direito.

- Aleluia irmãos! Aleluia que o diabo em vem.

Compro o pão e volto para casa pensando no muito que ando fazendo, no pouco que estou recebendo e nas críticas que me fizeram dizer “Esperava por isso mesmo. O que não falta é gente muito disposta a reclamar e pouco a trabalhar”.

- Ei! Ei! Ei!

Ouço passando pela minúscula pracinha pouco olhando para ela. De trás dos seus muitos arbustos é que veio a vós grave andando de lado. Quero continuar, mas como ficou óbvio por eu ter-lhe dito “quero continuar”, é claro que parei e o homem se aproximou.

- Irmãozinho! Estou querendo que me ajude. Sou baiano do Norte do Brasil. Estou sem graça, mas fazer o quê? É melhor pedir que roubar. Que o senhorzinho acha?

O homem é pelo menos vinte centímetros maior que eu e bem mais largo. É notória sua força física superior. Para tão perto de mim que incomoda minha vista. Seu cheiro é ruim, mas não parece ser por falta de higiene e sim por falta de oportunidade de se banhar. Não sei, mas é o que me pareceu. Apesar dos incômodos que sinto mantenho-me firme sem me afastar e apenas sustento o seu olhar mostrando a força do meu.

- Senhorzinho! Estamos viajando tem bastante tempo e nem sei como a gente veio parar aqui. Estive na Prefeitura, irmãozinho, e estou aqui. Não consegui lugar para passar a noite. Irmãozinho, estou sem saber o que fazer e vamos ter que passar a noite aqui – com o gesto mostra a praça – e estou querendo sua ajuda, senhorzinho. Sou capixaba e acabamos de chegar. Será que o irmãozinho consegue comprar pão para nós?

- Sim! Vamos!

Volto para a padaria e ele me segue falando e falando. Nas poucas vezes que precisei de algum favor eu ficava indeciso entre falar para esconder minha vergonha ou em me calar por achar que isso incomoda.

- Escolha!

- Qualquer coisa?

Concordo com a cabeça.

- Somos três. Posso pegar um pão para cada?

- Quer leite também? Para a criança.

- Posso? Então quero.

Ele pega os pães e pergunta com muitas palavras se pode levar refrigerante no lugar. Deixo, claro, já que dei-lhe liberdade para escolher. Com muitas palavras dele a gente sai. É bom ter pessoas que falam muito. Isso nos tira a obrigação de falar e, em alguns casos, até de ouvir.

- Vou orar por você.

Não tenho tempo de agradecer

- Qual é seu nome?

Não tenho tempo de responder

- Você é um rapaz sexual?

Só o olho espantando para o rumo da conversa. Mas estranhando a expressão usada.

- Você é um rapaz sexual? Você parece não perder tempo

- Como assim?

- Somos irmãos e o importante é que Jesus olha por nós. Vou orar pelo senhorzinho.

Consigo me despedir e começando a andar ele diz

- Jesus te acompanhe.

Caminho do Novo Cruzeiro para minha casa com o pão de amanhã. Á minha esquerda, o kartódromo, e à minha direita, o mangueiral. À frente, escuto o pastor pregando e com sua voz agonizadora, rancorosa, de ódio – voz de cristão – expulsa o diabo

Sai demônio do estômago dela.

Sai demônio do fígado dela.

Sai demônio da Uruguaiana dela.

A mulher, parece, estava toda infestada. A última expulsão dele que ouvi foi de seu cérebro. Em casa, volto a ler. Tim, de Collen McCullough; A Sombra do Vento, de Carlos Ruiz Zafón; Nudez Mortal, de Nora Roberts; e Harry Potter e as Relíquias da Morte, de Rowling. Depois vou dormir e agora falo com você.


terça-feira, 22 de junho de 2010

PROJETO DO AR

Rubem Leite

11 a 22 de junho de 2010.

Um intercâmbio artístico entre artistas independentes de Ipatinga e Guillaurme Lauruol e Cathy Pollini.

A mostra não é o espetáculo, mas a continuação do trabalho. Ipatinga é a terceira cidade onde acontece o projeto.

Agradeço a Híbridus por trazê-los.

Ofereço aos meus queridos amigos aniversariantes:

Thiago Lopes – Palhaço Graveto;

Ana Cristina – grandiosa cantora;

Nega – a carioca hispânica...

No equilíbrio dos pneus um grito de caratê os quebra com a testa, depois penetra o pneu que lhe cavalga.

Ordens coordenam “Derruba os adversários”. “Pé esquerdo nádegas costas”. Hojeojeojeoje. Hoje há chuva na sala da casa e um nada na boca de um dragão. Cabeças se enfiam nos pneus e uma voz no pneu recomeça surgindo em outro canto. Um Atlas segura outro pneu e grita “Deus”!

Eu sou de mais ninguém. Não sou nem de mim. Eu sou ninguém. Eu sou meu.

Saio do que vejo e penso em mim: São agora 17 horas e quarenta e dois minutos de uma tarde fria. A tarde fria esfria minha alma ou minha alma fria esfria a tarde? Acho que sou judeu na Alemanha Nazista ouvindo me dizerem “Vá embora. Não posso mais”. Então volto para o que vejo.

Pneus e homens têm muito em comum. Sem ar nenhum funciona a contento. A voz humana dentro de um pneu tem interferência acústica e um homem preso em pneus foi queimado vivo. Para onde foi o ar deu meus pulmões? Pneumotórax.

Seres estranhos observam o estranho que lhes observa.


É o crepúsculo do galã o ocaso da humanidade e o alvorecer do lixo

Sobraram humanos

Acumularam lixo

Acabou o ar

Surgiu o lixo

Gestos por gestos faço sem por quê

O espaço o corpo o pneu o outro corpo e o outro espaço

Pneus são feito basicamente de borracha e ferro. E ar.

E eu?


terça-feira, 15 de junho de 2010

"Circo Novo" Intervenções de Rua.


O termo "Circo Novo" foi constituído no século XX por vários fatores, sendo que alguns deles foram a inserção intensa de outras áreas artísticas como teatro, dança e artes plástica, e pelo fato da arte circense não ser mais de domínio do picadeiro, se estendendo para os palcos teatrais e voltando a sua gênese que foi a rua, a feira. Como artista, pesquisador e educador este é um trabalho que busca fazer mais pergunta sobre este tema e as resposta podem ser vistas por belas fotos, que frisam os momentos, mas nunca tiram a constância da busca de um novo olhar sobre as coisas e fatos.


Mayron Engel

Profissão: Pedagogo em formação, ator por oficio, artista circense pela dedicação, bailarino pela necessidade e educador pelo brilho nos olhos de quem aprende, neste momento que se instala a eternidade, no aprendizado meu e dos outros.

(34) 3315-5343/ 8859-2675

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A ditadura gay

O email abaixo recebi do grande artista da dança Wenderson Godoy.

A ditadura gay

Eu gosto de colocar na roda tudo que me engasga, tudo que me faz refletir, tudo que me alegra, tudo. Recebi hoje um email equivocado de um tio que eu gosto muito e que admiro pela inteligência, mas tive necessidade de respondê-lo porque achei o discurso que ele disseminava pela net um tanto quanto perigoso, ainda mais sabendo seu círculo de amizades, homens, pais de família, onde não seria difícil a manutenção do discurso preconceituoso registrado pelo texto do vereador Carlos Apolinário. Mais perigoso quando sabemos que está, também, na discussão o projeto de lei que considera crime a homofobia e são uns deputados bonitinhos bem no quilo do ilustre vereador que estão lá para votar.

Segue o texto do vereador e minha resposta ao email. Já que estamos na roda, vamos dançar na roda, vamos rodar!


A ditadura gay


CARLOS APOLINARIO


De alguns anos para cá, muito se tem falado sobre gays e lésbicas. Em todas as Casas Legislativas, e também no Executivo, têm sido aprovadas leis a esse respeito e ainda existem muitos projetos em tramitação.


A Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou a lei nº 10.948/ 2001, que determina: se alguém for acusado de discriminar um gay em uma empresa, além da multa e do processo penal, o estabelecimento poderá ter cassada a licença de funcionamento. Ou seja, se a empresa tiver 200 funcionários e sua licença for cassada, todos serão punidos com a perda do emprego.


O movimento gay faz um intenso lobby para que o Congresso Nacional altere a lei nº 7.716, que define os crimes de racismo.


O objetivo das lideranças gays é que a legislação passe a punir também aqueles que têm uma opinião divergente das suas.


Se alguém falar contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, ou disser que não concorda com a adoção de crianças por homossexuais, poderá ser processado.


E mais: caso essa lei seja alterada, não poderei falar da Parada Gay, nem mesmo fazer o discurso contra a instalação da Central de Informação Turística GLS pela Prefeitura de São Paulo, como fiz na Câmara Municipal. E não poderia nem escrever este artigo.


A Constituição Federal assegura o direito à liberdade de expressão.


Podemos criticar divórcio entre héteros, sindicatos, empresários, políticos, católicos, evangélicos, padres e pastores, mas, se falarmos contra o pensamento dos gays, somos considerados homofóbicos e nos ameaçam, até com processos.


Punir alguém por manifestar opinião divergente é próprio das ditaduras. Eu tenho a convicção de que já estamos vivendo numa ditadura gay, pois, na democracia, qualquer pessoa pode discordar.


Eu não concordei com a Prefeitura de São Paulo quando ela proibiu as manifestações na avenida Paulista, mas lá manteve a Parada Gay. A Paulista é uma via de acesso aos principais hospitais da cidade.

Por esse motivo, foi proibida a realização de eventos, entre eles a comemoração do Dia do Trabalho promovida pela CUT e a Marcha para Jesus. Não faz sentido manter a Parada Gay na Paulista.


Por defender essa posição, sou acusado de ser homofóbico.


Também sou acusado de homofobia por me manifestar contrariamente à participação da prefeitura na criação da Central de Informação Turística GLS no Casarão Brasil, sede de uma ONG gay.


Não é correto usar o dinheiro público para dar privilégio a um grupo. O ideal é criar um serviço que atenda a todos os segmentos sociais, já que a Constituição diz que todos somos iguais perante a lei.


Respeito o gay e a lésbica, pois, como cristão, aprendi o significado e o valor do livre-arbítrio, mas discordo da exclusividade que o poder público dá à comunidade gay.

Essas medidas tornam os homossexuais uma categoria especial de pessoas. Do jeito que as coisas vão, daqui a pouco alguém apresentará um projeto transformando São Paulo na capital gay do país.


CARLOS APOLINARIO, vereador em São Paulo pelo DEM, é líder do partido na Câmara Municipal. Foi deputado estadual, presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo e deputado federal."



Meu tio, permito-me discordar desse texto do Deputado Carlos Apolinário, assim com as questões movimento do negro foram e ainda são muito criticadas, consideradas abusivas, radicais, o mesmo acontece com o movimento gay, porque essas pessoas, com pensamento semelhante ao deputado querem manter a farsa do aceito, respeito, mas não quero perto, tanto para gays, negros, deficientes... é o "sei que vocês existem, mas respeitem meu espaço". O caro deputado mantém um discurso raso sobre ditadura. O que ele sabe sobre as questões dos gays? Qual pensamento ele defende sobre as mortes, agressões, violência sofrida pelos gays, diariamente, dentro de casa, na rua, no banco, na tv? Precisamos ter cuidado ao falar de assuntos tão sérios principalmente quando se trata de vidas humanas.


É o tal negócio de acusar primeiro antes que resvale para si. Nós gays precisamos melhorar muitas coisas no nosso discurso, mas a luta é pelo respeito a diversidade e a vida e a liberdade que nos é castrada diariamente. O Deputado Calor Apolinario deveria tirar seu discurso ultrapassado e perigoso do armário e assumir de vez o seu ponto de vista, na fala "Respeito o gay e a lésbica, pois, como cristão, aprendi o significado e o valor do livre-arbítrio..." ele já deixa claro o que pensa realmente.


Gostaria que o senhor enviasse para as outras pessoas que receberam este mesmo email para que a discussão possa ser levantada numa via de mão dupla e não apenas na via do estimado deputado.


Beijo

Edu"

PS- na resposta ao email eu confundi e escrevi Deputado, o cidadão agora é vereador de São Paulo.

DUAS POMBAS

Rubem Leite

Na madrugada do dia 09 de junho de 2010

sonhei com o que deu base para a fábula abaixo.


Duas pombas. A pomba-pai, o Dr. Pombo, era branco com uma asa preta e a outra branca e preta. A pomba-filha, a Pombeth, tinha na cabeça seis penas brancas, compridas e caídas como se fossem cabelos e em suas pontas ela tinha prendido cenouras muito alaranjadas para ficar uma adolescente com cores atualizadas. Tinham acabado de estudar uns livros que, não sendo de auto-ajuda, realmente inspiram. Pombeth aprendeu principalmente que “As minhas obras, não sou eu quem as realiza, mas a força de Deus-Pai, que permeia os céus e a terra”. Já o Dr. Pombo aprendeu principalmente a importância de “Anular totalmente o ego”. Mas o que isso tem a ver com nossa estória? Tem a ver que Pombeth tinha uma fobia estranha. Tinha pavor de voar. Numa bela tarde de um domingo primaveril subiram no alto de uma casa de três andares.

- Vamos filha, coragem.

- Ai! Eu não consigo. Não quero.

- Vamos! Você consegue.

- Estou com medo. Não quero.

Enquanto isso três gatos – Um amarelo com a orelha direita rasgada; outro branco e preto com o canto do olho esquerdo rasgado (graças ao Grande Gato não ficou cego); ambos grandes e magros. Na verdade, magérrimos. E o chefe. Um gordo e imenso gato de madame. Preto com coleira de couro legítimo enfeitado com parafusos da mais cara prata. Em casa era um doce. Nas ruas... – se aproximaram sogateiramente (como diz Rubem Alves no livro O Gato que Gostava de Cenouras, sorrateiramente é coisa de rato.) para se divertirem. Os dois gatos magros até que estavam com fome, mas o Fofo era só para passar o tempo. Ele sempre dizia “Tudo posso. Não sou pobre”. Dr. Pombo, sendo delegado de polícia percebeu pelo canto do olho o perigo e com seus pesinhos segurou a filha, o que lhe mostrou na prática como voar, e a ajudou a descer.

- Aaaaaiiêêêêê! – Gritou a pombinha enquanto desciam. Suas penas-cabelos espalhadas ao vento.

- Vamos, minha filha. Entra aí nesse cano.

Era um cano suficientemente largo para os dois. Entraram! E os três gatos rapidinhos já estavam lá. Fofo, por ser, digamos, muito fofo não conseguiu entrar. Então mandou Zoim, que era o mais magro. Acho que é perfeitamente possível saber qual gato é ele, né. Isso! O branco e preto com a pálpebra rasgada. Ele foi se espremendo, espremendo até caber. Na metade do cano havia uma curva fechada, impossível para um gato espichado, digo, comprido. E para voltar? Foi um custo, mas saiu, graças a Deus. Não! Eu não quero a morte dos vilões de nossa estória. Quem gosta de sangue são os “USA e Abusa”. Mas para quem é partidário de castigos, lhe darei um gostinho. Quando conseguiu sair viu que estava só. Ninguém ficou para ajudá-lo, apoiá-lo. Acha pouco? Ver que não tem amigos ou alguém com quem possa contar? Mas chega de falar dos gatos que não é o foco de nossa estória. Dr. Pombo e Pombeth entraram pelo cano, mas num sentido positivo. Atravessaram e saíram no interior do prédio onde estavam.

- Vamos para casa.

- Ah não, pai. Quero tentar. Dessa vez eu sei que vou conseguir.

- Se você quer, então vamos. – Disse feliz pela persistência da filha.

E o final você já sabe. Subiram. Pombeth olhou para baixo, olho para o alto, olho para a frente, abriu as asas, deu dois pulinhos e sem olhar deu mais um pulinho e voou. Com suas penas-cabelos enfeitadas com cenouras engraçadamente no ar pareceu despencar no início, mas voou. Um belo vôo de pomba.


quinta-feira, 3 de junho de 2010

ISPIA SÓ

Rubem Leite

03-6-10 – 02:05h da madrugada.

Ofereço aos meus queridos amigos aniversariantes

DomNato, Douglas Matias e Jani Milagres


- Bom dia!

- Oi!

- Vim aqui porque conversei com Nári e ela me autorizou a copiar no meu computador uns cd’s.

Você, que está me lendo, deve estar perguntado “quem é você?”. Então eu vou responder. Tenho 63 anos e acabei de entrar na BCI – Biblioteca Central de Idéias – que fica no xópim de Ipatinga, Leste de Minas Gerais. Ah! Eu me chamo Saul. Lucília, a funcionária, me mostra a caixa e escolho três. Vou para minha moto estacionada na porta pisando na neve e com todos os meus 36 anos pego meu notebuque. Está estranhando a mudança etária? De 63 para 36 anos? Não deveria. E a ocorrência de neve no Brasil você observou? Estou apenas contando um sonho onde tudo é possível. Pelo menos em alguns sonhos tudo pode acontecer... Em outros, muito pode se realizar, desde que sejam lógicos e suados. Mas no que estamos falando agora não importa o absurdo. Quando voltei para dentro da BCI, ainda com meus 36 anos, um gato preto se esfregou em minhas pernas. Quase caí. Ele veio do nada, saindo de trás da moto preta. O bichano começa a me pedir socorro. Ele não falou, mas eu sabia o que ele pensava. Também não era telepatia. Era um sonho, lembre-se. Socorri o felino. Ele estava sendo perseguido por vilões de filme de espionagem. É! Estamos sorrindo juntos... Neve em uma cidade quente... E o mais engraçado: Espionagem... E eu acabei de descobri juntinho docê que sou um agente secreto. Então me deixa continuar a me descrever, pois agora passo a ter a obrigação de ser sex. Tenho 1,93m, peso 90kg, cabelos pretos, olhos verdes, logicamente musculoso e muito, modéstia a parte, gostoso. (Completamente diferente de mim na vida real. Uarrarrá!) E passo a ser, a partir dagora, mordaz. Pego o gato, um robô, eu acho e tento descobrir os segredos no bichano. Por trás do vidro Lucília nos olha. Procuro com ela se tem algum cabo que eu possa ligar o computador no gatinho. Com o cabo vou até o gato que me diz – É! Agora ele falou – Você faria isso? Não vai deixar me pegarem. Preciso que me ponha em segurança até a... – Não me lembro do nome que demos para o Órgão do Governo e nem de que país era essa entidade de espionagem. Mas como sou brasileiro, graças a Deus, faço questão de pelo menos acordado não ter o pesadelo de ser estadosunidense. – Vou parar um pouco porque a bateria do notebuque está arriando. Depois a gente continua. Enquanto isso vá ao banheiro ou coma alguma coisa. Melhor, sai um pouco para conversar com as pessoas. Mas depois volta, viu. Quero continuar a estória. E preciso de quem a leia. Depois me fale o que achou. Voltei! Conversou com alguém? Vejo uns carros suspeitos se aproximando na neve com o sol às costas. Ponho o gato na moto e saio a toda. Acho que o “robocat” pode se imantar. Os carros me seguem. Cara! Agora é tudo igual aos filmes. Correria de carros nas calçadas. Carros batendo. Gente gritando enquanto se desvia. Fogo e etc. etc. etc. Espero que você não esteja bocejando. Pelo amor de Deus. acho que deve ter um vírus no notebuque, pois quando ponho ponto após a palavra Deus ele se recusa a deixar a palavra seguinte começar com maiúscula. Acontece o mesmo com algumas outras palavras. Deve estar corrompido esse arquivo. Mas quero que esteja gostando do texto, por favor. Então depois da lengalenga a lá Estados Unidos os carros dos bandidos... Bandidos? Que são os bandidos? Os Estados Unidos ou quem eles falam que são bandidos? Mas para efeito de conversa os bandidos se perdem (ou morrem) e entro na garagem secreta do órgão de espionagem a quem pertenço. Levo o gato para os cientistas. No caminho aparece aquela mulher gostosa e perigosa. Trocamos bobas piadas mordazes. Entramos na sala do Chefe, que nos diz que o Inimigo está planejando destruir o mundo e que tenho que salvar o planeta. Essas baboseiras de sempre. Pode? Eu, sozinho, vou salvar o mundo. É para rir, né? Então cansado de sonhar bobagem, acordo. Tenho coisas melhores a fazer. Dá licença que vou a luta. Mas espero que tenha gostado. E mesmo que tenha odiado, que queira continuar me lendo. E quem tiver disponibilidade e quiser me patrocinar um livro... Fique a vontade. Não se faça de acanhado. Meu contato pode ser visto aqui mesmo no blog. Inté!


terça-feira, 1 de junho de 2010

VIDA COMUM

Rubem Leite

01 de junho de 2010


Ofereço a todos os meus queridos amigos,

especialmente os aniversariantes

kilder Willianker e, em particular,

ofereço ao Bruno Grossi que faz aniversario 03 de junho.


É um dia comum. De madrugada sentou na cama para rezar agradecendo ao novo dia e depois estudou (Acredita que a vida é contínua evolução). Inspirando e espirando repetiu mentalmente a frase “Palavras positivas e fisionomia alegre abrem a porta da felicidade”¹. Levantou, tomou café e saiu para trabalhar. A velha catadora de papel retribuiu o sorriso que ele sempre lhe dá. Um dia comentara com alguém que “enquanto todos parecem não ver eu ele me cumprimenta eu”. No trabalho cumprimenta e o cumprimentam. Faz o que tem que fazer. Conversa com um, ri com outro. Almoça. No intervalo consola pela internete uma amigo. Orienta por telefone alguém que sofre. Ajuda um colega de serviço a vencer a tristeza. Durante o trabalho conversa com fulano, brinca com sicrano, ri com beltrano. Faz o que tem que fazer. Volta para casa. Toma banho. Come algo. Vai para a reunião que ele programou na igreja. Daqui a poucos dias haverá importante atividade religiosa. Ninguém apareceu. Uma semana antes ele mandou bilhete pelo correio. Na semana mandou email. (E só não telefonou porque estava sem crédito). Voltou para casa se sentindo com frio. Dormiu sobre o cobertor se sentindo com frio. De madrugada sentou na cama para rezar agradecendo ao novo dia e depois estudou (Acredita que a vida é contínua evolução). Inspirando e espirando repetiu mentalmente a frase “Cada dia é uma nova vida, uma nova experiência”². É um dia comum.


¹ Professor Seicho Taniguchi – Seicho-No-Ie.

² Professor Masaharu Taniguchi – Seicho-No-Ie.