terça-feira, 22 de junho de 2010

PROJETO DO AR

Rubem Leite

11 a 22 de junho de 2010.

Um intercâmbio artístico entre artistas independentes de Ipatinga e Guillaurme Lauruol e Cathy Pollini.

A mostra não é o espetáculo, mas a continuação do trabalho. Ipatinga é a terceira cidade onde acontece o projeto.

Agradeço a Híbridus por trazê-los.

Ofereço aos meus queridos amigos aniversariantes:

Thiago Lopes – Palhaço Graveto;

Ana Cristina – grandiosa cantora;

Nega – a carioca hispânica...

No equilíbrio dos pneus um grito de caratê os quebra com a testa, depois penetra o pneu que lhe cavalga.

Ordens coordenam “Derruba os adversários”. “Pé esquerdo nádegas costas”. Hojeojeojeoje. Hoje há chuva na sala da casa e um nada na boca de um dragão. Cabeças se enfiam nos pneus e uma voz no pneu recomeça surgindo em outro canto. Um Atlas segura outro pneu e grita “Deus”!

Eu sou de mais ninguém. Não sou nem de mim. Eu sou ninguém. Eu sou meu.

Saio do que vejo e penso em mim: São agora 17 horas e quarenta e dois minutos de uma tarde fria. A tarde fria esfria minha alma ou minha alma fria esfria a tarde? Acho que sou judeu na Alemanha Nazista ouvindo me dizerem “Vá embora. Não posso mais”. Então volto para o que vejo.

Pneus e homens têm muito em comum. Sem ar nenhum funciona a contento. A voz humana dentro de um pneu tem interferência acústica e um homem preso em pneus foi queimado vivo. Para onde foi o ar deu meus pulmões? Pneumotórax.

Seres estranhos observam o estranho que lhes observa.


É o crepúsculo do galã o ocaso da humanidade e o alvorecer do lixo

Sobraram humanos

Acumularam lixo

Acabou o ar

Surgiu o lixo

Gestos por gestos faço sem por quê

O espaço o corpo o pneu o outro corpo e o outro espaço

Pneus são feito basicamente de borracha e ferro. E ar.

E eu?


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