domingo, 27 de novembro de 2016

SOLIDÃO

SOLEDAD – LONELINESS


Potira itapitanga.


Corpo dança solitário
Pássaro dorme em seu ninho
Árvore acima
– das suas –
Três vidas no infinito espaço.


Cuerpo baila solo
Pájaro duerme en su nido
Árbol arriba
– de sus –
Tres vidas en infinito espacio.


Body dancing alone
Bird sleeps in your nest
Tree above
– their –
Three lives in the infinity space.


Ofereço como presente de aniversário
Marcelo Garbine (Mingau Ácido), Bruna Marin, Jéssica Ribeiro, Hudson Welling, Marilia S. Lacerda, Elias Freitas, Nauana Louzada, Wellinton Baubino, Marcelo Vieira, Albio Rodrigues e Alejandro Vera.

Recomendo a leitura de “2016. Sucesso toral do Black Year”, de Javier Villanueva; “Pássaros voam rente ao chão”, deste que vos fala.


Escrito originariamente em inglês no fim da manhã de 07 de janeiro de 2016. Trabalhado nas três línguas entre os dias 26 outubro e 27 de novembro de 2016.

domingo, 20 de novembro de 2016

O GIRO DO SOL

EL GIRO DEL SOL


Potira itapitanga.

Os argumentos da burrice são tão disparatados que até tonteiam uma pessoa instruída. Emília quis argumentar com o coronel, mas não viu caminho. Por onde entrar dentro de semelhante quarto escuro?
(LOBATO, 1997)


Em português

- Quantué uisquero paraguaio?
- U mais barátu? Um e cinquenta.
- Um e cinquenta... Pega u preto praeu.
Vou-me embora do boteco ainda olhando para o pequeno corpo franzino, preta pele suja, grandes olhos amarelos, ensebados cabelos crespos, rasgada camisa azul, furado short vermelho.
Primeiro, o sol do meio da tarde esteve depois das nuvens cinza. Em seguida ele ficou do outro lado do planeta até voltar para nosso lado.
- Minhas pedra acabô. Me dê uma?!
- Num tô teno nipraeu e ocê qué que lhe dê?
- Me dá praeu. – Fala, fala e repete várias vezes até, de repente, gritar. Nos olhos, um rio de lágrimas e nos lábios, um riacho de sangue.


En español

- ¿Cuál es el precio del encendedor?
- Lo más barato es un con cincuenta.
- Un con cincuenta… Dame el negro.
Me voy de la taberna aun mirando el delgadito cuerpo menudo, negra piel sucia, grandes ojos amarillos, ensebados pelos crespos, rota camisa azul, agujereada bermuda roja.
Primer, el sol del mediodía estuvo después de las nubes grisis. En seguida él se quedó del otro lado del planeta hasta volver para nuestra parte.
- Mis piedra se acabó. ¡¿Dame otra?!
- ¿No tengo ni para yo y tú quiere quilodé?
- Me dame para yo. – Habla, habla y repite muchas veces hasta, de repente, gritar. En los ojos, un río de lágrimas y el labios, un regato de sangre.


Ofereço como presente aos aniversariantes
Nari Farias, João Borges, Sula Valgas, Helon Tavares, Nanda Sales, Tania Mattos, Aline Valadares, Ruana Rocha, Stéfany Késsya, Débora Juliane, Erdinachele M. Salatiel, Aline Medeiros, Gunther Estebanez, Emanuel Santos, Stefanni Marion e Edilaine S. Peres.

Recomendo a leitura de “Apenas um flerte”, de Bispo Filho; “Balet de Sete”, de Xúnior Matraga; e “Quadra Trilíngue”, deste que vos fala.

LOBATO, Monteiro. Serões de Dona Benta. 22 ed. São Paulo: Brasiliense, 1997, cap. XXII.


Escrito originalmente em português no fim da manhã de 13 de março de 2016. Trabalhado entre os dias 20 de setembro e 20 de novembro do mesmo ano.

domingo, 13 de novembro de 2016

O CANTOR DE DEUS

EL CANTANTE DE DIOS


Potira itapitanga.

Os argumentos da burrice são tão disparatados que até tonteiam uma pessoa instruída. Emília quis argumentar com o coronel, mas não viu caminho. Por onde entrar dentro de semelhante quarto escuro?
(LOBATO, 1997)


Em português

- God is good. God is very, very good. Devil is bad. Devil is very, very bad. – O traficante canta caminhando pela rua. – Angel is good, is very, very good. People are bad, are very, very bad. I am a bad angel because I am people. I am a bad angel because I am people. I sing devilish song of love. I sing angelic song to crack rock. My God is rock, rock, rock. May God is good. May God is good. May God is good, good, very good crack rock.
- Que cê tá cantano?
- Estou cantano nossa história.
- Ocê tá falano da gente? Ai, que lindo. Ocê é inteligente, sabe até ingleis.
- Thanks! I am the best.
- Besta?
- Best, baby. Best! And I say more. I will tell a poem “I have at hand transformations tools pencil paper. For now my pencil doesn’t catches butterflies and on my paper no red roses. Un-sat-is-fied only stones disguised as words”¹.
- Ai, que lindo! Mas vamu falá em portugueis porque nun tô intendenu nada.
- Certo. Você tá certa. Cadê meu dinheiro!?
Um pássaro canta. No mesmo momento da história acima e do canto do pássaro estou conversando com Raul, um argentino que mora perto. E ele me diz:
- ¿Por qué ser el único país de Latinoamérica a no hablar español? Brasil tiene que hablar español… ¡Es necesario evolucionar!
- Realmente! É um dos poucos países latino-americanos que não fala espanhol. Porém, em quilômetros quadrados, a América Latina tem mais de vinte e um milhões de quilômetros de área. O Brasil possui uma área muito acima de oito milhões de quilômetros. Ou seja, bem mais de um terço da América Latina. Argentina, o lindo e segundo maior país da América Latina, tem menos de um terço do Brasil; com quase três milhões de quilômetros. Também não se sabe exatamente quantos países existem na América Latina porque alguns ainda são colônias, ou territórios ou porque o mundo não os reconhece como países. Mas é seguro dizer que pelo menos vinte. Ah, e o Brasil possui vinte e seis estados. Sendo que Argentina não chega a ser o dobro do Amazonas, nosso maior estado. Minas Gerais, o quarto maior estado e segundo mais populoso, possui mais de meio milhão de quilômetros quadrados; mais ou menos duzentos mil quilômetros menor que Chile e mais ou menos trezentos mil quilômetros maior que Uruguai, o menor, mas lindo, país da América do Sul. Ai, como amo Uruguai. Cara! Gostei muito de ter conhecido Uruguai, Argentina, Chile e Peru. Um dia quero voltar a visitá-los e a conhecer os demais países.
- Pero... Es el único país a no hablar español… Es tan solitario…
- Não somos o único a não falar espanhol e apesar de sermos o único que fala português, cada estado nosso é do tamanho de um país. Não somos solitários. Nós nos bastamos...
- Cuanta vanidad… ¡No seas aburrido ni molesto!
Um pássaro canta. No mesmo momento das duas histórias acima e do canto do pássaro outra pendenga começa na rua.
- Me dá um real, meu amor. Ô meu amor, me dá um real. Me dá um real, meu amor. Ô meu amor, me dá um real. Me dá um re...
- Vê se num enche, peste!
- Me dá um real, meu amor. Ô meu amor, me dá um real. Me dá um real, meu amor. Ô meu amor, me dá um real.
- Sai, praga!
- Eu entrei no carro concê. Mereço pelo menos dois real. Me dá dois real, meu amor. Eu entrei no carro concê ifiz tudo quicequis... Me dá dois real, meu amor. Ô meu amor, me dá dois conto. Me dá dois real, meu amor. Eu entrei no carro concê. Mereço pelo menos dois real. Me dá dois real, meu amor.
Enquanto isso, a discussão entre o brasileiro e o argentino se encerra sem raivas. Mas o cantor e sua fã continuam o imbróglio em outro ponto da mesma rua:
- Toma aqui pelas pedra que pegô i num pagô...
- Ai! Num bate não que tô duente. Num bate mais, por favor. Fale ingreis, fale ingreis, por favô e num bate mais.
O pássaro para de cantar e levanta voo.


En español

- God is good. God is very, very good. Devil is bad. Devil is very, very bad. – El traficante canta mientras camina por la calle. – Angel is good, is very, very good. People are bad, are very, very bad. I am a bad angel because I am people. I am a bad angel because I am people. I sing devilish song of love. I sing angelic song to crack rock. My God is rock, rock, rock. May God is good. May God is good. May God is good, good, very good crack rock.
- ¿Qué estay cantando?
- Estoy cantando nuestra historia.
- ¿Estás hablando de la gente? ¡Ay, qué lindo! Tú es inteligente, sabe hasta inglés.
- Thanks! I am the best.
- ¿Bestia?
- Best, baby. Best! And I say more. I will tell a poem “I have at hand transformations tools pencil paper. For now my pencil doesn’t catches butterflies and on my paper no red roses. Un-sat-is-fied only stones disguised as words”¹.
- Ay, ¡qué lindo! Pero, vámonos charlar en español porque no estoy comprendiendo nada.
- Cierto. Tú estás cierta. ¡¿Dónde está mi dinero?!
Un pájaro canta. En lo mismo rato de la historia arriba y del canto del pájaro estoy platicando con el brasileño Benito y él habla:
- ¡Estoy encantado con Argentina!
- ¡Gracias! ¡Qué bueno que te gustas!
- Latinoamérica tiene en quilómetros cuadrados más de veintiún millones de quilómetros de área. El Brasil posee un área mucho mayor que ocho millones de quilómetros cuadrados. O sea, más de un tercio de Latinoamérica. Argentina, su lindo país y el segundo mayor de Latinoamérica, posee menos de un tercio de Brasil; con casi tres millones de quilómetros cuadrados. No se sabe cuántos países hay en Latinoamérica porque algunos son colonias, o territorios o porque el mundo no los reconoce como países. Pero, es seguro decir que por lo menos veinte. Y el Brasil posee veintiséis provincias. Argentina es casi el doblo de Amazonas, mayor provincia de Brasil. Minas Gerais, la cuarta mayor provincia y segunda más poblada, posee más de medio millón de quilómetros cuadrados; más o menos doscientos mil quilómetros menor que Chile y más o menos trecientos mil quilómetros mayor que Uruguay, el menor, pero lindo, país de Sudamérica. Ay, caray, ¡cómo amo Uruguay! ¡Hombre! Me encanté en tener conocido Uruguay, Chile, Perú y ahora Argentina. Es una lástima tener que volver al Brasil sin conocer los otros países de Latinoamérica.
- Cuanta vanidad… ¡No seas aburrido ni molesto! Brasil es el más grande país de Latinoamérica. Pero, ¿por qué ser el único país de Latinoamérica a no hablar español? Brasil tiene que hablar español… ¡Es necesario evolucionar! Es el único país a no hablar español… Es tan solitario…
- ¡Oh, no! Perdóname se lo hice pensar que estaba siendo presumido. Brasil es maravilloso, pero no es mejor que los otros países. ¡No, jamás! Me encanta la diversidad mucho más que la igualdad. Y no somos solitarios porque hay muchas provincias y pienso y siento que se en Latinoamérica todos hablasen portugués o se todos hablasen español seríamos más pobres que ricos.
Un pájaro canta. Al mismo momento de la historia arriba y del canto del pájaro otra querella en la calle empieza.
- Me dona una platina, mi amor. Amor mío, me dona una platita. Me dona una platina, mi amor. Amor mío, me dona una platita. Me dona una plat…
- No me enfades, ¡peste!
- Me dona una platina, mi amor. Amor mío, me dona una platita. Me dona una platina, mi amor. Amor mío, me dona una platita.
- ¡Salga, plaga!
- Entré con tú en tu coche. Merezco por lo menos dos platitas. Dóname dos platitas, mi amor. Entré en tu coche con tú e hice todo que has querido… dóname dos platitas, mi amor. Amor mío, dóname dos platitas. Dóname dos platitas, mi amor. Entré en tu coche con tú. Merezco por lo menos dos platitas. Me dona dos platitas, mi amor.
Mientras eso, la discusión entre el Benito y Raúl se encierra sin rabias. Pero, el “cantante” y su fan continúan el embrollo en otro punto de la misma calle:
- ¿No me pagas las piedras? Entonces las te pago yo…
- ¡Ay, ay, ay! No me golpeas que estoy enferma. No me golpeas más, por favor. Hables inglés, hables inglés, por favor y no me golpeas más.
El pájaro para de cantar y levanta vuelo.


Ofereço como presente aos aniversariantes
Jaeder T. Gomes, Isac Silva, Fernanda La Noce, Eder M. Loures, Rodrigo Neiva, Chicão Fidideus, Vera Pagani, Carla L. Barros, Carmem L. Mafra, Daniel Silveira, Savio Tarso, Fernanda Hergis e Manuel Ayala.

Recomendo a leitura de “Um ano de lama e luta”, de Vinicius Siman; “E assim descaminha a humanidade”, deste que vos fala (também em espanhol); “O brilho da careca de Lênin em lataria de ambulância”, de Sued; “Bem-te-vi”, de Bispo Filho; e “Vício”, de Xúnior Matraga. Respectivamente nos endereços:

LOBATO, Monteiro. Serões de Dona Benta. 22 ed. São Paulo: Brasiliense, 1997, cap. XXII.

¹ BARBOSA, Jurandir. Quase Verbo. 2ª ed. São Paulo: Catromano, 2015. Poema Partner.


Escrito entre 07 de junho de 2015 e 13 de novembro de 2016.

domingo, 6 de novembro de 2016

A LUA PISCA UM OLHO

EL RATO SILENCIOSO


Potira itapitanga.


Em português

Hoje o céu é uma dama da alta sociedade em um fim de noite de gala. Um lindo vestido negro com nuances em cinzas e prata, sem nenhum brilho. Um chapéu combinando, com rendinhas lhe cobre a cabeça e os olhos. Visíveis, só o sorriso da boca lunar e uma pintinha estelar à direita no queixinho. O sorriso some um instante.
Na terra, Humberto de Campos, um homem que viveu no período Império e República, escreveu uma história que, após uns vinte anos que li, reconto segundo minhas memórias e com algumas mudanças.
Uma jovem bailava com seu namorado. E ela pergunta:
- O que você mais gosta em mim?
Ele diz “Tudo”.
- Ai, vai, diga uma coisa em especial. Insiste a moçoila, que se chama Helena.
- Bem, suas mãos... – Responde Soares, que é como se chama o rapaz. – Elas são pequeninas.
- Muito?
- Muito! Microscópicas!
Helena fica espantada, surpresa. Nunca tinha ouvido essa palavra. É que frequentou escolas sem estudar a contento e também que em sua casa se ouve, assiste e lê apenas Bolsonaro, Crivella, Kalil, Malafaia, Veja, Globo... E fala:
- Com licença, querido. Vi meu velho professor e quero matar a saudade.
Enquanto Helena sai Soares vê uma garota sentada com um livro. Ele não sabe, mas ela o observou o tempo todo. No momento, porém, a menina estava, ainda, no prólogo de um livro e meditava nas palavras “Acho que estavam preocupados que me avô me contaminasse com algum delírio incurável do qual jamais iria me recuperar – que essas fantasias de alguma forma estivessem me infectando contra ambições mais práticas”¹.
- O que você está lendo? – Pergunta apenas para puxar assunto com um rabo de saia com quem depois possa dormir.
- Um livro que me recomendaram.
Soares toca no livro para ver a capa causando nela um arrepio que ele não percebe.
- Sou Soares e você?
- Marcela...
- Vi o filme. Até que gostei.
- O trecho que me chamou atenção até agora me faz pensar no capitalismo que dá a ilusão de que trabalhamos para ganhar o dinheiro que nos permita viver para termos o que quisermos.
- Ilusão? Como assim?
- Com o salário, o trabalhador compra roupas, calçados, comida, paga as contas para quê?
- Para tê-los...
- Essa é a ilusão. – Olhando para o rapaz que não lhe acompanha o raciocínio – o dinheiro para comida é para podermos trabalhar, não é nem dá para comprarmos o que queremos sempre que temos vontade. As roupas e os calçados também são para trabalharmos; e a moda que muda sem parar é para sempre comprarmos e comprarmos mesmo tendo roupas em bom estado. Os remédios são para o mesmo fim. As contas também... Se um trabalhador – um pedreiro, por exemplo, ou mesmo um médico, ou advogado, engenheiro – ficar sem trabalhar ele passará fome. Apenas um por cento da população brasileira é realmente rica. Todos os outros noventa e nove por cento dos brasileiros são pobres.
- Eu não sou pobre...
- Não se irrite, por favor. Mas deixa-me explicar. Rico é quem consegue viver mesmo sem nada produzir. Pode até trabalhar, mas consegue viver, e bem, sem estar empregado. As pessoas acham a palavra “pobre” muito vergonhosa porque simplesmente não entendem que não é sinônimo de fracassado, mas sim de quem trabalha para viver.
Os dois se olham por uns segundos enquanto a lua pisca um olho e ela volta a falar:
- Então, se um trabalhador estiver desempregado passará fome. Apenas um por cento da população brasileira, e o mesmo no resto do mundo, talvez até menos que isso, não precisa trabalhar, pois realmente é rica. Todos os demais são pobres.
- Então você está dizendo que, na verdade, pagamos para trabalhar?
- Exato e... – Enquanto Marcela conversa com Soares, voltemos para Helena:
- Professor Marinho! Que bom que o senhor veio à minha festa.
Conversam algumas banalidades e, não aguentando mais, pergunta:
- Professor! O que é “miscroscóspisco”.
- A senhorita deve estar querendo dizer “microscópico”.
- Sim, professor. O que é microco... microscópico?
- É relativo ao microscópio...
- E o que é isso, professor?
- É algo que faz as coisas crescerem...
A jovenzinha põe um dedinho na boquinha, depois olha demoradamente para as mãos, sorri, volta para os braços no amado e diz para Soares: “Safadinho”.
O lunar sorriso some um instante, mas volta minguante.


En español

Hoy el cielo es una dama de alta sociedad en un fin de noche de gala. Un lindo vestido negro con matices en gris y plata, sin ningún brillo. Un sombrero combinando, con randitas cubriendo la cabeza y los ojos. Visibles, solo la sonrisa de la boca lunar y una lunar estrella a la derecha en la pera. La sonrisa sume un ratito.
En la tierra, Humberto de Campos, un hombre que vivió en el período Imperio y República brasileña, escribió una historia que, pasados veinte años que a leí, recuento según mis memorias y, sin echar dados falsos, pongo nuevas cosas.
Una muchacha bailaba con su novio. Y ella pregunta:
- ¿Qué te gusta más en mí?
Él responde “¡Todo!”.
- Ay, va, diga una cosa especial. Insiste la mozalbeta, que se llama Helena.
- ¡Vale! Sus manos... – Contesta Soares, que es el nombre del muchacho. – Ellas son pequeñitas.
- ¿Mucho?
- Mucho. ¡Microscópicas!
Helena se queda espantada, sorpresa. Nunca había escuchado esa palabra. Es que en su casa solamente consumen tele basura, revista basura, música basura… ¿Libro? ¡Jamás! Y habla:
- Permiso, cariño. Vi mi viejo maestro a quien extrañaba mucho y por un ratito quiero hablarle.
Mientras Helena se va Soares echa un vistazo en una muchacha sentada con un libro. Él no sabe, pero ella lo observó el tiempo todo. Sin embargo, en el momento la niña estaba, aún, en el prólogo del libro y meditaba en las palabras “Pienso que estaban preocupados que mi abuelo me contaminase con algún delirio incurable de cual jamás volvería a me recuperar – que esas fantasías de alguna manera estuviesen infectándome contra ambiciones más prácticas”¹.
- ¿Qué lees? – Cómo las muchachas siempre lo dejan de pichinga pregunta solo para promover conversación y, quien sabe, después se quedaren en pleno canchis canchis.
- Un libro que me recomendaron.
Soares tocó en el libro para ver la capa echándola un estremecimiento que él no percebe.
- Soy Soares, ¿y tú?
- Marcela…
- Vi la peli. No es mala…
- Hasta ahora la parte que me está haciendo pensar me recuerda el capitalismo que da la ilusión de que trabajamos para ganar dinero y así vivir comprando todas las cosas que nos apetecieren.
- ¿Ilusión? ¿Cómo así?
- A través de su salario, ¿para qué el trabajador compra ropas, calzados, comida, paga las cuentas?
- Para tenerlos…
- Esa es la ilusión. – Mirando el muchacho que no le acompaña el raciocinio – El dinero para comida es solo para trabajar; con él no es posible comprar todo que deseamos siempre que nos dé la gana. Las ropas y los calzados también son únicamente para trabajar; y la moda que cambia sin cesar es para comprar y comprar mismo teniendo ropas en buen estado. Las medicinas son para el mismo fin. Las cuentas también… Si un trabajador – un albañil, por ejemplo, o mismo un médico, o abogado, ingeniero – quedarse desempleado él se morirá de hambre. Solamente un por ciento de la populación del país es realmente rica. Todos los otros noventa y nueve por ciento de los habitantes son pobres…
- No soy pobre…
- No se quede aburrido, por favor. Pero, déjame explicar. Rico, o sea, mucho adinerado, es quien puede vivir mismo sin nada producir. Puedes hasta trabajar, pero consigue vivir, y bien, sin estar empleado. A las personas nos le gusta la palabra “pobre”; piensan que ella es vergonzosa, solamente porque no entienden que nos es la misma cosa que fracaso ni sinónima de pelado. En verdad, pobre es quien trabaja para vivir.
Los dos se miran en un rato silencioso hasta ella volver a hablar:
- Entonces, si un trabajador estuviere desempleado se quedará hambriento. Solamente un por ciento de la populación del país, y el mismo en el resto del mundo, tal vez hasta menos que eso, no necesita trabajar, pues realmente es adinerada. Todos los demás son pobres.
- Entonces, estás diciendo que, en verdad, ¿pagamos para trabajar?
- Exacto y… – mientras los dos charlan, volvemos a Helena:
- ¡Maestro! Me encanta que ha venido en mi fiesta.
Charlaron algunas banalidades y, no aguantando más, pregunta:
- Maestrito, ¿qué es miscroscóspisco?
- La señorita debe estar queriendo decir “microscópico”, ¿no?
- Sí, maestrito. ¿Qué es microco… microscópico?
- Es relativo al microscopio…
- ¿Y qué es eso, maestro?
- Es un aparato que hace las cosas crecieren…
La jovencita pone un dedito en la boquita, después mira largamente sus manos, sonreí, vuelve para los brazos del amado y dice para Soares: “Descaradito”.
La lunar sonrisa sume un instante, pero vuelve menguante.



Ofereço como presente aos aniversariantes
Roda Alda, Dayane Andrade, Andre Brytto, Amauri Krus, Eduardo R.L. Toledo e Izabela Azevedo.

Recomendo a leitura de “Eu sei quem sou e para onde quero ir”, de Cinara Aline; “Laço”, de Xúnior Matraga; e “Cada um por si”, deste que vos fala. Respectivamente nos seguintes endereços:

¹ RIGGS, Ransom. O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares. Tradução: Edmundo Barreiro e Marcia Blasques. 4ª ed. São Paulo: Leya, 2015. Página 08. Traducción libre de Rubem para español.



Escrito entre 22 de junho de 2014 e 06 de novembro de 2016.