domingo, 24 de fevereiro de 2019

NÓS SABEMOS



Longe, muito longe daqui e a um tempo que quase se perdeu nos corações havia um digno, belo e forte Galo branco e preto, mas havia também uma raposa tão má que se chamava Máfia e ela amava a cor azul; azul do céu. Mas só gostava da cor, não do céu. Por isso, quando morreu, sua alma ficou para assombrar. Um dia ela conheceu um rei e, sem este saber, tornou-se sua conselheira...

- Mestre, o rei quer que o senhor morra.
- Não, não é só ele que me quer morto. – E de maneira enigmática continuou: Diga à raposa que em breve, mas não agora, meu destino se cumprirá. – Um minuto de silêncio e: “Mundo mundo vasto mundo se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não uma solução. Mundo mundo vasto mundo mais vasto é meu coração. Eu não deveria te dizer, mas”¹: tenho desejado tanto reunir seus filhos como a galinha, esposa do grande Galo alvinegro, reúne seus pintinhos debaixo de suas asas. Mas você escuta uma raposa e não a mim.

Figueiras floreiam e parreiras frutificam sem saber dos males ao redor.

- O Galo cantará, mas antes você há de negar-me três vezes. Quando isso acontecer, olha bem pra ele. Essa ave tem aprendido muito comigo e quem sabe você não aprende com ela tudo que tenho ensinado...
E assim foi. Passados uns dias o homem meditou longo tempo na lição do Galo até iluminar-se no Mestre.
Porém a raposa ria enquanto as mulheres choravam.
Por dois dias nenhum galo cantou e todos se perguntavam se ficaria assim para sempre. Todavia, na terceira manhã o Galo cantou enquanto uma pesada pedra se movia sozinha e da caverna saía um homem. É por isso que os galos cantam todas as madrugadas, não segundo os relógios, mas sempre na hora da ressurreição.
Figueiras floriram e parreiras frutificaram sem saber dos males ao redor. Porém nós sabemos. E o que somos: raposas ou Galos?


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Kadosh Miranda, Christine D.P. Sathler, Tiago Gonçalves e Gineraldo Adão.

¹ Do Poema de Sete Faces, de Carlos Drummond de Andrade.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
 Foto do autor lendo para um Galo: Girvany de Morais.

Escrito entre os dias 21 e 24 de fevereiro de 2019.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

JOVENS NÃO SÃO PERIGOSOS; ESTÃO EM PERIGO


ou AMÉRICA LATINA, SEUS GOVERNANTES TE REPRESENTAM


Very sad!
Boys, are treated like social worms just for being boys.
Girls, for being girls, have to be protected inside the society itself.¹

TRAGALUCES – Los monstruos la acechaban en la oscuridad. Codiciaban su luz. Ella titilaba inocente y feliz sin sospechar que corría un grave peligro. Su brillo era tan intenso que no veía que a su alrededor se agazapaban más y más bestias. Se sabía hermosa y avanzaba segura. Radiante se adentró en la oscuridad última. No recuerda cómo acabó entre sus dedos. No se explican cómo se apagó tan rápidamente. Y la dejaron allí, como inerte.
(Ginimar de Letras)

Segundo o decreto de lei nº 2.848/1940, induzir ou instigar alguém a se suicidar ou prestar auxílio para que a pessoa faça gera uma pena, que vai de dois a seis anos de prisão, se o suicídio se consuma.

Em português

Penso.
Quando desistira de suicidar-se, um garoto brasileiro de dezessete anos foi assassinado pelo povo a gritar “pula, pula, pula...”.
Outro garoto, um argentino de dezoito anos, morreu eletrocutado e o povo o culpou por ser negro, artista e pobre. Disseram que era um verme a menos no mundo.
Uma garota mexicana foi abordada por dois homens quando percorria o mundo pela primeira e última vez.
Mas rapazes não são perigosos; somente estão em perigo.
E, triste, as jovens estão em perigo pelos machõezinhos. Contudo, os homens fazem alguma coisa ou não existem homens de verdade?



Brasil.
Uma longa carta foi escrita. Um rapaz de dezessete anos se propôs a suicidar-se; após escrevê-la, saiu. Contudo, o Corpo de Bombeiros negociou por quase uma hora e este desistira.
Mas o povo... Ah, o povo!
O rapaz se viu um pássaro; sentiu-se um pardal e abriu as asas.

Argentina.
José Fonseca, artista de rua com dezoito anos, viajava com Ciro Ferreyra, seu amigo dois anos mais velho. Ciro ficou “apenas” gravemente ferido enquanto José...
Mas o que eles estavam fazendo além de quererem voltar para casa? Tentavam conseguir algum dinheiro, mas a crise econômica, política e social agride cruelmente a quem tem a oferecer apenas arte de rua. Por isso caminham muitos dias, mas por causa de suas peles marrons nada conseguiam.
Mas a sorte vem para todos. É como reza o provérbio português que meu pai tinha em sua cabeça: “Até nas flores / se vê a diferença da sorte: / Umas enfeitam a vida / outras enfeitam a morte.”.
Havia um trem parado. “Será possível?”. Cansados aceitaram a mão oferecida pela Sorte e subiram ao teto da locomotiva. Faltando menos de um quarto de hora para chegarem, Ciro se abaixa para pegar algo na mochila. Mas o amigo... Este se prendera em um cabo de força e recebeu um choque de vinte e cinco mil volts.

México-Costa Rica.
Enquanto percorria o mundo, María Trinidad Mathus Tenorio disse quase como últimas palavras: “Hoje começo a viajar só. Depois de longo tempo sonhando viajar sozinha pelo planeta, por fim realizo o meu desejo. Chegou a hora de preencher-me de natureza.”. Mas um crime a frustrou.

Brasil.
O povo quer sangue e grita “pula, pula, pula...”.
Desencorajado a viver é encorajado a abrir os braços e a pular da passarela como se fora um pardal prestes a voar.
Ah, Brasil! Seus governantes te representam.
Paradoxo para uns, curiosidade para outros. Justiça para uns, tristeza para outros. Porém o fato é: suicida assassinado! E os assassinos estão sendo identificados pelos vídeos que circulam pelas redes sociais.

Argentina.
O trem estava lotado de gente em condições tão desumanas ao ponto de filmarem e fotografarem violando a intimidade de uma desgraça.
Descomunal falta de empatia.
Sem dó pela vítima nem piedade por aqueles que o amava; obrigando-os a rever e rever e rever seguidamente multiplicado o corpo queimado de seu garoto.
José morreu por ser pobre; morreu pela cobiça capitalista; morreu pelas más qualidades dos serviços hospitalares que não queriam recebê-lo; morreu pela cruel sociedade.
No entanto, o pior massacre foram os comentários nas redes sociais: “É porque não quis pagar a passagem”; “morreu porque preto, quando não caga na entrada, caga na saída”; “um verme a menos”; “Bem feito! Quem mandou ser burro?”.
Zombarias e humilhações jorraram dos cristãos corações.
Quais bocas protestaram pela falta de emprego digno? Ou dos preços caríssimos das passagens a impedir a viagem dos mais pobres ou o direito de todos os jovens – não só os das classes mais abastadas – a se divertirem nas férias? Muito poucas bocas.

México-Costa Rica.
Um sujeito disse que somente os idiotas viajam sozinhos e confiam nas pessoas. Houve quem dissesse: “Adoro os finais felizes. Quem mandou ela sair da cozinha? Se tivesse ficado quieta cuidando da casa nada disso teria acontecido...”. Outros disseram que o povo de Costa Rica – onde aconteceu o crime – é sujo. E muitos costarriquenhos culparam todos de Nicarágua pelo crime dos dois nicaraguenses que a abordaram.
E não faltou quem apoiasse as falas desses e de outros imbecis retrógrados.

Sinto.


José, Ciro e o brasileiro, por serem rapazes, são vermes sociais. María, por ser garota, tem que ser protegida da sociedade na sociedade.
Conheço vários mochileiros e artistas de rua, entre eles: Ronal Faría, Emilio Bigote, Rodri Go, Zarza Mora, Kadosh Miranda, Juli Ariel, Martín Dali Ramirez, Trinity Veguin, Faire e Ramom, Julio Guerine, Gabriel Corrêa, João P. Juggle, Diego e Maria. São todos jovens pássaros enquanto sou só uma árvore meio velha.
Destes e de outros mochileiros que viajam em meu coração, três são mulheres. Com a terceira preocupo, mas pouco, pois está com seu marido; a segunda me preocupa um pouco mais, mas está sempre com um namorado; já a primeira me preocupa bastante, uma vez que viaja só. Horrível, horrível, horrível! É inaceitável, ainda hoje, sentir a necessidade de um homem acompanhando-as para senti-las seguras.
Se a María, o José, o Ciro, o rapaz brasileiro e meus amigos são vermes desprotegidos, sou igualmente uma minhoquinha frágil. E me lembro de uma história que li sobre Santo Antônio.
Os franciscanos viajam em duplas e o companheiro de frei Antônio era frei Lucas, um rapaz sorridente e brincalhão. Enquanto Antônio era bonitão e de boa fala, Lucas era tranquilo e manco. Porém um dia Lucas estava triste e calado. Antônio perguntou o que acontecera, mas não recebera resposta.
- Ou me fala porque está amuado ou mando essa árvore me dizer.
Então Lucas disse: “Ontem escutei umas pessoas dizerem que eu sou a nuca de Antônio, a sombra de Antônio, o cachorrinho de Antônio”.
Frei Antônio olhou o céu e orou:
- Deus, muito obrigado! Por sua bondade em me presentear com um amigo tão verdadeiro. Somente um amigo sincero pode ser a nuca do outro, pois é onde o cérebro repousa; só um bom amigo pode ser a sombra para que o outro brilhe; só um amigo fiel pode ser comparado a um cão, o maior exemplo da mais pura amizade. Muito obrigado!
Todavia, governos geram o ódio social quando reprimem, desalojam ou desvalorizam os artistas do povo ou os vendedores na rua.
Morreram José Fonseca, María e o brasileiro sem nome. E em mim dói. Porém Ciro Ferreyra e meus amigos artistas-mochileiros ainda vivem como esperanças para lembrar o direito de segurança e respeito a todos os jovens e artistas de todas as idades que praticam malabares nos semáforos ou que pedem carona nas estradas.


En español

PIBES NO SON PELIGROSOS; ESTÁN EN PELIGRO o
LATINOAMÉRICA, SUS GOBERNANTES LOS REPRESENTAN


Pienso.
Cuando desistiera de suicidarse, un pibe brasileño de diecisiete años fue asesinado por el pueblo a gritar “salte, salte, salte…”.
Otro pibe, un argentino de dieciocho años, se murió electrocutado y el pueblo lo culpó por ser morocho, artista y pobre. Dijeron que era un verme a menos en el mundo.
Una piba mexicana fue abordada por dos hombres cuando recorría el mundo por su primera y última vez.
Los pibes no son peligrosos sino que están en peligro.
Y, triste, las pibas están en peligro por los machotes. Pero, ¿los hombres hacen algo o no hay hombres de verdad?



Brasil.
Una larga carta fuera escrita. Un chaval de diecisiete años se propone a suicidarse; tras escribirla, salió. Sin embargo, el Cuerpo de Bomberos negoció por casi una hora y este desistiera.
Pero el pueblo… ¡Ah, el pueblo!
El chaval se vio un pájaro; se sintió un gorrión y se abrió las alas.

Argentina.
José Fonseca, artista callejero de dieciocho años, viajaba con Ciro Ferreyra, su amigo dos años mayor. Ciro se quedó “solamente” gravemente herido mientras José…
Querían volverse a casa, ¿pero qué hacían para lograrlo? Intentaban conseguir mangos, pero la crisis económica, política y social no tiene piedad de quien solo puede ofrecer arte callejera. Entonces caminan muchos días, pero sus pieles marrones no atraían solidaridad.
Sin embargo, la suerte sonreí para todos. Es como en el proverbio portugués que mi padre llevaba en su cabeza: “Hasta en las flores / se ve la diferencia de la suerte: / Unas adornan la vida / otras engalanan la muerte”.
Había un tren parado. “¡Vale! ¿Será posible?”. Sin fuerzas aceptan la mano ofrecida por la Suerte y subieron al techo de la locomotora. Faltando menos de un cuarto de hora para llegaren, Ciro se abaja para agarrar algo en la mochila. Pero el amigo… Este fuera arrestado por un cable de alta tensión y recibió un choque de veinticinco mil voltios.

México-Costa Rica.
Mientras recorría el mundo, María Trinidad Mathus Tenorio dijo casi como últimas palabras: “Hoy empieza mi viaje sola. Después de mucho tiempo de haber deseado irme por el planeta a viajar sola, por fin lo hago. Llegó la hora de llenarme de naturaleza.”. Pero un crimen la truncó.

Brasil.
El pueblo quiere sangre y grita “brinque, brinque, brinque…”.
Descorazonado a vivir es encorajado a abrir los brazos y a saltar de la pasarela como se fuera un gorrión prestes a volar.
¡Ay, Brasil! Sus gobernantes te representan.
Paradojo para unos, curiosidad para otros. Justicia para unos, tristeza para otros. Pero, la verdad es: ¡Suicida asesinado! Y los asesinos están siendo identificados por los videos que circulan en las redes sociales.

Argentina.
El tren estaba relleno de personas en condiciones tan inhumanas al punto de filmaren y fotografiaren violando la intimidad de una desgracia.
Descomunal ausencia de empatía.
Sin compasión por la víctima ni piedad por aquellos que lo amaban; obligándolos a rever y rever y rever seguidamente multiplicado el cuerpo quemado de su niño.
José se murió por ser pobre; se murió por la codicia capitalista; se murió por las malas calidades de los servicios hospitalarios que no querían recibirlo; se murió por la sucia sociedad.
Sin embargo, lo peor masacre fueron los comentarios en las redes sociales: “Que no quería pagar el boleto”; “que era un negro de mierda”; “que es un verme a menos”; “que se joda por idiota”.
Burlas y humillaciones chorrearon de cristianos corazones.
¿Cuáles bocas protestaron por la falta de empleo digno? ¿O de las altas tarifas a impedir el viaje de los más pobres o el derecho de todos los pibes – no solo de las clases más abastadas – a disfrutar las vacaciones? Muy pocas bocas.

México-Costa Rica.
Uno dijo que solamente los idiotas mochilean solo y confían en las personas. Hay quien dijera: “Adoro los finales felices. ¿Quién la manda a salir de la cocina? Si te hubieras quedado arreglando la casa nada de eso hubiera pasado…”. Otros dijeron que el pueblo de Costa Rica – donde ocurrió el crimen – es sucio. Y muchos costarriqueños culparon todos los nicaragüeños por el crimen de los dos “nicas” que la abordaron.
Y al cabo hay a quien le gusta la charla de los imbéciles retrógrados.

Siento.


José, Ciro y el chaval brasileño, por ser chicos, son vermes de la sociedad. María, por ser muchacha, hay que ser protegida de la sociedad en la sociedad.
He conocido muchos mochileros y artistas callejos, entre ellos: Ronal Faría, Emilio Bigote, Rodri Go, Zarza Mora, Kadosh Miranda, Juli Ariel, Martín Dalí Ramirez, Trinity Veguin, Faire y Ramón, Julio Guerine, João P. Juggle, Diego y Maria. Son todos jóvenes pájaros mientras soy un árbol un poco viejo.
De estos y de otros mochileros que viajan en mi corazón, tres son mujeres. Con la tercera preocupo, pero poco, pues está con su esposo; la segunda me preocupa un poco más, pero está siempre con un novio; ya la primera me preocupa bastante, una vez que viaja sola. ¡Horrible, horrible, horrible! Es inadmisible, aún hoy, sentir la necesidad de un hombre acompañándolas para sentirlas protegidas.
Si la María, el José, el Ciro, el pibe brasileño y mis amigos son gusanitos desprotegidos, soy igualmente uno frágil lombriz. Y me recuerdo de una historia que leí sobre San Antonio.
Los franciscanos viajan en parejas y el compañero de frey Antonio era frey Lucas, pibe sonriente y chistoso. Mientras Antonio era guapo y de buena habla Lucas era tranquilo y renco.
Pero un día Lucas estaba triste y callado. Antonio preguntó que ocurriera pero no fuera contestado.
- O me hablas porque estás triste u ordeno a ese árbol decirme.
Entonces Lucas dijo: “Ayer escuché unos tipos diciendo que yo era la nuca de Antonio, la sombra de Antonio, el perro de Antonio”.
Frey Antonio miró el cielo y oró:
- Dios, ¡muchas gracias! Por Su bondad en regalarme con un amigo tan verdadero. Solo un amigo sincero puede ser la nuca del otro, pues es donde el cerebro reposa; solo un bueno amigo puede ser la sombra para que el otro brille; solo un amigo fiel puede ser comparado a un perro, el más grande ejemplo de la más pura amistad. ¡Muchas gracias!
Sin embargo, gobiernos generan el odio social cuando reprimen, desalojan o desvalorizan a los artistas populares o a los vendedores en las calles.
Se murieron José Fonseca y el brasileño sin nombre. Y en mi duele. Pero Ciro Ferreyra y mis amigos artistas-mochileros todavía viven como esperanzas para recordar el derecho a seguridad y respeto a todos los pibes y artistas de todas las edades que practican malabares en los semáforos o que hacen dedo en las rutas de Latinoamérica.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Margô Inácio, Mª Fátima W. Leite M., Helena L. Lopes, Helena Couto, Dinei Gonçalves e Max Benítez (Ernesto Cobos).

¹ Revisão em inglês: Julian Cabral.

Ginimar de Letras. Tragaluces. Publicado en Facebook en 02 Octubre de 2018 – y también en https://ginimardeletras.blogspot.com/2018/08/tragaluces.html
JUBANSKI, Elisangela. Com situação já contornada, jovem ouve ‘pula, pula’ e se joga de passarela na BR-116. Disponível https://www.bandab.com.br/cidades/com-situacao-ja-contornada-jovem-ouve-pula-pula-e-se-joga-de-passarela-na-br-116/ . Acesso 12 Fev 2019.
MIGNOLI, Luciana. Murió José Fonseca. Disponível: http://www.marcha.org.ar/murio-jose-fonseca/?fbclid=IwAR0q1Nkh5_0vYOx0dsNKgeWKQOY8M6YuX4CL9p6xjRqHq2NGoL8YRHKDfck . Acesso: 11 Feb 2019.
EL DESCONCIERTO. Joven mexicana que vivía el sueño de viajar por el mundo fue asesinada y violada en su primer destino. Disponível: https://www.eldesconcierto.cl/2018/08/09/joven-mexicana-que-vivia-el-sueno-de-viajar-por-el-mundo-fue-asesinada-y-violada-en-su-primer-destino/ . Acesso 14 Fev 2019.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve ao Ad Substantiam ocasionalmente às quintas-feiras; e todo domingo no seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
 Imagens:
Fotos de: Faire, João e Gabriel (01); Maria (02); Ronal e Emilio (03); Zarza (04). Todas tiradas de suas páginas no facebook.
Foto do autor tirada por Vinícius Siman.

Escrito entre os dias 08 e 17 de fevereiro de 2019.
E choro junto com Ronal Faria, que publicou em sua página no fb seu lamento sobre a morte de José e de onde me veio a ideia inicial do presente cronto; e ambos lutamos para que isso pare de acontecer.

domingo, 10 de fevereiro de 2019

ADENTRO MUERE GENTE


Llueve y no gotea donde no asustan los guapos por más guapos que sean.*
Libertad a los problemáticos que la sociedad moderna creó.** 

En mi pecho alguien se muere
La sangre en dolor escurre
A fecundar la tierra de rojo mugre
Hasta que otro nacimiento ocurre.
A pensar sobre a dor de alguém saindo do coração cria a quadra enquanto se senta debaixo de uma árvore no Parque Ipanema. Lá já estavam três amigos e logo em seguida chega uma conhecida. Só então fala: “Nos jornais, manchetes como”:
Bombeiros Civis voluntários são dispensados em Brumadinho e ficam indignados.
- Olha aqui, Esquerdinha! – Diz a conhecida. – Antes de comentar qualquer notícia, primeiro deve verificar a real necessidade do que está dizendo. Pois se trata de uma situação muito delicada. Uma organização como o Corpo de Bombeiros tem profissionais formados e estudados para tal atuação. E como toda organização militar é regida por um alto comando que também atua de forma bastante rigorosa, pois não se admite erros. – Enquanto ouve ri por dentro da militar inadmissão de erros. – E número nem sempre é qualidade. A tragédia já aconteceu, infelizmente. E muitas vidas perdidas não voltam mais. Mas ficar atacando partidos políticos nesse momento só mostra para mim a cabeça do brasileiro: pequena e individualista.
Pausa para respirar para melhor voltar a rosnar:
- A culpa do crime que ocorreu não é do Presidente Mito. Pelo amor de Deus, será que nem na dor, as pessoas vão parar de querer atacar os partidos políticos? Ainda mais agora que corre risco de morte como o verdadeiro mártir que tentou salvar o país do petismo? Deveríamos nos unir mais ao invés de criticar. A eleição já passou. O período para esse tipo de coisa também. Criticar uma instituição como a do corpo de bombeiros é pensar nunca mais precisar dele. E tomara que não precise mesmo. Nenhuma decisão de afastar os bombeiros civis parte da cabeça de nenhum presidente...
Respira para pegar impulso e grita:
- Mas de toda a equipe gerenciadora das buscas de salvamento.
- Dona Direita Raivosa. A senhora não distingue a diferença entre “atacar” e “cobrar” ou “atacar” e “criticar”? De acordo com o dicionário Michaelis:
A-ta-car = significa agredir, assaltar; ou assaltar reciprocamente.
Co-brar = significa proceder à cobrança, receber (o que nos pertence ou é devido).
Cri-ti-car = dizer mal de, censurar: critica impiedosamente os erros do próximo; examinar como crítico, notando a perfeição ou os defeitos de (obra literária ou artística); analisar: Com reconhecida autoridade, pôs-se a criticar das esculturas renascentistas às dos tempos modernos.
Depois da explicação pelo dicionário, continua sua resposta:
- O atual presidente declarou incontáveis vezes que leis ambientais dão prejuízos. Assim, critica-se o presidente por ser conivente com tais crimes ambientais, uma vez que ele declara que tais leis são bobagens, frescuras e prejudiciais. Aí te pergunto: como assim prejudiciais? A culpa é do presidente sim. Primeiro do Ferrando Arri Mardoso que privatizou a Vale do Rio Doce e agora do Boçalnato que desvaloriza o que é nosso e valora o que é estrangeiro.
- Do Mito nãããão!
- As Forças Armadas são, também, para atuar em caso de catástrofes – naturais ou criminosas –. Nem a manchete por mim lida e nem o artigo que a senhora não leu criticam o Corpo de Bombeiros. Criticam a Vale e o Boçalnato por recusá-los assim como o impedimento tanto dos Corpos de Bombeiros como das Forças Armadas atuarem. A senhora não está sabendo disso? É, vê-se que não. Pois não prestou atenção na manchete e nem leu o artigo. É por isso que a senhora está falando mal sem conhecimento.
- Mas, Esquerdinha, ficar atacando empresas e políticos só mostra para mim o quanto você é pequeno e individualista. Desejar a morte do mártir é horrível.
- Ninguém em sã consciência deseja a morte do Boçalnato. – Diz o Professor. – Primeiro porque quem deseja o mal alheio é ele e seus seguidores. Segundo e mais importante porque em menos de cinquenta dias já mostrou, em Davos, a seus eleitores que não consegue fazer nem um discurso politiqueiro; que faz o Brasil passar vergonha; e que suas medidas são desmedidas para o povo. E morrer agora é fazer-se o que não é: mártir. Enquanto viver martiriza seus merecidos eleitores e os não merecidos pensadores.
- Mas não é justo atacar o Presidente, seus intelectuais de merda, pois a culpa não é do Mito. Pelo amor de Deus, a gente deveria unir ao invés de criticar. A eleição já passou. O período para esse tipo de coisa também. Nenhuma decisão de afastar os bombeiros civis parte da cabeça de nenhum presidente, mas de toda a equipe gerenciadora das buscas de salvamento.
- Dona Direita Raivosa, se o Boçalnato pôde trazer o exército de Israel, poderia levar o Exército brasileiro... Então não é simplesmente má vontade da Vale. É má vontade da Vale, a criminosa, e do Boçalnato, o cúmplice eleitoreiro querendo fazer o povo amar o genocida exército israelense de olho em nosso nióbio próximo da catástrofe da Vale em Brumadinho. Aliás, é possível que a senhora também ignore que a vinda do exército israelita só deu prejuízo e causou atrasos. As despesas são por nossa conta e a espera da vinda de quem está longe não é curta. A propósito, para salvamento as aparelhagens dos militares israelitas não serviram para nada... Foram e são incompatíveis com o que se precisa nesse tipo de catástrofe. Enquanto que a aparelhagem que os bombeiros brasileiros possuem era a mais adequada.
Com um som agradável, o vento balança os galhos da árvore sobre nós.
- Parabéns pela análise, meu caro Esquerdinha. Não é uma guerra política partidária, mas o exercício da cidadania é cobrar posturas adequadas daqueles que nos representam. Afinal, são estes os que deliberadamente flexibilizam as leis ambientais. Esquerdinha e Direita, estão lembrados do Leunada Quintão dos Infernos? Eu me lembro.
A Direita faz uma cara obtusa e Cidadã continua:
- Ele foi relator de um novo Código da Mineração. E este absurdo código eliminou, na prática, qualquer regulação independente das atividades dessa indústria sabidamente poluidora e perigosa. Ele admitiu ser financiado por grandes mineradoras e é defensor dos interesses delas no Congresso¹. Então, o Quintão foi escolhido pelo Fômix Lorenzetti para compor a Casa Civil, um cargo político relevante e de confiança. Segundo uma reportagem da Época, o ex-deputado federal, depois de não ser reeleito, fez um “plantão” na casa no Boçalnato. Isso é só uma evidência mínima do relacionamento entre o governo Boçalnato e todos que são a favor da desregulamentação, liberação de agrotóxicos etc². Não é certamente por seguir os mesmos “princípios cristãos”, como o Leunada disse quando estava implorando pro novo cargo. Todo mundo sabe que Boçalnato há anos afirma que o IBAMA é uma “indústria de multas”, e que deve acabar; que é preciso “estimular a atividade mineradora”, que as licenças ambientais para novas minas demoram muito... Oh, coitadinho do ramo da mineração... E há malucos seguindo um negacionista do aquecimento global. E o pior é que o clã Boçalnato sempre vota em tudo que vai contra o meio ambiente. Esse clã é um mar de lama tóxica.
- Direita, menos com essa de “não ponham isso na nossa conta”, como disse o general vice-presidente Murrão. – Intervém Escritor. – Ou ainda pior, como acabei de ouvir na Esfera News: “O governo tem sido rápido e competente”. Na grande mídia a exceção é André Trigueiro, único jornalista a contrapor-se de forma coerente e enfática.
- Pelo amor de Deus, amigos intelectuais! Quanta ignorância a suas de culparem o atual presidente desse crime ocorrido com apenas vinte e nove dias de atuação. Não, não. Nada do que ele disse ou criou nesses poucos dias poderia influenciar no que aconteceu. Ajudem aí, né. E quanto a atuação do Exército Brasileiro e dos Corpos de Bombeiros? Vejo que não sabem nada dessas instituições e nem tão pouco de como cada uma delas funciona, nem como elas as regulamentam. Falo por conhecer. Não sejam ignorantes a ponto de culpar uma pessoa com vinte e nove dias no poder de um crime que só aconteceu por negligência ou imprudência de anteriores. Mais sensibilidade às famílias das vítimas e menos choramingos partidários.
E depois de tudo que foi argumentado, a Direita Raivosa repete as mesmas tolas ideias. Triste, triste. Como é triste aferrar-se à ignorância e ao ódio, mas não aos fatos e à fraternidade.
A Direita sai da conversa não se sabe para onde; ainda.
Esquerdinha sai da conversa com João Cabral de Melo Neto e lê ‘O Fim do Mundo’, fixando na estrofe: “O poema final ninguém escreverá  /  desse mundo particular de doze horas.  /  Em vez do juízo final a mim me preocupa  /  o sonho final.”.
Mal terminara o poema quando foi convidado por milicianos armados a entrar em um camburão para explicar suas ideias na delegacia.
É o fim da liberdade dos problemáticos.
Então ele disse por última vez: “Em vez do juízo final a mim me preocupa o sonho final”, não o medo do que vai acontec...


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Alejandro Comnisky, Luciano S. Brska, Maya Gonzalez, Rodolfo Bello, Claudina Abrantes, Rodri Go e Rodrigo M. Capa.

* CABRAL, Maximiliano Antonio. De Buenos Aires, Argentina. Año 2017 en Facebook.
** CABRAL, Julian Ariel. En Ipatinga, Minas Gerais, Brasil. En el día 07 de septiembre de 2018. En una charla personal con el autor. El título también es de Julian.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
 Imagens:
Nascer do sol - foto do autor;
Rubem dando bandeira - foto de Vinícius Siman.

Escrito entre os dias 29 de janeiro e 10 de fevereiro de 2019.

domingo, 3 de fevereiro de 2019

DAS VANTAGENS DE SER HOMEM – parte 03


ou ONDE ESTOU
ou ainda ARTERRESILIÊNCIA


“Todo dia algo é acrescentado ao nosso saber,
desde que suportemos as dores.”.
Samuel Beckett.

Ay de nosotros se no fueran las artes. Las palabras de las artes, las imágenes de las artes, las músicas de las artes, las escenas de las artes. Arte es lo que nos consuela, expurga, fortalece. Arte es resiliencia.


Pingos de tinta cinza com azuis celeste e marinho formavam o céu daquele fim de tarde.
- Libriano, é terrível que ninguém no Vale do Aço se manifestou até agora contra o acidente em Brumadinho.
- Watzap, o que é manifestar, você sabe?
- Ham...
- Segundo o Michaelis manifestar tem três significados básicos: 1. Ato ou efeito de manifestar(-se); 2. Expressão, revelação; 3. Expressão pública e coletiva de opiniões ou sentimentos. Nesse último sentido, que é também o mais reconhecido e valorizado, a primeira manifestação – o importante “ato performático: quanto VALE a vida?” – foi organizada pela atriz e artesã Denise Silva com o apoio do artista Sinésio Bina; e aconteceu no sétimo dia do crime ambiental cometido pela Vale.
- Legal! Pelo menos alguém está fazendo alguma coisa pelo acidente em Brumadinho.
- Não foi acidente; foi crime ambiental e humano. É a tragédia da Vale; não da cidade porque ela não tem culpa de nada.
- Porém os artistas pediram apoio a políticos e sindicatos, né?
- Não, claro que não. Foi uma manifestação feita por artistas e pelo povo. Mas não buscamos apoio de entidades nem de políticos. Não os rejeitamos, claro, mas é manifestação dos artistas, não deles. Outra coisa mais, não se esqueça dos primeiros significados de “manifestação”: expressão, revelação e ato de manifestar. Veja que as primeiras manifestações no Vale do Aço foram feitas pelos escritores. Nena de Castro fez vários poemas sobre o Crime da Vale em Brumadinho. O autor deste cronto fez várias aldravias e quadras. Flávia Frazão também não se calou. E também outros jardineiros da palavra igualmente lamentaram o lixo tóxico a destruir toda a região, denunciaram a Vale e apoiaram as vítimas e seus familiares através de suas literaturas. Watzap, saiba que artista  – e não apenas, cantor, poeta, pintor etc. –, mas artista de verdade é sempre engajado e nunca coadjuvante na sociedade.
- Mas literatura não conta. Ninguém lê...
- Se é o que você pensa, então tchau, Watzap. Agora tenho que voltar à escrita e aos planos de aula.
A olhar pela porta da sala, Libriano pensa no conteúdo de duas de suas aldravias.
  
A primeira lhe produziu a reflexão:
Ai de nós se não fossem as artes. As palavras das artes, as imagens das artes, as músicas das artes, as cenas e danças das artes. Arte é o que nos consola, expurga, fortalece. Arte é resiliência.
Interessante como algumas músicas, poemas ou outras artes podem comunicar-se conosco. A música “Retrato em Branco e Preto”, na voz de Ney Matogrosso serviu para exorcizar de mim a amargura de um fim de relacionamento. E a música “Carinhoso”, de Pixinguinha foi cantada por minha mãe para meu padrinho enquanto ele falecia. Linda a imagem dele tocando uma imaginária clarineta ‘acompanhando’ a música e o repouso das mãos segundos antes do desencarne.
Enquanto a segunda aldravia lhe disse:
É um poema pensando em Janos, em aulas de História e a “retrospectiva do futuro”...
No último dia de janeiro – cujo nome vem do titã que tinha duas caras, uma na frente do rosto e outra atrás; vendo o porvir e o antevir. – pensei no paralelo entre a História utilizar-se do passado para mostrar o futuro.

Enquanto isso, em outro canto da cidade:
- Vou embora.
- Para onde?
- Por aqui mesmo, no Vale do Aço. Sabe que sou maluco. Quando me dá gana, eu me perco no mundo.
- Tchau. Que você se encontre. Adeus.
As ideias de Adulto e de Moço nunca se esbarraram. O coração, sim. Mas por curto momento. Mas como não há bem que nunca acabe... Moço veio e se foi outras vezes. E brigaram outras tantas.
Uma semana, duas. Três meses, quatro.
O companheiro lhe telefonou três vezes. Na primeira zombou da derrota de seu time de futebol; na segunda para preparar algo que alguém buscará e na terceira para perguntar se pegaram.
Nada mais se interessou.
Num final de tarde nublada chega de suas viagens rave.
Pega sua chave, abre o portão. Estranha a porta da sala trancada; destranca e entra.
Vazio.
De gente, vazia. Os móveis nos lugares e só. A geladeira desligada. Olha no armário e encontra feijão.
Enquanto o cozinha toma um banho e depois liga o computador. Sonha com a cama onde dormirá até a chegada do Adulto. Tempera o feijão e enquanto come se pergunta se ele viajara. Pouco curioso em saber onde fora, pensa: “Pouco provável. Ele não gosta de viajar.” e dorme.
Acorda no dia seguinte. E nenhum sinal do namorado.
Sai para a rua. Uma vizinha enxerida:
- Uai! Oncetava?
- Por aí. Sabe onde meu amigo está?
- Não está sabendo? – Pausa para o estranhamento do Moço. – Ele morreu já tem quase um mês.
- O quê?
- Você passou todo esse tempão sem procurar conversar com ele?

Sem sequer perguntar de que morrera, deixa a indignada e vai ao cemitério. Mas não me encontro ali. É do além que conto o ocorrido. A propósito, calculo que já percebeu que o narrador sou eu, o Adulto. E se falei na terceira pessoa foi para promover um singelo mistério. – Rirri. – E falando do futuro visto pelo passado conto mais:
Do Cemitério, Moço volta ao apartamento e fica até ser convidado a retirar-se por minha família. Nesse meio tempo se encontra com Libriano no Feirarte.
- Você continuará com Janice?
- Nunca namoramos.
- Até parece. Como todo Libriano, você tem uma longa “lista de espera” e vai ficar sem sexo?
A resposta é olhar uma árvore enquanto bebe seu coquetel.
- Com quem está dormindo, então?
- Comigo.
- Não se aproveita dela?
No lugar de responder pensa nos seus livros que têm muito mais a dizer. Moço dá uma pausa, fala baixo e em tom grave:
- Posso dormir em sua casa? Você sabe que meu namorado morreu e terei que ir para outro lugar.
Antes de responder pensa nos seus livros e no que têm a dizer. No céu daquele meio de tarde há pingos de tinta cinza com azuis celeste e marinho.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Marcos Vaz e Fernando Freitas.

Recomendo a leitura de “Infrequências”, de António MR Martins:

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve ao Ad Substantiam ocasionalmente às quintas-feiras; e todo domingo no seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
 Imagens:
Cartazes – Manifestação em Ipatinga sobre o crime ambiental em Brumadinho (jan 2019).
Foto do Vinícius Siman.

Escrito na noite de 30 de março de 2018; trabalhado inicialmente nos dias 24 de abril e 01 e 03 de maio do mesmo ano. O trabalho final foi entre os dias 29 de janeiro e 03 de fevereiro de 2019.