domingo, 17 de fevereiro de 2019

JOVENS NÃO SÃO PERIGOSOS; ESTÃO EM PERIGO


ou AMÉRICA LATINA, SEUS GOVERNANTES TE REPRESENTAM


Very sad!
Boys, are treated like social worms just for being boys.
Girls, for being girls, have to be protected inside the society itself.¹

TRAGALUCES – Los monstruos la acechaban en la oscuridad. Codiciaban su luz. Ella titilaba inocente y feliz sin sospechar que corría un grave peligro. Su brillo era tan intenso que no veía que a su alrededor se agazapaban más y más bestias. Se sabía hermosa y avanzaba segura. Radiante se adentró en la oscuridad última. No recuerda cómo acabó entre sus dedos. No se explican cómo se apagó tan rápidamente. Y la dejaron allí, como inerte.
(Ginimar de Letras)

Segundo o decreto de lei nº 2.848/1940, induzir ou instigar alguém a se suicidar ou prestar auxílio para que a pessoa faça gera uma pena, que vai de dois a seis anos de prisão, se o suicídio se consuma.

Em português

Penso.
Quando desistira de suicidar-se, um garoto brasileiro de dezessete anos foi assassinado pelo povo a gritar “pula, pula, pula...”.
Outro garoto, um argentino de dezoito anos, morreu eletrocutado e o povo o culpou por ser negro, artista e pobre. Disseram que era um verme a menos no mundo.
Uma garota mexicana foi abordada por dois homens quando percorria o mundo pela primeira e última vez.
Mas rapazes não são perigosos; somente estão em perigo.
E, triste, as jovens estão em perigo pelos machõezinhos. Contudo, os homens fazem alguma coisa ou não existem homens de verdade?



Brasil.
Uma longa carta foi escrita. Um rapaz de dezessete anos se propôs a suicidar-se; após escrevê-la, saiu. Contudo, o Corpo de Bombeiros negociou por quase uma hora e este desistira.
Mas o povo... Ah, o povo!
O rapaz se viu um pássaro; sentiu-se um pardal e abriu as asas.

Argentina.
José Fonseca, artista de rua com dezoito anos, viajava com Ciro Ferreyra, seu amigo dois anos mais velho. Ciro ficou “apenas” gravemente ferido enquanto José...
Mas o que eles estavam fazendo além de quererem voltar para casa? Tentavam conseguir algum dinheiro, mas a crise econômica, política e social agride cruelmente a quem tem a oferecer apenas arte de rua. Por isso caminham muitos dias, mas por causa de suas peles marrons nada conseguiam.
Mas a sorte vem para todos. É como reza o provérbio português que meu pai tinha em sua cabeça: “Até nas flores / se vê a diferença da sorte: / Umas enfeitam a vida / outras enfeitam a morte.”.
Havia um trem parado. “Será possível?”. Cansados aceitaram a mão oferecida pela Sorte e subiram ao teto da locomotiva. Faltando menos de um quarto de hora para chegarem, Ciro se abaixa para pegar algo na mochila. Mas o amigo... Este se prendera em um cabo de força e recebeu um choque de vinte e cinco mil volts.

México-Costa Rica.
Enquanto percorria o mundo, María Trinidad Mathus Tenorio disse quase como últimas palavras: “Hoje começo a viajar só. Depois de longo tempo sonhando viajar sozinha pelo planeta, por fim realizo o meu desejo. Chegou a hora de preencher-me de natureza.”. Mas um crime a frustrou.

Brasil.
O povo quer sangue e grita “pula, pula, pula...”.
Desencorajado a viver é encorajado a abrir os braços e a pular da passarela como se fora um pardal prestes a voar.
Ah, Brasil! Seus governantes te representam.
Paradoxo para uns, curiosidade para outros. Justiça para uns, tristeza para outros. Porém o fato é: suicida assassinado! E os assassinos estão sendo identificados pelos vídeos que circulam pelas redes sociais.

Argentina.
O trem estava lotado de gente em condições tão desumanas ao ponto de filmarem e fotografarem violando a intimidade de uma desgraça.
Descomunal falta de empatia.
Sem dó pela vítima nem piedade por aqueles que o amava; obrigando-os a rever e rever e rever seguidamente multiplicado o corpo queimado de seu garoto.
José morreu por ser pobre; morreu pela cobiça capitalista; morreu pelas más qualidades dos serviços hospitalares que não queriam recebê-lo; morreu pela cruel sociedade.
No entanto, o pior massacre foram os comentários nas redes sociais: “É porque não quis pagar a passagem”; “morreu porque preto, quando não caga na entrada, caga na saída”; “um verme a menos”; “Bem feito! Quem mandou ser burro?”.
Zombarias e humilhações jorraram dos cristãos corações.
Quais bocas protestaram pela falta de emprego digno? Ou dos preços caríssimos das passagens a impedir a viagem dos mais pobres ou o direito de todos os jovens – não só os das classes mais abastadas – a se divertirem nas férias? Muito poucas bocas.

México-Costa Rica.
Um sujeito disse que somente os idiotas viajam sozinhos e confiam nas pessoas. Houve quem dissesse: “Adoro os finais felizes. Quem mandou ela sair da cozinha? Se tivesse ficado quieta cuidando da casa nada disso teria acontecido...”. Outros disseram que o povo de Costa Rica – onde aconteceu o crime – é sujo. E muitos costarriquenhos culparam todos de Nicarágua pelo crime dos dois nicaraguenses que a abordaram.
E não faltou quem apoiasse as falas desses e de outros imbecis retrógrados.

Sinto.


José, Ciro e o brasileiro, por serem rapazes, são vermes sociais. María, por ser garota, tem que ser protegida da sociedade na sociedade.
Conheço vários mochileiros e artistas de rua, entre eles: Ronal Faría, Emilio Bigote, Rodri Go, Zarza Mora, Kadosh Miranda, Juli Ariel, Martín Dali Ramirez, Trinity Veguin, Faire e Ramom, Julio Guerine, Gabriel Corrêa, João P. Juggle, Diego e Maria. São todos jovens pássaros enquanto sou só uma árvore meio velha.
Destes e de outros mochileiros que viajam em meu coração, três são mulheres. Com a terceira preocupo, mas pouco, pois está com seu marido; a segunda me preocupa um pouco mais, mas está sempre com um namorado; já a primeira me preocupa bastante, uma vez que viaja só. Horrível, horrível, horrível! É inaceitável, ainda hoje, sentir a necessidade de um homem acompanhando-as para senti-las seguras.
Se a María, o José, o Ciro, o rapaz brasileiro e meus amigos são vermes desprotegidos, sou igualmente uma minhoquinha frágil. E me lembro de uma história que li sobre Santo Antônio.
Os franciscanos viajam em duplas e o companheiro de frei Antônio era frei Lucas, um rapaz sorridente e brincalhão. Enquanto Antônio era bonitão e de boa fala, Lucas era tranquilo e manco. Porém um dia Lucas estava triste e calado. Antônio perguntou o que acontecera, mas não recebera resposta.
- Ou me fala porque está amuado ou mando essa árvore me dizer.
Então Lucas disse: “Ontem escutei umas pessoas dizerem que eu sou a nuca de Antônio, a sombra de Antônio, o cachorrinho de Antônio”.
Frei Antônio olhou o céu e orou:
- Deus, muito obrigado! Por sua bondade em me presentear com um amigo tão verdadeiro. Somente um amigo sincero pode ser a nuca do outro, pois é onde o cérebro repousa; só um bom amigo pode ser a sombra para que o outro brilhe; só um amigo fiel pode ser comparado a um cão, o maior exemplo da mais pura amizade. Muito obrigado!
Todavia, governos geram o ódio social quando reprimem, desalojam ou desvalorizam os artistas do povo ou os vendedores na rua.
Morreram José Fonseca, María e o brasileiro sem nome. E em mim dói. Porém Ciro Ferreyra e meus amigos artistas-mochileiros ainda vivem como esperanças para lembrar o direito de segurança e respeito a todos os jovens e artistas de todas as idades que praticam malabares nos semáforos ou que pedem carona nas estradas.


En español

PIBES NO SON PELIGROSOS; ESTÁN EN PELIGRO o
LATINOAMÉRICA, SUS GOBERNANTES LOS REPRESENTAN


Pienso.
Cuando desistiera de suicidarse, un pibe brasileño de diecisiete años fue asesinado por el pueblo a gritar “salte, salte, salte…”.
Otro pibe, un argentino de dieciocho años, se murió electrocutado y el pueblo lo culpó por ser morocho, artista y pobre. Dijeron que era un verme a menos en el mundo.
Una piba mexicana fue abordada por dos hombres cuando recorría el mundo por su primera y última vez.
Los pibes no son peligrosos sino que están en peligro.
Y, triste, las pibas están en peligro por los machotes. Pero, ¿los hombres hacen algo o no hay hombres de verdad?



Brasil.
Una larga carta fuera escrita. Un chaval de diecisiete años se propone a suicidarse; tras escribirla, salió. Sin embargo, el Cuerpo de Bomberos negoció por casi una hora y este desistiera.
Pero el pueblo… ¡Ah, el pueblo!
El chaval se vio un pájaro; se sintió un gorrión y se abrió las alas.

Argentina.
José Fonseca, artista callejero de dieciocho años, viajaba con Ciro Ferreyra, su amigo dos años mayor. Ciro se quedó “solamente” gravemente herido mientras José…
Querían volverse a casa, ¿pero qué hacían para lograrlo? Intentaban conseguir mangos, pero la crisis económica, política y social no tiene piedad de quien solo puede ofrecer arte callejera. Entonces caminan muchos días, pero sus pieles marrones no atraían solidaridad.
Sin embargo, la suerte sonreí para todos. Es como en el proverbio portugués que mi padre llevaba en su cabeza: “Hasta en las flores / se ve la diferencia de la suerte: / Unas adornan la vida / otras engalanan la muerte”.
Había un tren parado. “¡Vale! ¿Será posible?”. Sin fuerzas aceptan la mano ofrecida por la Suerte y subieron al techo de la locomotora. Faltando menos de un cuarto de hora para llegaren, Ciro se abaja para agarrar algo en la mochila. Pero el amigo… Este fuera arrestado por un cable de alta tensión y recibió un choque de veinticinco mil voltios.

México-Costa Rica.
Mientras recorría el mundo, María Trinidad Mathus Tenorio dijo casi como últimas palabras: “Hoy empieza mi viaje sola. Después de mucho tiempo de haber deseado irme por el planeta a viajar sola, por fin lo hago. Llegó la hora de llenarme de naturaleza.”. Pero un crimen la truncó.

Brasil.
El pueblo quiere sangre y grita “brinque, brinque, brinque…”.
Descorazonado a vivir es encorajado a abrir los brazos y a saltar de la pasarela como se fuera un gorrión prestes a volar.
¡Ay, Brasil! Sus gobernantes te representan.
Paradojo para unos, curiosidad para otros. Justicia para unos, tristeza para otros. Pero, la verdad es: ¡Suicida asesinado! Y los asesinos están siendo identificados por los videos que circulan en las redes sociales.

Argentina.
El tren estaba relleno de personas en condiciones tan inhumanas al punto de filmaren y fotografiaren violando la intimidad de una desgracia.
Descomunal ausencia de empatía.
Sin compasión por la víctima ni piedad por aquellos que lo amaban; obligándolos a rever y rever y rever seguidamente multiplicado el cuerpo quemado de su niño.
José se murió por ser pobre; se murió por la codicia capitalista; se murió por las malas calidades de los servicios hospitalarios que no querían recibirlo; se murió por la sucia sociedad.
Sin embargo, lo peor masacre fueron los comentarios en las redes sociales: “Que no quería pagar el boleto”; “que era un negro de mierda”; “que es un verme a menos”; “que se joda por idiota”.
Burlas y humillaciones chorrearon de cristianos corazones.
¿Cuáles bocas protestaron por la falta de empleo digno? ¿O de las altas tarifas a impedir el viaje de los más pobres o el derecho de todos los pibes – no solo de las clases más abastadas – a disfrutar las vacaciones? Muy pocas bocas.

México-Costa Rica.
Uno dijo que solamente los idiotas mochilean solo y confían en las personas. Hay quien dijera: “Adoro los finales felices. ¿Quién la manda a salir de la cocina? Si te hubieras quedado arreglando la casa nada de eso hubiera pasado…”. Otros dijeron que el pueblo de Costa Rica – donde ocurrió el crimen – es sucio. Y muchos costarriqueños culparon todos los nicaragüeños por el crimen de los dos “nicas” que la abordaron.
Y al cabo hay a quien le gusta la charla de los imbéciles retrógrados.

Siento.


José, Ciro y el chaval brasileño, por ser chicos, son vermes de la sociedad. María, por ser muchacha, hay que ser protegida de la sociedad en la sociedad.
He conocido muchos mochileros y artistas callejos, entre ellos: Ronal Faría, Emilio Bigote, Rodri Go, Zarza Mora, Kadosh Miranda, Juli Ariel, Martín Dalí Ramirez, Trinity Veguin, Faire y Ramón, Julio Guerine, João P. Juggle, Diego y Maria. Son todos jóvenes pájaros mientras soy un árbol un poco viejo.
De estos y de otros mochileros que viajan en mi corazón, tres son mujeres. Con la tercera preocupo, pero poco, pues está con su esposo; la segunda me preocupa un poco más, pero está siempre con un novio; ya la primera me preocupa bastante, una vez que viaja sola. ¡Horrible, horrible, horrible! Es inadmisible, aún hoy, sentir la necesidad de un hombre acompañándolas para sentirlas protegidas.
Si la María, el José, el Ciro, el pibe brasileño y mis amigos son gusanitos desprotegidos, soy igualmente uno frágil lombriz. Y me recuerdo de una historia que leí sobre San Antonio.
Los franciscanos viajan en parejas y el compañero de frey Antonio era frey Lucas, pibe sonriente y chistoso. Mientras Antonio era guapo y de buena habla Lucas era tranquilo y renco.
Pero un día Lucas estaba triste y callado. Antonio preguntó que ocurriera pero no fuera contestado.
- O me hablas porque estás triste u ordeno a ese árbol decirme.
Entonces Lucas dijo: “Ayer escuché unos tipos diciendo que yo era la nuca de Antonio, la sombra de Antonio, el perro de Antonio”.
Frey Antonio miró el cielo y oró:
- Dios, ¡muchas gracias! Por Su bondad en regalarme con un amigo tan verdadero. Solo un amigo sincero puede ser la nuca del otro, pues es donde el cerebro reposa; solo un bueno amigo puede ser la sombra para que el otro brille; solo un amigo fiel puede ser comparado a un perro, el más grande ejemplo de la más pura amistad. ¡Muchas gracias!
Sin embargo, gobiernos generan el odio social cuando reprimen, desalojan o desvalorizan a los artistas populares o a los vendedores en las calles.
Se murieron José Fonseca y el brasileño sin nombre. Y en mi duele. Pero Ciro Ferreyra y mis amigos artistas-mochileros todavía viven como esperanzas para recordar el derecho a seguridad y respeto a todos los pibes y artistas de todas las edades que practican malabares en los semáforos o que hacen dedo en las rutas de Latinoamérica.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Margô Inácio, Mª Fátima W. Leite M., Helena L. Lopes, Helena Couto, Dinei Gonçalves e Max Benítez (Ernesto Cobos).

¹ Revisão em inglês: Julian Cabral.

Ginimar de Letras. Tragaluces. Publicado en Facebook en 02 Octubre de 2018 – y también en https://ginimardeletras.blogspot.com/2018/08/tragaluces.html
JUBANSKI, Elisangela. Com situação já contornada, jovem ouve ‘pula, pula’ e se joga de passarela na BR-116. Disponível https://www.bandab.com.br/cidades/com-situacao-ja-contornada-jovem-ouve-pula-pula-e-se-joga-de-passarela-na-br-116/ . Acesso 12 Fev 2019.
MIGNOLI, Luciana. Murió José Fonseca. Disponível: http://www.marcha.org.ar/murio-jose-fonseca/?fbclid=IwAR0q1Nkh5_0vYOx0dsNKgeWKQOY8M6YuX4CL9p6xjRqHq2NGoL8YRHKDfck . Acesso: 11 Feb 2019.
EL DESCONCIERTO. Joven mexicana que vivía el sueño de viajar por el mundo fue asesinada y violada en su primer destino. Disponível: https://www.eldesconcierto.cl/2018/08/09/joven-mexicana-que-vivia-el-sueno-de-viajar-por-el-mundo-fue-asesinada-y-violada-en-su-primer-destino/ . Acesso 14 Fev 2019.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve ao Ad Substantiam ocasionalmente às quintas-feiras; e todo domingo no seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
 Imagens:
Fotos de: Faire, João e Gabriel (01); Maria (02); Ronal e Emilio (03); Zarza (04). Todas tiradas de suas páginas no facebook.
Foto do autor tirada por Vinícius Siman.

Escrito entre os dias 08 e 17 de fevereiro de 2019.
E choro junto com Ronal Faria, que publicou em sua página no fb seu lamento sobre a morte de José e de onde me veio a ideia inicial do presente cronto; e ambos lutamos para que isso pare de acontecer.

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