Longe, muito longe daqui e a um tempo que quase se
perdeu nos corações havia um digno, belo e forte Galo branco e preto, mas havia
também uma raposa tão má que se chamava Máfia e ela amava a cor azul; azul do
céu. Mas só gostava da cor, não do céu. Por isso, quando morreu, sua alma ficou
para assombrar. Um dia ela conheceu um rei e, sem este saber, tornou-se sua
conselheira...
- Mestre, o rei quer que o senhor morra.
- Não, não é só ele que me quer morto. – E de maneira
enigmática continuou: Diga à raposa que em breve, mas não agora, meu destino se
cumprirá. – Um minuto de silêncio e: “Mundo mundo vasto mundo se eu me chamasse
Raimundo seria uma rima, não uma solução. Mundo mundo vasto mundo mais vasto é
meu coração. Eu não deveria te dizer, mas”¹: tenho desejado tanto reunir seus
filhos como a galinha, esposa do grande Galo alvinegro, reúne seus pintinhos
debaixo de suas asas. Mas você escuta uma raposa e não a mim.
Figueiras floreiam e parreiras frutificam sem saber
dos males ao redor.
- O Galo cantará, mas antes você há de negar-me três
vezes. Quando isso acontecer, olha bem pra ele. Essa ave tem aprendido muito
comigo e quem sabe você não aprende com ela tudo que tenho ensinado...
E assim foi. Passados uns dias o homem meditou longo
tempo na lição do Galo até iluminar-se no Mestre.
Porém a raposa ria enquanto as mulheres choravam.
Por dois dias nenhum galo cantou e todos se
perguntavam se ficaria assim para sempre. Todavia, na terceira manhã o Galo
cantou enquanto uma pesada pedra se movia sozinha e da caverna saía um homem. É
por isso que os galos cantam todas as madrugadas, não segundo os relógios, mas
sempre na hora da ressurreição.
Figueiras floriram e parreiras frutificaram sem saber
dos males ao redor. Porém nós sabemos. E o que somos: raposas ou Galos?
Ofereço como presente aos aniversariantes:
Kadosh Miranda, Christine D.P. Sathler, Tiago Gonçalves e
Gineraldo Adão.
¹ Do Poema de Sete Faces, de Carlos Drummond de Andrade.
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo
domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura,
Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em
“Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”,
“Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor
dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”,
“Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua
Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do
Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões,
Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Foto do autor lendo para um Galo: Girvany de Morais.
Escrito entre os dias 21 e 24 de fevereiro de 2019.
Um comentário:
Muito bom. Você, meu amigo, é um bruxo! As poções mágicas de suas palavras, nos proporcionam grande prazer em ler e meditar.
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