domingo, 26 de maio de 2019

GOD BLESS AMERIC… DIGO, E DEUS ABENÇÕE ESSA GRANDE NAÇÃO



Eu defendo as universidades e institutos federais.
Contra o corte de verbas e a perseguição.
Defendo as Ciências Humanas.
Pensar é um direito de todos.
Inseguridad es que la propiedad privada valga más que la vida.
Ni olvido ni perdón para los asesinos de los artistas callejos.

Baixo o céu azul esbranquiçado do fim da manhã Benito olha o que ele pensa ser uma espécie de pita e, surgindo do nada, um ser das trevas mediúnicas lhe diz:
- Ouça, amigo, esta fala.

Sem esperar qualquer resposta pega o celular e põe para ele ouvir um áudio do Ministro de Justiça e Segurança Pública¹. A mensagem do Marreco de Maringá pode assim ser resumida:
Apresentou em nome do Governo Boçalnato um projeto de lei inovador e amplo contra o crime organizado, violento e contra a corrupção. Deseja que o projeto tramite com urgência regularmente no congresso para que o povo possa “veiver” em um país menos corrupto e mais seguro. “E Deus abençoe essa grande nação”.
Após ouvir, olhei para ela. Benito também. Cada um de seus olhos era um ponto de interrogação. Como ela não demonstrara compreender-lhe:
- Por gentileza, posso acessar sua internete?
- Pode, claro. – Diz reticente.
Pega o celular e acessa o vídeo B de Balbúrdia². Ela escuta apenas cinco minutos, desliga o aparelho e diz:
- Num posso achar ingraçado. Ucara tánus Estados Unidos. A gente tá aqui a mercê de linha dos tiros. Sou brasileira, com B maiúsculo.
- O humor não é para rir sem saber o porquê³. O humor é para ver; como diz Benvido Siqueira: “Se a gente não olhar a gente nem vê.”. Então há que olhar para ver.
- Eu sei uquê ele tava dizeno. Mais colocô um fundo de risos. Pra quê?
Olho seus olhos. Benito também. Parecem brilhar, mas o que há é um vazio. Benito diz-lhe:
- Boa pergunta. Só vendo o vídeo até o fim e ouvindo a fala do Gregório para saber. – Olho os olhos dela. Benito também. Vazios. – Peço sua permissão para eu poder ir-me embora.
- À vontade. 

Saímos do Parque Ipanema e paramos diante de um canteiro de flores com borboletas sobrevoando-as. Depois Benito vai ao Feirarte. Acompanho a ele. Nem no Caralivro quero saber dessa pessoa.
Na mesa do quiosque do Marcelo bebo um coquetel com caqui e escrevo em espanhol e português uma pequena série de quadras sem nenhuma ligação direta entre elas.

Em seu vestido cinza          /          En su vestido gris
Choveu-se tanto          /          Se llovió tanto
Que à nuvem cinza          /          Que a la nube gris
Uniu-se a escoar pela cidade.          /          Se unió a escurrir por la ciudad.

Sentar-me comigo          /          Sentarme conmigo
Ver minha penumbra          /          Ver mi penumbra
Abrir-me como um figo          /          Abrirme como un higo
Atravessar meu umbral.          /          Atravesar mi umbral.

A lua cresce          /          La luna crece
Cresce-te aluno.          /          Crecé alumno
O sol brilhará          /          El sol brillará
Brilha-te e te soltes.          /          Brillá y soltá.

Minha tão linda e amada bandeira          /          Mi tan linda y amada bandera
Acoberta o sangue indígena          /          Encubre la sangre indígena
Das veias roubado à madeira          /          De las venas quitadas a madera
Você não merece ação tão indigna.          /          Usted no merece acción tan indigna.

As intempéries da vida          /          Las intemperies de la vida
Buscam fazer-me resiliente          /          Buscan hacerme resiliente
Recuso pôr voz sofrida          /          Recuso poner voz sufrida
Nem me vejo penitente.          /          Ni me veo penitente.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Danielle Grego e Hebert Gabriel.

Ofereço como presente de boas vindas aos meus mais recentes contatos no fb:
Eraldo Maia, Carlyle Assis, Cesar P. Dezordi, Jaqueline Carla, Edilaine S. Peres, Mario Antonio, Leila Marques, Mesquita Matos e Valdiene Gomes.

¹ TVUOL. Moro Responde a Maia e Pede Urgência em Tramitação de Pacote Anticrime. Disponível:   https://www.facebook.com/UOLNoticias/videos/moro-responde-a-maia-e-pede-urg%C3%AAncia-em-tramita%C3%A7%C3%A3o-de-pacote-anticrime/2642725409074978/. Acesso 25 Mai 2019.
² GREG NEWS. B de Balbúrdia. Disponível https://www.youtube.com/watch?v=Ns6KcF2mnGo&feature=share . Acesso 25 Mai 2019.

³ Diquinha de Português – Porquê:
Esta forma representa um substantivo. Significa causa, razão, motivo.
Sendo o porquê um substantivo ele é usado quando precedido por um artigo, um numeral ou um pronome adjetivo.
“O humor não é para rir sem saber o porquê”.
“O” é artigo definido masculino e “porquê” é um substantivo que se trocado por motivo, causa ou razão o sentido não se perde: O humor não é para rir sem saber a razão.

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagem:
Pita – foto do autor;
Flores e borboleta – foto do autor;
Rubem – foto de Vinícius Siman.

Poemas escritos e trabalhados entre a manhã de 31 de dezembro de 2018 e 26 de maio de 2019. As quadras não têm ligação entre si; cada uma tem sua independência e força por si. A prosa foi criada e trabalhada entre os dias 25 e 26 de maio de 2019.

domingo, 19 de maio de 2019

HÁ DE SER LUZ NA AMÉRICA DO SUL



Eu defendo as universidades e institutos federais.
Contra o corte de verbas e a perseguição.
Defendo as Ciências Humanas.
Pensar é um direito de todos.
Inseguridad es que la propiedad privada valga más que la vida.
Ni olvido ni perdón para los asesinos de los artistas callejos.

Mojarrito está con decisiones tomadas, repitiendo ideas comunes sin un raciocinio real.
Primero ataca a Benito de modo suave y luego con fuerza: Usted es de otra generación. Vea la mierda que hicieron.

Nuvens brancas acinzentadas vestem o céu. Ainda na varandinha este foi o primeiro registro visual da rua. O velho e o novo descem a escada e pisam na rua onde iniciam o dialogo a vir:

- Filho, você me deixa dizer verdades incômodas? Sabe que te quero bem.
- Sim, eu sei. Diga. Truth is truth. La verdad es la verdad.
- Você diz saber cuidar-se, mas isso não se está mostrando realidade.
- Cuidarei de não levar facada nem porrada na rua.
- Isso é bom. Mas porque ir a um lugar onde essas possibilidades são probabilidades? – Responde como se não percebesse na fala do rapaz uma vontade de feri-lo através do susto. – Mas no momento quero falar sobre outra coisa. Sua saúde.
- Fala.
- Rapaz, não deveria ter parado de tomar seu remédio.
- Não confio em remédios.
- Doeu meu coração quando soube disso. Não sei se sua mãe sabe. Mas por mim não saberá porque* ela ficará mais triste que eu.
- Sou muito jovem.
- Uai! – Diz rindo: Remédio é coisa de velho?
- Cada um sabe o que faz. Prefiro morrer sem tomar remédio.
- Acho que o certo é escolha de cada um. Mas quem sabe não opta pelo descuido. Ou seja, você não sabe. Apenas escolhe sem conhecimento.
- Prefiro não confiar. Tenho que segurar a onda.
- Menino, não seja melodramático. – Dá uma leve e rápida rizada. – Con la mano en la frente “me muero”.
- I did not say that.  E ri. – No digo eso.
- Mas confiar não é questão de preferência. É questão de fatos. Você confia em mim porque já viu que não te faço mal nem te desejo mal.
- Eu sei.
- Pois é. Remédio é um pouco assim. Imagino que você não pensa “prefiro confiar em fulano que no velho”. Ou confia em mim ou não confia. E se confia é porque te mostrei meu sentimento por você.
- Confio que vou superar sadiamente o que me acontecia. Por mim mesmo, sem remédios nem médicos.
- Mojarrito, o psiquiatra disse que o remédio demora em surtir efeito. Filho, você está bebendo demasiado e isso mostra que não está em um caminho sano. Confio plenamente que seu futuro é grandioso; vai fazer a diferença no mundo. Mas não é indo pelo caminho de ‘cada vez ferir-se mais’.
- Pior é beber e tomar remédio junto.
- Pior, Mojarrito, é beber, e beber e beber. O Dr. Moreno falou que não há mal em beber ocasionalmente, mesmo com o remédio. O que não se deve é “afogar-se na bebida”. – Muda de assunto ao chegarem à Praça Primeiro de Maio: “Vamos sentar naquele banco?” e retorna. – Você pode ficar sem, se escolher adequadamente qual caminho seguirá; com quais pessoas caminhar.
- Verei.
- Veja mesmo, filho. Eu e Margarida te amamos demais. Ela é sua mãe, sua segunda mãe. Eu estou buscando ser seu segundo pai. Já me sinto assim.
- Não se preocupem.
Sorrindo: É mais fácil você se tornar River ou pior, cruzeirense, que um pai deixar de preocupar-se.
- Não se preocupem por um cara como eu.
- Como assim “por um cara como eu”? Você é excelente pessoa. Não pensar em você é... Nem sei qual palavra usar.
- Mas já tenho meus pais, Beniiiiito...
- Sei que os tem e não penso em substituí-los. O que quero é acompanhar o trabalho deles.
- Mas já acabou faz tempo.
- Mesmo sendo um marmanjo continua sendo filho. Seu Júpiter, como todo ser humano, erra. Mas penso que ele é um bom pai. Assim, não pretendo tomar o lugar dele. Isso seria impensável. – Para um momento de andar e segura o braço do garoto; como a enfatizar o que vem a seguir e depois voltam a caminhar. – Se por um lado você já está crescido e não precisar disso, por outro continua sendo querido.
- Vocês são de outra época...
- Exato, somos de outra época. O que significa que estamos vendo esse mundo se transformando, mas não transformado.
- Tá uma merda esse mundo. – Dá uma gargalhada amarga.
- Vemos o que as pessoas fazem e porque fazem.
- Tá uma merda esse mundo. – Repete com raiva nos olhos.
- Sim, é verdade. O mundo está horrível; doente. E estamos tentando mudar nossa forma de ação. Porém, não será bebendo e deixando a depressão juntar-se à ansiedade para te corroer que irá agilizar o processo de cura do mundo.
- Não.
- Não o quê?
- Vou me libertar de tudo, Benito.
- O que quer dizer com “libertar-se de tudo”?
- Não quero nem saber de depressão, e ansiedade e tal.
- Fico contente que esteja buscando livrar-se delas.
- Tô bem.
- Mas como está seu processo? Não creio que esteja vendo avanço no caminho escolhido.
- Sei lá...
- Não sabe? É bom pensar bem para entender. Sentir para fazer.
- Não, pensar já era. Quero sentir.
- Não o quê? Sentir é essencial para as artes. Mas a razão e sentimentos ocupam o mesmo cérebro. Não é uma questão de lobotomia.
- Eu penso demais. Tenho que parar.
- Dizemos no Brasil “Quando a cabeça não pensa o corpo padece”. Não, Mojarrito. Não é parar de pensar, mas de transformar seus pensamentos em frutos. Lembra que venho falando para você escrever? De trabalhar outras artes? Malabares? Estudar?
O rapaz vira o rosto para o outro lado. Mas o velho continua:
- Seus pensamentos embalados pelos sentimentos podem ser excelentes textos. Ou outras artes. Podem ser a melhoria do mundo através do trabalho que escolher. E os estudos, as leituras, os bons amigos, os pais biológicos e os do coração, um ambiente saudável são bons meios de chegar a esse fim.
Olha para o velho e diz para irem a um bar comprar água. Foram e voltaram. O jovem mantendo-se em silêncio.
- Recorda o que o Dr. Moreno te disse no primeiro dia? De não frequentar lugares sujos, de má vibração? E você me apontou um exemplo; um bar na Avenida Macapá, quase encostado na ponte que a liga ao Centro. Parece que você está frequentando lugares imundos. Não me refiro a muitos de seus amigos. Por favor, não me interprete mal. Mas muitos dos lugares que você deve estar indo e algumas das pessoas que você deve estar se encontrando são, no mínimo, tão pesados quanto G.
- Viu fotos dos lugares? A praia não é lugar imundo.
- Não vi. Vou olhá-las hoje. Mas não me refiro a praias etc. Mas a bares, pessoas e coisas assim. Onde você comprava as bebidas? São lugares de boa aparência?
- Vou ao supermercado.
- E além das aparências, como são as vibrações, as energias?
- A energia enche meu saco e quero ficar de boa.
- Há pessoas de bela aparência e alma suja.
Bebe um gole d’água. Olha a garrafa e nada vê; nem a si.
- O que é ficar de boa, Mojarrito?
Não responde.
- Porém me alegro que não esteja indo a lugares imundos. – Continua olhando a garrafa e nada vendo. – Tem procurado drogas? Por favor, não esteja. Não digo para dizer que não, mas sim que não esteja fazendo essas coisas. Se tiver, pare. Se não tiver, obrigado por fazer feliz esse de outra geração.
- Você é santo, por acaso, para me censurar?
- Sinceramente, é isso que acha de minhas palavras? De minha conduta? Sei que irritam ou algo assim, pois digo o que não quer ouvir.
Não responde e bebe um pouco mais da água.
- Mas, o que acha de minhas palavras? Verdadeiras? Falsas? Vazias? Com alguma profundidade? Valem a pena?
Não responde. Será uma lágrima nos olhos dele? Talvez não; talvez só a humidade natural das retinas.
- O que sei, Mojarrito, é que você vale o meu afeto. Não porque fez algo para isso; ou seja, não foi comprado, mas sim conquistado por ser você um bom rapaz.
De um taxi parado na Praça Primeiro de Maio, onde estão sentados e eu observando-os do alto do monumento, vem uma música. Cajuína. E a ouvir Caetano Veloso Benito se cala ao tempo da música.
Existirmos: a que será que se destina? / Pois quando tu me deste a rosa pequenina / vi que és um homem lindo e que se acaso a sina / do menino infeliz não se nos ilumina / tampouco turva-se a lágrima nordestina / apenas a matéria vida era tão fina / e éramos olhar-nos intacta retina / a cajuína cristalina em Teresina”.
- Filho, olha para mim. Quero ver seus olhos para “olharmo-nos em intacta retina”. As sementes de vida que vi em você e que você as reconhece são realidades. Incluso percebo que há mais duas a serem acrescentadas: coragem e força.
- Me faz pensar muito e é uma coisa que não quero fazer. Quero ficar com R e nada mais... ninguém mais! Só eu e ela.
Sorrindo lhe diz entendê-lo. Claro que entende. Só quem nunca nada sentiu por alguém estranharia.
- Mas você acha realmente que está deixando de pensar quando se embriaga? Realmente crê que as coisas estejam melhorando? Não creio.
O velho abre sua garrafa e bebe de sua água. Olham um aos olhos do outro.
- Embriagado, seus pensamentos se tornam mais escuros. Embriagado, seus sentimentos se tornam mais conturbados. Nesse estado, ébrio, nada se torna equilibrado. A energia, querendo ou não pensar nela, fica baixa; sua linda luz perde o brilho; seu rumo perde o foco.
- Você é velho, Benito. Esqueceu como é ser jovem.
- É possível, também por isso conversamos. Para que me relembre. – Sua única resposta está em seus olhos na garrafa. – Deixando de tomar seu remédio houve alguma melhora? Pense bem. Seja duro consigo mesmo e olha para dentro de ti. Não para essa ou outras garrafas. – Ele fecha os olhos. – Embriagado e sem remédios não deixou de pensar, não se tornou mais saudável e seus sentimentos pioraram. Saiba que estou por você. Confie em mim. Lembre-se de Margarida; lembre-se de dona Flora, sua mãe. Sinta nosso amor por você e faça coisas que nos alegrarão, ou seja, faça coisas que te beneficiarão.
- Benito, está quase na hora do ônibus chegar. Vou indo para a rodoviária.
- Vou parar de falar agora. Mas você está em meu coração; sabe disso. Há coisas que valem a pena: escrever, estudar, ensinar. E minhas palavras; atente-se a elas. Sinta as minhas palavras. Sinta-as bem.
- Benito, já estou indo para a rodoviária. Por favor, não me leve a mal, mas quero que fique aqui.
- Hasta pronto, hijo. Piense en nuestras palabras. Truth is truth.

Mojarrito segue seu caminho. Vejo como bom auspício o sol à sua frente. Benito se vai para casa, mas no meio do caminho vê uma árvore tendo no solo pequenas britas. Ele tira uma das sandálias e observa seu pé nas pedras.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Sinésio Bina, Beto de Faria, Filipe Boanerges, Trinity Veguin, Elísio Junior e Varlei Castro.

Recomendo a leitura de:
“Artigo Sobre a Memória em Lygia Fagundes Teles”, de Caio Riter – artigo:
“Myriam Coeli: ‘Elegia da Vida Breve’ ”, de João Antônio Bezerra Neto:
“Especial: Citações de ‘Grande Magia’ por Elizabeth Gilbert”, de Clóvis Marceloem:
“Aziago Impossível Retorno”, de António MR Martins:

Diquinha de português – Porque:
Quando escrito junto e sem acento – porque – é uma conjunção equivalente a: pois, já que, uma vez que.
Explicando com mais detalhes:
Conjunção é ‘junção com’ (juntar com). Portanto uma conjunção liga duas orações. Sendo que a segunda poderá explicar a primeira (pois); ou a segunda poderá indicar a causa da primeira (já que); ou ainda a segunda poderá apresentar a finalidade da primeira.
Nas orações “Mas por mim não saberá porque ela ficará mais triste que eu” a segunda explica o motivo de não contar para a mãe. Não indica nem causa nem finalidade; somente explica.
O que significa que, apesar de ser possível trocar ‘porque’ por ‘já que’ ou ‘para que’, ficará melhor representada se trocar pela explicação do motivo de não dizer à mãe:
 “Mas por mim não saberá porque ela ficará mais triste que eu” poderia ser escrita “Mas por mim não saberá, pois ela ficará mais triste que eu”.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
 Imagens:
Vestido do Céu – foto de Rubem Leite.
Pés e Pedras – foto de Rubem Leite.
Rubem dando bandeira – foto de Vinícius Siman.

Escrito entre os dias 04 e 06 de fevereiro; trabalhado entre os dias 14 e 19 de maio; tudo em 2019.

domingo, 12 de maio de 2019

BELO COMO UM SIM NUMA SALA NEGATIVA



Defendo as Ciências Humanas.
Pensar é um direito de todos.

, tocando-nos voávamos em beijos quentes no céu frio. Mergulhamos um no outro em um lago. Pousamos num ipê florido amarelo, rosa, branco, roxo; trocando de cor a cad...
Os cachorros, todos, latem tão alto que não deu para continuar o sonho. Acordei para ver quem era. Gustavo; reconheci a voz a chamar-me. Por dois segundos penso em fingir que não o escutara enquanto mandava os cachorrinhos ficarem quietos. Mas o silêncio dos cães denunciaria.
Tonto de sono abro a porta, desço a escada e abro o portão. Tonto de bêbado sobe a escada e:
- BENIT...
- Fala baixo.
Os filhotinhos continuam a latir. Estresso-me. Continuam a latir. Meu irmão acorda. Irrito-me. O dia será difícil.
Quero dormir. Mas Gustavo abre a geladeira pega pedaços de frango cru e linguiça; pica-os.
Irritado, mas para não piorar ainda mais o dia que virá, ponho no fogo uma panela com óleo. Balançando de bêbado põe as carnes na panela.
Ainda não me vou deitar. Não enquanto o fogo estiver aceso...
O rapaz põe feijão na panela enquanto penso: Um pouco de feijão no lago de gordura? Vai ter diarreia amanhã... Apaga o fogo. Agora posso dormir.
Passado poucos minutos ouço o barulho de vômito no banheiro. Álcool e óleo, parece, também não se misturam... Rerrê. E o sono tarda a vir. Mas vem. E, seguindo, vem também a vontade de mijar. Acordo sem ânimo, levanto-me, mas todas as luzes estão acesas. O cara caído no chão, não no sofá. Apago as luzes, vou ao banheiro, urino e deito. Demoro longo tempo para dormir. Porém, as seis horas acordo com os cachorros querendo ir à rua.
Reunindo-me forças sento na cama e olho pela janela. É uma imensa sala negativa este ano e os próximos três.
Reunindo-me forças levanto para enfrentar o imenso dia. Um de cada vez. 

Após preparar o café, comprar pão e alimentar-me pego um livro e, assim, “conheci novas palavras e tornei outras mais belas”. Pondo o livro de lado acesso o Caralivro e veja postagens do militante pelos mochileiros e artistas de rua, Skarabajo Ronal Faría. Entre elas observo a foto de um grafite em um muro com os dizeres:
Inseguridad es que la propiedad privada valga más que la vida.
Ni olvido ni perdón para los asesinos de Pelf.¹
Ao perguntar o que é Pelf, dona Cecilia Marchesi, mãe de Emilio Bigote (também artista de rua e mochileiro), me explica que é um pseudônimo; como verá no parágrafo a seguir.
Ronal denuncia a morte d Santiago Maldonado¹, morto pelo Governo argentino: Não só o Estado é responsável pela morte e desaparecimento de Santiago, como também lançou uma série de mecanismos de justificativa e encobrimento das forças de segurança responsáveis por este crime. Igualmente não se cala sobre o assassinato do artista grafiteiro e rapper Felipe (Pelf) Cabral¹: Vizinhos de extrema direita uruguaia assassinaram Pelf com um tiro por motivos políticos no dia dezenove de fevereiro de 2019. O crime aconteceu enquanto fotografava um muro por ele grafitado.
Quase nove da manhã saio com meu irmão a oferecer poemas à cidade. Prego cartaz na rua com o texto:
COMIDAS E ARMAS
Sonhei que um professor era uma vela.
Calçava sandálias de couro e vestia calça branca e camisa de barra branca, vermelha no centro e amarela em cima. Verde era a luz da cabeça.
Queriam apagar o professor, mas a vela canta:
Se me apagam
Ouvirão dos índios e dos mulatos
Os seus cantos.
E se for pouco
– porque para vocês isso nada basta –
Eles e os outros perseguidos
Me reacenderão.
Voltamos para casa, preparo o nosso almoço, comemos e limpo as vasilhas. Saio para ir ao advogado. Na metade do caminho sento numa praça para observar as flores e pensar:
Filosoficamente falando, amor é o supremo sentimento humano; o mais aprimorado. Portanto cães, gatos etc. não podem amar. Amor é o ápice dos sentimentos humanos.
Jovens passam de mãos dadas ou trocando beijos.
E mesmo o ser humano só consegue amar após uma série de experiências de vida e experimentado outros sentimentos preparatórios para o amor. Assim, adolescente raramente – para não dizer impossível – conhece o amor. Desenvolve paixão, desejo, gostar, querer bem, apego; mas não o amor. Amor só quando maduro.
Ao livro que levo abro para ler “Amor é privilégio de maduros / Estendidos na mais estreita cama, / Que se torna a mais larga e mais relvosa, / Roçando, em cada poro, o céu do corpo. / [...] / Amor é o que se aprende no limite, / Depois de se arquivar toda a ciência, / Depois de se arquivar toda a ciência / Herdada, ouvida. Amor começa tarde.”.
Fecho o livro a pensar um pouco mais antes de levantar-me para sair.
Dentre os sentimentos “prerrequisitos” para o amor dois se destacam: O respeito e a admiração. Por isso um adulto consegue amar os pais, mesmo que tenham sido severos, demasiados severos. Pois primeiro desenvolvem o respeito e logo mais, ao ter que viver a própria vida sem a ajuda dos pais, desenvolver a admiração pela dedicação dos mesmos. Mas o amor, filosoficamente dizendo, pode ser também para outras pessoas. Pelo marido ou pela esposa, por exemplo. Mas sempre e somente depois que conheceu o respeito e a admiração. O que sinto por meu irmão? O que sinto pelo amigo que me chama de madrugada? O que sinto pelo povo que diz “sim” quando deveria gritar “não”?
 Dentro do escritório do advogado, após a obtenção das respostas que buscava:
- O que tá achando dos vinte e um dias de Governo?
- Está mais adiantando do que imaginei.
- É? O que você esperava?
- Esperava o que está acontecendo.
- Diz o que está acontecendo.
Sem ânimo nem energia prefiro calar a falar o que ele deveria saber até mais do que eu. Como nada falo, continua:
- Tô gostando.
- Não duvido.
- Se eu tiver errado me arrependerei e pedirei desculpas.
- Para nada servirá. – Abro a porta para sair e ouço a risada do estagiário. Vou-me embora com o riso ecoando em minha cabeça. Ao mesmo tempo penso: O arrependimento, para ocorrer, necessita de força moral. O pedido de desculpa, por sua vez, é só para sentir-se bem consigo mesmo.
E repito o pensar até os cento e onzes dias que levamos para chegar ao Dia das Mães. Neste tempo penso nas ações do Governo Federal: redução aos investimentos na educação básica e superior; no armamento infantil; no fim dos direitos trabalhistas; no fim da aposentadoria; no direito de matar os índios e os MST’s; na prostituição feminina brasileira; na perseguição aos LGBTQI+; na idolatria aos “americanos” e tantas outras loucuras.
Penso e me mexo; nesta sala negativa é o meu sim.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Pablo Cardoso e Robinson Ayres.
Ofereço também aos recentes amigos de fb:
Martha Gonzales, João P. Juggle e Nádia HK.

Recomendo a leitura de:
“Estrelas Podem Ser Interpretadas Como Um Corpo Negro”, deste macróbio que vos fala:
“Quando a Poesia Vira Música”, de Caio Riter:
“El Paso de los Libres”, de Javier Villanueva:
“Um Choro Conveniente”, de Sued Carvalho:

¹ Mais informações sobre os artistas de rua:

ANDRADE, Carlos Drummond de. Amor e Seu Tempo. Disponível https://www.letras.mus.br/carlos-drummond-de-andrade/807505/ . Acesso 08 Mai 2019.
________ Canção Amiga. Disponível https://www.letras.mus.br/carlos-drummond-de-andrade/1221849/ . Acesso 10 Mai 2019.
KLINJEY, Rossandro. O Amor e o Respeito. Disponível  https://www.youtube.com/watch?v=mmFxgxRVqtM . Acesso 08 Mai 2019.
MELO NETO, João Cabral de. Morte e Vida Severina. Poesia Completa e Prosa. 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007. P. 176 (daqui veio o título do cronto).

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
 Imagens:
 Rubem – foto de Vinícius Siman.

Texto escrito e trabalhado entre os dias 21 de janeiro e 12 de maio de 2019.
Sobre o cartaz: Realmente, mais de duas e meia da madrugada do dia 16 de janeiro de 2019 acordei com esse sonho que me fora contado por Machado de Assis.  /  No dia 15 de janeiro de 2019 o Governo Federal assinou seu primeiro decreto. Este facilita o porte de armas por praticamente qualquer um.  /  Já um ex-presidente, hoje preso político, teve como primeiro decreto o combate à fome.

domingo, 5 de maio de 2019

A LUZ BUSCA SEU LUGAR



Defendo as universidades e institutos federais.
Contra o corte de verbas e a perseguição.
Defendo as Ciências Humanas.
Pensar é um direito de todos.

Mia e Gabriel olham o céu no Parque Ipanema. O sol de maio já não está tão forte em Ipatinga. Mas ainda longe de fazer algum frio descente.
- É interessante como algumas músicas, poemas ou outras artes podem comunicar-se conosco... A música “Retrato em Branco e Preto”, na voz de Ney Matogrosso serviu para exorcizar de mim a amargura de um fim de relacionamento.
- É realmente interessante... Comigo foi com a música “Carinhoso”, de Pixiguinha. Minha mãe cantou para meu padrinho enquanto ele falecia. Linda a imagem dele tocando uma imaginária clarineta ‘acompanhando’ a música e como foi tocante o repouso das suas mãos segundos antes do desencarne.
Os dois olham para o céu e o sol ainda continua a reinar. Esperam ansiosos pelo início da lua nova.
- Darcy Ribeiro disse: “Fracassei em tudo o que tentei na vida. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.” E na música ‘Festejar’, Jorge Aragão bem fraseia: “Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão”.
- E como Beth Carvalho tão bem a interpreta... Vejo gente indo às igrejas gritar aleluia e lamentar a prisão, tortura e morte de Jesus. Há um advogado de Ipatinga, assim, a lamentar a Paixão de Cristo. Porém, o fato é que esse advogado e aquelas pessoas acham, na verdade, que o sofrimento de Jesus foi pouco. Talvez porque haja muita ignorância e ódio...
- Pecado é o filho desse casal, a Ignorância e o Ódio.
- Bem definido. Talvez porque ainda tenha muito pecado no mundo, pensam eles, Jesus tenha que sofrer mais.
- É! As trevas ainda não deram lugar à luz...
- Vão blasfemando, vão. Haverá o arrebatamento e depois a coisa ficará pior pra quem ficar. – Ecoa a voz dissonante de quem diz crer. Voz essa que não participa do diálogo e se intromete sem ser convidada. – Vão ler o Apocalipse...

Gabriel e Mia olham para o céu quase totalmente negro. Ignoram a voz alienada e continuam o dialogo.
- E para eliminar as trevas é preciso que Jesus sofra mais; é o que pensam. Exaltam tanto a Cristo, mas na prática descreem dEle. Não compreendem de fato o que seja vencer o mundo.
- Jesus foi somente preso, torturado e morto; mas não foi, por exemplo, estuprado.
- Vão desrespeitando, vão. Isso se chama livre arbítrio dado por Deus. Mas saibam que a misericórdia triunfará no Juízo Final. Até porque hoje “eles não sabem o que fazem...”.
Sem darem ouvidos à voz fanática e a sua fonte, Gabriel e Mia olham para o céu totalmente negro e continuam o dialogo sobre os fatos.
- E tudo isso foi pouco para essa gente.
- Essas pessoas, assim como o advogado, votaram no Boçalnato. Um sujeito que nunca disse outra coisa além de ‘prender, torturar, estuprar e matar’.
- A essência da família Boçalnato é a Ignorância e o Ódio...
- ... E seus frutos são o Pecado.
- E essa família encontrou eco nos corações e mentes de toda essa gente.
Quinze pras oito Gabriel e Mia se calam. Fixam os olhos no céu. Sem retornos, a voz se vai. E em aproximadamente dois minutos a lua ocupará seu lugar em perfeita união do branco prateado da lua nova no aveludado céu negro. E no sublime alvinegro a face de Beth Carvalho.


Ofereço aos aniversariantes:
Ju Ferraz, João R. Laque, André Kondo, Nadja Soares, Rejane Balmant, Nancy N. Maestri e Camila Mendonça.

Recomendo a leitura de:
“Triste Fim do Filósofo e Sociólogo Cristo”, de Glaussim:
“Varnhagem: o projeto histórico de um Brasil português, branco e europeu”, de João Lucas Nery:

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Sem nome – foto do autor.
Rubem – foto de Vinícius Siman.

Escrito e trabalhado entre a manhã de 31 de janeiro e 05 de maio de 2019.