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domingo, 13 de novembro de 2022

A-LUNOS SEM LUZ

Ou A VOZ DO PROFESSOR SEM VOZ


Alunos e seus

Olhos seletivos.

Conseguem ver no celular

Mas não os livros.


Jesus é outra coisa. Jesus é coisa séria.

As Igrejas de extrema direita clamam é por Zejus.


Metade de novembro e a turma encheu-se dos que ainda não alcançaram média.

_ Bom dia.

Começa a aula enfrentando, afônico, o ruído da sala.

_ O ser humano pertence a que reino? Animal, vegetal, mineral ou é uma espécie à parte?

Ninguém responde.

_ Vamos, gente! ... Somos da espécie animal...

_ Não sou animal não.

Protesta uma das faladeiras caladas para responder.

_ Então é o quê? Pedra!?! Planta!?!

_ Num sei. Mas num sô bicho.

_ A palavra animal vem de "anima" que significa energia que dá movimento a tudo que vive. Somos capazes de transformar energia em algo que nos permite continuar vivos, a reproduzir e a locomover.

_ Num importa. Num sô bicho. A Bíblia diz...

Preferindo não entrar numa discussão infrutífera continua sua aula. Mas se sente triste por um ambiente acadêmico estar infectado por "convicção, não por provas".

_ A diferença entre nossa espécie e demais seres vivos é o poder de raciocinar, filosofar e de expressar...

_ A gente num é animal não. - Teima no assunto.

_ Apesar do poder de refletir muitos preferem sequer pensar. - Calculando o rebate: CONTUDO, para nos comunicarmos foi necessário adaptar diversas partes do corpo com outras funções primárias, indo do diafragma, pouco acima do genital, até o topo do crânio. E...

_ E o que isso tem com Português?

Interrompe outro aluno e um terceiro acrescenta:

_ Não gosto quando fala contra Deus.

_ Português é comunicação e para comunicar é importante saber como produzimos palavras, ideias. Seja no nível biológico seja no nível filosófico.

Olhando a turma por dois, três segundos retoma a fala antes que no lugar de ouvirem para compreender, ouçam para responder:

_ Nunca falo contra Deus. Creio e respeito Deus. Não me importo como chamem a Grande Vida ou o Criador. Respeito sempre. O que sempre falei e falarei é contra o preconceito, contra a ignorância. Discuto sobre os religiosos cheios da presunção: "superioridade da minha crença". Critico os traficantes ou mercadores da fé. Nenhuma religião é superior a outra e todas devem ser respeitadas, mesmo se não praticadas.

E retoma, com sua afonia cada vez pior, a falar para ouvidos moucos sobre compreensão e transmissão dos discursos: o que estão me falando? como melhor expressarei minhas ideias.

_ Ah, professor! Para de falar e conte uma história como fazia antes.

Sem ter quem ouça fala para os que apenas escutam:

_ Em uma enchente, um devoto subiu no telhado de sua casa e pediu socorro a Deus. Apareceu uma canoa e o fiel a recusou dizendo "Deus vai me salvar". Veio um barco e não aceitou o socorro. "Deus vai me salvar". Surgiu uma lancha e outra vez recusou a ajuda. "Deus vai me salvar". Por fim, um helicóptero e... "Deus vai me salvar".

A enchente cobriu a casa e o homem se afogou. No Céu:

_ Por que não me salvou, Senhor?

_ Mandei quatro pessoas e você recusou todos os socorros que enviei.

Finalmente bate o sinal. Encaminha-se para a sala dos professores, mas para um instante na biblioteca escolar, escolhe um livro e observa o grafite de Rafa Mattos.

Depois, mais duas aulas antes de enfrentar o complicado, trabalhoso e ruim "diário on-line" adquirido pela prefeitura.


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Texto de Rubem Leite.

Foto do autor: biblioteca escolar Rubem Alves, E.M. Limoeiro, Timóteo MG.

GONTIJO, Bernardo. Por que nós somos animais. Disponível https://www.universidadedascriancas.fae.ufmg.br/perguntas/por-que-nos-somos-animais/ . 13 Nov 2022.

Pensado e escrito entre os dias 08 e 13 de novembro de 2022.

domingo, 24 de julho de 2022

ESTOU NU E NINGUÉM VÊ

 

Desde sempre que existe a humanidade o número de violência (não importa a forma), a quantidade de violências é semelhante à quantidade de pessoas. E hoje é tão banal quanto antes.
A diferença é que não tínhamos acesso a internete para vê-las. E hoje as pessoas podem degustá-la.
Antônio Tabet* disse "Não existe ódio maior que o amor cristão".

**

- Agora tudo é homofobia! Só porque não concordo que duas mulheres se beijam sou homofóbica?
- Sim, é! Por um motivo muito simples. Você não tem que concordar nem discordar com nada que não seja assunto seu ou que não tenha a ver com você.
- Ora essa!
- Já temos problemas demais para ficarmos atentos aos outros.
- Mas acho nojento.
- Então não beije outra mulher, uai! Essa é a única coisa que tem que fazer: cuide-se de si.
- Vamos mudar de assunto. Fico vendo os pretos dizendo que não devemos chamá-los assim.
- É. E negro nem é cor...
- Um - aponto pra mim e continuo a contagem apontando os demais -, dois, três, quatro, cinco, seis. Nenhum negro, mas seis branquelos querendo decidir como os negros devem ser tratados. Continuamos com espírito de casa grande e senzala.

E o silêncio é ferino. E a verdade é:

Qual coisa fiz ou falei que melhorou alguém? Dialoguei, escrevi, encenei peças, dou aulas. Mas o mundo não muda. A sociedade não se sacia. Minhas falam foram, são sombras na escuridão. Estou na contramão.

Quero agradecimento? Para que servem agradecimentos?
"Somos empregados inúteis. Realizamos o que tínhamos que fazer".
Não há mérito, pois fiz o que tinha que fazer e somente isso.
Se quiserem fazer-me postumamente algo então que me plantem uma sibiruna ou árvore frutífera. Cada qual tem o que cuidar em sua vida. Nada de perder seu tempo com quem quer ficar a sós e em silêncio (eu).

_____
Rubem Leite
Pensado e escrito entre os dias 16 e 24 de julho de 2022.
* Antônio Tabet é humorista, roteirista e empresário brasileiro.
** Foto tirada da internete. Marcha pra Jesus no Espírito Santo, ano 2022.

domingo, 26 de junho de 2022

NÃO VÊ QUEM NÃO VÊ

 

 


 

Passeando por um bosque iam mãe e filho – Cura Uínter Flordelis e Henry.

Ela carregava um Livro e uma bolsa com lanche para o piquenique. O menino, de cinco anos, choramingava reclamando por andar.

Param numa bela clareira ao pé de grandes rochas.

Ela se dedica a ler e a criança, ao brincar nas pedras, descobre a entrada de uma pequena gruta e, apesar da orientação materna, ele entra.

Com um suspiro cansado a mulher vai atrás. Uma vez dentro se depara com joias de ouro e pedras preciosas.

Uma voz soou:

“Pegue tudo que queira, mas não se esqueça do essencial. Você tem sessenta segundos...”.

Faltando dez segundos para o fim do minuto a gruta começa a estremecer e oito segundos depois ela estava fora.

 - Ó! Esqueci o menino... Mas tudo bem. Trouxe as joias e, mais importante, não me esqueci da Bíblia.

Passou-se o tempo. Uínter Flordelis perde suas posses. Por isso ela e a Legião da Religião se reúnem.

- Monstros. Monstros me perseguem. O que devo fazer?

A mãe chora e o Padre Jota Eme, admirando ainda o belo corpo da mulher, orienta:

- Você vê a eles e por isso eles veem você...

- Não... Não compreendo.

- Eles veem você porque você os vê.

Explica o Pastor A Eme. Depois dá a ela um cândido sorriso enquanto pensa: “Vou destruir todo mundo”.

- Então... Então o que devo fazer?

O Diácono Eme De Ce encerra a reunião:

- Os olhos... Pegue esta faca...

 

 

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Rubem Leite.

Escrito entre os dias 23 e 25 de junho de 2022.

Trabalhado na manhã de 26 de junho de 2022.

 

Padre Jota Eme – O padre Jean Rogers Rodrigo de Sousa, conhecido por José Maria, foi excomungado pelo Papa Francisco após rigorosa investigação coordenada pela Igreja Católica. O Pe. José Maria cometera diversos estupros a freiras e noviças. (Junho 2022).

Pastor A Eme – O pastor Arilton Moura, junto com o pastor Gilmar Santos, coordena o esquema do gabinete paralelo do MEC para “destravar por meio de propina demandas estaduais e municipais do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE)”. [Mariah Aquino, no jornal Metrópolis, junho 2022].

Diácono Eme De Ce – O prefeito e o vice-prefeito de Curitiba (Rafael Greca e Eduardo Pimentel) acompanhados pela Polícia Militar, assessores e políticos afins, ladeiam o diácono Marcos Daniel de Camargo enquanto este benze armas de guerra a serem utilizada pela Polícia Civil. (Janeiro de 2022).

domingo, 29 de maio de 2022

UM AO LADO DOS DEMAIS

 

  

Solo soy una mariposa en el capullo pero solo ven el capullo.

O vento toca árvores e sua melodia é como o beira-mar ou a chuva. Nesse embalo leio duas preces e de cada uma fica uma oração que me poetiza.

 

“Deus abrange o meu ser”*

Olho pro Sol, pra Lua, Flores

Sinto-me a mim tecer

Vejo gente, tantos indecentes

E tantos socioindigentes

Chego a esmorecer

Todavia ainda há livros

 

“Tenho alma destemida”*

Mesmo sendo gente

Minh’alma não é empedernida

Apesar dos seres humanos

Difícil manter cabeça erguida

Força tenho nos livros e bichos

 

Tento sorrir; compartir meus pensamentos. Ainda não sei ser silêncio onde não querem diálogo. Conversam para ouvirresponder, não para compreender.

- E tem um livro muito interessante e importante para ler: a Bíblia. Experimente; você não vai se arrepender. É um manual de vida.

- Li a Bíblia por vinte anos; algo em torno de sete estudos: três anos para completar cada estudo...

- É ler ao longo da vida, tentar implementar em nossas vidas, refletir a Bíblia. E, acima de tudo, ler, orar e esperar a resposta de Deus todos os dias. Volto a repetir: é nosso manual de vida.

Não respondo. Melhor conversar com os bichos e livros, mas penso: A diferença entre religião e ciência: Esta reconhece quando erra e por isso aprende. Enquanto a religião apenas aprende a dar desculpas melhores. Ciência não é crença. Ciência é o conhecimento adquirido através de pesquisa metodológica. Crença não vem de pesquisa nem de método.

Melhor calar.

Não sei se é uma fase ou se será permanente; talvez só um período, não sei. Mas estou fazendo as coisas; o que posso, o que aguento e quase o que quero. Faço para o nós.

Se me agradecem ou retribuem fico próximo a contente; não supervaloro. Se não me agradecem ou, digamos, me incomodam fico próximo a triste; não supervaloro.

Aprendi tempos atrás que os que nos elogiam hoje quase sempre, quase todos são os que nos abandonam ou jogam pedras.

Solo soy un colibrí apagando fuego. Una mariposa en el capullo.

 

 

Rubem leite.

* Sutra em Trinta Capítulos para Leitura Diário; Seicho-No-Ie.

Imagem do autor.

Escrito entre 16 e 29 de maio de 2022.

domingo, 15 de maio de 2022

FORA DO CAMPO DE FLORES AMARELAS

Van Gogh e seu campo de girassóis

Eu e meu morro de flores amarelas

Não vejo coisas invisíveis

Vejo a realidade que corrói

Com livros combato as esparrelas. 

O quanto e quanto já foi dito "amanhece, entardece e anoitece; janeiro, fevereiro ... novembro e dezembro; tempo de chuva com calor e tempo de seca com frio; tudo que é vivo morre".

Tudo repetindo.

Nada, surgimento, vida, morte, ressurgimento, vida, morte, ressurreição...

O rio corre entre a terra até chegar a outro rio ou ao mar. A terra se move entre os oceanos.

- E o que tem isso, meu Deus?!?

- Tem que numa mesa cinco discutem se o correto é dizer negro, preto ou moreninho. E todos os cinco são bem branquinhos. É outra vez o eurobrasileiro querendo definir a sorte do afrobrasileiro.

Silêncio para olhar nos olhos.

- Tem que outra vida é corrompida pelo desafeto familiar, pelo desinteresse político-social até ser interrompida pelo traficante ou policial.

Olhos nos olhos silenciosos.

- Tem que ao dizer "Umbanda, Candomblé, Macumba, orixás" ainda se ouve "credo; tá queimado, sangue de Jesus tem poder... são do diabo, são demônios". E quando perguntados se já assistiram alguma cerimônia ou leram suas doutrinas negam. Alguns afirmam que sim, conhecem ou viram. E quando se questiona como são as cerimônias e o que dizem suas doutrinas se calam ou respondem mentiras. Tal qual boçalnarianos "e o Lula, hem?!?".

- Ééé. A Terra não é plana, mas o mundo é chato.

- Enquanto gira o planeta e circula o cotidiano a gente lê, bebe, escreve, dorme, trepa, trabalha, canta, dança, encena, pinta.

- Desses, muitos tecnisam e vegetam.

- E desses, poucos artistam em protestos:

Uma boca morta abre centímetro a centímetro.

É o globalismo capitalista investindo.

Diverte-se o pobre com sua tranqueira nova.

Ignorante ignorado caminha centímetro a centímetro para sua cova.


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Rubem Leite

Foto do autor: vista da janela da cozinha.

Escrito entre 12 e 15 de maio de 2022.

domingo, 17 de abril de 2022

LECIONAR E ESCREVER ATÉ RESSUSCITAR

O muito mais novo dos irmãos era o mais velho em desânimo. Descia a rua para comprar frutas; passos lentos.

Num cruzamento percebeu indistinto um homem empurrando uma bicicleta e acompanhado de perto por um menino.

Ouviu, do outro lado do cruzamento, a voz de uma mãe:

- Pare na esquina, olha bem pros dois lados e só atravesse se não vier carro.

O pai falou baixo, só pro filho, mas alcançou o caminhante:

- Num para não e nem olhe. Cê tá comigo e tôti cuidano.

O zelo da mulher não confiou no marido. O orgulho do marido desensinou o garotinho.

O dramático dessa história não é que tenha acontecido algum acidente à criança (que bom).

O drama é as picuinhas que mantemos a todo custo, a deformação do filho e o peso no caminhante de mais uma descrença na humanidade.

Ainda caminhando até o mercado paro um instante na rua Peroba em frente a uma casa de lindas flores visível acima do muro.

- Vou te contar umas coisas...

- Huuum. --- Minha bela visão é interrompida por algum amigo.

- Vejo muita gente rindo de você, falando mal de você, aproveitando de você.

- Sei...

- E... Não faz nada?!?

- Alguma dessas pessoas me importa? Gosta de mim? Obrigado! Não gosta? Que bom; não terei que me relacionar com elas.

- Mas... Você está sendo trouxa, bobo.

- Não me incomodando, deixando-me em paz... Está bom para mim.

- Isso não te incomoda?

- O que me incomoda é não está olhando meu jardim, lendo um livro e tomando um vinho com meus cachorrinhos e gatinhos por perto. É isto que está ótimo para mim.

- É que...

- Desculpa. Mas quero comprar umas frutas para poder voltar a minha casa para brincar com meus bichinhos, ler, ver as flores e tomar um vinhozinho. Com licença.

Na minha lentidão, tão doce lentidão a permitir-me ver o que só olhava, continuo tão pequena jornada a mostrar-me grandes coisas. Mesmo não sendo todas boas.

- Oi, professor!

Três de meus estudantes me param e sorrio tranquilo para cada um deles.

- Vai ganhar muitos ovos amanhã?

Fala o do meio e o a sua direita diz:

- Ontem foi um dia triste.

- Mais triste foi o Domingo de Ramos... --- Replico.

- Por quê? --- Pergunta o da esquerda.

- Numa mesma semana a imaturidade humana é mostrada em toda sua ingratidão e servidão aos poderosos. Domingo passado conclamaram "Bendito o que vem em Nome do Senhor"; repetindo o que foi bradado dois mil anos atrás e ontem gritaram "morra, Jesus".

- Mas professor... Ninguém fez isso.

- Fazem isso várias vezes ao dia. Com negros, mulheres, LGBTQI+, pobres, doentes, presos, gordos, magros...

- Mas... Não é a mesma coisa.

- Sim, é. Ele disse que fazer isso aos pequenos é agressão a Ele, pois cada pessoa é seu templo.

O da direita nos diz:

Li que Jesus não morreu por nossos pecados, para nossa santificação. Ele não veio para nos separar do mundo. Cristo veio para ensinar que o mundo (a natureza) e a humanidade são um.

Concordo. Contente por ele está abrindo sua cabeça. O do meio continua:

- Jesus morreu porque lutou contra a direita, contra política, religião, economia que sufoca o povo; onde poucos ficam com muitos e muitos ficam com poucos.

Outro aprendiz de pensante. Gosto disso. E o terceiro acrescenta:

- Domingo será uma festa falsa, pois ainda hoje Jesus é caluniado, blasfemado, preso, torturado e morto. Não por "nossos pecados", mas porque ainda preferimos louvar os poderes no lugar de lutar com Cristo.

Não sorrio porque a Verdade não é disso. É a ilusão a nossa embriaguez. Mas me sinto bem pelos três cérebros funcionais.

A gente se despede e em silêncio cada qual caminha. Eu me aproximo do mercado, compro e volto para casa. Leio um pouco, bebo vinho e preparo um simples almoço pascal sem deixar de ver:

No centro, o morto político (Jesus); de um lado, a ciência (perguntas, dúvidas, pesquisas, estudos, conhecimento); do outro lado, vinho para comemorar cada vitória de quem luta ou sangue dos que morrem por culpa de quem cruza os braços à espera das benesses que os milhões de Cristo conquistaram para todos.

Cérebros não têm paz. Chega do nada a mãe de um dos garotos. E sua voz ébria de ilusão:

- Está escrito na Palavra, a Bíblia. Jesus morreu por nós, nossos pecados e para dar pra gente a vida eterna. Pois o que conta é nossa alma. Sarar, salvar, santificar.

Dos gritos e ofensas que me disse não há necessidade de mostrar. Já sabem ou imaginam. Respondo à mãe:

- Não há discórdia entre nossas ideias. Falei da razão histórica, não teológica. Teologia deixo para os sábios dos templos, uns são cristãos realmente; e até para seus mercantes largo-lhes as palavras. Quando luto é com meu cérebro escudado por livros e empunhando caneta.

Paro a conversa para tomarmos um café com bolo e só depois continuo:

- O Jesus histórico morreu por lutar pelo Povo; pela igualdade, dignidade, verdade e esta é ciência, não mito. E até hoje todos os verdadeiros seguidores d'Ele são mortos.

A mãe se vai. Leio um pouco mais e durmo.

Amanheceu um lindo dia nublado. Permitindo-me ver as flores em suas cores naturais, resis.

É o primeiro Domingo de Páscoa. Dia de pensar nas ações a realizar enquanto professor e escritor.

Cristo há de ressuscitar.


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Rubem Leite

Fotos do autor.

Escrito no correr da semana passada e hoje (17/4/22) trabalhado.

domingo, 3 de abril de 2022

A ESTRANHA MANIA DE TER FÉ NA VIDA¹

Hormiga maldita. El artista cigarra cantaba limpiando tu sufrimiento, tu cansancio. Y ahora que el artista te necesita tú le niega suministro. Pues bien. Tú comes y ti amargas con tu alimento que perdura hasta el calentamiento y… acaba. El artista hambriento lleva el mismo dolor del pueblo. Sin embargo, lo cambia a – fuerza, esperanza y lucha – cantos de encantos. Mientras tu corazón solo lamentas.

 

Na casa e terreno onde moro há aranhas, pássaros, árvores, matos, flores...

Tem uma planta que uma semana dá flor rosa e na outra, branca.


Pra que ir pra rua se a gostosura está aqui. Ficar “de cocado” espiando as flores, o vento nos galhos, as borboletas, beija-flores. Se quem ou o que é de fora:

Nas sombras do meio da névoa não vi nenhuma cara.

Vi:

Era uma vez um pastor de nome Milton Rameiro. Terrivelmente evangélico. Um belo dia foi até ele o presidente de uma nação sem noção e lhe ofereceu barras de ouro se provasse o quão terrível era:

- Universidade é para poucos. Mas não só isso. Ficarei vinte meses enterrado e sairei vivo.

Passado o tempo estipulado desenterram o pastor da educação. Este não se preocupou em respirar, beber água ou comer. Terrível era seu poder. Saiu do sepulcro gritando:

- Cadê as barras de ouro?!?

Vi:

O pum do palhaço é talco. Na cabeça da Rerreginha Senharte tem algo?

Coração de professor é carne sangrenta e do artista, alma.

O “coração de ouro” do pastor, Rameiro da Educação, é farsante. E da cultura, o secretário canastrão, Fria’alma.

Vi:

- Ai, amiga! – Beijinhos no rosto. – Estou tão angustiada...

- Que foi, amiga?

Afasta a outra para ver a cara da amiga.

- Você sabe que eu costumava abastecer minha casa de víveres no Rabbit Deenny’s desde que o dono do “grande surface” se tornou deputado defensor das famílias e da moral...

- Sei... Mas o que tem?!?

- É que agora tem em tudo quanto é lugar.

- Óóóh!

- E você sabe o que dá em tudo quanto é lugar, né?

- Sei, amiga. Pobre.

Em lágrimas:

- Não poderei mais mandar minhas serviçais fazer as compras lá.

E recebe um abraço solidário pra passar por mais essa provação.

Vi:

O homem de quem compro ração trazer-me o alimento de meus bichos e tremer de medo quando chamei a cachorrinha Iemanjá. Não se assustou com Florbela, a brava; Pessoa, o brincalhão; Plur, no seu cantinho; Neno, homenagem a Nena de Castro.

- Fala isso não! – Diz trêmulo e com a mão no peito arfante.

- Iemanjá?!?

- Não invoque o diabo.

- É só um nome mitológico. Como poderia ser Zeus, se fosse macho.

- Zeus é mito. Aquela é diabo...

Meu silêncio lhe olha.

- É que não entendo nada dessas coisas.

- Então seria bom entender, né? Conhecer para compreender. Saber para ter o que dizer.

- Sei não... Sangue de galinha degolada... Cabeça de bode...

- E o Sangue de Jesus nas missas e cultos?

- Não sei não.

- Eu sei sim.

Vi:

O frio do seu olhar congelar meu coração. A aspereza de suas palavras endurecer meu coração.

Mas o voo das borboletas, o canto do vento co’as árvores; estes fazem bem ao meu coração.

 

 

Rubem Leite

 

¹ Maria Maria, de Milton Nascimento.

 

Escrito entre 29 de março e 03 de abril, mas pensado desde muito antes disso.

domingo, 27 de março de 2022

OUREMOS, IRMÃOS

Aniversário do escritor Girvany de Morais.


Temo a forma de caça das aranhas mais do que temo seu veneno. Temo a sensação que deve ter a presa da aranha como imaginasse sem sentir o que lhe passa.

Mas aranha é só aranha; sem empatia. É natureza bruta. Não má, não boa. Só... natureza.

A humanidade pode ter empatia, mas vive a empáfia. Não é natural. É má, às vezes boa. Só... desnaturada.


Estrelas não iluminavam a noite. Nem a lua. Só os postes e as placas nas fachadas e o interior das próprias lojas.

Caminhava com dois amigos. Estes pareciam estar sempre às sombras; nunca se via seus rostos. Ao contrário daquele, que parecia estar sempre sobre o foco dos postes, placas ou lojas.

A vontade deles era chegar em casa. Ainda longe. Entraram numa rua, saíram em outra. Ruas esquisitas. Quase sempre impróprias para carros. Estreitas. Escada ou rampas sempre ascendente, as laterais eram calçadas rachadas com pequenos matos sempre saindo das incontáveis frestas. Todas as casas sempre com a metade abaixo da via e quase sempre com jardins. Tentativas de contrariar as ruas.

Chegaram ao meio do bairro; movimentada por carros e pedestres a avenida. Esta sim com a iluminação já descrita. Estavam com fome e entraram num bar. Escolheram seus sanduíches, comeram e ao pagarem:

- A carne está acabando. Manda mais.

- Em breve, talvez amanhã trago nova remessa...

Fora da lanchonete olha de um lado a outro da avenida. O que vê compactua com a encomenda recebida.

- Credo! O comércio está cada vez mais cristão. - Exclama irritado e os amigos concordam em silêncio.

De fato. Todas as lojas tinham imagens de Nossa Senhora, Jesus ou algum santo. Ou, mais comum, de nomes terrivelmente evangélicos com algum versículo.

Depois da avenida destacada, chamativa de tanta luz artificial retomam às ruas sempre as escuras. Escondendo o povo - cidadãos ou só pessoas -. Uma rua é interrompida por esgoto.  A alguns metros da ponte moitas de matos na água e três meninos nus brincam no charco. Ao verem os homens nadam até a ponte. Os rapazes espantam os garotos ostentando a mão que puseram no peito, dentro da blusa de frio sempre aberta.

Entram em outro logradouro, e noutro e outro dando para um espaço largo. Quase todo de terra seca e moitas de colonhão nas margens. Dois homens grandes "conversam" segurando pelas correntes seus cães que se avançavam mutuamente. Imensa fila de grandes formigas vermelhas se formou entre os homens e seus cães. Estes perceberam tarde demais. As formigas já lhe ferroavam tirando-lhes pequenos pedaços. Sempre em silêncio os três rapazes viram desde longe a discussão, os ataques frustrados dos animais e, afastando-se das formigas, passaram entediados por eles. Mal escutando os gritos enquanto se afastavam.

Finalmente chegam a casa. Construída subindo um montículo. Plantas verdes, ou floridas ou frutíferas cercam a pequena casa de muitas janelas. Do portão à porta uma estrada se sinua entre a flora.

Sentado na varanda um amigo os espera para entrar na casa. Passará a noite antes de ir embora no dia seguinte.

Como dito não há possibilidade de autos no bairro. Mas acrescento que o mesmo acontece na cidade toda; em todas as cidades. Em desconhecimento do povo.

O local de ônibus para fora da cidade fica na segunda avenida, a que leva a BR. Próximo dessa morada.

Os quatro entram na casa. Um de cada vez toma banho enquanto o anfitrião prepara algo para comerem.

Deitam e dormem. Um dos cachorros, o de pequeno porte, morde o celular do hóspede.

Amanhece outro dia escuro. O dono da casa faz café, põe sobre a mesa leite e pão requentado na chapa e acorda os demais.

Alimentam-se depois de irem ao banheiro. O hóspede pega a mochila dando conta do celular estragado.

- Eu mato esse cachorro...

Os moradores sorriram. Sempre à sombra os moradores seguram os braços da visita. À pouca luz do Sol o dono da casa pega sua faca.

Ninguém sai da cidade e há que abastecer o mercado.


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Rubem Leite.

Imagem: aranha camuflada, foto do autor.

Cronto nascido de uma reflexão com um mau sonho. Qualquer semelhança com a ficção é realidade.

Escrito e trabalhado entre 25 e 27 de março de 2022.

domingo, 13 de fevereiro de 2022

A IGNORÂNCIA É BEM HUMORADA

 

 

Pedro atirava borracha escolar nos cabelos de Máximo porque achava engraçado o quique da borracha nos cabelos do negro.

Pedro ria sem ver sua maldade. O negro ria escondendo sua dor no mundo onde são, na melhor da “hipotecrisias” piadas.

Mariano ajudava na missa e depois ia à casa do padre estudar. Este bem sorria na chegada e na saída do coroinha.

Religiões são boas para nos levar ao bom caminho... Não há mais o que saber.

Rodolfo era o filho malquisto, o aluno malquisto, o colega malquisto. Todos riam de sua “inocente burrice”.

A professora Helen Keller via mal o garoto; a princípio. Mas mudou a estratégia. Não mais via nem ouvia os malfeitos.

Rodolfo desenhava e representava em imagens o conteúdo aprendido em Português. Ó! Tão banal... pior, clichê dizer isso. Mas com auxílio das pedagogas os demais professores aceitaram as ilustrações como demonstrativo de conhecimento.

 

Com o tempo, já adultos.

Pedro, de “família boa” se tornou advogado e preto Máximo, “Puliça”.

Mariano se tornou neurótico e o padre aposentou-se tranquilo.

Sem a pressão escolar – mesmo que ainda a familiar – Rodolfo logrou a ler, escrever, expressar e compreender. É artista; não rico, mas vive bem de seu trabalho.

 

Pedro e sua família, a família de Mariano e o padre não eram ignorantes; eram imbecis; eram maus. Assim como era má a família de Rodolfo.

Máximo, Mariano e Rodolfo não tinham liberdade de escolhas assim como ninguém – bom ou mau, intelectual ou analfabeto – possui real livre arbítrio; essa linda fantasia que amansa a insatisfação de ter que aceitar a religião que lhe impuseram, a educação do lar em que caiu, a variação linguística de sua comunidade, a comida que lhe dão, as roupas que lhe deixam vestir, os cabelos, o estudo, o trabalho que conseguir e raramente quis.

Ignorância tem cura. Ignorar é desconhecer. Basta estudar, ler, dialogar para saber.

Rodolfo se curou.

E Pedro, Máximo, Mariano, o padre, famílias... Há cura?

Imbecilidade e maldades não têm cura. Há tratamento: tirar-lhe a voz. Liberdade de expressão não é dizer o que quer, fira a quem for.

Minha liberdade termina quando começa a do outro. - Mais um tão conhecido dito a me fazer pensar que se desconhece o que (acha) conhecer.

 

 

Pensado detalhadamente nas últimas duas semanas e escrito em 13 de fevereiro de 2022.

Imagem: https://luizmuller.com/2019/08/14/charges-em-jornais-pelo-mundo-mostram-imagem-do-brasil-se-deteriorando-rapidamente/

domingo, 6 de fevereiro de 2022

ESTA NÃO É A ÚLTIMA CARTA


Queria que fosse a derradeira, mas estou preso.

Não a você, mas a outro e a única escapatória seria abandoná-lo a uma "casa de repouso"; ou à minha minha irmã já muito mais cansada que eu, apesar de sua força; ou ao outro irmão que o empurraria a uma casa de repouso.

Mas ele não merece tal fim. Não ele.


É tudo tão tedioso como se vê em trechos do capítulo 01 de Eclesiastes.

Uma geração vai, e outra geração vem; mas a terra para sempre permanece.

Nasce o sol, e o sol se põe, e apressa-se e volta ao seu lugar de onde nasceu.

O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol.

Aquilo que é torto não se pode endireitar; aquilo que falta não se pode calcular.

Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor.


Ah, como queria escrever a minha última carta porque:

É morto um congolês por cobrar seu "salário" (R$200,00) atrasado.

Pastor/ministro diz que as "causas" de existirem gays são famílias desajustadas e por não terem "experimentado" mulher. Então cálculo que se é hétero por ter experimentado homem.

Mulher é agredida e crer que isso é normal.


Nasce o sol. As vezes a manhã é colorida, outras são prateadas (e prefiro prata ao ouro), outras são chuvosas e em algumas manhãs de chuvas nos enriquecemos com "Corpos: poemas":



"O que foi isso é o que há de ser". "Quem aumenta em sabedoria aumenta em dor".


As cartas que escrevi, quantos leram? Quantos a analisaram? Quantos a reenviaram a outros?

Aos que leram, obrigado. Aos que refletiram, muito obrigado.

Aos que reenviaram nada digo porque não o fizeram.


Escola:

Religião a ensinar: é verdade uma mulher conversava com cobra.

esquizofrenia.

Um super-herói com seus poderes no cabelo. Cortaram suas melenas e venceram os vilões. Como se o contrário acontecesse fora dos filmes.

Fantasia.

Uma virgem teve um caso com um velho Deus, uma pomba e um homem. Quem é o pai da criança?

BLASFÊMIA, me gritam.

Muçulmanos são terroristas, mas esqueçam as desgraceiras que fizemos a eles, na América, África e onde mais puseram seus podres pés

Judeus mataram o menino, já crescido, filho de muitos pais.

Ainda na escola:

Português, Matemática, História, Geografia, Ciência...

Tantas preparações, tantos esforços, tanta dedicação.

E vacina não é eficaz, a Terra é plana, a escravatura é culpa dos africanos, 7x7=77, verbos são pracinhas, quase, um...


Queria que fosse minha última carta.

Mas Boçalnato está aí e quem assumir a próxima gestão não sei se encontrará solução.



Tenho outras cartas a escrever.

Para quê? Para não ser mais um morto-vivo.

Para quê? Por ainda estar vivo buscando um porquê.


Enquanto ainda vivo:

Germino na lama, cresço à sombra que me impõem quem denuncio, ofereço minhas poucas folhas, dou minhas frutas sem doce com a esperança quem alguém plante suas sementes para germinar boa árvore de bons atributos.


Sou uma árvore.

Tem momentos que sou ipê, há instantes que sou sibiruna.

Hoje sou uma goiabeira.

Tronco rude, folhas não delicadas, doces frutos - sei que haverá quem dirá "frutas bichentas" e algumas vezes será verdade.

Hoje sou um pé de goiaba, ainda pequeno, mas já preparando frutas para quem quiser.


Muitos me atirarão pedras ou darão pauladas e despreocupados com minhas feridas comerão deliciosamente meus frutos ou jogarão toda a parte boa por causa de um bicho.

Mas goiabeira, ipê, sibiruna sou árvore e escrevo não a minha última carta.


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Rubem Leite

Imagens:

Livro e poema de Gorette de Freitas;

Goiabeira: foto do autor.

domingo, 12 de dezembro de 2021

ARTE E EDUCAÇÃO: LUZ E CALOR

A noite perdura praticamente em todo o planeta, mas no Brasil é mais densa.

O que já foi referência internacional em vacinação tornou-se referência mundial em vacilação, em imbecilidade.

Mas não há treva mais profunda ou mais antiga que resista a luz de um fósforo.

Há quem acende velas. Há quem se torna vela. Há quem acende fogueiras. Há quem se torna fogueira.

Diferente do incêndio governamental, que elimina sem iluminar. Há luzes que aquecem e apontam caminhos.

Ah! Professores nas escolas, na vida e artistas de rua, de palcos, da escrita.

- Têm muitos artistas.

- Não. Tem muitos muchileiros, atores, cantores, pintores, escritores, poetas. Mas só incendeiam ou cobrem as velas e fogueiras.

- Quem são artistas então?

- Quem está continuamente em processo de criação; Julian exemplica essa luz. Quem tem coragem e buscam serenidade diante das adversidades; Andres e Erika são amostras de luz. Quem se senta aos pés dos anjos para ouvir seus ensinamentos ou quem bebe as angélicas palavras; ambos levando-as aos outros; Ronix e Emílio portam essa luz. Os que malabareiam com o fogo dos anjos; eis Faire e Ramon.

Mas não são só esses. Há Júlio, Mori, Alan, Luan, Diney e outros e outros e mais outros.

Talvez este macróbio escrevente e falante possa ser ou ter fogo, ou vela ou fósforo.

O maior Mestre ocidental não aceita mercantilizar o Todo de Tudo porque Este não pode estar acima do povo porque está no meio de nós.

- Está fazendo um texto religioso...

- Não! Falo da resistência aos mentirosos, aos filhos do pai da mentira. Meu assunto com você é sobre arte e educação no sentido real.

Colocaram um gordo boi de ouro em plena penúria; exaltando a injustiça, mas o fogo justo o queimou. E uma luz colocou no mesmo lugar uma vaca magra: é com isso que temos que acabar e não vangloriar as trevas.

- Por quê?

- Jesus foi morto por ser um pobre incômodo. Tiradentes foi morto por ser um pobre incômodo. Che Guevara foi morto por incomodar. Rainha foi morto por incomodar.

Só vivem os acomodados e os "incomodantes".

- E você não teme a morte?

- Não, a morte não. Temo o sofrimento e angústia que a antecede. Mas não sou pedra. Sou um grilo de Quintana e, no mínimo, também um fósforo. Que o exemplo de Dilma seja minha prática.

- Um policial algemou um bandido em sua moto e o arrastou pelas ruas.

- Não! Um policial negro algemou um jovem negro em sua moto e entre risos do povo o fez correr pelas ruas. - Pausa para olhar nos olhos de quem me ler. - Mas artistas e professores iluminam.

- O que já fez além de ensinar Português?

-  Ensinei por este ano:

Meu direito termina quando começa o do outro. Feminismo não é o contrário de machismo; feminismo é igualizacao e valorização humana. Não é pele, idade, tamanho, grau de instrução, sexualidade, gênero etc. que (des)valoriza. Nenhuma religião, crença ou ritual é inferior ou superior; diferentes apenas na aparência. Cobrei com força demasiada a dedicação aos estudos, cumprimento aos deveres e respeito às diversidades.

- E você se surpreende com as pedras que te atiraram?

- Não, não me surpreendo. Só me pergunto se algum dia será diferente, para melhor.


__________

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

A imagem é  uma foto de Emilio (Bigote) Fleitas. É trabalho dele em fogo.

Escrito na manhã de 12 de dezembro de 2021 e pensado nas semanas anteriores.

domingo, 5 de dezembro de 2021

DIVINO E SAGRADO

 

Se eu quiser falar com Deus

Tenho que ficar a sós

Tenho que apagar a luz

Tenho que calar a voz.

Tenho que dizer adeus

Das as costas, caminhar

Decidido, pela estrada

Que ao findar vai dar em nada

Nada, nada, nada, nada...

Do que eu pensava encontrar.


Como eu não sei rezar

Só queria mostrar

Meu olhar, meu olhar, meu olhar.

 

O vídeo com minha leitura do cronto está no canal aRTISTA aRTEIRO, no youtube:

https://www.youtube.com/watch?v=RpYvtBQLUVY

 

Mais um domingo. Depois deste haverá mais três antes de 2022. É domingo e ainda tenho que levantar-me para mais um dia, provavelmente para mais uma semana inteira. Possivelmente viverei os outros domingos e adentrarei no novo ano. O último ano de destruição do Brasil.

Saí da cama para urinar, lavar o rosto, por água para ferver, arrumar onde dormi, passar o café, fazer minha prece matinal e continuar o dia até dormir outra vez.

Quase sete e meia fui comprar desodorante e pão. No jardim umas flores roxas baixo sol forte no céu seminu. Quis tirar uma foto, mas foto da natureza fica melhor quando nublado.

No caminho vejo quatro pessoas. Um velho com andador e talvez seu filho o ajudando a entrar num carro. Enquanto passo por duas senhoras. Uma diz para a outra “Nosso Deus é poderoso” e a que ouve diz para o velhinho “Nosso Deus é tremendo”. Escuto quatro vozes: Aleluia!

Entristeço-me! “Nosso Deus?!?”. Acaso há outros? O que tem é um só Deus com nomes distintos. Feito eu: uma só pessoa que pode ser chamada de Benito, ou Professor, ou Poeta e outras formas que também já ouvi e algumas atendi.

Porque razão as pessoas insistem tanto em conservar seus preconceitos; raramente mudando seus conceitos.

Sim, eu sei. Mudar os conceitos implica dizer que esteve errado toda a sua vida pregressa. Eu, que tenho tantos medos, não sou covarde. Mudo de ideia com quase facilidade; mostre-me um novo melhor. Talvez resista, mas penso, logo filosofo e em seguida poetizo meu novo eu. 

Finalmente em casa e as nuvens vestem o céu. Agora sim fotografo a flor ouvindo canários, galos, bem-te-vis e vendo o voo de pássaros.

Mas meu cérebro não se cala. Ai, quantas e quantas pessoas pensam que o “Céu” será conforme seus ideais e crenças. Mas Deus é imensurável para um e outro defini-lO. O Paraíso – ou como o nomeia – não é budista, judaico, cristão, islâmico, umbanda, candomblé, desta, dessa ou daquela; não meu, seu, de alguém ou aquém. É de Deus. E só.

Meu cérebro fala consigo quando minha língua se guarda. Ao falar comigo crio a voz que me explica um pouco da verdade. Mas sempre um pouco; nunca muito e menos ainda o tudo.

Fecho os olhos e vejo as flores. Tampo os ouvidos e ouço as aves. Paro meu corpo e voo como pássaro. Quando meu coração parar no fim de minha estrada não sei se serei flor, pássaro, pedra, grilo, vento, nuvem, sol, estrela, silêncio, som. Serei o que tiver que ser: o tudo ou o nada.

Flores, canto e voo de pássaros; algo que valha, senão a semana, pelo menos o dia.

 

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens: foto do autor.

Músicas:

Se eu quiser falar com Deus, de Gilberto Gil;

Romaria, de Renato Teixeira.


Escrito e pensado na manhã de 05 de dezembro de 2021.

domingo, 26 de setembro de 2021

OVELHAS DO PASTOR

 


 

Domingo.

A menina acordou, não do sono, mas do desfalecimento.

- Bom dia, ovelhinha do pastor.

 

Quarta-feira.

- Benito, qual é o trecho bíblico onde Deus manda matar todos os homens e meninos e mulheres não virgens; e estuprar as meninas e adolescentes?

- É o que está nos versículos nos versículos treze a dezessete do capítulo trinta e um do livro de Números. E tem tam...

- É, mas tem que observar o período histórico! – Intervém um pastor que se encontrava perto.

Por não estar disposto a prolongar assunto com tanto o que tenho para fazer – desta vez – somente penso:

Sempre fazem isso. Quando é algo incômodo ou fora de seu interesse justificam “período histórico...”, “contexto da época...”, “interpretação de texto...” E quando é para seu interesse afirmam “é a verdade...”, “palavra do Senhor...”, “compreensão do texto...”.

 

Sábado.

- Boa noite, ovelhinha do pastor.

A menina ia para seu desfalecer. Nem sabia o que era falecer, mas já estava morta em vida; já desfalecia em sua vida falecida.

 

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagem: foto de Erika Aviles.

 

Escrito entre 22 e 26 de setembro de 2021.

domingo, 19 de setembro de 2021

TERCEIRO DOMINGO DO SETEMBRO AMARELO

 

“Deus está cansado de ouvir. Quem te ouviu foi o diabo e te abençoou lá no inferno”.

(Mia Couto, em Padre Novo. Do livro O Fio das Missangas). 


Na semana do segundo domingo do setembro amarelo observei e senti muitas coisas e transcrevo algumas no terceiro domingo.

 

Uma é como diz minha sobrinha Thaís: “Pra que vou melhorar, se Jesus pode e DEVE pagar por mim?”. Também vi outra vez a perseguição a ciência e a educação.

Ainda senti a doce saudade. Sonhei com um cachorrinho que morreu ano passado. E num ponto de ônibus me lembrei das vezes que minha mãe e eu pegamos esperávamos o meio de voltar para casa.

De tudo isso registrei:

- Que Cristo tome para si nossas enfermidade e doença. Amém!

- Por que manda coisas ruins para Cristo? Que Ele faça funcionar o cérebro do povo e dos governantes. Não sei se é possível... Se esses cérebros têm cura... Mas podendo ou não, Cara, muita saúde pro Senhor e que a gente te deixe em paz.

 

Só consigo sentir-me triste. E nem tudo pelo que me atinge.

Queria ser pedra, mas sou, como disse Mário Quintana, Grilo: alma dos poetas mortos.

A Consul no shopping do Vale fechou. Quantas e quantos “desempregades”. O desespero avança no Brasil.

 

“Em Terra de Cegos”, de H.G. Wells

Quem tem um olho é louco.

Este se acha rei dos céus

E aqueles o cegam ou ele morre...

 

Sonhei com Florbela, Pessoa, Iemanjá e, o já falecido, Vitório – meus cachorrinhos –. Disse: “Oi, Vitório! Você está aqui?” E o sonho termina comigo fazendo-lhe carinho e ele abanando o rabo.

Será que me visitou? Não importa. Foi bom enquanto durou e o que ficou não é resto; é memória.

Eu, mesmo sendo apenas um ponto no universo, ainda estou aqui. A registrar, denunciar e atuar. É bem possível que meu esforço seja o de um ponto num parágrafo, mas não há de ser, ainda, o final do parágrafo.

 

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens – fotos do autor.

 

Escrito entre 12 e 19 de setembro de 2021.

domingo, 12 de setembro de 2021

SEGUNDO DOMINGO DO SETEMBRO AMARELO

 


 

 

Tem o sol e a lua,

Flores, pássaros e borboletas,

Cães e gatos,

Mas há também muitos

Parentes e vizinhos.

 

Tem um Pe. Júlio Lancelot,

Mas há também muitos

Silas Malafaia, Edir Macedo, Valdemiro Santiago.

 

Tenho emprego,

Mas quantos, no muito, só trabalho.

Tenho casa e comida,

Mas quantos estão sem guarida.

 

É muito para atravessar.

É muito para atravessar.

 

“Já raiou o sol da liberdade”

“Ainda que tardia”.

Declamam gente de toda idade;

Fazem os que têm rebeldia.

 

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens – fotos do autor.

 

Pensado e sentido por muitos anos. Escrito nas manhãs de 11 e 12 de setembro de 2021.

domingo, 29 de agosto de 2021

INSER

  

El placer humano es el mal

Su semilla es el mal

Así, toda historia lleva siempre el mal.

Es siembra del mal.

 

Morte próxima

Plantando jardim

Vida vai

Vida vem

Mim.

 

Hoje há a crença

Há o que fazer

Desatento ou atento

Tenta

Dorme, acorda

Há o que fazer

É a crença.

 

A satisfação humana é o mal.

Sua semente é o mal

Assim, toda história sempre tem o mal.

Semeia o mal.

 

Às vésperas da morte

Plantava flores

Vida esvaía

Vida florescia.

 

 

Pensei em oferecer aos aniversariantes que gosto. Mas sei que não gostam do que escrevo. Em silêncio comemorarei seus aniversários. Não os esquecerei, mas guardar-me-ei.

 

Escrito e trabalhado entre os dias 25 de junho e 29 de agosto de 2021.