Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz.
Tenho que dizer adeus
Das as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada...
Do que eu pensava encontrar.
Como eu não sei rezar
Só queria mostrar
Meu olhar, meu olhar, meu olhar.
O vídeo com minha leitura do cronto está no canal aRTISTA aRTEIRO, no youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=RpYvtBQLUVY
Mais um domingo. Depois deste haverá mais
três antes de 2022. É domingo e ainda tenho que levantar-me para mais um dia,
provavelmente para mais uma semana inteira. Possivelmente viverei os outros
domingos e adentrarei no novo ano. O último ano de destruição do Brasil.
Saí da cama para urinar, lavar o rosto, por
água para ferver, arrumar onde dormi, passar o café, fazer minha prece matinal
e continuar o dia até dormir outra vez.
Quase sete e meia fui comprar desodorante e
pão. No jardim umas flores roxas baixo sol forte no céu seminu. Quis tirar uma
foto, mas foto da natureza fica melhor quando nublado.
No caminho vejo quatro pessoas. Um velho
com andador e talvez seu filho o ajudando a entrar num carro. Enquanto passo
por duas senhoras. Uma diz para a outra “Nosso Deus é poderoso” e a que ouve
diz para o velhinho “Nosso Deus é tremendo”. Escuto quatro vozes: Aleluia!
Entristeço-me! “Nosso Deus?!?”. Acaso há
outros? O que tem é um só Deus com nomes distintos. Feito eu: uma só pessoa que
pode ser chamada de Benito, ou Professor, ou Poeta e outras formas que também
já ouvi e algumas atendi.
Porque razão as pessoas insistem tanto em
conservar seus preconceitos; raramente mudando seus conceitos.
Sim, eu sei. Mudar os conceitos implica dizer que esteve errado toda a sua vida pregressa. Eu, que tenho tantos medos, não sou covarde. Mudo de ideia com quase facilidade; mostre-me um novo melhor. Talvez resista, mas penso, logo filosofo e em seguida poetizo meu novo eu.
Finalmente em casa e as nuvens vestem o céu.
Agora sim fotografo a flor ouvindo canários, galos, bem-te-vis e vendo o voo de
pássaros.
Mas meu cérebro não se cala. Ai, quantas e
quantas pessoas pensam que o “Céu” será conforme seus ideais e crenças. Mas Deus
é imensurável para um e outro defini-lO. O Paraíso – ou como o nomeia – não é
budista, judaico, cristão, islâmico, umbanda, candomblé, desta, dessa ou
daquela; não meu, seu, de alguém ou aquém. É de Deus. E só.
Meu cérebro fala consigo quando minha
língua se guarda. Ao falar comigo crio a voz que me explica um pouco da
verdade. Mas sempre um pouco; nunca muito e menos ainda o tudo.
Fecho os olhos e vejo as flores. Tampo os
ouvidos e ouço as aves. Paro meu corpo e voo como pássaro. Quando meu coração
parar no fim de minha estrada não sei se serei flor, pássaro, pedra, grilo,
vento, nuvem, sol, estrela, silêncio, som. Serei o que tiver que ser: o tudo ou
o nada.
Flores, canto e voo de pássaros; algo que
valha, senão a semana, pelo menos o dia.
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog
literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e
Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do
Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua
Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos
científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e
Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola,
Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e
“Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro
Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens: foto do autor.
Músicas:
Se eu quiser falar com Deus, de Gilberto Gil;
Romaria, de Renato Teixeira.
Escrito e pensado na manhã de 05 de dezembro de 2021.
Nenhum comentário:
Postar um comentário