Você luta
tenta ser coerente,
briga com o sistema,
tenta fazer o melhor...
e, no final, por um mínimo de esforço
de um (3 perguntas) com um único
ser, se aprova a atitude de desleixo, de
irresponsabilidade, de negligência.
Aí, fica a pergunta
Adianta?
Fiz papel de
Preciso me esforçar para ser melhor
nesse sistema?
Assim, caminha a educação.
(Emílio
Ferreira)
Delícia
Chuva batucando
No telhado de minha
Casa
Vento flauteando
Nas
Portas e janelas
Cortinas e árvores
Bailando
Um girino se transforma num sapo e crê que
o mundo é a poça d’água. Não busca mais nada.
O menino cresceu e crê que o mundo é a
fábrica. Não buscou mais nada. Trinta anos depois o RH agradeceu pelos serviços
prestados e o deixou sem mundo.
Eu, Benito, quando mais jovem, tinha horror
a palavra “senhor”. Não pela associação com a idade que ingenuamente muita
gente faz. Meu desconforto era porque via nela superioridade de uns sobre
outros; não fraternidade.
Hoje vejo que “você” leva as pessoas a
confundirem amizade com desrespeito. Enquanto “senhor” não implica perda de
amizade nem de intimidade, mas induz o respeito solidário e fraternal.
Segundo o dicionário eletrônico (aplicativo
para celular) Dicio: Significado da palavra senhor:
Substantivo masculino. 1. Pessoa de alta
consideração. 2. [Figurado] Quem domina algo, alguém ou a si mesmo. 3. Pessoa
distinta. Adjetivo. 4. Sugere a ideia de grande, perfeito, admirável.
Meu pai
[15/12/1925]
Se foram noventa e
seis
Surgido na Terra
Ventos nos galhos
arbóreos
Acima, algumas coisas que, na semana
passada, pensei e postei no Caralivro.
Abaixo, a história de hoje.
Quase dois meses enfermo. Depressão, ansiedade,
labirintite, sequelas de covid.
Da chave da porta destes e outros males não
direi o nome. Tenho palavras mais bonitas, mais úteis para dizer.
Uma semana após o retorno.
Quarta-feira:
- Professor Benito, o senhor não pode dizer
a nota dos alunos em voz alta.
- Uai! Não pode? Obrigado, chave, pela
orientação.
A criatura deu um passo atrás como
estivesse sido empurrado; encurvou as costas também para trás como se tivesse
levado um soco; fez uma careta como se tivesse levado um susto. O professor lhe
deus as costas e voltou ao que fazia, mas chamado um por um e falando
individualmente a nota.
Sexta-feira:
Ao fim das aulas, indo para a sala dos
professores, a chave o para:
- Professor Benito! Alguns alunos me
perguntaram se professor pode vir de chapéus já que eles não podem vir de
bonés. É o que está no estatuto da escola.
- Uai! Depois de dois anos e meio vindo
muitas e muitas vezes de chapéu, boina ou gorro alguém se incomoda com isso? E
faltando uma semana para o fim do ano letivo? Tudo bem, obrigado pela
orientação. Daqui uns dias não virei mais aqui mesmo...
E entrou na sala sem olhar para a chave nem
para sua reação.
Segunda-feira:
Com meio metro de distância a chave
conversa com um sujeito. Ambos sem máscaras. Vendo Benito entrar na escola lhe
diz:
- Professor, a máscara! O senhor está sem
ela...
- Estou!
E entra na sala dos professores. Pega
alguns materiais e só então põe a máscara para ir para as aulas.
No recreio, conversam os professores
Benito, Teteu, Esmaiz e Sirena.
- Por que você não perguntou onde está no
estatuto? – Sugeriu Teteu.
- Falei para todo mundo as notas em voz
alta e a chave não falou nada. – Disse Sirena.
- E a coisa estava sem máscara?!? – Comenta
Esmaiz. – Por que não disse isso para ele?
- Não discuti com a chave porque não me
incomoda essas bobagens. Vir de chapéu ou não é algo completamente sem
importância para mim. Falar em voz alta ou em voz baixa é menos importante que
passar as notas; quem passou ficou livre e quem não passou soube que ainda tem
que entregar a última tarefa. É o roto falando do esfarrapado. Rerrê. O troço
estava conversando sem máscara com alguém enquanto eu estava sozinho... Vou lá
da importância para o torto roto? E o mais importante. Acho que ele está
esforçando muito para me ver gritar para ter algo a dizer contra mim à
Secretaria Municipal de Educação. Não vou dar o que a chave quer, pois não tem
poder sobre mim. E só quero terminar o período letivo e pronto.
Quarta-feira:
Os formandos da escola fizeram uma
comemoração na sala de aula e convidaram seus professores e demais
funcionários, mas não a direção escolar. A chave ficou com tanto ódio que
decidiu escolher quem poderia participar da festa de formatura que, sem nenhuma
ajuda da escola, os próprios alunos se esforçaram para conseguir o dinheiro.
- Chave! O dinheiro é nosso e você não está
convidado. Não apareça por lá.
Boa resposta, acho.
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog
literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e
Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do
Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua
Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos
científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e
Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola,
Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e
“Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro
Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Meu pai em sua carteira de sócio do clube do time; foto do autor.
Retrato do autor feito pela estudante Karla V.A. Paiva.
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