domingo, 31 de março de 2019

UNIVERSALISMO PROLETÁRIO





Segurança para quem? (...) Segurança para o poder do Estado. (...) Uma das preocupações fundamentais de um governo é garantir a segurança do Estado contra a própria população. (...) O sigilo do governo raramente é motivado por uma genuína necessidade de segurança, mas serve para manter a população desinformada, às escuras.
(CHOMSKY, 2017, p. 198).

O retorno de quem a gente gosta é nuvens escuras. São bonitas. Não sem motivo as chuvas lhe encantam. 

Depois de admirá-las volta à cozinha e despeja água no pó. Alimenta-se pensando nos amigos e parentes que lhe fazem falta. São muitos, mas não tantos assim... Duas horas depois vai ao Parque Ipanema discutir o país.
- Boulos vai processar a juíza que disse que ele seria recebido “a bala”.
- É Artista, só assim pra ele ganhar um troco... – Porque trabalhar que é bom...
- Boulos é professor, senhor Pédi.
Pédi é o apelido do “Pobre de Extrema Direita”.
- Professor comunista e desempregado vagabundo é quase a mesma coisa. – Pédi olha ao redor e continua: Então é aqui que os vermes malditos se organizam pra destruir o país? Né por acaso que têm que cercar o parque; filtrar quem aqui entra. Qualquer um entra... O Pré-fake de Ipatinga e Mark Zuckerberg precisam ser mais seletivos... É assim que nascem ditaduras, com pequenos focos... Estado Islâmico que o diga!
- Senhor Pédi, explica-me, por gentileza, a base racional para comentar ou mesmo crer, que haja sinonímia entre ‘professor com desempregado’ e ‘comunista com vagabundo’? Ou entre ‘professor com comunista’ e ‘desempregado com vagabundo’?
- Escritor, obrigado por tamanha formalidade ao direcionar suas palavras a mim; não sou digno de tanto respeito. Ao senhor respondo que a semelhança entre ‘professor’, ‘comunista’, ‘desempregado’ e ‘vagabundo’ é que estes sobrevivem com desonestidades e mentiras; e consequentemente dão prejuízo ao erário público. No final das contas, lá no último cálculo, quem banca esse tipo de gente é o povo que trabalha duro.
- É, Escritor, juro que também estava tentando entender qual a semelhança entre ‘professor comunista’ e ‘desempregado vagabundo’. – Diz Professor e ironiza: É que ambos sobrevivem com desonestidade e mentiras, e consequentemente dão prejuízo ao erário público. Pédi, o senhor nunca teve professor, só pode. Também não deve ter nenhum professor na família, pois caso contrário saberia que professor trabalha muito duro. Ou então o senhor sofre de alguma deficiência mental. Não dê desgosto a sua família.
- Senhor Pédi, a minha formalidade se embasa em diálogo respeitoso, pois creio que um certo distanciamento permite observar melhor os fatos e diminuir o risco de ofensas ou de falta de argumentos.
- Além do mais. – Intervém o Professor. – Ainda não entendi porque ser de esquerda faz dos professores vagabundos. E ser de esquerda não é necessariamente ser comunista ou pertencer a qualquer partido político. Eu mesmo sou de esquerda sem ter-me filiado a qualquer organização política. Também sou um excelente profissional trabalhador. Até porque o objetivo de qualquer professor, e parto de mim e dos meus colegas para assim afirmar, é formar cidadãos com capacidades de observação, interpretação, expressão e atuação enquanto cidadão e trabalhador.
- É verdade que nem todo professor é comunista e nem todo desempregado é vagabundo. Fui bem específico ao classificar os sujeitos.

Na roda, baixo das árvores do Parque Ipanema, Pédi observa os olhares zombeteiros e volta a falar:
- Escritor e Professor, deixa-me desenhar. O professor comunista ensina ideologias ao invés de preparar os alunos para o futuro e para viver em um mundo capitalista, globalizado e em constante mudança; distorce a verdade; nega os fatos; manipula de acordo com sua preferência política, etc. Como resultado, temos uma geração fraca, sensível, mimada, abalada, anoréxica, gay e aidética. Gente que não presta nem para perturbar a ordem pública, pois não são anarquistas de raiz. E uma geração mesquinha dessa não movimenta a economia o suficiente para que a nação cresça e se autossustente¹. Aí o Estado tem que arcar com os prejuízos, criando programas sociais de combate às drogas e à criminalidade; a violência e a pobreza aumentam. Esse desperdício de dinheiro fragiliza a nação; é assim que uns países dominam outros nos dias atuais. Para cuidar dessa gentinha inútil o país é obrigado a aumentar os impostos para não cair em desgraça ou falir. O Brasil poderia sair de uma vez por todas de sua condição de “país emergente” e se tornar uma grande e rica nação. Mas aqui tem um monte de jumento e antas; é tanto burro junto que dá vontade de colocá-los num paredão e disparar uma rajada de beijos e abraços... Vagabundo Desempregado possui características semelhantes ás do Professor Comunista.
- Pédi, olha com atenção o caminho que o presidente que vocês elegeram tá traçando até agora. – Entra na conversa o até então calado Pope; apelido de “Pobre Pensante”. – E faça uma análise carinhosa aí, meu amigo. Não é possível que você seja assim tão ingênuo, para não dizer ignorante, que não vê a família Boçalnato só falando e fazendo burrice; uma atrás da outra.
- Pope, estamos apenas no terceiro mês de governo. Não consigo fazer nenhuma análise ainda. Só os jornalistas videntes e a galera do Elenão julgam saber o resultado em tão pouco tempo.
- Já se perdeu a conta de quantas decisões imbecis o Imprevidente, digo, o Presidente tomou até agora, Pédi. E você ainda nada viu? – Pope responde. – Veja só algumas das mais recentes: Comemorar o Golpe de 1964. Entende isso? Querer comemorar a ditadura brasileira enquanto diz querer combater a ditadura venezuelana... Todavia, em um ponto você tem razão em achar absurdo que Boçalnato faça algo em menos de um trimestre já que nada fez em vinte e oito anos. Exceto, claro, dar de machão corajoso para voltar atrás quando é chamado para a luta. Assim fez antes de eleito ao fugir dos debates e agora fez ao fugir de umas poucas dezenas de estudantes da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Além de ser subserviente de EUA; entregando o país a eles. Mas você tem toda a razão, Pédi. Tem toda a razão em nada esperar desse governo.
Ao nosso redor crianças brincam. E uma fala para a outra:
- Mamãe não gosta de unicórnios.
- Por quê? São tão fofinhos.
- É que não são de Deus. E têm muito arco-íris...
- Uai! Quê que tem os arco-íris?
A resposta se perde por voltarmos ao assunto.
- Pope, não viu a explicação que o Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, deu na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional? Não houve golpe em 1964, mas sim uma ação civil e militar para que não houvesse ditadura no Brasil*. Estamos em uma democracia e elegemos nossos representantes no Governo. Eu votei no opressor para oprimir. Eu sou só um cidadão comum e espectador apenas. Quero assistir e dar risadas. Só isso. Rarrarri.
- Outra vez continuo sem compreender. – Escritor interpela. – “Votou no opressor para oprimir?”. É muito estranho para mim uma pessoa optar pelo mal; a opressão, por exemplo. Escrevo porque não me posso calar; não me posso omitir². Escrevo para proporcionar maior liberdade ao outro, maior competência profissional e maior participação cidadã.
- Pédi! Como? Também sou pobre igual a você, mas diferentemente penso. Me entristeço² por você amar a violência e ignorância em detrimento do conhecimento e da fraternidade. Lamento mesmo. Pense, irmão. Pense!
- Nós, da extrema direita, não estamos abertos ao diálogo, não estamos dispostos a manter uma relação pacífica com os opositores, não economizamos ofensas; e se houver manifestação na rua, a gente pega no sentido contrário e bate de frente. Vocês mataram a minha geração, e eu não sei nem se existe uma forma de pagarem essa dívida. Lula, seu líder, está preso. E o Brasil está diante de uma oportunidade de ouro. Nossos representantes devem e irão agir de forma democrática e equilibrada, por questões éticas e políticas. Mas o exército das ruas tá com sangue no olho e agonizando de ódio pelo sofrimento que causaram ao nosso país. E essa oportunidade, talvez a única, de dar um pouco de dignidade para o nosso povo sofrido será defendida com unhas e dentes.
- Pédi, não sei o que dizer. Se o senhor não quer diálogo... por que veio para esta roda de conversa? Só pelo prazer de agredir? Ou de discutir? Que tolo. Poxa, o senhor deveria pegar os contos de Machado de Assis, que lhe cairia bem.
Professor ‘pedagogia’ e Pope acrescenta:
- Tenha dó, Pédi! Até parece. Se houver manifestação na rua vocês correm é pro outro lado, isso sim. Exceto, claro, se tiverem em muito maior número ou armados. O único acertado em sua bravata é bater boca; principalmente pela internete. Como o seu tão amado Mitocôndrio cancroso. Que xinga e calunia, mas não parte pra luta. Bater? Nem debater ele tem coragem.
- A pessoa apoia quem xinga os professores, tira médico dos pobres, libera armas para os ricos, diminui o salário mínimo, quer eliminar todos os direitos trabalhistas, além de ansiar por ignorância e pela violência. E nós, os artistas, os professores e os pobres pensantes, é quem somos a destruição não só de uma geração, mas de todo o país e, quiçá, do mundo?
- Foda-se essa oposição fraca de vocês. Dá nada não. Porque a opressão vai rolar solta. Já está rolando. Viva, Ustra! Viva, a democrática ditadura!
Ao redor as crianças continuam a brincar. E não sei o que pensar dos adultos.


Ofereço como presente à aniversariante Juliana Wailer e aos meus mais recentes contatos no fb: Odilón R. Boza e Mila Eduarda.

Recomendo a leitura de:
“Eu + Taquara = Patrono da Feira do Livro”, de Caio Riter:
“Passagem de Peões, Vulgo Passadeiras”, de António MR Martins:

CHOMSKY, Noam. O valor do Sigilo. Segurança para quem? Como Washington protege a si mesmo e ao setor corporativo. Quem Manda no Mundo?. [Trad. Renato Marques]. São Paulo: Planeta, 2017.

¹ Primeira diquinha de Português:
“Auto” e o hífen:
Do segundo elemento, auto se separa por hífen quando aquele começar com “o” ou “h”: auto-observação, auto-oxidante, auto-hipnose, auto-hemoterapia.
Se o segundo elemento iniciar-se com a consoante “s” ou com a consoante “r”, é necessário dobrá-las, mas sem hífen: autorretrato, autosserviço, autossustentável.
Nos demais casos, quando o segundo elemento se inicia por outras consoantes ou vogais, não há hífen e nem, claro, dobra de letras: autoajuda, autobiografia, autocontrole.
Fonte da informação:
SÓ PORTUGUÊS. “Auto” e o hífen. Disponível https://www.soportugues.com.br/secoes/FAQresposta.php?id=105 . Acesso 28 Mar 2019.

² Segunda diquinha de Português
Pronome oblíquo em afirmações negativas.
Existem três modos de posicionar o pronome em uma oração:
Ênclise (O pronome vem depois do verbo; e ela só deveria acontecer quando nem a próclise nem a mesóclise seriam possíveis: Silenciem-se todos); mesóclise (o pronome vem no meio do verbo: Semana que vem realizar-se-á a festa); e, da qual falaremos hoje, a próclise (o pronome vem antes do verbo porque há palavras que o atrai).
O pronome é atraído por palavras de sentido negativo: não, nunca, ninguém, jamais, etc. Reafirmando: na próclise o pronome vem antes do verbo.
Exemplos: Não se esqueça de mim. Ninguém me ama. Jamais nos verá novamente. Nunca te esquecerei.
A próclise ainda ocorre quando há advérbio (Agora se negam a depor); conjunções subordinativas (Sou que me negariam); pronomes relativos (Identificaram duas pessoas que se encontravam desaparecidas.); pronomes indefinidos (Poucos te deram oportunidade); pronomes demonstrativos (Disso me acusaram).
A próclise ocorre ainda em orações iniciadas por palavras interrogativas (Quem te fez a encomenda?). E por orações que exprimem desejo (Que Deus o ajude).
Fonte da informação:
EQUIPE. Colocação Pronominal. Disponível https://www.portugues.com.br/gramatica/colocacao-pronominal-.html Acesso 31 Mar 2019.

* BLOG DA CIDADANIA. Bolsonaro pode perder o cargo se festejar ditadura. Disponível https://www.youtube.com/watch?v=erL5wYE1ULM&feature=share. Ver nos minutos 2:25 a 2:56.

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Nascer do sol em minha varandícula – duas fotos do autor;
Céu de árvores – uma foto do autor
Rubem de chapéu – foto de Vinícius Siman.

Escrito e trabalhado entre 19 de janeiro e 31 de março de 2019.

domingo, 24 de março de 2019

O MITO DE PANDORA



Vencer, vencer, vencer
Este é o nosso ideal.¹

Em português:

Era uma vez em uma terra distante que se chamava Grécia uma linda e curiosa menina de nome Pandora.
Certa manhã, ao passear por um jardim, Pandora se sentou em um banco para admirar o céu, as flores, os pássaros... Enquanto, sentada no banco, se encantava com as com flores de orapronóbis e as demais belezas do mundo, os clássicos deuses apareceram e se sentaram no mesmo banco para dar-lhe um presente.
 
O presente a ser dado era a caixa econômica, digo o brades... Quero dizer o BB. Não, não. Perdão, é que fiquei confuso com tantos bancos existentes naquela praça.
A garotinha ganhou de presente dos deuses uma linda canastra de marfim encrustada de pedras preciosas; arca esta que fora fabricada nos bancos.
Contudo, Pandora jamais poderia abri-la ou coisa terrível e terrorífica, ignóbil e ignorante, fútil e inútil, besta e bosta, anormal, boçal e sem moral seria vomitada do precioso baú.
Pandora era uma menina linda e obediente e assim fez por longos anos. Até que num belo dia ela escutou, vindo de longe e do futuro, mais de cinquenta e sete milhões de vozes das trevas a dizer-lhe:
- Abra a caixa! Para o mito sair...
- Abra o cofre pra jair se acostumando com o futuro...
- Abra a canastra para brincar de fazer arminha com os dedos e ter segurança...
- Abra o baú para estudar em escola sem partido...
- Abra a caixa... Abra a caixa... Abra a caixa... Abra a caaaaixa...
Com tantas vozes em sua cabeça, apesar de não ser esquizofrênica; ensandecida... abriu a caixa.
E... E... E...
Da arca saiu a burrice dos idiotas, a desgraça das catástrofes, a subserviência dos submissos, o flagelo dos trabalhadores, as dificuldades dos idosos, o preconceito dos maus, a misoginia dos machistas, o genocida dos silvícolas, a homofobia dos incubados etc. etc. etc.
A canastra defecou o Boçalnato.
Mas os Orixás e os Deuses indígenas do Brasil, que até então não estavam nessa história, aparecem para nos salvar dos males das quase cinquenta e oito milhões de vozes cristãs que nos deu um presente de grego.
Os Orixás e as Divindades brasileiras falaram para Pandora abrir a caixa outra vez, porém do lado esquerdo e não do direito, pois dessa vez sairia uma estrela do ProeminenteSOL ‘comum à vista’ de todos e ‘social na lista’ de tudo.
E dessa luz vermelha, verde e amarela sairia o que poderia corrigir os males produzidos pelas trevas das mais de cinquenta e sete milhões de vozes de ódio dos ignorantes.



En español:

EL MITO DE PANDORA


Érase una vez, muy lejos de aquí, un país que se llamaba Grecia. Allá vivía una niña de nombre Pandora.
En una linda mañana, al pasear por un jardín, Pandora se sentó en un banco para admirar el cielo, las flores, los pájaros… Mientras desfrutaba de la belleza del “orapronobis” y del mundo sentada en el banco, los clásicos dioses surgieron y se sentaron en el mismo banco para darle un regalo.

El regalo a ser dado era el Banco de la Nación Argentina. Quiero decir, el Banco Central del Uruguay. Digo, es el Banco de la Nación peruana. No, no. Era el Banco Central de Chile. ¡Ay, caray! Me quedé turbado con tantos bancos existentes en aquella plaza.
El regalo de los dioses a la piba era una linda arca de marfil incrustada de piedras preciosas; baúl este fabricado en los bancos.
Sin embargo, Pandora jamás debería abrirlo o cosa terrible y terrorífica, innoble e ignorante, fútil e inútil, bestia y bosta, anormal, bozal y sin moral sería vomitada del precioso cofre.
Pandora era una muchachita guapa y obediente. Por largos años ella apreció la caja sin pensar en abrirla. Pues la tapa era tan bella que bastaba mirarla para sentirse satisfecha. Pero, en un bello día, ella escuchó viniendo de lejos y del futuro, más de cincuenta y siete millones de voces de las tinieblas a decirle:
- ¡Abra la caja! Para el mito salir…
- Abra el cofre para ya irse acostumbrando con el futuro…
- Abra el baúl para jugar de hacer armas con los deditos y tener seguridad…
- Abra el arca para estudiar en escuela sin partido…
- Abra la caja… Abra la caja… Abra la caja… Abra la caaaaaja…
Con tantas voces en su cabeza, a pesar de no ser esquizofrénica; ensandecida… abrió la caja.
Y… Y… Y…
Del arca salió la idiotez de los imbéciles, la desgracia de las catástrofes, el servilismo de los sumisos, el flagelo de los obreros, la miseria de los ancianos, el prejuicio de los malos, la misoginia de los machistas, el genocida de los indios, la homofobia de los armarios etc. etc. etc.
El baúl defecó el Bozalnato.
Pero los Orixás y los Dioses indígenas de Latinoamérica, que hasta entonces no estaban en esta historia, surgieron para salvarnos de los males de las casi cincuenta y ocho millones de voces cristianas que nos dieron un regalo de griego.
Los Orixás y las Deidades indígenas hablaron para Pandora abrir el arca otra vez, pero del lado izquierdo y no del derecho, pues de esa vez saldría una estrella ‘común a la vista’ de todos y ‘social en la lista’ del todo.
Y de esa luz de los colores de los pueblos de Latinoamérica saldría lo que podría corregir los males producidos por las tinieblas de los más de cincuenta y siete millones de voces del odio de los ignorantes.


Ofereço como presente de aniversário:
Diony Stefano, Girvany de Morais e João F. Alcino.

Recomendo a leitura de:
“Quase 40, Quase Proibido”, de Flávia Frazão:
“Manifesto”, de Girvany de Morais:
“Macau”, de António MR Martins:
“No Quiero Perder mi Voz de Creador”, de Gianmarco F. Cerdán:

Louvo Nossa Senhora pela Sua Anunciação e a louvo pelos cento e onze anos do amado Clube Atlético Mineiro.
Parabenizo ao SouthAmerica Galão Sag.

¹ Idolatrado pela torcida, o Hino ao Clube Atlético Mineiro é o mais cantado em estádios no Brasil. Ele foi escrito e composto por Vicente Motta, em 1969. Natural de Montes Claros, Vicente era famoso por sua voz que embalava boates na noite belo-horizontina. Com eventos-chave escolhidos pela diretoria para serem exaltados – os títulos “Campeão do Gelo” e “Campeão dos Campeões” – Mota pôs-se a pensar no que poderia agradar tanto a diretoria quanto a massa atleticana. Pensou em uma composição que se identificasse com a massa e chegou à primeira frase. Daí em adiante, deixou suas emoções como um autêntico torcedor alvinegro falar mais alto. O resultado foi um sucesso impensável para um hino futebolístico. O hino do Galo vendeu milhares de cópias no Brasil e no Mundo além de ficar por várias semanas nas paradas de sucesso musicais. Foi agraciado com vários prêmios. O mais importante deles veio em 1976, em Nápoles, na Itália. Houve um concurso mundial de hinos de clubes de futebol e o do Galo foi o vencedor, tornando-se o mais belo hino de um clube de futebol do mundo.

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Flores de Lobrobró – duas foto do autor. (Lobrobró = orapronóbis).
Rubem de chapéu – foto de Vinícius Siman.

Escrito e trabalhado entre 20 e 24 de março de 2019.

domingo, 17 de março de 2019

FOLHAS DE OITIS FORRAM O CAMINHO



Com quantos quilos de medo se faz uma tradição?
Senhor Cidadão, de Tom Zé.

A melhor pessoa deita comigo.
Saí de casa e me encontrei.
Olhos Tristes, de Gabriel Miguel.

O sol mal deu as caras e me obriguei a levantar pra ir ao banheiro e depois fazer café que tomei comendo pão de ontem. Saí sem fome e sem vigor. As casas de minha rua podem ser bonitas. Talvez não mansões. Com certeza não mansões. Há rebocadas, há pintadas. Tem uma com pálida tinta verde. As ruas vizinhas têm casas pintadas tipo a minha.
Saí ao Posto de Saúde no bairro vizinho e estava de férias. No dia seguinte fui à Unidade de Saúde de outro bairro e a consulta seria para daqui a vinte dias. Melhor seria esperar o fim das férias. Mas não tive vigor pra ir. Quando pude, estava fechado; pra sempre. Voltei pra casa. Dia seguinte minha energia estava fraca. Pensando: Pra ir não precisa pensar em ir ou querer ir; basta ir. Levantar sem pensar ou desejar; basta levantar e ir. Força? Não espere força. Vá. Meu Deus, como pode ser tão difícil? No posto de saúde aguardei na fila lendo Jessé Souza e Noam Chomsky. O portão se abriu. Entramos. Sentei. A funcionária: “Toda quinta-feira o atendimento é só pra gestante. Não marcamos consulta em hipótese nenhuma; exceto em casos de emergência e mesmo assim só depois da última grávida ter sido atendida”. Sem ânimo sequer para chorar, levantei e voltei pra casa.
Na entrada do bairro sentei no meio fio, debaixo de uma árvore. Os ruídos do trânsito, das pessoas, dos rádios não ouvi. Mas havia ararinhas verdes na árvore e a elas escutei me exaltando a levantar e ir.

A igreja católica de meu bairro é consagrada a Nossa Senhora dos Bons Costumes. Lá o padre me diz com voz lenta, morna:
- Por Nossa Senhora! A falta de pagar o Dízimo é o egoísmo que nos afasta de Deus.
- Não pode ser realidade que é o dinheiro que nos aproxima de Deus.
- Jesus, Maria e José! Não é o dinheiro, filho. É a doação do amor...
- Eu dou amor a quem encontro.
- Virgem Maria! É pouco. Tem que dá dinheiro ou vai para o purgatório.
Na rua olhei o céu. Moedas tilintavam no interior da Casa Paroquial. Que santa música saía pela janela às ruas do bairro. Da arvore bem-te-vis me consolam.
Em um muro, a propaganda da Funerária Nova Aliança diz: “Velório Online”. Ah! A modernidade em seus avanços tecnológicos. Nem se precisa mais sair de casa para velar o insigne partinte e confortar a cada insigne ficante.
O pastor da ‘Igreja Assembleia de Deus é Amor Universal da Maranata dos Batistas’ declara com voz gritante, falsamente calorosa:
- Amém, Jesus! O não pagar o Dízimo é a falta de fé que nos afasta de Deus.
- Por que só quem paga tem fé?
- Ô, glória! A fé exige entrega...
- Mas fé não se compra nem se paga...
- Aleluia! Ou paga o dízimo ou vai para o inferno.
Na rua olhei o céu. Moedas tilintavam no interior da secretaria da igreja. Que angélica música saía pela janela às ruas do bairro. Da árvore bem-te-vis me consolam enquanto os oitis na rua deixam suas folhas conhecerem o asfalto e as calçadas dando cores verde, amarela e marrom ao cinza dos chãos das ruas.

Em casa minha mãe disse:
- Vá trabalhá, fi. Isso de livros é só pra escola. E... E já chega distudá. Tá véi pra isso.
Varri o quintal sem ela precisar mandar.
No banheiro mijei e lavei as mãos.
No meu quarto brinquei alguns minutos com minha mão direita. Quando relaxado, dormi um pouco. Acordei, peguei um livro e deitei tranquilo. Ao fim da tarde tomei meu banho pra escola.
Após as aulas fui com três colegas à pracinha do bairro. Cada qual se encontrou com sua garota sem mais ouvirmos uns aos outros. Só beijos e mãos.
Voltando a casa deitei comigo e com Caio Fernando Abreu.
Sorri a pensar em seiva. Dormi... Seiva branca, quente.
O sol brilhava fora da janela e eu só olhava a luz crescendo no quintal. Até que não pude mais. Então: Levantar; banheiro; café; alimentar-me.
- Vai procurá sirvíçu, meu fi. Estudá num é procê.
Varri o quintal, lavei banheiro, fui ao quarto estudar.
Almoçando:
- Vai procurá sirvíçu. Seja hômi.
Saí a procurar serviço. Não encontrei.
Em casa tomei banho pra escola.

No recreio:
GTM matou LHC e se matou. Em idade, o menor matou o maior. Mas antes mataram e feriram, a tiros e machadadas, alunos e funcionários. E nenhuma escola pública do Brasil está segura; fruto da imitação brasileira aos Estados Unidos.
Os nomes dos assassinos não merecem ficar na história, mas Silmara Morais é digna. Ela e uma colega, ambas encarregadas da merenda, abrigaram na cantina meio cento de alunos e fizeram barricada na porta com o frízer. Em outro lugar das escolas uma professora fez barricada com o próprio corpo na porta de sua sala; salvando a si e a sua turma.  Há também a adolescente Rhyllary Barbosa, faixa branca em jiu-jitsu. Superando o medo lutou contra LHC e conseguiu abrir um portão para ela e outros alunos escaparem.

Agora estou deitado olhando o céu com nuvens claras e escuras. Ao meu lado, com a mão esquerda debaixo do meu pescoço e acariciando meus cabelos com a outra mão, está a melhor companhia e ela me incentiva a levantar para acompanhá-la.
Olho minhas mãos e vejo minha seiva... Sorrio. Uma seiva diferente dá que estou acostumado a tirar no meu quarto.
Ouço ararinhas me chamando de longe. Não, não são histriônicas. Barulhentas, mas harmônicas. Pela primeira vez em muito tempo não me sinto desanimado ou ansioso. Confortável é como me sinto.
Eu e ela nos levantamos. A acompanho escutando ararinhas e bem-te-vis. Vejo folhas dos oitis forrarem meu caminho de verde, amarelo e marrom.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Jeferson Adriano, Rafah Strobino, Maria Cloenes e Aléxia Silva.

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Amanhecer na rua Uberaba – foto do autor.
Rubem de chapéu – foto de Vinícius Siman.

Manuscrito na tarde do dia dez e trabalhado entre os dias 15 e 17. Tudo em março de 2019.

domingo, 10 de março de 2019

O SILÊNCIO É UMA NUVEM NO CÉU



Não sozinho em sua casa como queria, mas próximo, vai ao Feirarte. Bebe uma cerveja artesanal pee wee da Off Road. Delícia! Recomendo. Depois, no quiosque do Marcelo, bebe água mineral com gás entre um gole e outro do coquetel de tequila com seriguela. Érico¹ diz:
- “Tenho medo que o senhor atire sua vassoura para um canto e não varra a casa.”.
- Não sou Jânio Quadros.
- Mas fará algo para limpar-se?
- Não sei... Acho... Não sei... Estou tentando. Ao menos espero não estar me enganando.
- Nem isso você sabe?
- Sei o que não sei. Sinto pelo que não sinto...
- Mais outra fala sem sentido.
- Uai! Então dê sentido a ela. 

Noam² diz rindo sério:
- Seu “desprezo pela opinião pública é, claro, bastante normal.”. O mundo e os povos refletem a cabeça de uns poucos, muitos poucos. Achamos que temos livre arbítrio, mas liberdade? Há real liberdade? Você a quer, mas cada qual é o feitor do outro. Sem querer nos tornamos capitão do mato do próximo para que este não tenha sequer controle parcial de si. E você faz o mesmo com todos os outros. As pessoas, sempre crendo-se sábia, distribuem lindas gaiolas douradas.
Para não ouvi-los fecha os olhos. Mas ouve a si mesmo:
Está só porque ninguém o quer ou por que quer?
Teme continuar os pensamentos, porém continua a escutar-se. Não há ninguém pior que a si mesmo para escutar. Esforça em ensurdecer a si mesmo com outro gole de coquetel. Mas agora é um grito. E chora.
Abre os olhos para ver as árvores. Seus olhos se embriagam de verde e das cores das flores. Mas há gente e sente ressaca de pessoas.
- Tira suas mãos de mim. – Grita dentro de si e o ele ri dele. – Domino-te segurando-o ou não. Você é o seu inferno.
- Que fiz de mal?
- Você pensa, raciocina, filosofa. Você olha ao redor e vê desigualdades, políticas, violências. Você não é cego; não é pedra. Você não é formiga, é cigarra literária. Você é professor, é escritor e por isso é maldito. Dez vezes maldito. Você está só... É só! E não é possível ser feliz sozinho porque o outro é o alucinógeno supremo.
Para abafar o grito:
- Marcelo, um com saquê, por favor!
Enquanto espera, conversa outra vez com seus livros; ainda sem saber se vai escutar-se ou só continuará a ouvir-se, já que o silêncio é uma nuvem distante no céu.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Eunice Profeta, Jacomar A. Braulio, Lene Teixeira, Gustavo Fernandes e Camila Vaz.

Recomendo a leitura de “Sobre a Romantização das Dores”, de Josué da Silva Brito:

Diquinhas de português:
Os porquês: Para perguntar: por que; / para responder: porque; / para perguntas no fim de frase: por quê; / como substantivo: (o) porquê.

O garoto teria acertado desde o princípio os ‘porquês’ se estivessem assim: quadrinho 1: Porque sim (é uma resposta); quadrinho 2: Por que não? (é uma pergunta).
Vamos detalhar um pouco mais.
Por que = separado e sem acento é usado em frases interrogativas diretas ou indiretas. Ex.: “Por que isto é tão caro?” (pergunta direta; exige o ponto de interrogação); “Queria saber por que você não me telefona mais.” (Percebe-se que apesar de ser uma espécie de interrogação, o ponto de interrogação não cabe aqui).
Quando tem o sentido de ‘por qual’ ou ‘pelo qual’ por está no meio de uma frase. Ex.: “O local por que passei é muito bonito.” (O local por qual passei é muito bonito); “Não sei o motivo por que as pessoas têm dúvidas.” (Não sei o motivo pelo qual as pessoas têm dúvidas).
Porquê = tem o sentido de substantivo e significa ‘motivo’ ou ‘razão’ e sempre aparece precedido de artigo, pronome, adjetivo ou numeral para explicar o motivo de algo dentro da frase. Ex.: “Queria entender o porquê de isto está acontecendo.”; “Não foi explicado o porquê de tanto barulho na noite de ontem.”.
Por quê = é usado sempre no final de frase interrogativa direta ou de maneira isolada. Ex.: “O almoço não foi servido por quê?”; “Andar a pé, por quê?”; “Não vai errar mais? Por quê?”.
Porque = é uma conjunção subordinativa causal ou coordenativa explicativa. E pode ser substituído por: ‘pois’, ‘para que’, ‘uma vez que’. Ex.: “Não fui à escola ontem porque fiquei doente.”; “Leve o casaco porque está frio.”.
DIANA, Daniela. Uso do por que, porquê, por quê e porque. Disponível https://www.todamateria.com.br/uso-do-por-que-porque-por-que-e-porque/ . Acesso 06 Mar 2019.


¹ VERÍSSIMO, Érico. Incidente em Antares. 3ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. P. 112.
² CHOMSKY, Noam. Quem Manda no Mundo?. Renato Marques (trad.). São Paulo: Planeta, 2017. P. 137-138.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
 Imagens:
Beber os livros – foto do autor.
Rubem dando bandeira – foto de Vinícius Siman.

Manuscrito na tarde de 10 de fevereiro de 2019; digitado na manhã seguinte e trabalhado entre os dias 05 e 10 de março do mesmo ano.

domingo, 3 de março de 2019

E AGEM



Vai ao Parque Ipanema com Jessé e Noam.
Atrás deles a calçada de bloquete cinza está salpicada de flores róseas. À direita, o som do trânsito e, acima, pássaros.
Pessoas em grupos pouco ou nada falam. Ainda são sete horas de uma manhã de sexta-feira a iniciar o fim do primeiro trimestre. As pessoas estão silenciosas em boca e cérebro. As pessoas estão entorpecidas pela hora e pelo tempo.
Eles, ali sentados em um banco de cimento com uma descascada tartaruga pintada, olham ao redor para ver as pessoas, ouvem os pássaros para escutar as pessoas e mantêm-se em silêncio enquanto dialogam com os próprios cérebros.
Jessé abre mão de sua quietude para compartilhar ideias sobre os conflitos de classes do Brasil Moderno¹.
- Comumente as classes sociais são vistas como condições econômicas; sendo que, em verdade, é o poder de dominação de uns sobre outros que separam os seres humanos em classes. O poder econômico e a corrupção são apenas disfarces desse fato.
Noam² aquiesce com a cabeça e acrescenta:
- Esses ‘uns dominando os demais’ partem do conceito dogmático de “tudo para nós e nada para os outros”.
Já são oito da manhã e agora as pessoas matraqueiam. Enquanto os três conservam o silêncio para pensar. Após alguns minutos Jessé conclui seu raciocínio:
- Percepção de classes sociais só é possível ao mudar a visão de poder econômico por dominação; e só assim será possível lutar contra as desigualdades sociais. Não é o dinheiro e sim o poder de dominação que nos separa em classes.
- Não digo, e creio que Jessé também não,      que algum dia todos terão as mesmas coisas, como se fosse uniformizado. – Ele contribui. – Creio que bem estar social será para todos; mesmo que os recursos financeiros sejam distintos, de acordo com o esforço pessoal, as habilidades e aptidões de cada um. Todos nascem iguais, mas as escolhas são diferentes, resultando coisas distintas³; mas sem o egoísmo, pai da miséria.
- É... But, from the looks of it*, esse “algum dia” vai demorar bastante. – Diz Noam e antes de continuar dá outra pausa para os pensamentos fluírem. – Quando a classe operária se une através da solidariedade e do auxílio mútuo a classe dominante a derruba através da violência. Mas a classe operária se levanta outra vez mais. Os dominantes, por sua vez, apelam para incutir tanto na mente coletiva quanto na opinião pública o seu dogma através das escolas, ainda mais através das mídias e, muito mais, através das igrejas. E outra vez a classe operária se reergue...
O chão continua enfeitando-se através de chuvas de flores. Enquanto correm pelo parque as pessoas muito falam e ouvem. Enquanto correm por Ipatinga as pessoas pouco escutam e dizem.
Em quase duas horas os três pouco falam, escutam muito e pensam. Ah! O tanto que pensam.


Ofereço como presente à aniversariante Elmina Ferreira.
Ofereço também à Ronnaldo Andrade e Cassia Tavora.

Recomendo a leitura de:
“Uma Criança Morre”, de Caio Riter:
“Curriculum Vitae”, de António MR Martins:

¹ SOUZA, Jessé. A Elite do Atraso: da escravidão à Lava Jato. Rio de Janeiro: Leya, 2017. P. 84.
² CHOMSKY, Noam. Nada Para os Outros: lutas de classes nos Estados Unidos da américa. Quem Manda no Mundo?. Renato Marques [trad.]. São Paulo: Planeta, 2017.
³ AMIGOS DA LUZ. Desigualdade Social (Humor e Espiritismo). Disponível https://www.youtube.com/watch?v=wIZtMxg2pYI . Acesso 03 Mar 2019.
* “Mas, pelo que parece” é a tradução literal, mas tem sentido equivalente ao brasileiro ‘pelo andar da carruagem...’.

Dizer = proferir, pronunciar, afirmar, asseverar, significar.
Falar = comentar.
Escutar = prestar atenção (ao que ouve).
Ouvir = ter o sentido da audição,

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Chão de flores: foto de Vinícius Siman.
Foto de um texto de Girvany de Morais.

Escrito entre os dias 01 e 03 de março de 2019.