domingo, 10 de março de 2019

O SILÊNCIO É UMA NUVEM NO CÉU



Não sozinho em sua casa como queria, mas próximo, vai ao Feirarte. Bebe uma cerveja artesanal pee wee da Off Road. Delícia! Recomendo. Depois, no quiosque do Marcelo, bebe água mineral com gás entre um gole e outro do coquetel de tequila com seriguela. Érico¹ diz:
- “Tenho medo que o senhor atire sua vassoura para um canto e não varra a casa.”.
- Não sou Jânio Quadros.
- Mas fará algo para limpar-se?
- Não sei... Acho... Não sei... Estou tentando. Ao menos espero não estar me enganando.
- Nem isso você sabe?
- Sei o que não sei. Sinto pelo que não sinto...
- Mais outra fala sem sentido.
- Uai! Então dê sentido a ela. 

Noam² diz rindo sério:
- Seu “desprezo pela opinião pública é, claro, bastante normal.”. O mundo e os povos refletem a cabeça de uns poucos, muitos poucos. Achamos que temos livre arbítrio, mas liberdade? Há real liberdade? Você a quer, mas cada qual é o feitor do outro. Sem querer nos tornamos capitão do mato do próximo para que este não tenha sequer controle parcial de si. E você faz o mesmo com todos os outros. As pessoas, sempre crendo-se sábia, distribuem lindas gaiolas douradas.
Para não ouvi-los fecha os olhos. Mas ouve a si mesmo:
Está só porque ninguém o quer ou por que quer?
Teme continuar os pensamentos, porém continua a escutar-se. Não há ninguém pior que a si mesmo para escutar. Esforça em ensurdecer a si mesmo com outro gole de coquetel. Mas agora é um grito. E chora.
Abre os olhos para ver as árvores. Seus olhos se embriagam de verde e das cores das flores. Mas há gente e sente ressaca de pessoas.
- Tira suas mãos de mim. – Grita dentro de si e o ele ri dele. – Domino-te segurando-o ou não. Você é o seu inferno.
- Que fiz de mal?
- Você pensa, raciocina, filosofa. Você olha ao redor e vê desigualdades, políticas, violências. Você não é cego; não é pedra. Você não é formiga, é cigarra literária. Você é professor, é escritor e por isso é maldito. Dez vezes maldito. Você está só... É só! E não é possível ser feliz sozinho porque o outro é o alucinógeno supremo.
Para abafar o grito:
- Marcelo, um com saquê, por favor!
Enquanto espera, conversa outra vez com seus livros; ainda sem saber se vai escutar-se ou só continuará a ouvir-se, já que o silêncio é uma nuvem distante no céu.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Eunice Profeta, Jacomar A. Braulio, Lene Teixeira, Gustavo Fernandes e Camila Vaz.

Recomendo a leitura de “Sobre a Romantização das Dores”, de Josué da Silva Brito:

Diquinhas de português:
Os porquês: Para perguntar: por que; / para responder: porque; / para perguntas no fim de frase: por quê; / como substantivo: (o) porquê.

O garoto teria acertado desde o princípio os ‘porquês’ se estivessem assim: quadrinho 1: Porque sim (é uma resposta); quadrinho 2: Por que não? (é uma pergunta).
Vamos detalhar um pouco mais.
Por que = separado e sem acento é usado em frases interrogativas diretas ou indiretas. Ex.: “Por que isto é tão caro?” (pergunta direta; exige o ponto de interrogação); “Queria saber por que você não me telefona mais.” (Percebe-se que apesar de ser uma espécie de interrogação, o ponto de interrogação não cabe aqui).
Quando tem o sentido de ‘por qual’ ou ‘pelo qual’ por está no meio de uma frase. Ex.: “O local por que passei é muito bonito.” (O local por qual passei é muito bonito); “Não sei o motivo por que as pessoas têm dúvidas.” (Não sei o motivo pelo qual as pessoas têm dúvidas).
Porquê = tem o sentido de substantivo e significa ‘motivo’ ou ‘razão’ e sempre aparece precedido de artigo, pronome, adjetivo ou numeral para explicar o motivo de algo dentro da frase. Ex.: “Queria entender o porquê de isto está acontecendo.”; “Não foi explicado o porquê de tanto barulho na noite de ontem.”.
Por quê = é usado sempre no final de frase interrogativa direta ou de maneira isolada. Ex.: “O almoço não foi servido por quê?”; “Andar a pé, por quê?”; “Não vai errar mais? Por quê?”.
Porque = é uma conjunção subordinativa causal ou coordenativa explicativa. E pode ser substituído por: ‘pois’, ‘para que’, ‘uma vez que’. Ex.: “Não fui à escola ontem porque fiquei doente.”; “Leve o casaco porque está frio.”.
DIANA, Daniela. Uso do por que, porquê, por quê e porque. Disponível https://www.todamateria.com.br/uso-do-por-que-porque-por-que-e-porque/ . Acesso 06 Mar 2019.


¹ VERÍSSIMO, Érico. Incidente em Antares. 3ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. P. 112.
² CHOMSKY, Noam. Quem Manda no Mundo?. Renato Marques (trad.). São Paulo: Planeta, 2017. P. 137-138.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
 Imagens:
Beber os livros – foto do autor.
Rubem dando bandeira – foto de Vinícius Siman.

Manuscrito na tarde de 10 de fevereiro de 2019; digitado na manhã seguinte e trabalhado entre os dias 05 e 10 de março do mesmo ano.

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