Não sozinho em sua casa como queria, mas próximo, vai
ao Feirarte. Bebe uma cerveja artesanal pee wee da Off Road. Delícia! Recomendo.
Depois, no quiosque do Marcelo, bebe água mineral com gás entre um gole e outro
do coquetel de tequila com seriguela. Érico¹ diz:
- “Tenho medo que o senhor atire sua vassoura para um
canto e não varra a casa.”.
- Não sou Jânio Quadros.
- Mas fará algo para limpar-se?
- Não sei... Acho... Não sei... Estou tentando. Ao
menos espero não estar me enganando.
- Nem isso você sabe?
- Sei o que não sei. Sinto pelo que não sinto...
- Mais outra fala sem sentido.
- Uai! Então dê sentido a ela.
Noam² diz rindo sério:
- Seu “desprezo pela opinião pública é, claro,
bastante normal.”. O mundo e os povos refletem a cabeça de uns poucos, muitos
poucos. Achamos que temos livre arbítrio, mas liberdade? Há real liberdade? Você
a quer, mas cada qual é o feitor do outro. Sem querer nos tornamos capitão do
mato do próximo para que este não tenha sequer controle parcial de si. E você
faz o mesmo com todos os outros. As pessoas, sempre crendo-se sábia, distribuem
lindas gaiolas douradas.
Para não ouvi-los fecha os olhos. Mas ouve a si
mesmo:
Está só porque ninguém o quer ou por que quer?
Teme continuar os pensamentos, porém continua a
escutar-se. Não há ninguém pior que a si mesmo para escutar. Esforça em ensurdecer
a si mesmo com outro gole de coquetel. Mas agora é um grito. E chora.
Abre os olhos para ver as árvores. Seus olhos se
embriagam de verde e das cores das flores. Mas há gente e sente ressaca de
pessoas.
- Tira suas mãos de mim. – Grita dentro de si e o ele
ri dele. – Domino-te segurando-o ou não. Você é o seu inferno.
- Que fiz de mal?
- Você pensa, raciocina, filosofa. Você olha ao redor
e vê desigualdades, políticas, violências. Você não é cego; não é pedra. Você
não é formiga, é cigarra literária. Você é professor, é escritor e por isso é
maldito. Dez vezes maldito. Você está só... É só! E não é possível ser feliz
sozinho porque o outro é o alucinógeno supremo.
Para abafar o grito:
- Marcelo, um com saquê, por favor!
Enquanto espera, conversa outra vez com seus livros;
ainda sem saber se vai escutar-se ou só continuará a ouvir-se, já que o silêncio
é uma nuvem distante no céu.
Ofereço como presente aos aniversariantes:
Eunice Profeta, Jacomar A. Braulio, Lene Teixeira, Gustavo Fernandes e
Camila Vaz.
Recomendo a leitura de “Sobre a Romantização das Dores”, de Josué da
Silva Brito:
Diquinhas de português:
Os porquês: Para perguntar: por que; / para responder: porque;
/ para perguntas no fim de frase: por quê; / como substantivo: (o) porquê.
O garoto teria acertado desde o princípio os ‘porquês’ se estivessem
assim: quadrinho 1: Porque sim (é uma resposta); quadrinho 2: Por que não? (é
uma pergunta).
Vamos detalhar um pouco mais.
Por que = separado e sem
acento é usado em frases interrogativas diretas ou indiretas. Ex.: “Por que
isto é tão caro?” (pergunta direta; exige o ponto de interrogação); “Queria
saber por que você não me telefona mais.” (Percebe-se que apesar de ser uma
espécie de interrogação, o ponto de interrogação não cabe aqui).
Quando tem o sentido de ‘por qual’ ou ‘pelo qual’ por está no meio de
uma frase. Ex.: “O local por que passei é muito bonito.” (O local por qual
passei é muito bonito); “Não sei o motivo por que as pessoas têm dúvidas.” (Não
sei o motivo pelo qual as pessoas têm dúvidas).
Porquê = tem o sentido de
substantivo e significa ‘motivo’ ou ‘razão’ e sempre aparece precedido de
artigo, pronome, adjetivo ou numeral para explicar o motivo de algo dentro da
frase. Ex.: “Queria entender o porquê de isto está acontecendo.”; “Não foi
explicado o porquê de tanto barulho na noite de ontem.”.
Por quê = é usado sempre no
final de frase interrogativa direta ou de maneira isolada. Ex.: “O almoço não
foi servido por quê?”; “Andar a pé, por quê?”; “Não vai errar mais? Por quê?”.
Porque = é uma conjunção
subordinativa causal ou coordenativa explicativa. E pode ser substituído por:
‘pois’, ‘para que’, ‘uma vez que’. Ex.: “Não fui à escola ontem porque fiquei
doente.”; “Leve o casaco porque está frio.”.
DIANA, Daniela. Uso do por que,
porquê, por quê e porque. Disponível https://www.todamateria.com.br/uso-do-por-que-porque-por-que-e-porque/
. Acesso 06 Mar 2019.
¹ VERÍSSIMO, Érico. Incidente
em Antares. 3ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2005. P. 112.
² CHOMSKY, Noam. Quem Manda no
Mundo?. Renato Marques (trad.). São Paulo: Planeta, 2017. P. 137-138.
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste
seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É
professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em
Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua
Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”,
“Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos
“Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua
Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como
é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura
de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal
de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Beber os livros – foto do autor.
Rubem dando bandeira – foto de Vinícius Siman.
Manuscrito na tarde de 10 de fevereiro de 2019; digitado na manhã
seguinte e trabalhado entre os dias 05 e 10 de março do mesmo ano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário