quarta-feira, 31 de março de 2010

DOMINGO DE RAMOS

Rubem Leite – 31 de março de 2010

Libar:

- Benito, você é um vampiro! Ele é ou não é um bandido?

Silêncio no salão.

- Em gente! Ele tem ou não tem roubado a energia de todos?

Silêncio no salão. Constrangimento no pessoal.

- Não faz o que mando. Não entende o que quero

Um lampejo ou início de compreensão do que Márcio quer dizer.

- E no que isso resulta? Atrapalhando o desempenho de todos.


Antes:

- Péri! Gostaria de fazer parte do Garrafas Noturnas.

- Por mim, tudo bem, mas temos ver se os demais concordam.

- Tenho certeza que poderei contribuir bastante para o Grupo.

No Grupo:

- Benito, como você pode contribuir com o Grupo Teatral Garrafas Noturnas?

- Vocês sabem que estou com vocês desde a fundação do grupo. Inclusive participei da escolha do nome.

- E já vimos, pessoal, que ele sempre tem contribuído com o Garrafas.

Com a concordância de todos. Tornei-me membro.

- Estamos contente com o modo de você cuidar do som da peça Animais Históricos. – Falam todos.


Voltando ao Libar:

Silêncio no salão. Constrangimento no pessoal. Dor em mim.

- Ele é um vampiro! – Volta a afirmar Libar.

- É! Temos que concordar que ele não tem dado conta das oficinas. – Diz Crau.

- Ele é ou não é um bandido? – Volta a perguntar Libar.

- Nem aplaudiu a entrada do professor no primeiro dia. – Diz Tora.

- Benito é um vampiro que só tem prejudicado o grupo e não contribuído com nada. – Rejubila Libar. – È ou não é verdade, Péri?

- Não é não! – Fala fraquinho, sem graça, Péri.

- Ele não é gente ruim, perniciosa?

- Não! Benito é gente boa. – Responde firme.

- Você me diz, nos diz que ele fez tudo do modo que eu queria? Que acertou tudo? Que deu conta do recado?

- Ah! Isso não tenho como confirmar.

- Então está dito. Benito é monstro que só atrapalha o Garrafas Noturnas.


Digo várias vezes que dentre as datas comemorativas cristãs católicas a que acho mais triste é o Domingo de Ramos que, em 2010, aconteceu dia 28 de março.


sábado, 27 de março de 2010

Três coisas

Olá, muito obrigado!
1º)

2º) Convido a votar na cantora Ana Cristina - ela é ótima - e passe adiante: http://anacristina.conexaovivo.com.br/ - ela é nota dez.
3º) Viva o Teatro. Viiivaaaaaa! Viva as artes! Viiiiivaaaaaaaa!

quinta-feira, 25 de março de 2010

102

Rubem Leite

25 de março de 2010

Escrevo ouvindo as músicas e o Hino Sagrado Hino Nacional

do Clube Atlético Mineiro.


Good afternoon, Maria! Se Gabriel aparecesse hoje seria assim que ele cumprimentaria a latino-americana, ou africana ou iraniana ou... “Meuria”? Pensemos! A Maria original pertencia a uma nação dominada por uma outra mais rica, poderosa e, portanto, “mais importante”. E na oração comum aos católicos – que é uma religião linda, diga-se de passagem – é dito “Ave Maria”, saudação latina e não judaica. Vou dar uma pausa para dar uma olhada nas traduções oficiais em minhas Bíblias para essa expressão. Com licença. Volto agorinha. Voltei. Na Bíblia Protestante está escrito assim “Salve, cheia de graça” e nas Católicas, “Alegre-se, cheia de graça” e “Deus te salde, cheia de graça”. Penso – É! Vez ou outra faço isso, pensar. Uarrarrá! – que é um elogio aos dominantes talvez ensinando aos dominados a pensarem que é a dominação é vontade de Deus. Alguns anos atrás, não muito após a invasão estadosunidenses ao Iraque, foi noticiado meio ás surdas que a cúpula queria converter os dominados ao cristianismo para depois de destruídos e, uma vez salvos, serem escravos celestiais do cristão de origem. Pois se morressem sem conversão iriam para o inferno. O que seria prejuízo. Afinal, já que eles deveriam morrer que morressem para nos servir lá. Acha que estou exagerando ou inventando? Acha? Infelizmente não. Foi divulgado em revistas como Veja, Isto é e outras. Mas não pense que a Rede Globo falou algo. Não!

Não sou católico, mas respeito tão bela religião (mesmo que seus Líderes não sejam lá muito “belos”). Não sou nem cristão... (Tenho muito amor a Cristo para ser um...) Entenda como quiser. Mas gosto de Maria e adoro Cristo. Então em singela homenagem a Eles digo: Alegre-se, cheia de graça, pois Deus te salda.

Peço que não pensem que estou zombando de alguma religião. Não tenho dúvida que toda e qualquer religião mereça e respeito. Se critico, é dos que as representam e sonho com o dia que um religioso seja realmente fiel ao Ensinamento de seu credo. O mesmo digo de toda e qualquer nação. Se critico, é seus líderes. O povo é sempre importante.

E por falar em religiões... Como já disse Roberto Drummond “Que mistério tem o Atlético que a gente o confunde com uma religião?”. A camisa e a bandeira alvinegra só não tem um odor, o de guardado. Haja o que houver somos e não estamos Atleticanos. Branco e negro. Dois povos que se uniram numa camisa sem rejeitar os nativos dizendo “temos ‘sangue azul’ portanto fora brasileiro” e depois muda de nome e de falácias. Nem reclamamos caluniando as uvas de verdes. Nós somos e não estamos Atleticanos. É como eu já disse antes no blog aRTISTA e aRTEIRO temos o dna CAM. Somos um “partido político, o PCAM”. Quem criou o Clube Atlético Mineiro: empresários? Senhores respeitáveis? Não! Foram adolescentes. Foi a inocência casada com o vigor que deu origem ao mais que partido, mais que empresa, mais que religião. Na década de 60 os jovens mostraram sua força e seu amor combatendo a ditadura. Penso – disse acima que às vezes eu também penso e digo agora que sempre sinto – que os jovens dos anos 60 e 70 refletiam os ideais de 1908. E bravamente lutaram. Muitas vezes com dor e lágrimas, mas sempre com amor. Os jovens da ditadura e os jovens atleticanos sempre lutam. E “vencer, vencer, vencer este é o nosso ideal”.


E viva o GAAAAALOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!


terça-feira, 23 de março de 2010

A LEBRE E A TARTARUGA

Rubem Leite

23-3-10

Ofereço ao meu sobrinho neto

Rafael A.L. Macedo


Era uma vez uma lebre muito veloz e uma tartaruga muito lenta, mesmo para uma tartaruga. Um dia a lebre falou: “Tartaruga, vamos apostar corrida para ver que ganha”? E a tartaruga concordou. Antes ela teria recusado, mas o sapo, seu vizinho, leu uma revista Mundo Ideal. Gostou tanto que fez cota de Revistas e deu um exemplar para cada vizinho. Lendo-a a tartaruga começou a entender que era filhote de Deus e foi eliminando os complexos de inferioridade, ou seja, as crenças de que não tinha capacidade e manifestaria os seis atributos divinos: Sabedoria, Amor, Vida, Provisão, Alegria e Harmonia. E assim ela fez. Passando a registrar também apenas as horas que o Sol brilha. No dia da corrida os animais estavam divididos, metade acreditava na lebre e metade, sabia que a tartaruga daria conta de vencer porque a conheciam e contemplavam sua Imagem Verdadeira. E a corrida começou. Era uma volta em torno da lagoa grande. E a lebre – zuuum – saiu na frente. E a lebre estava vencendo. E a lebre vendo a tartaruga lá em baixo, longe, se deixou levar pelo ego “Sou a melhor. Sou eu que realizo minhas obras” e foi dormir debaixo de uma sombra gostosa do ipê amarelo. Enquanto isso a tartaruga mentalizava “Eu vivo não pela minha própria força, mas pela Vida de Deus-Pai que permeia os Céus e a Terra”. Quando foi chegando perto da lebre que dormia a poucos passos da linha de chegada ela se lembrou da terceira estrofe de uma oração que aprendeu chamada Canto Evocativo de Deus “As minhas obras não sou eu quem as realiza, mas a Força de Deus-Pai que permeia os Céus e a Terra”. Então acordou a lebre dizendo “você é filha de Deus, minha irmã”. A lebre vendo que a tartaruga não se aproveitou do seu erro ficou emocionada e pegou a patinha grossa da amiga e foram juntas ganhar a corrida.

Depois da festa as duas amigas conversaram:

– Por que você me ajudou? Você sabe que eu poderia não ter dado a mínima para seu gesto e vencido a corrida.

– Não teria problema. Vencendo ou não a corrida sei que tenho capacidade infinita. Não é o título de campeã que me fará feliz. O verdadeiro e maior título de todos eu tenho. E você também. O grande título é “Eu sou filho de Deus perfeito”.

E assim a lebre anulou o ego e manifestou o Eu Verdadeiro. A tartaruga obtinha sempre bons resultados em tudo que decidia.


sexta-feira, 19 de março de 2010

Cia.Malarrumada no Projeto Rascunho de Cena 2010

Caros malas, ex-malas, amigos e companheiros...

A Cia. Malarrumada esta participando do projeto Rascunho de cena/Cena espetáculo do Galpão Cine Horto, venham conferir e apoiar, ajudema a divulgar.
Apresentação neste sabado 20.03.10.

16:30 cena rascunho pé na rua
19:00 cenas concorrentes

Rua Pitangui 3.613 - Horto - BH

Maiores informações no site do Galpão Cine Horto.
Abraços

JOGAR OU NÃO JOGAR...EIS A QUESTÃO.
DIREÇÃO: Coletiva
DRAMATURGIA: Nil Cesar
ELENCO: Ronaldo Alves, Marcelo oliveira, Glauco Mattos, Gabriel Araujo e Marco Tulio Freitas.
SINOPSE: “Jogar ou não jogar... Eis a questão” é mais uma criação coletiva da Cia. Malarrumada, na qual o jogo lúdico, o canto, a musica e a interpretação caminham juntos para a construção de um personagem, antes do abrir das cortinas. Atenção, terceiro sinal...
Abraços


Marcelo OLiveira
Cia.Malarrumada
marcteatro@yahoo.com.br
031 3582-2131
031 8808-9449

quinta-feira, 18 de março de 2010

O DIA CONTINUA

Rubem Leite

Veja aqui no blog os contos “O Dia” e “O Grande Dia”. Ambos em 2009.

14 a 18 de março de 2010.


Mariinha mora sob uma linda laje de mármore branca ao som de um coro de pardais, bem-te-vis, sabiás, curiós e uirapurus. Aos pés de uma montanha rochosa num campo verdejante com incontáveis canteiros e um cristalino riacho. Entre um longo sono e outro festeja ou faz amor com seu amado Elísio Campos Tártaro.

Seus pais a visitam uma vez a cada dois ou três anos. Sentam sob a paineira florida. Conversam e vão embora.

Outro que a visita é Júlio. Algumas vezes vem acompanhado do Dr. Lucas.

Quando só, Júlio conversa longamente com Mariinha sob o ipê. E os dois riem das piadas que contam. Comem alguma coisa até o rapaz ir embora.

Quando acompanhado, Dr. Lucas coloca cd de Mozart, sentam os dois e fazem um piquenique debaixo da paineira, mas nunca do ipê. O ipê é só dos dois. Júlio e Lucas trocam beijos e se não tiver ninguém por perto fazem amor. Fazem amor os dois e fazem amor com Mariinha e Elísio.

Assim passaram-se os anos. Seu Ricardo, Dna. Ringa, Dr. Lucas e Júlio. Elísio e Mariinha.

Dr. Lucas e Júlio tiveram a inevitável separação que a todos é imposta. Dr. Lucas foi para um local nobre e distante. Década depois Júlio foi para o mesmo condomínio, outro endereço. Quando se reaviram sorriram. Largaram suas posses, seus despojos e juntos foram até Mariinha. Elísio, a princípio, pensou em não aceitar, mas mudou de idéia pensando no quanto poderiam desfrutar.

E foram felizes para sempre.


terça-feira, 16 de março de 2010

Ana

www.youtube.com/anavicout

HAICAI UM

Futura mamãe

Seguiu-me com esperança

Ficou só. Dor nossa.

HAICAI DOIS

Dormiu minha Cam

Descobri no lixo a flor

Sanitário aterro.

sábado, 13 de março de 2010

sexta-feira, 12 de março de 2010

SAMIR

Rubem Leite

11-3-10


Os textos abaixo ofereço aos parentes e entes queridos do jovem Samir

e aos aniversariantes:

Sheila M. Lima, Marlene R.G. Silva, Lílian Hara,

Alexandre Gonçalves Costa,


Dona Maria era uma senhora de 92 anos, elegante, bem vestida e penteada. Estava de mudança para uma casa de repouso, pois o marido com quem vivera 70 anos, havia morrido e ela ficara só... A caminho de sua nova morada, a atendente ia descrevendo o minúsculo quartinho, inclusive as cortinas floridas que enfeitavam a janela.

- Ah, eu adoro essas cortinas. – Disse ela com entusiasmo de uma garotinha que acabou de ganhar um filhote de cachorrinho.

- Mas a senhora ainda nem viu seu quarto...

- Nem preciso ver. – Respondeu ela. Felicidade é algo que você decide por princípio. E eu já decidi que vou adorar. É uma decisão que tomo todo dia quando acordo. Sabe, eu tenho duas escolhas:

Posso passar o dia inteiro na cama contando as dificuldades que tenho em certas partes do meu corpo que não funcionam bem... Ou posso levantar da cama agradecendo pelas outras partes que ainda me obedecem. Cada dia é um presente. A velhice é como uma conta bancária. Você só retira daquilo que guardou. Portanto, lhe aconselho depositar um monte de alegria e felicidade na sua Conta de Lembranças. E como você vê, eu ainda continuo depositando. Agora, se me permite, gostaria de lhe contar uma receita.

1- Jogue fora todos os números não essenciais para sua sobrevivência. Isso inclui idade, peso e altura. Deixe o médico se preocupar com eles. Para isso ele é pago.

2- Dê preferência aos amigos alegres. O “baixo-astral” puxa você para baixo.

3- Continue aprendendo. Não deixe seu cérebro desocupado. Uma mente sem uso é oficina do diabo. E o nome do diabo é Alzheimer.

4- Ria sempre, muito alto. Ria até perder o fôlego.

5- Lágrimas acontecem. Agüente, sofra e siga em frente. A única pessoa que acompanha você a vida toda é você mesmo. Esteja vivo enquanto viver.

6- Esteja sempre rodeado daquilo que você gosta: pode ser família, animais, lembranças, música, plantas, um hobby, o que for. Seu lar é seu refúgio.

7- aproveite sua saúde. Se for boa, preserve-a. Se estiver instável, melhore-a. Se está abaixo desse nível, peça ajuda.

8- Viaje sempre que puder evitando viagens ao passado.

9- Diga a quem você ama, que você realmente o ama, em todas as oportunidades.

E lembre-se sempre que:

A vida não é medida pelo número de vezes que você respirou, mas pelos momentos em que você perdeu o fôlego... de tanto rir... de surpresa... de êxtase... de felicidade!


O texto acima recebi do Preletor Elias Caetano Ferreira. Ele se chama “Receita para Ser Feliz” e não sabemos o autor. O texto abaixo é de minha autoria e se chama Samir.


As 17:30h de terça-feira está abafada. Passo no camelódromo para conversar com Samir, que tem papo interessante. Um cara baixinho de pele clara e cabelo liso que está sempre rindo. E sua maior qualidade é ser Atleticano. Gaaalooooo!

- Já viu a Fada dos Dentes?

Pergunta para a cliente jovem e a outra cliente responde

- Não gosto de homem musculoso. Só tem massa, braços imensos, mas não dão conta...

- Por isso que é vantagem ser baixinho.

Fala sorrindo e continua

- Por isso que dou conta.

- Sempre se promovendo.

Responde a cliente jovem e a outra cliente continua

- Mas é mesmo. Os pequeninos costumam ter energia.

E eu só ouvindo e rindo. Com a saída das clientes começo a brincar

- Já largou de cruzeirisses? Pois sabe como é, né, não consegue dar umas acalmadas na muié...

- Que isso, cara, sempre atleticano. Ela é que estava estressada e precisa de uns remédios.

- Eu sei, tonto. É só brincadeira. Mas falando sério. Sua esposa está melhor?

- Graças a Deus. Ela é meu tudo.

- E a banda. Quando vão parar de enrolar? Ainda não ouvi vocês.

- Tamos ensaiando e não demora vamos apresentar. Quero você lá.

- Eu já estou lá. E sua mãe, ainda não conheço nada do que ela escreve.

- Um dia eu te mostro.

As 17:30h de quinta-feira está abafada. Desço do ônibus pensando em dar um pulo na barraca para rever Samir, simpático rapaz bonito. Comerciante bom de venda e se os dvd’s tiverem com problema ele troca sem problema.

Cartaz feito às pressas

LUTO do Samir. Enterro hoje às 16 horas.

A frase é ambígua. Parecia que ele estava de luto, mas achei

Perguntei a uma camelô

- O Samir morreu?

- Morreu!

- ?

- Tem dois dias que ele sofreu acidente e ontem morreu no hospital.

- Poxa! Não dá nem para ir ao velório.

E saio descompassado. Um cara no início dos vintes anos. Sensação estranha no coração. Peso na cabeça. Vou ao hipermercado comprar pão, leite e outras necessidades pensando nele. O barulho dos carros e o burburinho das pessoas estão distantes. As árvores , os prédios, as pessoas, as coisas estão distorcidas. Penso nele. Penso: “Este corpo é como a correnteza. A correnteza é inconstante e se escoa sem parar” (do Canto da Vida Eterna – Dr. Masaharu Taniguchi). Bom saber que a vida continua não como frase de expressão. Bom saber que a vida é diferente do corpo. O corpo se foi e Samir continua.


quinta-feira, 11 de março de 2010

FOME

Rubem Leite

10-11\3\10

Hoje (11) é o 7º dia que minha cadelinha “dormiu”,

como ela não é gente, óbvio que não devo me enlutar.

Assim, que o mundo astral onde você se encontra, Cam, seja muito bonito. Inté.


Que horror! A velha não sabe nem segurar os talheres. É uma grande vantagem ser louro com cabelinho de anjo. Meus olhos... Melhor seria se fossem azuis, mas verdes também servem, claro. Pensa forçando o sorriso.

- Você quer mais um pouco?

- Não, obrigado! A senhora é bem gentil.

- A Senhora está no Céu.

Protesta, mas sorri e continua

- Tem certeza? Um jovem forte feito você... deve comer bem, ah, comer muito.

- Ah! Sim, costume comer bem. E já que a senhora insiste.

- Você. Gosto mais assim.

A mulher não é velha. Só tem uns quarenta ou cinqüenta anos. E nosso jovem de rua, que já teve berço, perdeu tudo. Seu pai desfalcou a empresa, foi preso e suicidou. Ou será queima de arquivo? E como sempre, a aparência conta mais do que a pessoa. Bonito, branquíssimo, forte, mas não musculoso, graças a Deus (isso assustaria as velhinhas. Precisa parecer jovem, bonito, desamparado).

- Daqui vou para minha casa. Onde você mora?

- Estou hospedado num hotel. Sou de Belo Horizonte. Foi muito bom a senhora, digo, você aparecer.

- Não entendo como eu, uma simples dama, poderia espantar os dois marmanjos que te roubaram...

- Você é bem altiva. E o fato de aparecer alguém os intimidou, imagino.

- Como é mesmo a aparência deles...

- Um é negro e o outro tem cabelos castanhos.

- Não me lembro bem...

- Mas a senhora viu os vultos, não viu?

Fala induzindo a mulher acreditar que viu algo. O que ele quer é atrair alguém para poder encher a barriga e ter, quem sabe, um lugar para dormir. Nem que seja com ela.

- Vi! Acho que vi...

Ele sorri...

- Vi sim. Mas como você vai para o hotel? Deixou algum dinheiro lá?

- Infelizmente não. Estava tudo comigo. E agora vou ter que ligar para casa e deixar minha mãe aflita. Meu Deus! Ela é cardiopata. Tenho medo de que ela passe mal à toa. Já que você me socorreu. Será que... Não deixa para lá.

- O quê?

- Não! Pode deixar. Você já fez muito.

- Pode falar. Um bom menino feito você não precisa ficar desamparado.

Bom menino... Sei, velha safada. O que a senhora quer é meu corpo jovem. Pensa e diz

- Se não for incômodo, a senhora não sabe de um lugar onde posso passar a noite?


Você que me ler, o resto da conversa é obvia e você já sabe para onde os dois foram.


Vinte e sete anos atrás nasci numa tarde de chuva. Papai estava trabalhando e só ficou sabendo no dia seguinte. Nem notou a ausência da esposa. Fazer serão com a secretária e conversas com os sócios despende muito tempo. Na escola não era importante estudar desde que eu passasse de ano. Mas mesmo assim aprendi bastante coisa. Afinal, que amigos tinha para não estudar? Visitar a família da mamãe não era boa idéia. Para ela. Meu sotaque mineiro, de BH, era engraçado no Rio. Papai não ficava em casa nem se dava bem com o lado da mulher. Que fazer? Ele não queria que ficasse em casa, atrapalhando os trabalhos dele. Ela não queria me levar para o Rio. Com onze anos já era grandinho. Podia ficar sozinho. O que eram duas ou três semanas sem eles? Um paraíso.

Quinze anos. Não sou moça, portanto não significou grande coisa.

Dezoito anos. Papai estava na firma. Mamãe no Rio. Sai para festejar o grande dia.

Música de roda de capoeira. Os mais lindos movimentos eram dela. Tinha mais alguém na roda? Fiquei o tempo todo e ela acabou me vendo olhando só para ela. Acho que não a assustei.

- Oi! Sou Márcia. Você?

- Breno.

- Gostou? Você joga?

- Não!

- Parecia. Estava tão atento...

- Em você. Quero dizer, achei-a linda. Seus movimentos sensuais... não, movimento lindos...

Rarrá.

- Gostei.

- Ah! Bom.

Fui para o barzinho com a turma dela. E a gente se viu na semana seguinte. E na outra. E em todos os dias. Um mês e a gente fez sexo pela primeira vez. Nunca pensei que fosse tão bom. Imaginava. Mas não sabia. E a gente se viu todos os dias. Mamãe descobriu. Não aceitou. “Uma pobre?”. Ameaçou. Chorou. Fez escândalo. Papai morreu, já disse, e foi nesse período. Mamãe não tinha dinheiro. Eu era estorvo. Márcia queria estudar. Nada sério entre nós dois. Bastava meu pinto. Foi para o Sul. Fui para as ruas. Hoje pareço ter trinta e cinco. A vida é dura nas ruas, mas é mais livre. E sou mais feliz agora que antes. Quase feliz.


Você que me ler, aconteceu um fato inusitado para o nosso Breno.


- Pode falar. Um bom menino feito você não precisa ficar desamparado.

- Se não for incômodo a você, não sabe de um lugar onde posso passar a noite?

- Sim! Onde você quer dormir?

- Aqui perto tem um hotel barato e sem barata. E jeitosinho. Acho que podemos passar a noite lá.

Acaricia o braço da mulher que lhe sorri. Vão para o hotel. Ela paga o pernoite e sai. Antes, sorri e diz

- Um bom menino não precisa ficar desamparado e uma boa mãe não exige sacrifícios. Você tem meu telefone. Ligue se precisar.


Não! Não era a mãe do nosso rapaz. Era uma mãe. E com esse final chato para uns e sem pimenta para outros despeço com a noite feliz de nosso amigo.


terça-feira, 9 de março de 2010

GATOS

Rubem Leite

Madrugada de 08-3-10


Ofereço a todos os meus leitores sem exceção,

em especial, claro, minhas leitoras. Parabéns pelo seu dia.

Ofereço também a todas as gatas, às cachorras e a seus donos...

Sinto saudades de minha Cam. Ela é que era cachorra de verdade.


O gato preto chega a sua casa. Silencioso. Manco. Olho rasgado (não furado). Cortes perto do rabo, na barriga. O sangue pinga. Mia. Deita no seu cantinho preferido. Triste. As fêmeas não o quiseram. Nenhuma. O malhado venceu. Nele, alguns lanhos no pescoço, na bunda. Só. Mia. Dorme.

O gato malhado continua na rua com muito a fazer. Nem sente dor. Contente.

O gato preto dorme. Mia. Dorme.

- Bichim. Bichim. Bichim.

O gato preto mia. Dorme.

- Que foi Mimado? Recusando comida? Mãããe!

O menino o pega assustado.

O veterinário lucra.

Alguns dias de mimo para o Mimado.

E o gato preto dorme. Mia. Dorme. Come. Dorme. Persegue. Dorme.

Os mimos se foram.

E o gato preto dorme. Mia. Dorme. Come. Dorme. Persegue os pardais. Dorme. Come. Dorme. Persegue ratos. Dorme.

Miauuuuuuuuu!

Miauuuuuuuuuuuuuuuu!

Firche!

Firche!

Miauuuuuu. Firche.

Miauuuuuu. Firche.

Silêncio.

Festa.

Tristeza.


O céu está claro e de onde estou não vejo nenhuma nuvem.

O que vejo entre as janelas de meu quarto e o céu azul são verdes galhos de árvores emoldurados pelos arcos de minha varanda.

Lindo!

O fundo deste quadro vivo é o azul do céu e sobrepostos vejo o verdor vivo, os arcos e as janelas.

Sinto algo agradável tocar meu coração.

E tudo servindo apenas de detalhes para o centro de meu coração.


Recebi condolências de vários amigos. Muito obrigado a todos e da grande poeta Nena de Castro: “Ô Rubão! A Cam está latindo e correndo nos campos celestiais, buscando a bola para o futebol dos anjos! Cadela amiga, melhor que muito amigo ‘cadelo’ que a gente vê por aí! Beijos, Nena”.

Mesmo sendo apenas um animal, gosto dela. E mesmo sendo dolorido a sua partida valeu tê-la conhecido...

II Conferencia Nacional de Cultura

Olás meus queridos!
É chegada a hora!
Como ja é de conhecimento dos senhores(as), de 11 a 14 de março, acontece em Brasília/DF, a II Conferencia Nacional de Cultura. Estarei presente representando o Vale do Aço, como delegado da sociedade civil, eleito na Conferencia Estadual, que aconteceu em dezembro de 2009, em Belo Horizonte. Sinto me honrado e consciente de minha responsabilidade.
Muitos delegados de estados como São Paulo e Rio de Janeiro, estão com sérios problemas para comparecer à Conferencia pois, seus indigníssimos governadores estão tratando com imenso descaso este tão importante evento. Providencias estão sendo tomadas para triblar este tipo de embargo.
Em Minas, a Secretaria de Cultura do Estado está se responsabilizando pelas passagens e o MINC pela hospedagen e alimentação.

Deixo link com toda programação da Conferencia: http://blogs.cultura.gov.br/cnc/programacao/

Na proxíma reunião do Movimento Cultural do vale do Aço, estendo a todos as novidades deste encontro.
No mais um grande Abraço.

Didi Peres

sexta-feira, 5 de março de 2010

ADÁGIO PARA CORDAS DE SOL MENOR

Rubem Leite

05-3-10


De início ela me olhou desconfiada. Por causa do meu cachorro se achegou devagar. Dois, três dias depois aceitou meus carinhos. Não demorou e morou comigo. Foi gostando até chegar ao amor. Onde eu ia lá ela ia.

Cinco anos.

Seus peitos foram inchando. Nódoas pelo corpo. Pele irritada, ferida. Sem dinheiro para consultas. Uma perna se imobilizou, parou. Sua fome continuou. Parou. Sem dinheiro para clínica. Gemidos de dor. Com comida na boca seu olhar ia longe, esquecendo mastigar. Com gritinhos de dor tentava me atacar, arranhar, morder. Gritos. Olhava-me tranqüila, confiante, súplice. Gemidos. Sua dor não podendo mais chamei um especialistas. Eutanásia.


Eu sou mesmo cômico

A dor pelos animais

É muito ridícula

Mas ela é a minha dor.

Oceano rosto.

quinta-feira, 4 de março de 2010

PAISAGEM INCOMPLETA

Rubem Leite


Escrevo entre 02 e 04 de março de 2010.

E ouvindo Caetano Veloso.

E inspirado na palestra do Curador Jacopo Criveli

e mais ainda no livro A Dançarina de Izu, de Yasunari Kawata.


, a idéia de paisagem é ultrapassada.

Diz-me Benito. Foi a única coisa que ouvi. Estou mais indo de mim para

Sua voz parece estrangeira. Seus dedos longos, finos, pontudos numa mão clara de um pulso branco argentinamente algemado. Sua sinistra está encoleirada por aro aurum numa das fincas que prende e repreende a destra que não se aquieta indo para seu peito, seu pênis, sua perna, seu pé.

, suas palavras emergem da neblina.

Parece que Benito continua me dizendo algo. Mas não o continuo

Ele porta um livro fechado adormecendo suas personagens matando a estória em mim forçando suas idéias numa trilha sonora de martelos descansando sobre o prego que bateu retratando inconseqüente as montanhas mineiras.

, sempre um constante sonhar longe.

Aceno afirmativamente para nem sei o quê.

Ele é um todo poderoso que se presta a arbítrios excessivos ou então me abre a visão para o novo.

, sentado envolto por cartas que nunca lhe serviram para nada.

- É! – Não vou ficar pensando em quem não devo. – Benito! Cara, deixa-me copiar o haicai que você fez

- Ah! Tá! Deixa ver onde está... Achei. Pode copiar

Dois planetas água

Olhos oceanos no rosto

Sistema solar.

quarta-feira, 3 de março de 2010

TRÂNSITO CRUEL

É vídeo de um conhecido meu.

http://www.youtube.com/watch?v=6wIMDhYN5gQ

A BORBOLETA AMARELA

Rubem Leite

13 a 28 de fevereiro de 2010


A borboleta amarela entrou pela janela do quarto de dormir onde também coloco meus livros e minhas bagunças se acomodam e não me incomodam.

A borboleta conheceu o dia, experimentou a tarde e passou a noite.

Minha cadelinha viu a borboleta e a perseguiu, mas apesar de sua cabecinha de borboleta ela subiu para o alto da estante e ficou lendo passando o tempo e descobrindo o mundo. A aranha viu a borboleta e a convidou para sua teia, mas apesar de sua cabecinha de borboleta ela é obediente e antenada (aprendeu quando lagarta a não aceitar qualquer convite, com os livros da estante ficou mais inteligente e atravessando os dias foi ficando cada vez mais sábia).

De manhã levantei, rezei, estudei e tomei café. Um borrão amarelo vi na camisa verde que vesti para sair. Mexi e abanei o braço e o borrão ficou. Olhei e vi a borboleta com apetite na camisa verde. Cheguei à janela e ela não voou. Com minha mão direita dentro da manga sacudi forte até ela sair e pousar no lampião florido. Trocamos olhares e entrei.

terça-feira, 2 de março de 2010

COMPANHEIROS DE UMA NOITE

Rubem Leite

27-28 de fevereiro de 2010

Escrevo ouvindo Uakti – Águas da Amazônia – Metamorphosis


- Mulher ingrata. Dei-lhe tudo e só me deu um não atrás do outro.

Olho para o estranho no alto do prédio às três da manhã. Desinteresse.

- Emprego desgraçado. Quanto te amaldiçôo. E agora nem você eu tenho.

Olho para o estranho no alto do prédio às três da manhã.

- E agora! Até minha saúde se foi. Hepatite! Hepatite b...

Olho para o estranho no alto do prédio.

- Ô vida ruim. Não me quer? Também não te quero.

O homem olha para as sombras onde estou. Não me vê, mas sente o perigo.

- Não tente me deter!

- Não vou.

- Eu quero morrer.

- Como queira.

- Vou morrer!

- Pule!

- Ah?

Sob as sombras da noite no canto escuro do prédio quase o ignoro outra vez.

- Minha saúde se vai. Meu emprego de merda nem existe mais. Nem mulher tenho. Minha vida é uma desgraça. Vou morrer.

- O que já fez de útil para alguém?

- Quê?

- Não repito falas. Responde.

- Ah! É! Nada... Não sei...

- Quer ser útil? – Falo saindo das sombras e me deixando ver com toda minha beleza viril.

- Ah... Sim!

- Quer morrer e quero viver. Sua vida é uma desgraça. Melhor realmente morrer. Estou faminto. – Pego em seus ombros. Ele fecha os olhos com sensação boa perto das coxas, nos quadris.

- !!??

- Morra com utilidade. Inúteis não têm boa vida lá. – Cheiro seus cabelos com meu peito em suas costas e abraçando-o. – Dando sua vida para uma boa causa: o fim da fome. Ganhando como prêmio uma vida feliz, saudável, próspera... lá.

- Ahhhh! – Geme com o prazer e a delícia de me saciar.