Rubem Leite
27-28 de fevereiro de 2010
Escrevo ouvindo Uakti – Águas da Amazônia – Metamorphosis
- Mulher ingrata. Dei-lhe tudo e só me deu um não atrás do outro.
Olho para o estranho no alto do prédio às três da manhã. Desinteresse.
- Emprego desgraçado. Quanto te amaldiçôo. E agora nem você eu tenho.
Olho para o estranho no alto do prédio às três da manhã.
- E agora! Até minha saúde se foi. Hepatite! Hepatite b...
Olho para o estranho no alto do prédio.
- Ô vida ruim. Não me quer? Também não te quero.
O homem olha para as sombras onde estou. Não me vê, mas sente o perigo.
- Não tente me deter!
- Não vou.
- Eu quero morrer.
- Como queira.
- Vou morrer!
- Pule!
- Ah?
Sob as sombras da noite no canto escuro do prédio quase o ignoro outra vez.
- Minha saúde se vai. Meu emprego de merda nem existe mais. Nem mulher tenho. Minha vida é uma desgraça. Vou morrer.
- O que já fez de útil para alguém?
- Quê?
- Não repito falas. Responde.
- Ah! É! Nada... Não sei...
- Quer ser útil? – Falo saindo das sombras e me deixando ver com toda minha beleza viril.
- Ah... Sim!
- Quer morrer e quero viver. Sua vida é uma desgraça. Melhor realmente morrer. Estou faminto. – Pego em seus ombros. Ele fecha os olhos com sensação boa perto das coxas, nos quadris.
- !!??
- Morra com utilidade. Inúteis não têm boa vida lá. – Cheiro seus cabelos com meu peito em suas costas e abraçando-o. – Dando sua vida para uma boa causa: o fim da fome. Ganhando como prêmio uma vida feliz, saudável, próspera... lá.
- Ahhhh! – Geme com o prazer e a delícia de me saciar.
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