terça-feira, 2 de março de 2010

COMPANHEIROS DE UMA NOITE

Rubem Leite

27-28 de fevereiro de 2010

Escrevo ouvindo Uakti – Águas da Amazônia – Metamorphosis


- Mulher ingrata. Dei-lhe tudo e só me deu um não atrás do outro.

Olho para o estranho no alto do prédio às três da manhã. Desinteresse.

- Emprego desgraçado. Quanto te amaldiçôo. E agora nem você eu tenho.

Olho para o estranho no alto do prédio às três da manhã.

- E agora! Até minha saúde se foi. Hepatite! Hepatite b...

Olho para o estranho no alto do prédio.

- Ô vida ruim. Não me quer? Também não te quero.

O homem olha para as sombras onde estou. Não me vê, mas sente o perigo.

- Não tente me deter!

- Não vou.

- Eu quero morrer.

- Como queira.

- Vou morrer!

- Pule!

- Ah?

Sob as sombras da noite no canto escuro do prédio quase o ignoro outra vez.

- Minha saúde se vai. Meu emprego de merda nem existe mais. Nem mulher tenho. Minha vida é uma desgraça. Vou morrer.

- O que já fez de útil para alguém?

- Quê?

- Não repito falas. Responde.

- Ah! É! Nada... Não sei...

- Quer ser útil? – Falo saindo das sombras e me deixando ver com toda minha beleza viril.

- Ah... Sim!

- Quer morrer e quero viver. Sua vida é uma desgraça. Melhor realmente morrer. Estou faminto. – Pego em seus ombros. Ele fecha os olhos com sensação boa perto das coxas, nos quadris.

- !!??

- Morra com utilidade. Inúteis não têm boa vida lá. – Cheiro seus cabelos com meu peito em suas costas e abraçando-o. – Dando sua vida para uma boa causa: o fim da fome. Ganhando como prêmio uma vida feliz, saudável, próspera... lá.

- Ahhhh! – Geme com o prazer e a delícia de me saciar.

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