domingo, 29 de janeiro de 2017

ZUNIDO


O início desta tarde quente está agradável no Feirarte. Ao contrário do costume, bebo cerveja e não os coquetéis do Marcelo. Mas não bebo aquelas quaisquer, comuns por aqui. Prefiro a – pelo menos é o que eles dizem – artesanal Brüder. Gosto da Red e com o copo na mão leio:
Ela escuta eu falar? – Fala com voz rouca de chorar. – Ela escuta eu falar? Ela escuta eu falar? / Na mesa do bar um diz para o outro. Este bebe satisfeito um gole de cerveja e desatento fala para aquele: / - Disse alguma coisa?
- Nossa! Que história deprimente... – Joana fala quando lhe contei parte da história que escrevia. – Por que não escreve algo bonito... Como os escritores de verdade; aqueles duzestaduzunidos? E não essas coisas que só tem violência e lamentações. É por isso que lá fora as pessoas pensam que no Brasil só tem mazelas. Não mostramos nada de bom.
- Por fazermos filmes com violência os estrangeiros pensam que só isso existe no Brasil?
- É!
- Então se pelo que assistimos julgamos uma nação... E vemos como é seu povo... Na América do Norte só tem super-herói neo-liberais, como diz Vinícius Siman. Ou então zumbis descerebrados e vampiros pisca-pisca...
- Não é isso não.
- O que falta lá é parar para pensar.
- Não é isso não. É que só vemos coisas bem produzidas nuzestaduzunidos.
- Bem produzidas? Sobre isso, como Rubem costuma afirmar, só digo uma coisa: Não digo nada! Estaduzunidos... Realmente! De lá se vê e lê muitos zunidos...
Sua boca não fala nada, mas sua cara declara: “Não entendi”. Então continuo:
- Fascinante seria ter entendido. Mas prefiro falar sobre flores e outros amores. Ou dores e outros desamores.
- Hem? Como?
- Borboleta do jardim de Alá / Sobrevoa meu coração. / Dizendo palavras assim, tão doces / Acho que vou ‘vomitá’.
- Agora sim um poema bonito. Estragou no finalzinho... Mas é quase tipo a duzestaduzunidos.
- Huum, sei. Só que fazer poema não é rimar qualquer coisa. E fazer poesia então... Nem se fala. – Pausa para um gole de cerveja. – E que tal assim:
Quase um ano plantei um pezinho de antúrio bem florido. Semanas de beleza á janela de meu quarto. Mas as flores murcharam. Passou-se não sei quantos meses só o verde da planta. Nem um pouco triste por isso. Há tanta beleza só nas folhas. Semanas atrás um pendãozinho e neste período longuinho foi crescendo; sempre fechado. Anteontem começou a abrir e não sei se amanhã já estará pronto. Mas observo a flor. Pequena e semifechada.
- Essa sim é boa como se fosse duzestaduzunidos.
- Não! Não tem zunidos em minhas histórias.
- Antipático... Você é bem antipático.
- Sou mesmo.
- Vamos mudar de assunto. São Paulo está pintando os muros de cinza...
- Sou contra. Se bem que a gente pode dar uma demão de outras cores por cima que vai dá tudo certo, sabe. Uma renovada.
- Que ideia?! Bem, os Estados Unidos estão criando um baita muro separando-os do mundo.
- Sou a favor. Aí a gente bota um cadeado daqueles bem bão no portão para eles não vazarem para as banda de cá.
- Ridículo. Você é ridículo.
Olho nos olhos e bebo mais um gole de cerveja. Não falo nada. Só fico pensando, pensando. E olhando para O Cemitério dos Vivos, de Lima Barreto; que pouco tem ligação com esta história. Mas é tão bom.


Ofereço como presente aos aniversariantes
Raul F.M. Leite, Lene Oliveira, Rodrigo C. Andrade, Bras Sarb, Marcelio O. Sousa, Andriza G. Souza N., Isaac Andrade, Iuri Cupertino, Celma Anacleto, Marileuza Lopes, Vitória Elizabeth, Paulo J.C., Cida Pinho (Mª Aparecida D. Pinho) e Marlene Brum.

Recomendo a leitura de “‘Penso, logo existo’; consumo, logo sou”, de Vinícius Siman; “No Canto Escuro”, de Sued; “Julio Cortázar. Graffites em tempo de opressão”, de Javier Villanueva; e “Se você viver poeticamente encontrará felicidade”, de Edgar Morin e recomendado por Robinson Ayres. Respectivamente nos endereços:


Escrito entre a madrugada de 31 de maio de 2016 e 29 de janeiro de 2017.

domingo, 22 de janeiro de 2017

ARROJO

OSADO


Potira itapitanga.


Em português

Quando você ler minha carta, se alguém ler, saiba que estou no ano de 2030. Mas foi no ano de 2016 que Ipatinga se tornou uma cidade de mortos vivos. O Brasil se tornou uma espécie de... de... De Estados Unidos!
Meses depois conseguimos sitiar quatro faixas da cidade: Barra Alegre com parte do Limoeiro, Bethânia, Bela Vista e, para plantio, o Parque Ipanema. Este último, apesar de próximo ao Centro, é desprovido da comida dos mortos vivos...
O momento e a história que mais ficaram na minha memória foram quando ainda viviam meu amor, seu pai, eu, uma criança e o vira-lata. Moramos... Morávamos. Seu Ricardo na faixa Bela Vista e nós outros na faixa Barra Alegre-Limoeiro.
Em 2029 festejávamos o aniversário de Ipatinga e seu Ricardo conseguira autorização para nos visitar. Depois do almoço nós dois saímos para conversar e vimos sair um caminhão ambulância, mas algo não estava certo. Quando colocaram pessoas para dentro, elas estavam coagidas pelas armas da milícia. Enquanto pensávamos em avisar ao prefeito da faixa o vimos comandando a operação. Grande parte era gente conhecida, mas de oposição aos governos do que sobrou do Brasil.
Movidos por... Heroísmo? Heroísmo! Rarrá! Decidimos salvá-los ou morrer tentando. Seu Ricardo custou, mas conseguiu completar uma ligação para Dom Paulo, o prefeito da faixa dele, que nos prometeu saber o que estava acontecendo e intervir, se fosse o caso.
Um carro forte com Dom Paulo aparece... apareceu à minha porta algumas horas depois e convidou minha família a entrar para explicar os fatos. Menos eu, que não estava em casa e disseram que não sabiam onde eu me encontrava. Nunca mais os vi... Vivos. Uma semana depois os muros não salvavam mais. A praga já alastrara para dentro. E por quê? Ora, você já sabe. Acabei de falar. É só pensar um pouco.
O lugar onde escrevo é... era a casa forte do campo de alimentação. Não foi fácil e só Deus sabe como consegui chegar aqui. Como vê, apesar do nome, “casa forte”, aqui é mais um barracão de concreto onde guardávamos as ferramentas e nos abrigávamos nos momentos de ataque. Mas vamos falar de 2016 e 2017. Creio que explicará tudo, inclusive minhas últimas palavras para alguém que ainda pense. Você, assim espero.
Um carro cinza prateado avança lento pela rua vazia de almas. Pelo menos de almas vivas. Duas filas de carros parados. De um lado há carros... Cinza, preto, preto, vermelho, preto, azul escuro e vários outros carros cinzentos. Do outro lado, cinza, branco, cinza, branco, cinza, preto, preto, cinza, azul escuro e mais três cinzas.
O carro que passa não me vê atrás de um monturo de lixo. A caçamba ainda arde de livros queimados. Livros que continham Graciliano Ramos, Cruz e Souza, Olavo Bilac, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Cora Coralina, Castro Alves, Rubem Braga, Rubem Fonseca, Marilda Castanha, Hilda Hilst, Mario Benedetti, Marília Siqueira Lacerda, Nena de Castro, Goretti de Freitas, Cida Pinho, Flavia Frazão, Nancy Nogueira, Marcelo Garbine, William Delarte, Vinícius Siman, Mário Quintana, José Mauro de Vasconcelos, Florbela Espanca, Federico Garcia Lorca, Carlos Drummond de Andrade, Orides Fontela e principalmente Machado de Assis. Queimados todos os autores que não nos continham: lançavam-nos!
E também não sei a razão, mas acabei de me lembrar do conto “A Terceira Margem do Rio”, de Guimarães Rosa que foi transformado em peça de teatro pela Cia. Teatral Letras de Rosa. Todavia, nas “bibliotecas”, acessível para os poucos que tiveram permissão para estudar: Anne Rice, J.K. Rowling, Stephenie Meyer, Tolkien, Nicholas Sparks e outros – muitos, mas com exceções – do Norte e, claro, a Bíblia...
Na rua não tem os autofalantes do Novo Governo. É uma rua tóxica, frequentada pelos que ainda pensam, os Sobreviventes.
O carro sumiu. Levanto-me de onde me escondia. E pude ver quem eu amei ao volante do camburão que arrastava os acorrentados mortos-vivos para nos devorar. Para que dizer que quem me amou agora me mataria por eu não me entregar e integrar? Por tudo que já foi dito é possível que você entenda isso.
Preparado para fugir ou lutar, ando pela rua tóxica. Mas ir por onde? Para onde ir? Se não morrer meu corpo morrerá meu cérebro. Horas depois... – Penso que você imagina acertadamente que busquei desviar-me das atenções e dos possíveis seguidores. – Horas depois, no terraço onde me abrigo com outros Sobreviventes, abro Lima Barreto. Alívio. Nas mãos de alguém ao meu lado, Mário de Andrade.
Barulho de carros na rua chegou ao terraço do prédio. E apesar disso, apesar de tudo... aliviado por Barreto.


En español

Cuando leer mi carta, si alguien leerla, sepa que estoy en el año 2030. Pero fue en el año 2016 que esta ciudad se cambió en un rincón de muertos vivos. Latinoamérica se cambió una especie de… de… ¡De Estados Unidos!
Meses después conseguimos sitiar cuatro trozos de la ciudad. La más cerca del Centro es donde plantamos nuestra comida porque siempre fue la más desprovista de la comida de los muertos vivos…
El momento y la historia que mejor se quedan en mi memoria fueron cuando aún vivían mi amor, su padre, un niño y la mascota. Vivimos… vivíamos. Don Ricardo en el trozo cercano de la zona de plantío y nosotros en la zona más ancha.
2029 celebrábamos el cumpleaños de la ciudad y don Ricardo consiguiera autorización para nos visitar. Después del almuerzo nos dos salimos para charlar y vimos salir un camión ambulancia, pero no estaba cierto. Cuando punieron personas adentro, ellas estaban coaccionadas por las armas de la milicia. Mientras pensábamos en avisar al alcaide del trozo lo vimos comandando la operación. Gran parte era gente conocida, pero opositores a los gobiernos de que sobró de Latinoamérica.
Movidos por… ¿Heroísmo? ¡Heroísmo! ¡Jajá! Decidimos salvarlos o morir intentando. Don Ricardo demoró pero consiguió completar una llamada para don Pablo, el alcaide del trozo de él, que nos prometió saber que estaba sucediendo e intervenir, se necesario.
Un carro fuerte con don Pablo surge… Surgió a mi puerta algunas horas después e invitó a mi familia a entrar para explicar los factos. Menos yo, que no estaba en casa y dijeron que no sabían adonde me encontraba. Nunca más los vi… Vivos. Una semana después los muros no salvaban más. La plaga ya alastrara para dentro. ¿Y por qué? Ora, tú ya sabes. Acabé de decir. Es solo pensar un poco.
El lugar adonde escribo es… era la casa fuerte del campo de alimentación. No fue fácil llegarme acá; pero conseguí sólo Dios sabe cómo. Conforme ves, a pesar del nombre, “casa fuerte”, acá es más un cobertizo de concreto donde guardábamos la herramientas y nos abrigábamos en los momentos de ataque. Pero, vamos hablar de 2016 y 2017. Creo que explicará todo, incluso mis últimas palabras para alguien que aún piense. Tú, así espero.
Un coche gris plateado avanza lento por la calle vacía de almas. Al menos de almas vivas. Dos colas de coches parados. De un lado hay coches… gris, negro, negro, rojo, negro, azul oscuro y muchos otros coches grises. Del otro lado, gris, blanco, gris, blanco, gris, negro, negro, gris, azul oscuro y más tres grises.
El carro que pasa no me ve tras de la montañita de basura. El gran cubo aún arde de libros quemados. Libros que contenían Mario Vargas Llosa, Alfredo B. Echenique, Ciro Alegría, Oscar Malca, César Vallejo, Jorge E. Eielson, Clorinda Matto de Turner, Blanca Varela, Mario Benedetti, Federico García Lorca, Gabriel García Marques, Piedad Bonnett, Andrés Caicedo, Jorge Luís Borges, Julio Cortázar, María Elena Walsh, Pablo Neruda, Roberto Bolaño, Gabriela Mistral, Eduardo Galeano, Horacio Quiroga, Clarice Lispector, José Mauro de Vasconcelos y Machado de Assis. Quemados todos los autores que no nos contenían: ¡nos lanzaban!
Y no sé la razón, pero me recuerdo ahora del cuento “La Tercera Orilla del Rio”, del brasileño Guimarães Rosa convertido en pieza de teatro por la Cia. Teatral Letras de Rosa. Sin embargo, en las “bibliotecas”, accesible para los pocos que recibieron permiso para estudiar, solamente se encuentran Anne Rice, J.K. Rowling, Stephenie Meyer, Tolkien, Nicholas Sparks y otros – muchos, pero con algunas excepciones – del Norte y, es obvio, la Biblia…
En la calle no hay altavoces del Nuevo Gobierno. Es una calle tóxica, frecuentada por los que aún piensan, los Sobrevivientes.
El carro se fue. Me levanto de donde me escondía. Y pudo ver quien amé al volante del furgón que arrastraba los encadenados muertos vivos para nos devorar. ¿Para qué decir que quien me amó ahora me mataría por no me entregar e integrar? Por todo lo que ya fue dicho es posible que comprendas eso.
Preparado para huir o luchar, camino por la calle tóxica. Pero, ¿ir por adonde? ¿Para adónde ir? Si no morir mi cuerpo morirá mi cerebro. Horas después… – Pienso que imaginas acertadamente que busqué desviarme de las atenciones y dos posibles seguidores. – Horas después, en la terraza donde me abrigo con otros Sobrevivientes, abro José María Arguedas. ¡Alivio! En las manos de alguien próximo a mí, Nicolás Guillén.
Barullo de coches en la calle llegó a la terraza del predio. A pesar de eso, a pesar de todo… aliviado por Arguedas.


Ofereço como presente de aniversário a
José C. Pinho, Andreza Costa, Chrystian Stocler, Fernando Pires, Andreia Bragança, Antonio Netto, Thaís L. Macedo, Ivone Piló, Laio Moura, Jhomar Sayo, Alexandre Farah, Monica Cuba, Graça Costa e Edinaldo Felipe.

Recomendo a leitura de “Solidão”, de Xúnior Matraga; e que assistam ao espetáculo “A Terceira Margem do Rio”. Mais informações:


Escrito entre o início da tarde de 29 de maio de 2016 e 22 de janeiro de 2017. Parte consciente e parte fruto de um sonho.

domingo, 15 de janeiro de 2017

ANDADAS

Potira itapitanga



Debaixo da lua nova acima do céu nublado em um sábado à noite ele se aproxima maciamente de casa. A sua frente uma usuária de craque está parada olhando para cima. Um carro passa por ele e para uns vinte metros depois da mulher. Ela sai de seu estupor e vai pesadamente ao motorista. Conversam alguns segundos, entra no automóvel e vão não se sabe aonde. A noite se vai, a madrugada está no seu fim e ele sai maciamente com seu amigo meio estabanado. Outra usuária está sentada na calçada, outro carro passa pelos amigos e para vários metros depois da mulher. Ela se levanta, vai pesadamente até o carro, conversam, entra no automóvel e se vão.
O dia avança. Chega à sua metade e o Feirarte está agradável.
Ao dar uma olhada vê uma pomba preta comendo sementes vermelhas e amarelas no chão cinza. Esquece-se dela e sobe a árvore de verdes copas irregulares; deita em um de seus galhos.
Observa um homem que sente saudades do amor de sua vida e chora seco. Edgar Alan Cat mantém seu olhar mesmo não sendo percebido por ninguém e o homem se esquece do amor, olha ao redor, encanta-se com uma garota loura de cabelos crespos, dá uma cantada que ela não gostou.
O gato parece sorrir, pula para o chão, fala com Don Perro de La Mancha e este, parecendo também sorrir, olha o casal; fixa o olhar na menina.
A garota tinha começado a sair quando para e volta até o homem, que lhe pega nas mãos e os dois irão se pegarem em algum lugar sossegado.
Os dois – gato e cachorro – vão até a mesa do dono, deitam e dormem enquanto Benito bebe algo com goiaba e lê um livro:
Os contos são viajantes impenitentes. As asas dos contos vão mais além e mais rápido do que logicamente pudessem crescer. (...) Não existem mais que meia dúzia de contos. Mas, quantos filhos vão deixando pelo caminho! (...) O conto é astuto. Infiltra-se no vinho, nas línguas das velhinhas, nas histórias dos santos. Transforma-se em melodia torpe na garganta de um caminhante que bebe nos botecos e toca cavaquinho. (MATUTE, 1990).
- Sabe quanto tempo estou lendo este livro?
-
- Tem seis meses e só agora passei da metade. E sabe quanto tempo gastei para ler a trilogia O Lar da Senhorita Peregrine para Crianças Peculiares?
-
- Nem um mês. Grandes Sertões: Veredas tem mais de cinco anos que estou lendo e não cheguei à metade. Também tem muitos meses que estou lendo A Máquina do Tempo, de Siman. E sabe a causa de demorar tanto?
-
- Porque é bom. Coisa ruim ou “não tão boa” a gente acaba logo; mas o que bom eu gosto de prolongar. Degustar. Sentir. Pensar.
Um carro para meio distante de alguém de aspecto sujo. Este se vai pesadamente àquele, conversa rápido com o condutor, entra e saem para não sei onde. E pela terceira vez me pergunto por que não podem parar perto... Por que tem que fazê-los ir até eles.
E os Ferrera toca muito bem suas músicas.



Bajo de la luna nueva arriba del cielo nublado en un sábado por la noche él se acerca fofamente de la casa. A su frente una adicta está parada mirando arriba. Un coche pasa por él y para unos veinte metros después de la mujer. Ella sale de su estupor y se va pesadamente hacia el conductor. Charlan algunos segundos, entra en automóvil  y se van no se sabe adónde. La noche se va, la madrugada este en su fin y él sale blandamente con su amigo desmañado. Otra adicta está sentada en la acera, otro coche pasa por los amigos y para muchos metros después de la mujer. Ella se levanta, se va pesadamente al coche, platican, entra en el automóvil e se van.
El día avanza. Llega a su mitad y el Feirarte está agradable.
Echando un vistazo mira una paloma negra comiendo semillas rojas y amarillas en el suelo gris. Se olvida de ella y se echa a subir el árbol de verdes copas irregulares; se acuesta en una de sus ramas.
Observa un hombre que se echa de menos del amor de su vida y llora en seco. Edgar Alan Cat sostiene su mirada mismo no siendo apercibido por nadie y el hombre se olvida del amor, mira alrededor, se encanta por una muchacha rubia de pelos crespos, le echa un piropo que a ella no le hay gustado.
El gato parece sonreír, brinca al suelo, charla con Don Perro de La Mancha y este, pareciendo también sonreír, mira la pareja; fija la mirada en la chica.
La chica había empezado a salir cuando para y se vuelve hacia el hombre, que le coge la mano y los dos se van se cogieren en algún lugar sosegado.
Los dos – gato y perro – se encaminan a la mesa del amo, se acuestan y se duermen mientras Benito bebe algo con guayaba y leer un libro:
Los cuentos son viajeros impenitentes. Las alas de los cuentos van más allá y más rápido de lo que lógicamente pueda crecerse. (…) No hay más que media docena de cuentos. Pero, ¡cuántos hijos van dejándose por el camino! (…) El cuento es astuto. Se filtra en lo vino, en las lenguas de las viejas, en las historias de los santos. Se vuelve melodía torpe en la garganta de un caminante que bebe en la taberna y toca la bandurria. (MATUTE, 1990).
- ¿Sabes cuánto tiempo llevo leyendo este libro?
-
- Hay seis meses y solo ahora pasé de la mitad. ¿Y sabes cuánto tiempo necesité para leer la trilogía El Hogar de Miss Peregrine para Niños Peculiares?
-
- Ni un mes. Gran Sertón: Veredas llevo más de cinco años leyéndole y no llegué a mitad. También hay muchos meses que estoy leyendo La Máquina del Tiempo, de Siman. ¿Sabes por qué demoro tanto?
-
- Porque es bueno. Mala cosa o no tan buena nosotros acabamos deprisa; pero, cosas buenas me encanta prolongar. Degustar. Sentir. Pensar.
Un coche para a media distancia de alguien de aspecto sucio. Este se va pesadamente aquel, charla rápido con el conductor, entra y salen para no sé dónde. Y por la tercera vez me pregunto por qué no pueden parar cerca… Por qué tienen que hacerlos ir hasta ellos.
Y el conjunto Os Ferrera tañen agradablemente sus músicas.


Ofereço aos aniversariantes
Osvaldo Mayevicz, Dulce Pereira, Vanessa Lessa, Felipe Wallace, Patrícia Nunes, Luciana Hermógenes, Daniele Roza, Marrione Warley, Nanda Abrahão, Diana Duarte, Aline Alves, Thays Júnia, Raissa Fernandes, Dalgreis Lage e minha sobrinha Mariana Cheloni.

Recomendó a leitura de “Emergencia en los acantilados”, de Javier Villanueva; e “No Canto Escuro”, de Sued.

MATUTE, Ana María. Leer es Fiesta – España Cuenta. Francisco J. Uriz (Org). Madrid: Edelsa, 1990. Los Cuentos Vagabundos. Traducción libre de Rubem para el portugués.


Escrito originariamente en español al fin de la mañana de 31 de enero de 2016. Escrito en las dos lenguas entre los días 12 y 13 de julio de 2016 y 09 a 15 de enero de 2017.

domingo, 8 de janeiro de 2017

PONTE ENTRE A ILUSÃO E O REAL

PUENTE ENTRE LA ILUSIÓN Y EL REAL


Potira itapitanga.

Moro perto do cemitério, este espaço de vida e morte me representa. Recebo visitas dos vivos que nunca tiram um tempinho para me ver quando estão saindo do cemitério, no dia dos finados minha rua fica belíssima, os meios fios são pintados, as barracas com flores e muita gente. Parece festa. Tenho memórias lindas dos dias 02 de novembro da minha infância e adolescência, das primas e primos, colegas passeando pelo meio das multidões, cada vez mais esvaziado. Tem culto, tem missa, tem pessoas que colocam alimentos para os entes falecidos... É cultural, tem divisões de legislativo e personalidades importantes com monumentos na parte de cima, e povão na parte de baixo, tem a ala de sepulturas compradas para familiares... Hierarquia, confluência de crenças, cores, cheiros que nem depois de morto se igualam...
As relações desniveladas sempre existiram. O cemitério que para muitos é triste e assombroso é poético e cheio de vida para mim.
Quando vier por aqui, enquanto vivo... Quando sepultar alguém, me visite. Tenho um bom ouvido para as dores e as boas lembranças.
“Eu sou vida e não sou morte”, é nome de um texto do Quorpo Santo, eu vivo repetindo isso.
Claudiane Dias,
na manhã de 30 de outubro de 2016 no Facebook.


Em português

- O Governo danifica fatos e apresenta ilusões.
- Ééééé! E pessoas comentam décadas com atraso; tentando ver a ilusão na realidade e ignoram o real no sonho.
- Onde eu nasci, por exemplo. Eu visitei recentemente duas vezes. Uma em sonho e a outra na vida real. E em ambos os fatos não condiziam à realidade. No sonho, lindo hospital à beira mar. No real, local abandonado; com corpos vivos pedindo comida. Nem socorro eles pediam mais. Bastava comida. Pediam comida e agiam roubos.
- Nóóó! Que horror.
- Eu corri, mas os corpos mortos-vivos...
- Mortos-vivos? Eram zumbis, tipo os de filmes?
- Não! Quem dera fossem... Eram vivos mortos, para dizer melhor. Eu corri e corri e eles me seguiam. E eu os ameacei, mas ignoravam-me e continuavam avançando.
- Com que energia, se estavam famintos?
- Com a energia da morte certa, talvez. E à medida que se aproximavam fui prometendo falácias a Deus e a eles. “Se escapar dessa prometo distribuir o pouco que tenho com quem tem menos”.
- Rerrê. Aprendeu com os políticos...
- E feito eles, não cumpriria? Não sei a resposta, mas imagino... Mas ao olhar para o lado vejo uma ponte. Corro para ela e os vivos mortos atrás de mim. Piso na ponte, mas eles não conseguem...
- Por quê?
- Não sei. Apenas a atravessei e cheguei à segurança.
-
- E a ponte ainda está lá; firme e forte.


En español

- El Gobierno daña factos y presenta ilusiones.
- ¡Sííí! Y las personas comentan décadas con retraso; intentando ver la ilusión en la realidad e ignoran el real en el sueño.
- Donde nací, por ejemplo. Visité recientemente dos veces. Una mientras soñaba y otra en la vida real. Y en ambos los factos no condecían con la realidad. En el sueño, lindo hospital en la orilla del mar. En el real, local abandonado; cargado de cuerpos vivos pidiendo comida. Ni socorro ellos pedían más. Bastaba comida. Pedían comida y actuaban robos.
- ¡Caray! Qué horror
- Corrí, pero los cuerpos muertos-vivos…
- ¿Muertos-vivos? ¿Eran zombis, hecho en las peli?
- ¡No! Sería bueno se así fuera… Diciendo mejor: eran vivos muertos. Corrí y corrí y ellos me seguían. Los amenazo, pero me ignoran y no paran el avanzo.
- ¿Con que energía?, ¿se estaban hambrientos…
- Con la energía de la muerte cierta, tal vez. Y a la medida que se acercaban fue prometiendo falacias a Dios e a ellos. “Si escapar de esa prometo distribuir lo poco que tengo a quien tiene menos aún”.
- Jejé. Has aprendido con los políticos…
- Y hecho ellos, ¿no cumpliría? No sé la respuesta, pero imagino… Sin embargo, mirando alrededor veo un puente. Corro hasta ella y los vivos muertos atrás de mí. Piso en el puente, pero ellos no consiguen…
- ¿Por qué?
- No lo sé. Solamente lo atravesé y llegué a la seguranza.
-
- El puente aún está allá; y siegue fuerte.


Ofereço como presente aos aniversariantes
Claudio Oliveira, Jose L. Reis, Gleicon U.A. Moreira, Pedro Oliveira, Fabiane Martins, Kethellyn Andrade, Elis Nunes, Wally Smith, Sandra L. Oliveira, Graça Lopes, Rair Anício, Antonio A. Alves, Christiano Santos e Valéria Lourenço.


Escrito partindo de um sonho que tive na madrugada de 15 de janeiro de 2016. Reescrito em português e espanhol entre os dias 07 de março do ano seguinte e depois entre 10 de dezembro de 2016 e 08 de janeiro de 2017.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

PRESENTE IMAGINADO

REGALO IMAGINADO


Em português

Pássaros negros debaixo das nuvens escuras no cinzento céu. Perto de tudo, um menino de quase sessenta anos imagina um presente para mim: Um “chirrim” (é como ele chama os filhotes de cachorros).
- Joãozinho, vem aqui, rápido! Veja o chirrim pretinho com manchinhas brancas na tv. É seu. Pegue-o! Estou te dando de presente.
Então aproximo minhas mãos da tela e o pego trazendo até mim. Brinco um pouquinho com o filhotinho e com ele nas mãos volto para meu quarto.
Muito tempo depois saio com o menininho e meus cachorrinhos de verdade. Andamos pelas ruas Uberaba, João Napoleão Cruz, Uberlândia, Sabará.
- Sempre que na tv aparecerem outros chirrins é só pegá-los para brincarem um pouquinho mais.
- Sim! Eles gostam de brincar comigo; e eu também.
Outra vez na Uberaba entramos em nossa casa enquanto a chuva cai banhando as andorinhas que nuveiam ainda mais o céu já nublado enquanto cantam para o céu cantor.


En español

Pájaros negros bajo de las nubes oscuras en el cielo gris. Alrededor de todo un niño de casi sesenta años me imagina un regalo: Un chigín (es como él llamas los perros cachorros).
- Juanito, ¡acércate, acércate! Mire el chigín negrito con trozos blancos en la tv. Es tuyo. ¡Cójalo! Estoy donándotelo.
Entonces acerco mis manos de la pantalla y lo cojo trayéndole a mí. Juego un ratito con el cachorrito y con él en las manos me volvo a mi habitación.
Horas después salgo con el niñito y mis perros reales. Caminamos en las calles Uberaba, João Napoleão Cruz, Uberlândia, Sabará.
- Siempre que en la tv surgir otros chigíns es solo cogerlos para jugaren un poquito más.
- ¡Verdad! A ellos les encantan jugar conmigo; y a mí también.
Otra vez en la Uberaba entramos en nuestra casa mientras la lluvia cae bañando a las golondrinas que nubean aún más el cielo ya nublado mientras cantan para el cielo cantante.


Ofereço como presente aos aniversariantes da semana
Flavia Rohdt, Mª José Izquierdo, Felipe de Medeiros, Sarah Coelho, Alvine Kengni, Maximiano Lagares, Felipe Freitas, Graça Maria, Sarah Helena, Samanta Bela, Homero Dias, Vilma Escarlate, Marilelia R. Ezequiel, Marcelo Rocha, Gerusa Melo, Josué S. Brito, Vitória Amaral, Pedro Book, Elizete S. Losignore, Ana Lucia e Edson Nascimento.


Escrito originariamente en español en la tarde de 11 de diciembre de 2016. Y trabajado en las dos lenguas entre los días 15 de diciembre de 2016 y 01 de enero de 2017.