quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

CARTA

Ipatinga,

Hoje é 23, faltam seis para o fim do mês

Lóri

Eu odeio minha vida. Quero morrer. Por que, diabos, estou vivo e nessa família? Não tolero minha existência. Mais que morrer queria não existir.

Eu te detesto, Lóri. Não te tolero. Vá viado. Vá! Vai embora de minha vida. Suma!

Tem poucos minutos e você telefonou apenas para perguntar se alguém te procurou. Nem sequer está querendo saber como estou.

Perguntei onde você estava e disse estar no telefone 72831511, mas fez cu doce e não falou onde estava.

Ô idiota, praga dos infernos. Não estava querendo te vigiar e nem te controlar. Perguntei por perguntar. Se você estava na puta que pariu ou em outro lugar, não me importa nem interessa mais. Você me irrita bicha incubada.

Quando você vai embora? Quando? Suma, desapareça. Xô, xô, xô, xô, xô.

Já dormi mal porque saquei que você quer me abandonar. Já está me abandonando. Você abandona as pessoas quando as coisas ficam difíceis. Com a necessidade de pagarmos a dívida que fizemos e com nossa dificuldade em conseguirmos o dinheiro você vai sumir me deixando sozinho com o problema. Como você já fez com JR, em SP. Ele que confiou em você. Como fez em 2002 na Escola de Iniciação Teatral 7 de Outubro. Como fez comigo na livraria em 2003. Como fez com outras pessoas. Como está fazendo comigo outra vez. E eu, burro, confiei. Burro. Burro. Jegue. Jumento. Foram tantas vezes e eu, idiota, ignorei. Bem feito para mim. Mereço ser ferrado mesmo. Lóri, você é um traidor. Você é traidor. Lóri, o traidor. Traidor covarde! Vagabundo! Só come e dorme. Come e reclama do que come. Tem nojo de minha família; que te acolheu. Nojo a ponto de não usar o sabonete que usamos. Nojento é você.

Dormi pouco esta noite. Mas agora, após o seu maldito telefonema, decidi seguir minha vida.

Lóri, desgraçado, traidor, covarde, vagabundo. Lóri pernicioso, pegue suas coisas, saia e não volte mais. Vá para os quintos dos infernos. Vá para onde quiser, mas suma da minha vista. É só começarmos a falar que brigamos. Eu, que tanto de amei. Mas não vou me permitir te odiar. Você não merece que em me ocupe com você. Vai chegar o dia, e está próximo, que simplesmente terei o inverso do amor: a indiferença.

Não! Eu não vou morrer. Você não merece. Eu vou ser feliz.

E quando ler essa carta. Simplesmente pegue suas coisas e rua. Não me espere.

Benito.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

POESIA DE BAR EM BAR

Rubem Leite

Manuscritos escritos entre

09 a 18 de dezembro de 2009.

Digitação e refazimento entre

19 a 22 de dezembro de 2009

Ouvindo Águas da Amazônia, de UAKTI.


Ofereço a

Shirley Maclane, Solange Amorim,

Marília Siqueira, Nena de Castro,

Banda Bricoleur e aos artistas citados no poema.

Ofereço também a Mayron Engel,

como presente de aniversário.


A lata batida na mesa

Chama atenção

Rosto desagradável

Enquanto Penna a cantora Mariana

E os instrumentais não vêem

Quem ouve enquanto a caneta

Fala o que vê.


Cordel duma Bruta companhia

Que, juro, não vou rimar com bordel

É a pétala do pássaro Filipe

Na dor olhar de Gisely

Da Maria Clara palavra Marrione.


Tenho impressão

Estou ficando cego


Um desejo estranho

Num medo tacanho

Duma visão

Reduzida reduzindo

O cenário derredor


¿Refletindo minha estupidez?


Importaria-me menos se meus olhos

Carnais

¿Fechassem

Se meus olhos

¿Artísticos

Abrissem

Ainda mais?


Cansada de esperar a voz cansada espera resposta.


Olho para trás vendo a noite que se vai

Reposiciono-me vendo o sol que vem.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

EU SOU CACHORRO SIM

Às vezes, e atualmente quase sempre, sinto vontade de chorar. Há tantas belezas no mundo e tantas oportunidades no planeta. E muitos querem nos colocar nos lugares mais feios deixando só para eles ou para uns pouquinhos além deles uma beleza que muitos poderiam vivenciar... Outro tanto, se não os mesmos, não perdem uma oportunidade de tirar as oportunidades dos demais.

Meses e meses atrás um cachorrinho sem uma das perninhas, com muito custo, atravessou a rua chegando lá um outro cão o expulsou de volta e quase foi atropelado.

Soube hoje de dois cães. Um foi atropelado e o outro não deixou o amigo só. Nada nem ninguém conseguiu convencê-lo a abandonar o companheiro.

E eu. Estou com tantas mágoas. Tantos medíocres que atrapalham. Muitos corruptos. Muitos vendidos. Muitos sacanas. E eu. Estou com tantos rancores.

O que fazer? Só consigo rezar.

O infinito Amor de Deus flui para meu interior e em mim resplandece a Luz espiritual do Amor. Essa Luz se intensifica, cobre toda a face da terra e preenche os corações de todas as pessoas com espírito de amor, paz, ordem e convergência ao Centro” (Oração Pela Paz Mundial - Seicho-No-Ie).

E recarregado, consigo sorrir. Consigo ainda olhar para o que tem de belo. Consigo voltar a investir em fazer da Terra o Mundo Ideal. Meu amado amigo Eddy, me pergunto ontem se eu acredito que podemos mudar o mundo. Se não seria utopia. Minha resposta foi e voltou a ser “Não para amanhã. Talvez nem para meus filhos e netos. Mas tenho certeza que muita gente ainda verá e viverá num mundo ideal".

E assim, levanto, vou até a janela. Vejo o tráfego intenso, por trás vejo o morro verdejante e suas poucas casas. Vejo o céu com suaves nuvens. Lembro do estranho que me sorriu... E sorrio também.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

TANTAS CABEÇAS

Rubem Leite

Entre 03-10-06 e 09-12-09


Dez reais

Faltando um pedaço

Da mediocridade,

Peça inteira

De tantas cabeças


E eu e Nena e Cida

Vendendo cavalo, catando cavaco

Um conto nosso

Contando a introdução

De algo estranho é glúteo


Eta vida dura,

Mas melhor que ser

Gonorante.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

1ª Feira de Cordel

Para visualizar a programação, clique sobre a parte em branco abaixo do banner amarelo.

É UMA LUTA OU UM BEIJO

Rubem Leite

04 a 08 de dezembro de 2009

Ofereço à Marília Siqueira, como presente de aniversário.


Abaixo escrevo ouvindo “La Cigarra”, de Renato Teixeira.


- Bom dia! Eu sou Ruy Prado e estou querendo falar com Dr. Ferracine Ferraz.

- Bom dia, senhor! Ele não se encontra. Está viajando pelas ilhas Canárias.

- Como assim não está. Ele marcou de me receber hoje.

- Simplesmente ele não se encontra e só voltará daqui a três semanas. Sugiro então que o senhor volte dia 23.

- Mas não posso esperar tanto assim. Gastei tudo que tinha vindo para cá.

Aqui, obviamente, a moça fez uma cara nada simpática para o desprovido.

- Sinto muito.

- Mas não posso esperar tanto assim.

- Se você não se retirar agora chamarei o segurança.

Sai. E fora, o sol lhe bate na cara tirando-lhe uma lágrima e entre essa e outra lágrima, agora de fúria, volta a pé para a rodoviária. Compra a passagem. Próximo ônibus, 23 horas. Em seu bolso nem R$10,00. Senta numa praça até o estômago reclamar sua atenção. Anda pelas ruas; 13 horas. Passa por um shopping; 13:20 horas. Uma rua só de lojinhas; 13:50 horas. Outra praça; 14 horas. 14:15 horas. 14:30 horas. 14:40 horas. 15 horas. 15:10 horas. ... 16 horas e não agüentando, come uma cochinha a seco. 17:10 horas. 17:30 horas. 17:53 horas. ... 22 horas compra uma cerveja, bebe e volta para a rodoviária. Outra cerveja. Embarca. Ao lado, separados pelo corredor, uma mulher de lenço na cabeça com um bebê. De suas coisas um cheiro de salgados e frauda suja. De sua poltrona à janela aspira que ninguém tenha comprado a do corredor para ele poder esquecer por um tempinho.


Abaixo escrevo ouvindo o poema Quadrilha, de Drummond,

e Samba em Prelúdio, de Baden Powell e Vinícius de Moraes.


- Oi! Com licença, por favor.

Um homem alto, negro retinto, diz num misto de voz grave e suave. Nosso amigo pensa “já vai meu sono”, mas diz:

- Boa noite! Sente-se, por favor.

- Sou Chico Guerra. E você?

- Ah! Sou Ruy.

- Bom.

Depois de um curto silêncio agradável, Chico continua:

- Eu faço jiu-jitsu e ontem venci um adversário, agora que o campeonato acabou volto para casa. E você, faz o quê?

- Engenharia. Sou engenheiro. Estava na capital para um garantido emprego e agora que a entrevista acabou volto para casa.

- Ah!?

Depois do monólogo do Chico e umas choradinhas do bebê finalmente nosso herói consegue cochilar até que o ônibus para num lugar desagradavelmente iluminado.

- Que aconteceu?

- Para mim, fim da linha. Para você, Ruy, é só uma pausinha de minutos para depois a viagem continuar.

Descem ambos. Sem possibilidade de dormir e esquecer continuam a conversa.

- Onde estamos?

- Numa cidade industrial. Siderúrgica.

- É mesmo? Poxa. Não consegui emprego na capital, quem sabe não será aqui que poderei me estabelecer.

- É mesmo. Você é engenheiro. Mas conhece alguém que pode te indicar?

- Não!

- Huuuum! Então não será tão fácil assim. A empresa já tem sua estrutura, né?

- Preciso tanto de um emprego...

- Precisa muito, fará qualquer serviço que queiram?

Pensa e responde:

- Sim! Sou engenheiro, mas até conseguir o que quero, não me importo em fazer o que for necessário.

- Posso te apresentar para um sujeito. Foi ele quem conseguiu que a indústria me patrocinasse.

- Legal!

- Bem! Te levo para dormir em minha casa e amanhã te levarei até ele. Tenho um quartinho nos fundos, se você não se importar em se ajeitar num quartinho de despejo...

- Nessa altura do campeonato um quartinho de despejo é um apartamento.

Ambos riem enquanto começam a andar e Chico explica a natureza do trabalho.


Abaixo escrevo ouvindo Eu Sei Que Vou Te Amar (em castelhano) e Elis Regina.


Par de pés a cinco centímetros de outro par de pés. Mãos nas cinturas. Lábios rígidos quase encontrados. Olhares encontrados. A fúria ultrapassando suas alturas, esticando em muito seus corpos. Foi assim a aproximação de Chico e Ruy no jogo, em times diferentes. Depois da noite que se conheceram e dos três para quatro meses seguintes os dois se afastaram com raiva. Ruy pensando “Foi para isso que vim aqui? Sou engenheiro. Não um”. E Chico pensando “Foi para isso que veio aqui? Dei abrigo. Apresentei um que lhe deu emprego e agora é engenheiro”.

E quando o empregador ou outro pergunta para Ruy se não sente falta do amigo a resposta é sempre “Não! Não preciso de gente daquele tipo. Eu me mantenho”. Mas nunca lhe perguntaram isso enquanto dormia. E a resposta seria “Sim. Sim. Sim”. Mas nunca perguntaram. E os dois não se falaram.

Foi assim: Quando se conheceram, Chico Guerra levou o amigo para um homem que poderia contratá-lo mediante algumas noites de sexo. Mas não foi fácil, apesar da beleza de Ruy, o “benfeitor” não era tolo e um emprego importante como engenheiro é um preço muito alto para uma noite. Ruy tinha que ser bom e ficar com ele muitas noites. No início o rapaz se sentiu nervoso, mas descobriu que era prazeroso. E uma noite dormiu com Chico. Com o “benfeitor” era um trabalho. Mas se chocou quando descobriu que com Chico era amor. Era amor. E quis ser só do Chico e que Chico fosse só dele. Não foi aceito. A dor matou o amor. Mas eu me pergunto se era amor ou paixão o sentimento de Ruy. Mas o caso é que o tempo passa. Que emoções e lembranças, assim dizem, não sei, sedimentam. E Ruy conheceu uma jovem. Amou a jovem. Filha de quem o empregou. Casaram contra a vontade do, agora, ex-benfeitor. E o tempo passa. Emoções mudam. Carinho aumenta. Confiança evolui. E o tempo passa muito.


Abaixo escrevo ouvindo Enrique Granados tocando Villanesca.


E o tempo passa. E o tempo passa muito.

- É preciso coragem, meu véio.

Ruy encostado à parede nada diz, apenas olha a esposa levantando a parede dentro do quarto do casal.

- Não temos mais dinheiro e como o seguro cobre desaparecimentos...

Já estando quase tudo coberto, faltando o quê, um metro para fechar toda a parede?

- Eu te amo, véio, você sabe. Foram mais de cinqüenta anos de felicidade, mas eu preciso fazer isso. Esse dinheiro é fundamental.

A parede tem o quê? Um metro de largura pelos velhos conhecidos quatro de comprimento?

- Ninguém que não conhece nosso quarto vai perceber a diminuição. E quem o conhecia? Nunca trouxemos estranhos para cá e os empregados foram embora, já que não podemos mais pagá-los.

Oprimido e encostado à parede Ruy olha com medo para a esposa.

- É preciso coragem, meu amor. Você tem que entender. É preciso fazer isso. Depois bastará pintar... colocar o guarda roupa aqui. Ninguém vai perceber o emparedamento. E continuaremos um fazendo companhia para o outro. Você aí e eu aqui.

Um suspiro é a resposta de Ruy. Ele quer pedir à esposa amada que não faça isso. Ele a ama. Quer pergunta “Você não me ama? O dinheiro vale mais que eu? Que nós?”. Mas apenas suspira.

- Sem dinheiro não dá para vivermos. Então, adeus, meu véio. Um tem que desaparecer.

Ruy manda um beijo e Adélia cimenta os últimos tijolos. Ele suspira. Tem um resto de tempo para pensar na vida. Mas só lembra com saudade de Chico Guerra e no triste amor pela Adélia. E sai para comprar a tinta.

domingo, 6 de dezembro de 2009

SORRISO ABENÇOADOR DE DEUS

Rubem Leite


- Oi! Eu sou Benito. Tá lembrado de mim? Fiz um relato algum tempo atrás e agora vou contar outro. Vamos ao meu Confesso Que Vivi. Eu sou Benito Bardo Júnior, tenho doze anos e quando conheci a Seicho-No-Ie eu participava das Reuniões de Crianças e era tudo de bom e até sinto saudade, mas agora sou grande e freqüento o DJU. Antes de conhecer o Ensinamento papai estava cheio de dívidas e agora, praticando a Seicho-No-Ie, ele é um próspero empresário de sucesso. Semana passada estava querendo um MP13 e pedi a meu pai que disse que no dia seguinte a gente sairia de manhã bem cedo para comprá-lo. É que meu aniversário estava quase chegando. Então fui dormir, mas quando acordei já era tarde e ele tinha saído para o serviço. Fiz uma rápida Meditação Shinsokan, li a Revelação Divina da Grande Harmonia para meus antepassados, comi um pão e fui encontrar a galera no shopping. Era sábado e como sabia que tinha uns trocados na carteira a gente ia fazer um lanche por lá. Mas quando nos encontramos fiquei sabendo que um de nossos colegas, Wagner, estava com gripe suína então nós fomos lá e rezamos a Sutra Sagrada Chuva de Néctar da Verdade para ele. E acabamos ficando para o almoço, já que era quase meio dia quando chegamos. A Sutra foi tudo de bom, já que ele teve uma melhora tipo 10. De lá fomos para o shopping, inclusive o Wagner, e como namorei o MP13 que tanto queria. Depois voltamos para a Reunião de Juvenis. O LI Rezende Junior usou como livros textos “Meditação Shinsokan É Maravilhosa” e “Vamos Ler a Chuva de Néctar da Verdade”, ambos do Prof. Seicho Taniguchi e falou sobre a Meditação Shinsokan e sobre a Oração de Gratidão aos Antepassados. Ensinou que uma das melhores coisas do mundo é se encontrar com os amigos e que encontrar com Deus é ainda melhor. Portanto, a Meditação Shinsokan deve ser feita sem pressa, pois é o encontro com nosso melhor e maior Amigo. E a Oração de Gratidão aos Antepassados é como diz o nome – oração de gratidão –, portanto deve ser feito também sem pressa, mas sentido-se feliz e também grato a quem nos deu a vida. Percebi então que eu podia melhorar meu comportamento. Aí eu decidi “A partir de agora vou praticar a Meditação Shinsokan com o sentimento de me encontrar com meu maior e melhor Amigo. Afinal Deus é Amigo, e é mais, Ele é Mãe, é Pai. E vou me levantar mais cedo para agradecer de verdade aos meus antepassados rezando a Sutra Sagrada com eles”. E encerramos a Reunião praticando a Meditação Shinsokan. Eu contemplei uma aura suave como a lua cheia me envolvendo. Contemplei-me também ouvindo todo feliz o MP13. Contemplei ainda todas as pessoas que gosto – minha família, amigos e Dirigentes da Seicho-No-Ie – felizes e saudáveis. Cara! Eu vi o Sorriso Abençoador de Deus. Deus sorriu para mim, para o MP13 e para as pessoas que contemplei. Foi a melhor Meditação Shinsokan que pratiquei. É verdade. A Meditação Shinsokan é Maravilhosa, como diz o Prof. Seicho Taniguchi. Depois fomos todos juntos mais uma vez para o shopping comer uma pizza comemorar os aniversariantes do mês – eu, Rubem, Fátima e Carlos –. Na hora de rachar o pagamento abri minha carteira e... não acreditei. Lá estava um bilhete do pai dizendo “Benito, Deus te abençoe! Bom dia, muito obrigado! Como você ainda está dormindo e tenho que ir trabalhar deixo aqui um cartão de crédito que fiz para você. Cuidado para não gastar com bobagens. Mas eu confio em você. Escolha bem o aparelho e divirta-se. Lembre-se de convidar seus amigos para a festinha no domingo”. E todo atômico fui comprar o meu sonhado MP13 e comigo foi toda a galera. Foi 10. A gente se divertiu bastante. E o melhor é que na festa que fizemos em casa ainda ganhei outro presente de meus pais: Um par de tênis da hora e o que mais queria: toda a coleção A Verdade da Vida, mas não falava nada já que tínhamos uma em casa. E todas as manhãs na Meditação Shinsokan eu vejo e sinto o Sorriso Abençoador de Deus como o sol nascente que evapora o sereno da madrugada. É tudo de bom. Obrigado, obrigado, muito obrigado!

“Já disse várias vezes em ocasiões anteriores, porém torno a dizer que a Essência é como uma imensa fortuna que nos pertence, mas cuja existência desconhecemos. Suponhamos que algum parente ou amigo generoso tenha colocando numa das divisões de minha carteira um ‘cartão de crédito ilimitado’ a meu favor, sem que eu percebesse. Imaginemos que eu vá a uma grande loja, certo de que em minha carteira só existe uma pequena quantia. Mesmo que encontrasse mercadorias que gostaria de adquirir, teria de me contentar em comprar somente aquilo que não ultrapasse essa pequena quantia. Ainda que examinasse a carteira, só veria algumas notas na divisão principal e continuaria a desconhecer a presença do ‘cartão de crédito ilimitado’ em meu nome, numa outra divisão. Assim, acharia impossível comprar algo acima da quantia limitada que constatei possuir. E seria mesmo impossível. Contudo a situação mudará completamente se alguém me informar acerca da existência do ‘cartão de crédito ilimitado’ em minha carteira. A partir desse momento, passarei a ter o poder de adquirir tudo o que eu quiser. A Essência é como esse ‘cartão de crédito ilimitado’: é a possibilidade infinita que existe dentro de todo o ser humano. Na Essência do ser humano é dotado de Vida infinita, força curadora infinita, provisão ilimitada”.
(A Verdade da Vida, vol. 17 – Dr. Masaharu Taniguchi capítulo Uma Religião que se Vive no Cotidiano).

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

BEIJO DEMORADO, PROLONGADO, QUE SELOU

Rubem Leite – 02-12-09

Ouvindo Casinha Pequenina, de Sílvio Caldas escrevo

Matei! Matei sim e mataria com prazer muito mais se eu pudesse. Sou uma soberana. Nunca uma soberana qualquer. Mas a soberana de suas vidas. Agora a polícia virá me prender. Como? Suas mãos indignas não poderão me tocar. Tocar a mim! A mim! A sua senhora. Não Nossa Senhora, mas a senhora sua. Deliciei com seus sexos mais do que se deliciaram com o meu. Beijei demorado, prolongado, que selou suas mortes. Mas vocês me mataram antes. Mataram-me primeiro. A mim, sua soberana. Mataram meu garanhão. Tão majestoso. Tão soberano. Tão rijo. Lindo. Vocês o tomaram. Não poderia ser de vocês então não seria de ninguém. Meu garanhão. Meu! Cresci. Tornei-me soberana. Eu me fiz soberana. Eu! E a polícia quer colocar suas mãos corruptas em mim. Nunca. Jamais. Mas agora mostrei que o único macho digno de mim era meu garanhão. E eu sou a fêmea soberana. A fêmea soberana que se deleitou com vocês. Eu! A fêmea soberana. Soberana. A polícia imunda, indigna não me tocará. No meu nobre salão real espalho, jorro perfumes. Acendo a lareira tropical. Tranco a porta. Espojo-me no divã de veludo e seda de ouro. Em pouco tempo o calor tropical é vencido pelo calor das chamas. Eu, soberana, me deito com o fogo que me come e que eu governo.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O ELOGIO DE DEUS

Rubem Leite


- Oi! Eu sou Benito. E você?

- ...

- Gostei do seu nome. Tenho dez anos e freqüento a Reunião de Crianças. E você?

- ...

- Legal conhecer você! Agora vou contar o meu Confesso Que Vivi. Eu e minha mãe, a gente não se dava bem e vivíamos brigando. A gente era que nem cão e gato. Aliás, não, pois tenho quatro cachorros e um gato e eles não brigam. Acho que as pessoas dizem que gato e cachorro brigam porque não praticam a Seicho-No-Ie. Lá em casa, por exemplo, depois que comecei a freqüentar a Reunião de Crianças minha mãe e eu “ficamos legal”. E os cachorros mais o gato fazem a Meditação Shinsokan e Oração de Gratidão aos Antepassados conosco. Ficam deitados ao nosso redor, quietinhos no tapete da sala. Bem, vamos ao Relato:

Muito obrigado! Eu sou Benito Bardo Júnior. Conheci a Seicho-No-Ie dois anos atrás e antes disso, minha mãe me xingava todos os dias e dizia que eu era filho do capeta. Ela até já me bateu várias vezes porque tudo que eu fazia era errado e fora de hora. Uma tarde, depois que eu vinha da escola parei na banca de revistas da pracinha para ver quais as novas revistas de super-herói. Só ver já que mamãe não me dava dinheiro nenhum porque dizia que eu não merecia e porque estava todo individado. Quando ia saindo uma menina e uma moça me ofereceram um Jornal Querubim e uma Mundo Ideal. Aceitei, porque queria ler alguma coisa e não tinha dinheiro. Chegando em casa fui direto para o banheiro porque tinha que tomar banho senão mamãe brigava comigo e também porque estava um calorzão danado. O jantar era um silêncio só porque mamãe não falava comigo e papai ficava triste pela falta de dinheiro e sem jeito diante da cara brava dela. Acabei de comer e fui para o quarto ler as revistas. No Querubim eu vi uma frase que não acreditei. Imagine só, estava escrito “Antes de pensar em ser elogiado por outrem, pense em ser elogiado por Deus”¹. Aí eu pensei: “Será? Eu quero ser elogiado pela mamãe, mas nunca pensei em ser elogiado por Deus. Como faço para ser elogiado por Deus?”. Lendo a Mundo Ideal vi que para ser elogiado por Deus deveria procurar fazer as pessoas felizes, principalmente aos pais. Aí pensei: até a minha mãe? E vi que sim. Continuando a ler vi o carimbo com endereço da Associação Local e fui na Reunião de Jovens. Foi super híper ultra legal. E lá eles me disseram que todo domingo tem Reunião de Crianças às 09 horas da manhã. Comecei a freqüentar escondido, pois achava que fossem me proibir. Aprendi a agradecer aos antepassados, ao papai e até a mamãe. No início agradecia a mamãe meio sem vontade, mas como queria ser elogiado por Deus, eu ficava repetindo umas mil vezes todos os dias “Obrigado, Deus! Obrigado, antepassados! Obrigado, papai! Obrigado, mamãe! Obrigado, obrigado, muito obrigado!”. Então freqüentando a Reunião de Crianças, lendo o Jornal Querubim e a Mundo Ideal fui me tornando um bom menino e quanto mais eu fazia na hora o que mamãe pedia mais ela passou a mostrar o seu amor e suas palavras foram ficando mais carinhosas. Um dia mamãe me chamou:

- Benito! Que foi que aconteceu que você virou um anjinho?

- Então falei da Seicho-No-Ie e na Reunião seguinte ela foi comigo. Enquanto eu participava da Reunião de Crianças ela assistiu o Domingo da Seicho-No-Ie. Hoje fazemos juntos todas as manhãs a Meditação Shinsokan e a leitura da Sutra Sagrada Chuva de Néctar da Verdade para os antepassados. Papai e mamãe estão fazendo o Módulo de Estudo da Seicho-No-Ie. Ele freqüenta a Reunião dos Adultos, a Fraternidade, mamãe acabou de se tornar Presidente da Associação dos adultos Pomba Branca e todos juntos vamos para o Domingo da Seicho-No-Ie, eu para a Reunião de Crianças. Amo muito a Reunião de Crianças, mas ano que vem vou começar a participar das Reuniões de Juvenis. Oba! Mas não para por aqui o meu Confesso Que Vivi. Toda vez que papai e mamãe olham para mim e para meus irmãos são todos sorrisos. E o sorriso do papai e da mamãe é o sorriso abençoador de Deus e assim eu me sinto elogiado e amado por Deus. Obrigado, Deus! Obrigado, Mestre! Obrigado, antepassados! Obrigado, papai! Obrigado, mamãe!


“A primeira tarefa apresentada na ‘Escola da Vida’ é o treinamento para proferir palavras que exprimem os bons sentimentos inerentes ao ser humano. Esse treinamento requer bastante tempo. Portanto, vamos todos continuar treinando a dizer boas palavras.

O procedimento mais fácil é treiná-las no próprio lar. Todas as manhãs, ao acordar, diga um alegre ‘Bom-dia’ a seus pais. E, também na hora da refeição, profira boas palavras. Creio que a maioria dos leitores se comporta desse modo, e espero que continue assim. Quanto às pessoas que não costumam agir dessa forma, recomendo que iniciem o treinamento a partir de hoje, pois é fácil e qualquer um pode fazê-lo. Além de proferir boas palavras, devemos praticar, pelo menos uma vez ao dia, algo útil, algo que beneficie todos”.

(Viver com Alegria, Prof. Seicho Taniguchi, Boas Ações e Agradável Treinamento).

¹ Jornal Querubim, nº 125, dezembro 2008.