domingo, 29 de março de 2020

IDADE MÉDIA AINDA É HOJE



Aos que a felicidade é Sol
Virá a noite
Mas ao que nada espera
Tudo o que vem é grato.
[Ricardo Reis (Fernando Pessoa)]

Não fecharemos os templos
Faremos culto
Comprem álcool ungido
Sigam os pastores


Rezem no dia de São José
Façam o terço
Ponham uma cruz na porta da casa
Repitam a prece do Papa

E coronavírus não entrará na sua casa
E o covit 19 não vos afetará

Estudar História é importante.
A religião não mudou com a peste negra.
Não mudou com a gripe espanhola.
Não mudou com nenhuma catástrofe.
Não mudou com o nazismo.
A igreja não muda. Continuará sempre a usurpar e a deturpar.
É preciso coragem para aprender com a História.

 É preciso coragem para não ser (mais) enganado.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
João F. Alcino e Antônio Pirralho.

Recomendo a leitura de:
“O Vírus da Esperança”, de Wil Delarte:
“Tempos de Reclusão”, de Caio Riter:

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.
 É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
 É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.
 Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
 Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Foto do autor pelo próprio autor.

Escrito e trabalhado entre os dias 19 e 29 de março de 2020.

domingo, 22 de março de 2020

UM VÍRUS TEU NÃO FOGE A LUTA


UM VÍRUS TEU NÃO FOGE A LUTA
(exceto se este for o presidente)



El Brasil tiene un virus caminante como gobernante.
Brazil has a walking virus as its rule.


Seis e cinquenta e cinco da manhã e o suor já nos fede. Não na sala dos professores porque estes estão livres das coisas mundanas e a prova disso é o alto salário dos educadores e o prestígio social que dispõem. O décimo terceiro em dia. Rerrê.
Uma dupla conversa aqui; outra ali e de um dos diversos grupos, dando-me um susto, surge do nada:
- MU MUU, MUUUUUUUU. MUU MUUUUUU, MU. MUUUUUUUUUUUUU. MU MU MUMU MU MUUU, MUUUUU MU, MU, MUU. MU MU MUMUMU MU MUUUU, MU. MUMU, MUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU.
- O que ela está dizendo?
- Não sei. Vamos ouvir pelo ‘go o gle’ tradutor:
Votei no Boçalnato sim. Lula estava preso. Se foi preso é porque é criminoso. Vergonha é votar em presidiário. Votei no Boçalnato e votarei nele outra vez. Pelo menos enquanto ele estiver solto. Se for preso saberei que ele é bandido, mas se está solto é porque é honesto; diferente do Lularápio.
- Professor tem a obrigação de ser a elite intelectual do município. Sim, tem. – Entro na conversa. – Pois deve preparar os demais para serem cidadão. Contudo, uma grande parcela só sabia e continua ignorantemente a dizer “Petêêê; Mamadeira de pi##ca; Lulinha Friboi; Lula mal; Boçalnato bonzinho; etc.” e votou no Zemagogo e no ‘aumentativo de Elena’ e com isso destruiu Minas e o país.
- Não devemos nos por em campos diferentes. – Intervém uma colega. – Estamos todos do mesmo lado.
- A senhora quer “paz e amor”? A gente está batalhando para corrigir a desgraça que esses imbecis criaram. Não os amo; sequer os respeito como profissionais. Não estamos do mesmo lado não. Eles que lutem no canto deles para limpar a ca###ça que fizeram para não nos atrapalhar mais que já atrapalharam.
- Os políticos adversário podem até se abraçar, mas jamais estarão no mesmo palanque. – Acrescenta Ana Glaicy Souza. – Já nós, professores, precisamos compreender que os políticos passam e nós prevalecemos, porque somos concursados na ativa ou aposentados. Precisamos de políticas públicas que qualifiquem desde os profissionais até os investimentos estruturais. Embora pareça papo de socialista, na verdade é assunto de especialistas em políticas públicas. E é essa ideia que todo candidato deveria agregar no seu plano de gestão ou legislatura e praticá-la quando eleito.
- Professores! – Interrompe o diretor. – No início da tarde de ontem havia trinta e cinco possíveis casos de coronavírus. Ao fim dela passou para cinquenta*. A Secretaria Municipal de Educação mandou um circular a todas as escolas dizendo que até segunda ordem hoje é o último de aula. Dediquem a primeira aula para explicarem bens aos alunos que não são férias antecipadas. Eu mesmo irei de sala em sala explicar o que está acontecendo.
- O FZema quer que estudantes das escolas estaduais vão uma vez por semana à escola buscar material de estudo para na semana seguinte devolver respondido e buscar novos materiais de estudo. E assim evitar o contágio.
- E como os alunos irão à escola sem ter contato com ninguém?
- Mistérios das caraminholas do governador.
As aulas transcorreram naturalmente e em casa recebo visitas. Não devia, mas...
- ¡Buenos días, profe! ¿Cómo está?
- Estou bem e você?
- Mi marido y yo estamos preocupados por eso del coronavirus. El presidente de acá no toma medidas.
- A situação brasileira é como foi na Itália quando lá começou o perigo. O povo pensava que apenas um viruzinho: “não é nada demais. Não é nada perigoso e vou sair de férias”. Itália está na situação terrível que está hoje por esse motivo. Contudo, lá tem uma vantagem. Tem um governo enquanto o Brasil tem apenas um vírus caminhante como governante, mas governo mesmo… Estamos mal.

- Es horrible todo eso porque las medidas de prevención dejan de tener sentido porque hay pocos que cobijan¹ estas medidas y muchos que se toman vacaciones¹.
- Tudo isso está acontecendo na Itália porque trataram com a mesma leviandade que o Brasil está a tratar a situação. E nosso caso é pior porque não temos um bom e capacitado governo.
- Espero realmente que eso sirva de ejemplo para Brasil. Y que el pueblo comprenda el peligro.
- Lamentavelmente a quarentena é para quem pode ficar em casa. Os trabalhadores mais pobres têm que ir. Operários não podem adoecer.
- En Latinoamérica ocurre el mismo. Quien tiene buena vida se queda en casa. Pero los pobres que se mueran. El capitalismo es injusto. Solo los pobres pierden.
- No Brasil tem o ditado “a corda sempre arrebenta pelo lado mais fraco”. As duas primeiras pessoas a morrerem aqui foram um porteiro e uma empregada doméstica e ambos contraíram o covit 19 de seus patrões. E mais, a patroa da doméstica sabia que estava com coronavírus, tratou-se, mas não disse nada a empregada.
- ¡Qué injusto, profe! ¡Qué cruel! Y estos hipócritas siguen diciendo sus plegarías².
- O Presidente disse: “Vai morrer gente?!? Vai! Mas temos que proteger a economia; não podemos fechar igrejas, shoppings, empresas”.
- Primero las iglesias como mantenedora económica… Pero, ¿qué lees, profe?
- “Estado, monstro de maxilas leoninas, por meio da qual a minoria astuta parasitará a maioria estúpida”. Disse Monteiro Lobato no conto O Macaco que se fez homem.




Ofereço como presente aos aniversariantes:
Ana L. Pena, Manoela S. Bicalho, Diony Stefano e o grande Girvany de Morais.

Recomendo a leitura de:
O Macaco Que se Fez Homem”, de Monteiro Lobato. Pela editora Globo pode ser adquirido através do sítio www.globolivros.com.br
Rude Peleja”, de António MR Martins:
http://poesia-avulsa.blogspot.com/2020/03/rude-peleja.html

* Timóteo, Minas Gerais. 21 de março de 2020. Dados da PMT.
¹ Cobijar é amparar, receber ou acolher alguém ou algo. Vacaciones é férias.
² Plegarías é prece, orações.

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.
É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.
Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
CÉLLUS. https://www.facebook.com/DesopilandoOFigado/photos/a.725994847456214/2834993593222985/?type=3&theater
SCHRÖDER. https://www.facebook.com/DesopilandoOFigado/photos/a.725994847456214/2833829480006063/?type=3&theater
Do autor pelo autor.

Escrito entre os dias 18 e 22 de março de 2020.

domingo, 15 de março de 2020

DEUS ENVIOU CRISTO, O DIABO ENVIOU OS CRISTÃOS




A tarde talvez fosse tranquila se meu corpo não fosse problemático. Mas ele não é fácil.
- Benito, desculpe dizer o que vou falar… Até me sinto sem graça… Mas tenho que dizer. Você tem cheiro forte e tem gente fazendo piada.
Fora agradecer pelo aviso não soube o que dizer. Falta de banho não é. Será sua psique a causa do forte odor?
Em casa vejo o Caralivro e fico a rolar a tela.
Era uma vez um pobre e inocente coronavírus que, por não pensar direito, votou, digo invadiu o Boçalnato e lá dentro nada encontrou. Tamanho era o vazio interior.
- Alô! – Gritou e ecoou: ou, ou, ou.
- Tem alguém aí? – Aí, aí, aí.
Assustado deu mais um passo e da beira do abissal abismo que estava caiu no buraco negro e foi parar em outra dimensão.
Enquanto isso, nesta dimensão:
- Estou infectado. – Disse o presidente.
- Não estou infectado – Desdisse o presidente.
Ainda no Caralivro há quem divulga foto de trabalhador informal como se sua miséria fosse dádiva divina.
- Você está de brincadeira? – Digo ao fotógrafo. – Alguém ser obrigado a trabalhar sem nenhuma segurança, sem vínculo empregatício nem garantia e você elogia? Duas coisas se vê em quem elogia o trabalho informal: frequenta muito igreja e por isso perde a empatia. A outra coisa que se vê é que votou no Boçalnato.
- Tudo provém de Deus, meu amigo Benito. Mu.
- Isso é o que pastores dizem para justificar a miséria: “é a vontade de Deus”. E pelo visto você comprou essa ideia; o que te faz compactuar-se com a desgraça alheia. Trabalho informal não é a vontade de Deus. Dignidade sim. E qual é a dignidade em sofrer horrores para receber uma miséria?
- Tudo é a vontade de Deus. Muu.
- Sai da igreja porque está te afastando de Deus. Veja bem, você está comemorando a miséria daquele homem como se fosse bonito não ter dignidade. Realmente você só pode ter votado no Boçalnato e no FZema.
- Jamais deixarei Cristo, meu grande amigo Benito. Muuu.
- Nunca disse para deixá-lO. Veja como a frequência a igreja acaba com a empatia e acaba igualmente com a capacidade de percepção, interpretação, compreensão. Falei para sair da igreja e você entendeu Cristo. Colocaram na sua cabeça que o importante é ela, a religião. Ao ponto de você não distinguir Ele dela e de confundir os dois.
- Sem igreja não vai a Cristo. Muuuu.
- Foi a igreja que te fez acreditar que a indignidade é bonita e louvável. A repetir, com certeza, “petêêê; Lula mal; tripleeex; Lulinha Friboi etc.” assim como a escolher para presidente alguém que ama prisão e tortura. Esquecendo que votar em alguém assim é abandonar a Cristo, mesmo que não pare de falar no Nome dEle, pois Jesus foi preso e torturado. Em outras palavras, ao votar no Boçalnato você declarou aprovar o sofrimento de Jesus. A antegozar a agonia dEle.
- Muuuuu.
Acho melhor pegar um livro, mas antes:
- Estamos ao vivo entrevistando o coronavírus. Após sua viagem psicodélica o que o senhor tem a dizer em relação ao Boçalnato?
- O EleNão é tão vazio que a gente não conseguia se situar. Pensávamos estar na veia, mas como o capitão não tem sangue a gente saiu junto com as fezes.
- Então o presidente se curou no banheiro?!?
- Não, não. A gente saiu enquanto ele falava.
A repórter sorrindo bovinamente para a câmera:
- Aqui é Patty Faria, do Jornal do SbsTeira.




Ofereço como presente aos aniversariantes:
Camila Vaz, Jeferson Adriano, André Amorim, Maria Cloenes, Juli Ariel e Alexia Silva.

Recomendo a leitura de:
“Imperfeição Humana” e “Quarentena na praia”, de António MR Martins:

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.
É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.
Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Imagem do coronavírus enforcando-se foi tirada do fb;
Foto do autor pelo autor.

Escrito nos dias 10 a 15 de março de 2020.

domingo, 8 de março de 2020

UM DIA SEREI SILÊNCIO, MAS NÃO HOJE



Larôyê Exu, meu Santo Antônio! Exu é Mojubá! A vós, Mensageiro Exu, meus respeitos! Eu te peço, Exu:
Mensageiro dos Orixás e do próprio Olorum, proteja-me da inveja e do olho gordo; mantenha meus caminhos abertos no amor e nas finanças; oriente minhas palavras escritas e faladas. Larôiê Exu! A vós, Santo Antônio, meus respeitos!


É uma manhã nublada e um pouco fria, apesar de estarmos em março. Nem por isso deixamos de tomar uma cervejinha.
- Belo presente que o Galo deu ontem pra mulherada.
- E pros homens também.
- Um brinde ao Galo.
- Tô fora!
Riem e como a conversa é descontraída muda de rumo mal se dando conta disso.
- Já houve o tempo em que os políticos não discursavam expondo seus ódios e ignorâncias. Contudo, hoje os maiores números de votos vão para a estupidez e para o mal.
- Levitsky, li no livro “Tudo que você precisou desaprender para virar um idiota”, da Meteoro Brasil, disse: candidatos que se demonstram autoritaristas no discurso costumam fazer o que falam quando empossados.
- Sei que Levitsky explicou as quatro etapas para identificar um político autoritário.
- Lembrando que o autoritarista não tem autoridade; só violência.
- Rerrê. Verdade. Mas como dizia, há quatro etapas para saber se o político tem autoridade ou se só é autoritarista: O político rejeita as regras do jogo democrático; seus discursos encorajam a violência; nega a legitimidade da existência de adversários; por fim ele dá a entender que prejudicará seus adversários ou lhes diminuirá a liberdade civil.
- Mas hoje é oito de março e a Sinistra Danares disse que nada há a comemorar.
- Verdade. Não se comemora algo triste. O feminicídio brasileiro é algo ainda assustador. Rubem Leite, em seu cronto Silencio e Trovões, falou: Se as pessoas se assustassem com a mortandade feminina no país como se amedrontam com um vírus com menos casos que hepatite, aids, dengue, zica…
- Quando ele disse isso?
- Domingo passado.
- E a questão do negro e dos gays? Vi recentemente uma postagem no fb dizendo que trinta anos atrás se um menino chamasse outra de “viado” o outro retrucava com uma resposta machista. Mas não disse isso de modo crítico; aliás, quem postou nem deve ter percebido o machismo disfarçado de piada. E nos dias atuais se um menino chama outro de viado é tachado de homofóbico.
- Você fez algum comentário?
- Sim. Algo mais ou menos assim “Também já foi comum chamar alguém de macaco, mas hoje já se sabe que isso não engraçado. Por que seria engraçado chamar alguém de viado?”. Três pessoas curtiram. E dois me responderam. Um falou: “Sempre chamei meus amigos de macacos e nunca faltou risada. Até porque em vez de ficarem ofendidos eles arrumavam um argumento do cu pra zoar de volta”.
- Diz o que Rerregina Senharte falou sobre o pai dela: “Quando conheci Boçalnato encontrei um cara doce, um homem dos anos 1950, como meu pai, que faz brincadeiras homofóbicas, um jeito masculino… que chama brasileiro de preguiçoso e dizia que lugar de negro é na cozinha; sem maldade”¹. Mas e o outro, o que disse?
- Falou que no Espírito Santo é comum chamar o outro de viado assim como em São Paulo chamam uns aos outros de “cuzão”, “arrobando”.
- E não percebe o machismo homofóbico?
- Não. Talvez por não ser homossexual lhe falta empatia e vê tudo como brincadeira. Como Rerregina Senharte afirma ser apenas brincadeira dizer que lugar de preto é na cozinha.




Ofereço como presente aos aniversariantes:
Eunice Profeta, Lene Teixeira, Jacomar A. Braulio, Gustavo Fernandes e Thiago Vaz.

Recomendo a leitura de:
Ultimada hecatombe”, de António MR Martins:
http://poesia-avulsa.blogspot.com/2020/03/ultimada-hecatombe.html
Escravidão”, vol. 1, de Laurentino Gomes:
www.globolivros.com.br

¹ https://pipocamoderna.com.br/2018/10/regina-duarte-defende-racismo-e-homofobia-da-boca-para-fora-de-bolsonaro-em-entrevista-polemica/
https://veja.abril.com.br/entretenimento/regina-duarte-diz-que-bolsonaro-e-doce-e-homofobia-e-da-boca-pra-fora/
https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,homofobia-de-bolsonaro-e-da-boca-para-fora-diz-regina-duarte,70002564696

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.
 É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.
 Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
 Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
 Imagens:
 Cartaz de Rosa Luxemburgo foi tirada do fb;
 Foto do autor pelo autor.

Escrito na manhã de 08 de março de 2020.

domingo, 1 de março de 2020

SILÊNCIO E TROVÕES


PRAÇA RETANGULAR COM CENTRO CIRCULAR
ou SILÊNCIO E TROVÕES


Un día seré silencio.
Hoy soy trueno.
A day I will be silence.
Today I am thunder.

Todos os dias a seis e quinze ele saía de casa para trabalhar. Eram dois ônibus. Era um belo prédio o lugar onde ele trabalhava; retangular: a Biblioteca Pública Municipal.
Quem diria, havia uma bela biblioteca municipal na cidade… Ninguém, pois não tinha. Isso é apenas desejo meu – o autor – e de outras dezenas de pessoas na cidade; de centenas no estado desejando uma em cada canto; e de poucos milhares no Estado sonhando em cada município.
A cidade real, não a do cronto, é de aço bruto. O estado real e imaginário são conservadores (não refinado como poderia ser, mas estúpido). O Estado real e imaginário regrediram a repressores. Será isso a conservação de tanta alma bruta…
Chegava. Entrava na salinha onde trabalhava. Sentava na sua mesinha. Puxava papo com a colega do setor que nunca lhe respondera com bom humor. Assim fora no princípio e mesmo passado meses e anos a colega não mudou o modo de ser com ele e com os outros. Ele foi ao silêncio.
A biblioteca cuidava de dois cães abandonados à sua porta. E a colega reclamava: “não param de mijar nem de ladrar”. Isso não o surpreendia muito. O que o espantava eram os humanos não seguirem as regras da casa nem da vida.
Uma noite, pouco antes de acordar, sonhou que era o prefeito com bela gestão na cidade Jardim de Aço. Com toda alegria comentou com a colega que não lhe dera a mínima importância, mas dissera:
- Por que alguém votaria em você. Por quê? – E pela primeira vez sorrira… – Você nunca fez nada, nem limpa a sua sala.
- Mas porque limparia se há quem o faça?
- Se eleito fosse seria como todos os outros. – E riu debochada com o jornal na mão. – Veja essa notícia. Há dois casos de coronavírus na cidade.
Se as pessoas se assustassem com a mortandade feminina no país como se amedrontam com um vírus com menos casos que hepatite, aids, dengue, zica… – Pensou enquanto a olhava e voltou ao trabalho.
Tornara-se prefeito? Não, nunca fora eleito nem se candidatara. Fora só um sonho que sonhara só. Mas bem geria seu serviço e sua mesa na sala que ficava bem em frente ao pequeno jardim no interior da biblioteca que também cuidava. Talvez por chegar tarde ou em cima da hora, coisas que a colega nunca vira: a gestão do serviço, da mesa e do jardim. Regava as plantas, varria as veredas com bancos para o público sentar e olhava a estátua no canteiro central e circular do retangular jardim que se chamava Praça Lima Barreto. Só pra isso saía cedo de sua casa.
Nunca se candidatou e nem parou de cuidar da praça. E mesmo velhinho, aposentado e cansado ia à biblioteca para cuidar do jardim e ler.
Aaaah! Como ele lia após cumprimentar o velho Lima Barreto.
Depois voltava para casa.
Sorrindo.
No seu silêncio cuidava da hortinha de plantas medicinais que servia a vizinhança enquanto escutava o rádio.
No seu silêncio lia algo ouvindo músicas:
“Acuchilla a los que se difienden, hace prisionero a los demás, saquea en nombre de las armas vencedoras y ofrenda sus preces a un dios, al compás de los cañones”¹.
“People talking without speaking, people hearing without listening and no ane dare disturb dare the sound of silence”².






Ofereço como presente aos aniversariantes:
João P.C. Silva, Átila Nonato, Elmina Ferreira, Ramon Henrique e Rafael Henrique.

Recomendo a leitura de:
“Coronidade das Coisas”, de António MR Martins:
“Azuis Desmaiados”, de Caio Riter:

¹ MAUPASSANT, Guy de. Bola de Sebo y otros relatos. Madrid: Santillana Ediciones Generales, 2007. P. 12.

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.
 É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
 É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.
 Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
 Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
 Foto do autor pelo próprio autor.

 Escrito após um sonho na madrugada de 20 de fevereiro de 2020 e trabalhado nos dias 29 de fevereiro e 1º de março do mesmo ano.