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domingo, 17 de julho de 2022

RATANABÁ


Iria-me embora para Ratanabá

Porque aqui sou inimigo do rei

- um boçal sem igual -

Lá teria quem eu quisesse

Na casa que escolhesse

Mas como não é Brasil

Quem escolheria

Tinha que escolher-me também.

A verdade, porém,

Lá e cá

Reciprocidade é rara.


Em Ratanabá

Teria a felicidade que aqui não há

A existência seria aventura

Mas desventura está nos dois lugares

Quem crê é inconsequente

Paz só tem os dementes.


Em Ratanabá teria tudo

Seria outra civilização

Menos antiga que a Terra

Mais antiga que a humanidade


E quando eu estivesse mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite tivesse

Vontade de me matar

Não me esqueceria

Sou inimigo do rei

- o boçal sem igual -

Tal qual aqui não teria

Quem eu queira

Quem me queira


Ratanabá não existe

Como não existe

Cérebro funcional

Na cabeça do rei:

Messias sem milagre

A zombar de quem não respira

A comemorar CPF cancelado

Principalmente dos bem mais velhos

E cujo filhos

- Todos zero

01, 02, 03, 04

E, para o rei boçal,

A menos que zero

A 05 -

Todos educados

A não se casarem

Com negros

A tirar até o último centímetro

Dos povos originários

A surrar

Os meios 'gayzinhos'


Ratanabá não existe

Tal qual Brasil pra toda gente.



Só me consola

Ter aos meus

Olhos, ouvidos, narinas, língua e pele

A fauna, os livros e a flora.

E não preciso fugir pra Ratanabá.


_____

Rubem Leite

O que sinto e penso não sei a quanto tempo escrevi na manhã de 17/7/2022.

Foto do autor.

domingo, 5 de junho de 2022

ABÓBODA FLORAL

 Foi por aqui que passou para chegar.


Antes de sair via o que vivia.

O governo federal incapacitado, o judiciário submisso. O governo mineiro entrando na justiça para não pagar os professores e o judiciário, submisso. Os municípios de Ipatinga e  Timóteo negando aumentar o salário dos educadores. E este último eliminando dos ônibus os cobradores para dar aos motoristas múltiplas funções: conduzir, guiar quem entra, cobrar a passagem, ver quem sai...

O que a gente é diante do capital?

O que é gente diante do capital?

Em nossas intimidades, pelejas, muitas pelejas.

- Boa tarde, professor!

No supermercado do Limoeiro lhe diz um imenso sorriso que muito o prejudicou. Pego de surpresa não soube reagir e só devolveu o cumprimento.

Nas salas de aula, alunos, mas não estudantes.

- "A, e, o" sempre são vogais, mas "i, u" podem ser vogais ou semivogais. Semivogal é quando sua pronúncia é mais fraca. E duas vogais nunca podem estar na mesma sílaba. Para estarem na mesma sílaba tem que ser vogal e semivogal ou o contrário; formando assim ditongo. Hiato é quando "u, i" tem a força de vogais mesmo estando ao lado de outra vogal, mas em sílabas diferentes.

- Como assim, professor?

- Vejamos os exemplos: "saí e sai", "saúde e saudade". Leiam pausadamente essas palavras, prestando atenção nas pronúncias.

- Sa-í / sai /|\ sa-ú-de / sau-da-de".

- Viram que em "saí e saúde" tanto "a" quanto "í" assim como "a" e "ú" foram pronunciadas separadamente?

- Siiim.

- Pois é. Ocorreram hiatos. Quer dizer, todas elas têm força de vogais. Mas em "sai e saudade" foram pronunciadas juntas, mas o dois "a" foram ditas com bem mais força que "i, u"; isso significa que se tornaram semivogais. Ocorrendo, assim, ditongos. Consegui explicar?

- Siiiim, professor.

Passou os próximos dias fazendo perguntas e dando exercícios sobre os encontros vocálicos e eles quase sempre acertando para errarem na prova que, diga-se de passagem, foi muito fácil. Erraram mais por terem pouco ânimo de interpretar os enunciados.

Em casa, ouve as brigas dos vizinhos da frente e as dos vizinhos de trás.

Em casa, pelejas. Seu filho sempre recusando tomar seus medicamentos, bebendo bastante e até a cheirar Paracetamol desfeito a pó.

Em casa, gritos na frente, dentro e atrás. Gritos, gritos e gritos.

E foi assim que atravessou:

Abriu a válvula do botijão, girou o botão da trempe, disfarçou o cheiro espalhando inseticida no ar e saiu deixando o pai professor deitado no sofá, bem perto da cozinha.


_____

Rubem Leite

Foto do autor.

Escrito entre 01 e 05 de junho de 2022.

domingo, 22 de maio de 2022

O PROFESSOR DO BANHEIRO E O GAROTO DO BEBEDOURO

 

1978

Em agosto, faltando trinta dias para eu completar dez anos, morri!

Foi assim:

Garoto magro, educado e, segundo meus coleguinhas, com jeito de menininha. O acosso era diário. Sim, vou dizer acosso e não bulling.

Mas antes de falar de mim falarei do professor Frederico. Um velho magro de bengala e muito bravo. Eu e uns poucos gostava dele, mas outros o odiavam.

O bairro era violento e tanto eu quanto o professor a gente morava perto da escola.

A manhã estava ensolarada, mas fazia frio. Os quatro alunos que mais me provocavam saíram da sala sem serem vistos pelo professor a quem desrespeitavam.

- Professor! Breno, Bryan, Kauã e Kaike foram lá pra fora.

Com um suspiro de desa... desa... desalento. Isso, desalento. O professor pegou a bengala e foi ao banheiro dos meninos para brigar com eles. Mas o que aconteceu foi diferente. Enquanto o professor brigava os quatro começaram a empurrar o professor pra lá e pra cá fazendo o coração do professor querer parar e quando perdeu o equilíbrio bateu a cabeça na pia.

Os quatro ficaram com medo e saíram disfarçadamente do banheiro. Ao ver os colegas com ar assustado e sem o professor fui à diretora falar que o professor tinha ido ao banheiro brigar com os meus colegas e ainda não voltou apesar deles já estarem na sala.

Acharam o professor caído perto da pia com a bengala em sua mão.

 

Dois meses depois, quando os colegas voltaram da suspensão. Sim! Eles foram apenas suspensos e não expulsos. Era só a morte de um velho professor que escorregou no banheiro e a vida de quatro meninos; filhos de pais perigosos.

O bebedouro perto das salas de aula estava com defeito outra vez e fui ao bebedouro da quadra de esportes. E lá estavam Kaike, Kauã, Bryan e Breno.

Foram só cinco minutos.

Bryan me segurou, Kauã me deu uns tapas bem doídos, Kaike ria falando Julinho bichinha, Julinho viadinho, Julinha mulherzinha. E Breno queria fazer um experimento. O que aconteceria se alguém bebesse Diabo Verde? Com a dor quis gritar, mas Kaike tentou tampar a minha boca, mas sua mão queimou e quando me soltou eu já não podia gritar. Fiquei caído espumando e confusionando. 


Os quatro pularam o muro porque não podiam voltar para sala com a mão um pouco corroída de Kaike.

Quem me encontrou primeiro foi o professor Frederico. Me ajudou a levantar e fomos conversar.

No final das aulas apareceu uma funcionária para catar o lixo e aos berros chamou a atenção da escola.

Mas não aconteceu nada. Era, de um lado, só a morte de uma mariquinha preta e pobre e do outro lado a vida de quatro meninos brancos; filhos de pais perigosos.

 

Eu e professor decidimos guardar a escola.

 

2018 a 2022 e nos tempos que hão de vir.

Alan é um mau aluno que maltrata os mais fracos e no dia que foi ao banheiro sem permissão... – risada assustadora do Professor do Banheiro que estava ao meu lado – Ele escutou três vezes o toc-toc de uma bengala, mas não viu nada. Porém, quando terminou... uma bengala cortou o ar arrancando-lhe a cabeça.

- Mas como uma bengala pode arrancar uma cabeça?

- É uma bengala assombrada...

Depois o Professor do Banheiro pegou a cabeça pelos cabelos e com o gancho da bengala prendeu o corpo pelo sovaco. E os enfiou dentro da privada, deu a descarga enquanto socava com a bengala até desaparecer no redemoinho que leva as porcarias pro esgoto.

- E como uma privada pode levar inteiros uma cabeça e um corpo?

- O Professor do Banheiro é assombração. Pode muitas coisas...

Uma semana depois acharam o que restava do Alan num córrego onde desaguava o esgoto da cidade.

Nikolly também fugiu da sala e foi ao banheiro fumar. O Professor do Banheiro bateu com a bengala na porta do banheiro: toc-toc-toc; parou, bateu outra vez: toc-toc-toc; parou, bateu pela terceira e última vez: toc-toc-toc. Assim que ela saiu, ainda com um pé no corredor e o outro no banheiro, a bengala cortou o ar arrancando-lhe a cabeça. Pegou-a pelos cabelos e com o gancho da bengala a arrastou invisível até o banheiro dos garotos. Enfiou-a na privada e deu a descarga socando tudo para atravessar o encanamento e desaguar no esgoto municipal onde antes encontram Alan.

E eu?

Todos os acossadores, quando estão a sós bebendo água, vou empurrando pelo ralo à medida que vão se dissolvendo com o diabo verde que me tornei.

E desde então todos maus alunos que saem sem permissão... – Frederico, o Professor do Banheiro, e eu, o Garoto do Bebedouro, protegemos a escola.

 

 

_____

 

Rubem Leite

Imagem retirada da internete.

Escrito entre 18 e 20 de maio de 2022.

domingo, 27 de março de 2022

OUREMOS, IRMÃOS

Aniversário do escritor Girvany de Morais.


Temo a forma de caça das aranhas mais do que temo seu veneno. Temo a sensação que deve ter a presa da aranha como imaginasse sem sentir o que lhe passa.

Mas aranha é só aranha; sem empatia. É natureza bruta. Não má, não boa. Só... natureza.

A humanidade pode ter empatia, mas vive a empáfia. Não é natural. É má, às vezes boa. Só... desnaturada.


Estrelas não iluminavam a noite. Nem a lua. Só os postes e as placas nas fachadas e o interior das próprias lojas.

Caminhava com dois amigos. Estes pareciam estar sempre às sombras; nunca se via seus rostos. Ao contrário daquele, que parecia estar sempre sobre o foco dos postes, placas ou lojas.

A vontade deles era chegar em casa. Ainda longe. Entraram numa rua, saíram em outra. Ruas esquisitas. Quase sempre impróprias para carros. Estreitas. Escada ou rampas sempre ascendente, as laterais eram calçadas rachadas com pequenos matos sempre saindo das incontáveis frestas. Todas as casas sempre com a metade abaixo da via e quase sempre com jardins. Tentativas de contrariar as ruas.

Chegaram ao meio do bairro; movimentada por carros e pedestres a avenida. Esta sim com a iluminação já descrita. Estavam com fome e entraram num bar. Escolheram seus sanduíches, comeram e ao pagarem:

- A carne está acabando. Manda mais.

- Em breve, talvez amanhã trago nova remessa...

Fora da lanchonete olha de um lado a outro da avenida. O que vê compactua com a encomenda recebida.

- Credo! O comércio está cada vez mais cristão. - Exclama irritado e os amigos concordam em silêncio.

De fato. Todas as lojas tinham imagens de Nossa Senhora, Jesus ou algum santo. Ou, mais comum, de nomes terrivelmente evangélicos com algum versículo.

Depois da avenida destacada, chamativa de tanta luz artificial retomam às ruas sempre as escuras. Escondendo o povo - cidadãos ou só pessoas -. Uma rua é interrompida por esgoto.  A alguns metros da ponte moitas de matos na água e três meninos nus brincam no charco. Ao verem os homens nadam até a ponte. Os rapazes espantam os garotos ostentando a mão que puseram no peito, dentro da blusa de frio sempre aberta.

Entram em outro logradouro, e noutro e outro dando para um espaço largo. Quase todo de terra seca e moitas de colonhão nas margens. Dois homens grandes "conversam" segurando pelas correntes seus cães que se avançavam mutuamente. Imensa fila de grandes formigas vermelhas se formou entre os homens e seus cães. Estes perceberam tarde demais. As formigas já lhe ferroavam tirando-lhes pequenos pedaços. Sempre em silêncio os três rapazes viram desde longe a discussão, os ataques frustrados dos animais e, afastando-se das formigas, passaram entediados por eles. Mal escutando os gritos enquanto se afastavam.

Finalmente chegam a casa. Construída subindo um montículo. Plantas verdes, ou floridas ou frutíferas cercam a pequena casa de muitas janelas. Do portão à porta uma estrada se sinua entre a flora.

Sentado na varanda um amigo os espera para entrar na casa. Passará a noite antes de ir embora no dia seguinte.

Como dito não há possibilidade de autos no bairro. Mas acrescento que o mesmo acontece na cidade toda; em todas as cidades. Em desconhecimento do povo.

O local de ônibus para fora da cidade fica na segunda avenida, a que leva a BR. Próximo dessa morada.

Os quatro entram na casa. Um de cada vez toma banho enquanto o anfitrião prepara algo para comerem.

Deitam e dormem. Um dos cachorros, o de pequeno porte, morde o celular do hóspede.

Amanhece outro dia escuro. O dono da casa faz café, põe sobre a mesa leite e pão requentado na chapa e acorda os demais.

Alimentam-se depois de irem ao banheiro. O hóspede pega a mochila dando conta do celular estragado.

- Eu mato esse cachorro...

Os moradores sorriram. Sempre à sombra os moradores seguram os braços da visita. À pouca luz do Sol o dono da casa pega sua faca.

Ninguém sai da cidade e há que abastecer o mercado.


_____

Rubem Leite.

Imagem: aranha camuflada, foto do autor.

Cronto nascido de uma reflexão com um mau sonho. Qualquer semelhança com a ficção é realidade.

Escrito e trabalhado entre 25 e 27 de março de 2022.

domingo, 9 de janeiro de 2022

ENTRE O BALANÇO DOS RABOS E OS CUMPRIMENTOS DAS PESSOAS

                    Caminha o dia

                    A vida não é tranquila.

                    A observar os tempos

                    Árvores e ventos

                                       Bailam.


- Não sei se a culpa é mais minha ou se é mais sua. Mas comumente tenho pouco interesse em descobrir quem errou. Prefiro resolver o problema. - Minhas falas não têm raiva; sequer têm interesse no que lhe provoco e continuo. - Talvez eu muito me engane, mas creio que você me machucou muito mais e por longo tempo. Não sei. Mas meu único erro - posso estar enganado porque tendemos a ser permissivos conosco, mas minha impressão é estar certo. - como dizia: creio que meu erro é ter tornado público uma discussão que deveria estar privada. - Paro um pouco para olhar o balanço dos galhos de árvores e penso 'Esteja eu ou ele errado não me interessa. Não quero mais a amizade do rapaz'. Continuo: Somos vizinhos e só assim conviveremos.

Ele responde:

- 😡😈🤬💀👿☠🦂🐍🦎🪓🔪😡🤬

Sem paciência, mas também sem raiva eu me levantei e disse: "Seus cachorros gostam de mim, mas os meus não gostam de você..." Dei as costas e saí.



Rubem Leite.

Escrito entre 02 e 09 de janeiro de 2022.

domingo, 2 de janeiro de 2022

POR UM FIO

 


Sono.

Fecho os olhos.

Vejo um lugar em penumbra. Teias de aranha em muitos cantos.

Em cada uma há alguém.

Um rapaz está trêmulo de ansiedade, de pavor, de desejo.

Uma grande aranha, muito maior que o jovem, com seu modo assustador anda pelo lugar, sobe na teia.

Ele teme, mas o desejo é maior.

A aranha pica o moço.

Este sorri e se agita. Desprende-se da teia, exceto por um fio.

Vê o universo e outras maravilhas.

Tempos depois – apavorado, desesperado, ansiando, desejando – volta para seu lugar na teia e se prende à espera da próxima aranha a picá-lo.

 

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagem: Aranha – foto do autor de um artesanato ganho alguns anos atrás de um mochileiro.


Não registrei a data de escrita.

domingo, 10 de outubro de 2021

HISTORIETAS SEM COMPROMISSO

  

Rubem Leite.

 

 

- Amor! Abra a porta.

- Não!

- Abra. Estou batendo na porta.

- Não!

- Abra e veja com o que estou batendo...

E a porta se abre.

 

- Kyller, ô Kyller! Quero namorar com você.

“É namorar você e não namorar com”, pensa, mas diz:

- Claro, amor. Vamos naquela velha e abandonada... É tão assombrad... Digo, tão assombrosamente aconchegante.

- Ai, que romântico.

- Claro, amor. Sou muito romântico.

Na casa:

- Que barulho é esse?

Ela pergunta.

- Não sei...

Faz cara de mistério, de quem prepara uma agradável surpresa.

- Ai, vai. Conta.

E o barulho outra vez vindo do porão.

- Ai, tô tããão curiosa que não resisto.

- “E ela sumiu, sumiu e nunca mais voltou” – canto Tim Maia. – E aí, monstro, gostou?

- Da hora.

Sorrimos um para o outro.

- Continue trazendo esses lanchinhos pra mim. São tão legais.

- Claro, amigos são para essas coisas. Estamos sempre prontos para ajudar.

 

 

Escrito e trabalhado entre os dias 06 e 10 de outubro de 2021.

domingo, 26 de setembro de 2021

OVELHAS DO PASTOR

 


 

Domingo.

A menina acordou, não do sono, mas do desfalecimento.

- Bom dia, ovelhinha do pastor.

 

Quarta-feira.

- Benito, qual é o trecho bíblico onde Deus manda matar todos os homens e meninos e mulheres não virgens; e estuprar as meninas e adolescentes?

- É o que está nos versículos nos versículos treze a dezessete do capítulo trinta e um do livro de Números. E tem tam...

- É, mas tem que observar o período histórico! – Intervém um pastor que se encontrava perto.

Por não estar disposto a prolongar assunto com tanto o que tenho para fazer – desta vez – somente penso:

Sempre fazem isso. Quando é algo incômodo ou fora de seu interesse justificam “período histórico...”, “contexto da época...”, “interpretação de texto...” E quando é para seu interesse afirmam “é a verdade...”, “palavra do Senhor...”, “compreensão do texto...”.

 

Sábado.

- Boa noite, ovelhinha do pastor.

A menina ia para seu desfalecer. Nem sabia o que era falecer, mas já estava morta em vida; já desfalecia em sua vida falecida.

 

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagem: foto de Erika Aviles.

 

Escrito entre 22 e 26 de setembro de 2021.

domingo, 11 de julho de 2021

PLANETA SILENCIOSO

 

Nove e meia da manhã a escola liberou a saída dos alunos e dos professores para o recreio. O sol estava com a quentura típica de quase meio de julho; um calor que queima sem aquecer. Desconfortável a céu aberto e frio à sombra.

Quase todos já tinham comido e estavam brincando. E todos embarulhando a maior parte da escola. Exceto quatro alunos; três do nono ano e um do sétimo.

Um deles é um vívido planeta com dois satélites a sair de sua órbita e indo ao encontro de um planeta silencioso.

- Deixe o monstro dormir. Não o acorde.

Riram.

- Você não me vê? Não me enxerga?

- Não!

- Então não precisa de olhos... 

- Como uma criança conseguiu machucar tanto assim?

À voz ríspida outra – baixa como um cochicho – responde:

- Todo mundo tem um monstro dormindo dentro de si. Ele acordou. Mas voltou a dormir. – Pausa. – Espero que nunca mais alguém o acorde outra vez. – Pausa. – Agora estou leve.

 

 

En español:

PLANETA SILENCIOSO

 

Nueve y media de la mañana, la escuela autorizo la salida de alumnos y maestros para el recreo. El sol estaba ardiendo, típico de casi mitad de julio; un calor que quema sin calentar. Inconfortable al cielo abierto y frío a la sombra.

Casi todos ya habian comido y estaban jugueteando. La mayoria alborotando casi todos los rincones de la escuela. Excepto cuatro pibes; tres de quince años y uno de trece.

Uno de ellos es un vívido planeta con dos satélites a salir de su órbita y llendo al encuentro de un planeta silencioso.

- Dejen el monstruo dormir. No lo despierten.

Rieron.

- ¡Vos no mirás! ¿No me ves?

- ¡No!

- Entonces no necesitas de ojos… 

- ¿Cómo un chico puede lastimar tanto?

La otra voz ríspida  – baja como un susurro – contesta:

- Todos llevan un monstruo dormido dentro de sí. El mío despertó. Pero volvió a dormir. – Pausa. – Espero que nunca más alguien lo despierte otra vez. – Pausa. – Ahora estoy liviano.

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Cida Lima, Solange Maria, Paulo G.C. Pimenta e Pablo Figueroa.

 

Recomendo a leitura de:

“O Picapau Amarelo”, de Monteiro Lobato. Editora Autêntica.

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Andres Garcia é revisor em espanhol. Natural da Colômbia e estudou até o quinto semestre de Licenciatura en Filosofia.

Imagens:

Desenho do monstro pelo autor; feito em 10-7-21;

Do autor pelo autor.

 

Escrito na tarde de 23 de maio de 2021 e trabalhado entre os dias 10 e 11 de julho do mesmo ano.

domingo, 4 de julho de 2021

O CASULO

  

Visita II

Dona Brabuleta inda qui maloprigunte, com tanto pé de couve no mundo, causa de quê todo dia visita o meu? E põe ovos minuscrinhos, bunitinhos, que viram lagartas devoradoras? HUMPF! Não lhe dou tais intimidades, vê se me erra! ARA!

Porque “apousas” no meu pé de couve brabuleta infeliz? Vou te dar um cascudo, bem no nariz!

O que digo, me ouve. O mundo é tão grande, voa por aí e põe seus ovinhos tão amarelinhos bem longe daqui...

(Nena de Castro)¹.

 

Em português:

 

- Ah, dona Neníssima de Castríssimo! Nem te conto. – Responde a borboleta e como todos que dizem isso ela conta tudo. – Meus filhinhos são imaturos. Tudo pobre de direita. Classe média que se acha rica e não vê que é pobre, pobre, pobre de marré, marré desci. Não são iguais a mim: Linda, delicada, mas vivida. Sendo eu resiliente sou de esquerda. Mas meus pobres filhinhos são tuuuuuuudo eleitores e fãs do Boçalnato. Por isso destroem o meio ambiente. Mas a culpa não é deles. É que quando nascem baixa neles o espírito de Ber...

- Espirito de Ber? O que é isso?

- É um demônio terrível, terrível! É a Bancada Evangélica Ruralista.

- Entendo... Continue.

- Com o espírito de Ber meus filhinhos ficam dizendo coisas como "Terra plana; vacina, quando não faz virar jacaré, implanta chip comunista". Estou triste, tão triste.

- Fica assim não.

- Estou tão tristinha, mas não demora e os colocarei na escola, sabe.

- Borboleta tem escola?

- Claro, boba. A escola é quando fazem um casulo e ficam lá lendo. Estudando Literatura, Português, História, Sociologia, Ciências etc. É assim que abre os próprios horizontes e respeita as múltiplas diversidades.

- Não é muito fechado o casulo? Tanto tempo imóvel...

- Sim, é um pouco duro. Mas melhor isso que adorar Ber.

- Educação resolve todos os problemas.

- Educação sim, mas só diploma não. Tem muita borboleta diplomada, mas com alma de lagarta. Semana passada ouvi uma lagartinha do Jardim do Palácio do Governador do Rio Grande do Sul elogiando o Escatológico Borboletofóbico, mas como a lagartinha sabe que vai virar borboleta ontem entrou no casulo.

- Isso é bom. Afinal, aprenderá muitas coisas.

- Infelizmente, o pai é doutor Jairinho e a mãe é Flordeliz. Pelo que vi daquela família só tem fruto podre. E assim a lagartinha não aprenderá nada no casulo e sairá mau caráter diplomada.

 

 

En español:

 

EL CAPULLO

 

- ¡Ah, doña Nenísima de Castrísimo! Estoy tan preocupada. Mis hijos son tan inmaduros. Son pobres de derecha. La clase media que se creen ricas y no ven que son pobres, muy pobrecitas. No son iguales a mí: Linda, delicada pero vivida. Siendo yo resiliente soy de izquierda. Sin embargo, mijos son toooooooodos electores y fans de Bozalnato. Por eso están destruyendo el medio ambiente. Pero la culpa no es de ellos. Es que cuando nacen, baja en ellos el espíritu de Reelpo.

- ¿Espíritu de Reelpo? ¿Qué es eso?

- Es un terrible demonio. Reelpo es el “Religioso en la Política”.

- Comprendo… Continúe, por favor.

- Con el espíritu de Reelpo mis hijos quedan charlando cosas como “Tierra Plana; vacuna es la causa de autismo, cambia el adn”. Estoy triste, tan triste.

- ¡No! Tienes valor. ¡Fuerza!

- Estoy muy triste pero no tarda; los pondré en la escuela.

- ¿Hay escuela de mariposas?

- ¡Sí! ¿Cómo no? La escuela es cuando hacen su capullo y se quedan leyendo alli. Estudiando Literatura, Español, Historia, Sociología, Ciencias…

- ¿No es muy cerrado el capullo? Un largo tiempo inmóvil…

- No es fácil. Sin embargo, mejor eso que adorar Reelpo.

- La educación soluciona todos los problemas.

- Educación sí, pero solo un diploma no. Hay muchas mariposas diplomadas. Pero con alma de gusano. La semana pasada oí un gusanito del Jardín del Palacio del Gobernador del Rio Grande del Sur tejiendo elogios al Escatológico Mariposofóbico. Sin embargo, como sabe que cambiará a mariposa entró en el capullo.

- Eso es bueno. Al fin y al cabo, aprenderá muchas cosas.

- Infelizmente, el padre es doctor Jairito y la madre es Flordeliz. Y aquella familia solo produce frutos podridos. Y así el gusano no aprenderá nada en el capullo y saldrá basura diplomada.

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Edgar Soares, Rita E.M. Rocha e Neide R. Azevedo.

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Andres Garcia é revisor em espanhol. Natural da Colômbia e estudou até o quarto semestre de Filosofia.












     








Imagens:

Da borboleta e das lagartas: Erika Aviles (natural da Colômbia, artesã e fotógrafa amadora);

Do autor e do revisor (pai e filho na cachoeira): por Gustavo Drumond.


¹ Nena de Castro é escritora, professora aposentada, advogada residente em Ipatinga MG. Importante personalidade regional e pessoa a quem agradeço a Deus por ter no meu rol de amizades e de quem aprendi/aprendo muito. A historieta foi publicada em 17/01/21 no Caralivro.

 

Escrito em 17/01/21 e trabalhado no mesmo ano; revisto na metade de abril e depois nos dias 03 e 04 de julho.

domingo, 20 de junho de 2021

DANAÇÃO DA NAÇÃO


Uma névoa... Não! Muito pequena para ser névoa. É gás. O vento cada vez mais forte não dispersou o gás que tinha, reparei, uma forma... Uns dois metros de altura, uns cinquenta ou sessenta centímetros no seu meio, seu alto quase tem um separação... como se fosse uma quase esfera pequena acima da parte ovalada... No ar, indo de uns dez a cinquenta centímetros, subindo, descendo, o gás. Uma parte à sua esquerda se destaca sem se desprender erguendo como se fosse um braço. O corpo gasoso, sim, só pode ser um corpo, e vivo, deslizou pelos vários metros que nos separava. Percebi uma forma levemente humana e quanto mais se aproximava, mais sólida parecia se tornar. Um corpo de homem. Parou com os pés no chão tão próximo de mim que se erguesse outra vez seu braço me tocaria. O medo que me silenciou começou a se esvair abrindo a minha boca e ele me disse

- Não se assuste. Está perdido?

Respondo para uma coisa dessa? Você responderia?

- Não se assuste. Posso te ajudar a encontrar o caminho para onde quer ir.

- Muito obrigado! Mas não precisa se incomodar.

- Não é incômodo. Vem! Vem!

Não saio do lugar então ele vem até mim. Dou um passo para trás. Ele não para.

- Não precisa ter medo. O caminho é por aqui.

Fala passando por mim. A luz da lanterna quase não o pegando mais sigo-o.

- Meu nome é Guino. O seu?

Guino é bem mais alto que eu. E adulto. Branco, cabelos pretos. Rosto comprido. Calça preta, camisa branca. Não é feio. A única coisa que assusta é um gás se solidificar...

- Ah! Meu nome é Breno.

Enquanto andamos, Guino não parou de falar sobre a noite, a floresta, livros (acho que viu o que estava comigo), mulheres, animais. Comida. Não sei porque resolvi olhar para ele através do meu espelho que peguei no meu farnel. Na mesma hora ele se virou pela primeira vez para me olhar e se vê. Seus olhos se avermelham de ódio, seu rosto estava horrível, suas mãos... duas garras e seus dentes enormes. No espelho, sob sua forma transparente ele me abraça. Beija meu pescoço. Meu pênis erige-se enquanto meu corpo amolece. Foi a melhor coisa do mundo. É a melhor coisa do mundo.

 

Em português:

 

Na Argentina e no Uruguai os casais trocam doces e juras de amor, pois é o Día de San Valentín; o dia dos namorados destes e outros países. Mas esta história não se passa fora, mas dentro do Brasil.

Aqui o dia amanheceu nublado e neblinado; algo meio avermelhado, meio cinza. Isso em todos os estados e municípios do país. Em todos!

Guino é do poder econômico e todos do poder econômico, são como Guino. Com mais de quatro anos de planejamentos e estratégias, Guino e seus semelhantes, assumem o poder político.

Com a venda das águas brasileiras; desgaste do saneamento básico; tomada das reservas indígenas; extermínio da população do MST; uso indiscriminado de agrotóxico da Bayer, Monsanto, BASF, Dow AgroSciences, Du Pont, Syngenta e a mais popular e perigosa: Roundup; queimadas no Pantanal mais as queimadas e desmatamentos na Amazônia. Não se pode esquecer dos desenvolvimentos de empresas de ônibus e, principalmente, de caminhões; com o desvio de dinheiro para maquinários ecológicos ou menos poluentes compraram os mais baratos, mais nocivos e com tecnologia ultrapassada; o descuido com a FIOCRUZ, com o Butantã, com as Universidades Federais; a recusa em comprar vacinas contra covid-19. O não gasto em desenvolvimento foi contabilizado, mas ficaram nos bolsos dos empresários.

Guino e seus pares somados aos quase cinquenta e oito milhões de Párias criaram o clima nublado, neblinado e vermelho acinzentado fazendo a danação da nação. Disse antes que isso aconteceu em todos os municípios do Brasil; mas aqui cabe uma correção. Nuvens e neblinas não obedecem às fronteiras. Para os padrões humanos elas têm organização aleatória. Há partes do Oceano Atlântico cobertas e partes costeiras descobertas. Há cidades antes das fronteiras com países Sul Americanos e há cidades nessas nações cobertas pelo mal.

Sim, pelo mal. Explico-me se ainda não entendeu (o que acho pouco provável).

Na epígrafe já foi muito bem explicitado que Guino é um vampiro. Já falei dele em outras histórias. E agora ele tomou posse do Brasil.

Durante os anos de preparação os alimentos para os humanos foram garantindo pelas indústrias de agrotóxicos; cuja renda maior passou a ser a venda de sementes geneticamente modificadas. Nada saudáveis, mas tornam o sangue mais saboroso.

E agora a luz que chega ao território nacional é ineficiente para controlar os vampiros. Uns poucos mil vampiros, cinquenta e oito milhões de semivampiros (estes são os Párias); e no Planalto Central o Escatológico assinando documento e não dizendo coisa com coisa desviando a atenção.

O ataque começou assim:

No correr do dia treze de fevereiro de 2021 o céu formou um pálio cobrindo parte da Terra do Sol.

Às 3:33 da madrugada do dia quatorze, Guino deu seu grito de guerra ecoado pelos outros vampiros.

Os Párias despertaram. Saíram de sua zona de falsa consciência para sua natureza de inconsequente inconsciência.

Atacaram, destroçaram seus pais, avós, seus filhos, netos, seus maridos ou esposas. Depois foram aos vizinhos.

Em pouco tempo duzentos mil mortos. Quatro meses depois já eram meio milhão; e o número a crescer exponencialmente.

Um exemplo:

O advogado Sá Teixeira ainda dormia quando o eco vampírico despertou o gene ruim. Suas pupilas avermelharam, sua íris ficou amarela e a esclerótica, arroxeada. Os caninos dobraram de tamanho, arquearam como dentes de serpentes e afinaram como agulhas com um sulco por onde escorre os venenos.

O primeiro veneno é paralisante, anestesiante e contrastando com eficiência sensibiliza os genitais excitando-os mesmo sem toques. Assim, o vampiro suga o sangue, come a carne da presa sem este reagir.

Após algumas vítimas o Pária consegue controlar-se o suficiente para imobilizar a presa, alimentar-se sem destroçá-la e inocular o segundo veneno.

Para produzir o segundo veneno o Pária necessita de sangue e carne para suas glândulas digestivas produzirem uma espécie de vômito que vai para a boca e diluindo-se forma a saliva. As gengivas absorvem o veneno e através dos dentes modificados transforma a vítima em outro Pária. Uma vez lançado o veneno transformador a fome retorna para destroçar novas presas. Assim é formado o ciclo.

O advogado Sá Teixeira e sua mulher, uma médica, passaram pelo mesmo processo. Ainda dormindo os olhos, os dentes, os órgãos digestivos, as mãos e unhas se modificaram nas poucas horas antes do que seria o nascer do sol.

Abriram os olhos juntos, olharam-se e não se reconheceram. Rosnaram um para o outro, mas não servindo de comida saíram da cama.

A mulher foi para o quarto ao lado e o marido para a cozinha.

No quarto, duas crianças e na cozinha a sogra preparava o café.

A velha deu um leve grito de surto, mas empurrada para a parede recebeu a mordida. Ficou vendo o genro acabar com seu sangue e arrancar partes de seu pescoço, seios flácidos e braços. Foi gostoso como orgasmos múltiplos.

A criança mais perto da porta não gritou; paralisada antes de assustar-se. Sem conseguir abrir os olhos sentiu seu sangue molhar a cama enquanto sentia um prazer desconhecido.

O som da carne destroçando-se acordou a criança da outra cama ao mesmo tempo que o pai ia para o quarto do filho adolescente.

O grito da criança acordou o irmão no outro aposento e chamou a atenção da mãe.

A criança tentou correr e o adolescente quis avançar para o pai sem saber o que lhe esperava.

A criança quebrou a janela ao ser jogada contra ela e o sangue jorrou pelos cortes; atiçando a Pária.

O adolescente sentiu seu pau e se assustou com o tesão sem sentido pelo pai. Morreu sem entender porque seu pai o devorava e porque ejaculava.

Sem mais ninguém na casa o casal saíra desvairado à rua. Em algumas casas acontecia o mesmo e outras casas eram invadidas.

O céu cinza e o ar nublado não eram percebidos pelos Párias e as presas não tinham tempo de observá-las.

No Brasil e no mundo há outros grupos não humanos. A maioria não é parasita; como os bruxos, sacis, curupiras...

Saci.

Vampiros não ousam enfrentá-los. Se estes não indestrutíveis também não são presas fáceis. Os Párias não dispõem de razão, mas não atacam os não humanos por instinto.

Os não humanos não se envolvem nos negócios dos vampiros. Porém desta vez o clima intervém no seu habitat.

A primeira medida que tomaram foi a criação de redomas com consistência de bolhas. E mesmo nos centros urbanos o ar é bom, a neblina não é tóxica e quando o céu se nubla é a natureza em um de seus momentos.

A segunda medida tomada foi não entrar em guerra. O planeta se cuida mesmo sem gente humana ou não humana. Em verdade, o planeta não necessita de gente. Os não humanos sabem disso e deixam a natureza fluir. Enquanto ela se equilibra os não humanos criam campos urbanos ou silvestres para eles, para os animais, plantas e humanos que os encontrar.

Meses depois do Valentim da Morte em um acampamento, humanos e não humanos festejam a lua no céu limpo.

Lima e Barreto se beijam debaixo de um caramanchão. Uma mulher passa perto deles e bate a cabeça num enfeite. Rindo, Barreto diz “só mesmo humano para não diferenciar lata de flor”.

O tempo não para e não sobra mais humanos fora dos acampamentos mágicos. Do Brasil não resta muita coisa então Guino vai de país em país da América Latina e depois para a parte Norte do continente. Os Párias vão se inanindo à extinção. Após o fim da América quais serão os próximos países? O que sei é que o mundo não precisa de gente...

O planeta continua se cuidando (é por isso que o mundo permitiu os parasitas, para limpar-se). Um dia a vida como foi até o século XXI não mais subsistirá. Parasitas se extinguem com a morte do hospedeiro. O que será dos vampiros? Dos Párias já sabemos, mas dos conscientes? De qualquer modo a Terra está tranquila.

Os não humanos estão igualmente tranquilos. Se a natureza os selecionar continuarão no que disse Antoine Laurent Lavoisier.

 

 

Principales partes en español:

CONDENACIÓN DE LA NACIÓN

 

Guino es del poder económico y todos del poder económico son vampiros. Tras años de planes y estrategias Guino y sus pares asumen el poder político.

Con la venda de las aguas brasileñas; desgaste del saneamiento básico; tomada de las reservas indígenas; exterminio de la población de las reformas agrarias; uso indiscriminado de pesticidas de la Bayer, Monsanto, Basf, Dow AgroSciences, Du Pont, Syngemta y la más popular y peligrosa: Roundup; quemadas en el Pantanal más las quemadas y derribada de Floresta Amazónica. No se puede olvidar del desarrollo de empresas de autobús y camiones; del desvío de dinero para la ecología; ni del descuido con la FIOCRUZ, con el Butantan, con las Universidades públicas; la recusa en comprar vacunas contra el covid-19…

Guino y sus iguales más los casi cincuenta y ocho millones de Parias crearon el clima nublado, brumoso y rojo grisáceo haciendo la condenación de la nación.

En los años de preparación los alimentos para los humanos fueron garantizados por las industrias agrícolas; cuya renta principal era la venda de semillas genéticamente modificadas. Nada saludables, pero tornan la sangra más rica.

Con la luz que ahora llega al territorio nacional es ineficiente para controlar a los vampiros unos mil vampiros, cincuenta y ocho millones de semivampiros (eses son los Parias); y Brasilia el Escatológico firmando documentos y nunca dando pie con bola descarrilla la atención.

El ataque empezó así:

En el correr del día trece de febrero de 2021 el cielo fue cubierto por una pabellón a empanar el Sol.

A las 3:33 de la madrugada del día catorce, Guino hizo el grito de guerra que despertó a los Parias. Ellos salieron de su zona de falsa consciencia para su naturaleza de inconsecuente inconsciencia.

Atacaron, destrozaron sus padres, abuelos, hijos, nietos, maridos, esposas… Después a los vecinos. En un rato, doscientos mil muertos. Cuatro meses después ya eran quinientos mil muertos y el número a crecer exponencialmente.

El eco del grito vampírico despertó el gene malo; enrojeció la pupilas, las iris amarillaron y la esclerótica se quedaron moradas. Los colmillos doblaron de tamaño, arquearon como dientes de serpientes y afilaron como agujas de donde salían los venenos.

El primer veneno es paralizante, anestésico y provoca sensibilización y excitación de los genitales. Así el Paria chupa la sangre y come la carne sin la presa reaccionar.

Tras un par de víctimas el Paria consigue controlarse el suficiente para inmovilizar la presa, alimentarse sin destrozarla e inocular el segundo veneno.

Para producir el según veneno el Paria necesita de sangre y carne para sus glándulas digestivas produjeren una especie de vómito que va para la boca y diluyéndose se forma la saliva. Las encías absorben el veneno y a través de los dientes modificados convierte a la víctima en otro Paria. Una vez lanzado el veneno cambiante el hambre retorna para destrozar nuevas presas. Así es formado el ciclo.

No Brasil hay otros grupo no humanos. La mayoría nos es de parásitos; como los brujos, los sacís, los curupiras…

Curupira.

Porque son inteligentes los vampiros no los enfrentan. Y por instinto los Parias también no los enfrentan. Y los demás no humanos no se involucran en los asuntos de los vampiros. Sin embargo, ahora el clima interviene en sus reinos.

La primera medida que tomaron fue la creación de redomas con consistencia de burbujas con la capacidad de limpiar la polución y virus.

La segunda medida tomada fue no entrar en guerra. El planeta se cuida mismo sin gente humana o no humana. En verdad, el planeta no necesita de personas. Los no humanos saben de eso y dejan la naturaleza fluir. Mientras ella se equilibra los no humanos crean campos urbanos y silvestres para ellos, para los animales, plantas y, si los encuentran, para los humanos.

Meses después del Valentín de la Muerte en un acampamento, humanos y no humanos, festejan la luna en el cielo limpio.

El tiempo no para y no hay más humanos fueran de los acampamentos mágicos. De Brasil no hay mucha cosa más y por eso Guino se traslada de un país a otro en toda Latinoamérica hasta ocupar todo el continente, de Sur a Norte. Los Parias se van muriendo de inanición. Después de América, ¿cuáles países y continentes se han de morir? No sé, pero el mundo no necesita de personas…

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Faire (Amnon K. Oliveira), Jaydson Sousa, Salomão A. Costa, Vilma Zeferino e Feliciana Saldanha.

 

BORGES, Helena (o Globo). Estudo mapeia as dez empresas que dominam o mercado de agrotóxicos no mundo. Disponível: https://actbr.org.br/post/estudo-mapeia-as-dez-empresas-que-dominam-o-mercado-de-agrotoxicos-no-mundo/17568/ . Acesso 22 Fev 2021.

 


Rubem Leite
é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens:

Saci: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/trick-ou-treat-dizia-o-saci-polarizacao-do-dia-das-bruxas.phtml

Curupira: https://dana.com.br/social/nossos-projetos/lendas-brasileiras/curupira/

Autor: Vinícius Siman.

 

Na madrugada de 14 de fevereiro de 2021 tive o sonho ruim que deu origem a este cronto. No hospital Municipal de Ipatinga, acompanhando minha mãe, escrevi o manuscrito enquanto ela descansava. Dia 16 de fevereiro ela falece por parada cardíaca súbita motivada pelo convid-19. O cronto foi digitado e trabalhado entre os dias 22 de fevereiro e 20 de junho do mesmo ano.