domingo, 25 de março de 2018

BUSCAS



Na minha cabeça a melodia: “re si si la sol fa# la sol fa# mi sol fa#  /  re la la sol fa# sol la sol fa# mi re  /  re RE RE DO si la sol la si RE RE DO  /  mi mi fa# sol la sol fa# mi re re  /  sol si la mi fa# re sol  /  re si re si re si  /  sol la sol la la sol la sol la si DO  /  mi mi sol la sol fa# mi re re   /  sol si la mi fa# re sol  /  mi mi mi sol la sol fa# mi re re”¹.
Enquanto isso, o céu escuro e o ar frio do início da tarde coroam os idosos cantores: “A tua saudade corta  /  Como aço de naváia  /  O coração fica aflito  /  Bate uma, e a outra faia”². Após o término, estes param sua melodia, mas eu continuo a minha. Interrompem-na para lerem algo da liturgia ao som instrumental da Ave-Maria. “O Senhor está contigo...”. É dia da Anunciação.
A idade os faz pensar em Deus.
Jovens somente comem e dão a comer... Se há, para estes, uma liturgia é a do milagre da multiplicação...
Da espécie.
Mas os velhos esperam o que há de ver. Esperam o porvir; tenham ou não energia. Ou será o não porvir?
Encerram a leitura litúrgica voltando às MPB’s; mal percebo.
Continuo a minha melodia e...
- Oi, Benito!
- Oi, Amnon!
Este senta à mesa enquanto lhe falo:
- Nea Teixeira... Sabe quem é ela? Quando menina escrevia cartas a pedido das putas do Juá. Delas recebia sorriso e dinheiro. De sua boa família, bofetões morais.
Enquanto falo chega aos nossos ouvidos: “Sou uma gota d'agua  /  Sou um grão de areia  /  Você me diz que seus pais não entendem  /  Mas você não entende seus pais”³.
Pois é. Os jovens, os velhos, todos buscando seu passaporte. Uns para o nada e o tempo. Outros para o vazio e o... tempo?


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Leonardo Gomes, Denise Oliveira, Patrícia Dias, Maria Cabral, Claudinei Souza, Liliane L. Melo, Glaciel Farias, Gabriel Fernandes, Cledir Salvaterra e Girvany de Morais.

Recomendo a leitura de:
“Reinações de Narizinho”, de Monteiro Lobato. Em Ipatinga, poderá pegar emprestado na Biblioteca Municipal Zumbi dos Palmares;
“Dos Inimigos a Lei”, de Josué da Silva Brito:
“... Celeiro do Diabo”, deste macróbio que vos fala:

¹ “re si si la sol fa# la sol fa# mi sol fa# (Nós somos do Clube Atlético Mineiro)  /  re la la sol fa# sol la sol fa# mi re (Jogamos com muita raça e amor)  /  re RE RE DO si la sol la si RE RE DO (Vibramos com alegria nas vitórias)  /  mi mi fa# sol la sol fa# mi re re (Clube Atlético Mineiro)  /  sol si la mi fa# re sol (Galo forte e vingador)  /  re si re si re si (Lutar, lutar, lutar)  /  sol la sol la la sol la sol la si DO (Com muita raça orgulho prá vencer)  /  mi mi sol la sol fa# mi re re (Clube Atlético Mineiro)  /  sol si la mi fa# re sol (Galo forte e vingador)  /  mi mi mi sol la sol fa# mi re re (Clube Atlético Mineiro).” São cento e dez anos de amor incondicional. Cifra Disponível: https://cifrasparaflauta.wordpress.com/2009/07/08/clube-atletico-mineiro/
³ Pais e Filhos, de Renato Russo. Disponível https://www.letras.com.br/renato-russo/pais-e-filhos

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também professor de História. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Foto de Amnon Oliveira.

Manuscrito na tarde de 06 de agosto de 2017; trabalhado pela primeira vez em 23 de dezembro do mesmo ano e depois entre os dias 20 e 25 de março de 2018.

domingo, 18 de março de 2018

REFLEXOS E REFLEXÕES



Seu sussurro singular tornou-se puro eco do meu.¹

O espelho não me reflete, mas somente a ele. Nada vejo no espelho a não ser ele. Ninguém, exceto ele. Estou eu junto com alguém diante de um espelho é dois que eu vejo. Não os outros; eles veem a eles mesmos, mas não a mim, senão ele.
Paro minhas divagações para conversar com Marley Tal, Adê Araújo, Jeová Pereira e Rubens Ramalho. Bons músicos.
- Ainda bem que a política municipal está bem estruturada. – Diz um deles e algum outro: Como assim? Aposentado está sem receber desde 2016...
- É, mas em maio receberam alguma coisa.
- Sim, alguma coisa. Uns pingados.
- Realmente! – Acrescenta outro músico: Tão pingado que até desapareceu; secou.
- Gente! Estou falando da Cultura apenas.
- Em que está estruturada a Secretaria de Cultura?
- Está em... Está... Já vai começar Os Ferreira. Vamos ouvir.
A banda em número reduzido de integrantes começou sua apresentação no exato momento em que a dama da noite solta algumas folhas sobre um arbusto palmáceo; o que me fez ver a chuva de folhas em mim.
O sol sem brilho.
Visível só as pessoas comendo, bebendo, namorando.
- Intervenção Militar é o que precisamos. – Diz o primeiro que falou; cantor, mas não artista... Ele deve desejar: Quero que me digam o que pensar, falar e atuar. Não que me falem, mas que me obriguem. Quero agir segundo os bons costumes das famílias de bem.
Os Ferreira e Pâmela Franco – ora um, ora outro – se apresentam, limpando o vazio de certas ideias.
O espelho não me reflete.
E há muitos que não refletem...


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Elismar Boizzado, Juliana Ferreira, Ranulfo L. Gonçalves, Marco Abreu, Murilo Cruz, Camila Valadares, Ana L. Pena, Rapha Alexandre, Jeferson Adriano, Mariza Batista, Paulo Bonfá, Marcelo Oliveira, Eliane JM Santos, Patrícia Loures, Aldrin G. Martins, Gloria Anchieta, Maria Cloenes, Clementina Santos, Ricardo D. Cunha e Israel Brandão.

Recomendo a leitura de:
“Piada”, deste macróbio que vos fala:
“Subtis Carências”, de António MR Martins:

¹ POE, Edgar Allan. William Wilson. Contos de Imaginação e Mistério. São Paulo: Tordesilhas, 2012. P. 33.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também professor de História. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Foto de Amnon Oliveira.

Manuscritos nas tardes de 20 de agosto e de 08 de outubro de 2017; trabalhado pela primeira vez em 23 de dezembro do mesmo ano e depois entre os dias 16 e 18 de março de 2018.

domingo, 11 de março de 2018

SUED



Reading the neighbors is more difficult than reading the books.

Em português

A solidão é minha namorada. Eu a conheci depois de muito vê-la. Foi assim: Uma noite ela me disse:
Oi! Sou Sued. Quero te conhecer.
Ela me olha, dá-me a sua mão e me diz: Vamos caminhar pela noite?
Saio com ela ao meu lado. Eu, sempre de cabeça baixa, olhando para cima, braços quase imóveis.
Estou suando apesar de não fazer calor e penso: a beleza de meu suor fica melhor ao silêncio de minha tão pálida namorada.
Sim! Ela é todo silêncio e aí a ouço dizendo-me a mesma coisa que falou a Quintana: Ler os vizinhos é mais difícil do que ler os livros.


En español

La soledad es mi novia. La conocí después de mucho verla. Una noche le dije:
¡Hola! Soy Sued. Quiero conocerte.
Ella me mira, me da su mano y le dijo: ¿Vamos a salir por la noche?
Camino con ella a mi lado. Yo, siempre de cabeza baja, ojos arriba, brazos casi inmóviles.
Estoy sudando a pesar no hacer calor y pienso: la belleza de mi sudor se queda mejor al silencio de mi tan pálida novia.
¡Sí! Ella es todo silencio y ahí la oigo diciéndome la misma cosa que charló a Quintana: Leer los vecinos es más difícil que leer los libros.


Ofereço aos aniversariantes:
Karen Porfiro, Joe M. Illesca, Adrielle Fernandes, Matheus F. Matos, Lene Teixeira, Gustavo Lacerda, Leonardo Ferreira, Franquilaine Alcantara, Silvana Alvarenga, Jaiane Santos, Thalyanne Neves, Patrícia M. Silva, Mailson F. Viana, Elisângela A. Santana, Larissa Sette, Sirlene A. Souza, Marcia Veloso, Cleonice P.F. Leite, Adele Ramos, Lara Luft, Dalbert Benjamim, Sandra H. Martins e Kátia Ferreira.

Recomendo a leitura de
“É Sim”, deste macróbio que vos fala:
“Contra a Ideologia Hippie”, de Sued:
“Palavra”, de Fernanda Dias”, postado por António MR Martins:

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também professor de História. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Foto de Amnon Oliveira.

Manuscrito en español en la tarde de 02 de julio de 2017; trabajado por la primera vez en 22 de diciembre del mismo año y después, en las dos lenguas, entre los días 07 y 11 de marzo de 2018.

segunda-feira, 5 de março de 2018

TARDE VADIA



A banda encerrou sua apresentação e conversando com os músicos:
- Mario Benedetti disse coisas que me fizeram ver a história que vivo...
- Que história? Até parece que você tem alguma importância.
Ele se cala como a bateria recém-guardada.
Manteve, porém, o pensamento no seu primeiro namoro mais sério. Ela nunca soube que ficou chorando em silêncio, contido, desconcertado na pracinha. Até o frio da noite de junho lhe incomodar; quase acordar.
Levantou-se. A vida continua.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Lucio Viana, Eunice Profeta, Elci Pascoal, Thiago Vaz, Emerson P. Brito, Lucas Alves, Arilson Rodrigues, caríssimo Átila Nonato, Mateus Mor, Cíntia Fonseca, Malcom Judith, Marco A. Parisotto, Caroline Oliveira, Paulo Carvalho, Lúcia DellaMaya, Ana Sandra e Jakson Soares.

Recomendo a leitura de:
“Carta de Até-Breve”, de Xúnior Matraga:
“Regresso”, de António MR Martins:
“Marcelo, Sonhador e Mártir”, de Vinícius Siman:

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também professor de História. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Foto de Amnon Oliveira.

Manuscrito na tarde de 04 de junho de 2017; trabalhado pela primeira vez em 22 de dezembro do mesmo ano e depois entre os dias 02 e 05 de março de 2018.