domingo, 6 de novembro de 2016

A LUA PISCA UM OLHO

EL RATO SILENCIOSO


Potira itapitanga.


Em português

Hoje o céu é uma dama da alta sociedade em um fim de noite de gala. Um lindo vestido negro com nuances em cinzas e prata, sem nenhum brilho. Um chapéu combinando, com rendinhas lhe cobre a cabeça e os olhos. Visíveis, só o sorriso da boca lunar e uma pintinha estelar à direita no queixinho. O sorriso some um instante.
Na terra, Humberto de Campos, um homem que viveu no período Império e República, escreveu uma história que, após uns vinte anos que li, reconto segundo minhas memórias e com algumas mudanças.
Uma jovem bailava com seu namorado. E ela pergunta:
- O que você mais gosta em mim?
Ele diz “Tudo”.
- Ai, vai, diga uma coisa em especial. Insiste a moçoila, que se chama Helena.
- Bem, suas mãos... – Responde Soares, que é como se chama o rapaz. – Elas são pequeninas.
- Muito?
- Muito! Microscópicas!
Helena fica espantada, surpresa. Nunca tinha ouvido essa palavra. É que frequentou escolas sem estudar a contento e também que em sua casa se ouve, assiste e lê apenas Bolsonaro, Crivella, Kalil, Malafaia, Veja, Globo... E fala:
- Com licença, querido. Vi meu velho professor e quero matar a saudade.
Enquanto Helena sai Soares vê uma garota sentada com um livro. Ele não sabe, mas ela o observou o tempo todo. No momento, porém, a menina estava, ainda, no prólogo de um livro e meditava nas palavras “Acho que estavam preocupados que me avô me contaminasse com algum delírio incurável do qual jamais iria me recuperar – que essas fantasias de alguma forma estivessem me infectando contra ambições mais práticas”¹.
- O que você está lendo? – Pergunta apenas para puxar assunto com um rabo de saia com quem depois possa dormir.
- Um livro que me recomendaram.
Soares toca no livro para ver a capa causando nela um arrepio que ele não percebe.
- Sou Soares e você?
- Marcela...
- Vi o filme. Até que gostei.
- O trecho que me chamou atenção até agora me faz pensar no capitalismo que dá a ilusão de que trabalhamos para ganhar o dinheiro que nos permita viver para termos o que quisermos.
- Ilusão? Como assim?
- Com o salário, o trabalhador compra roupas, calçados, comida, paga as contas para quê?
- Para tê-los...
- Essa é a ilusão. – Olhando para o rapaz que não lhe acompanha o raciocínio – o dinheiro para comida é para podermos trabalhar, não é nem dá para comprarmos o que queremos sempre que temos vontade. As roupas e os calçados também são para trabalharmos; e a moda que muda sem parar é para sempre comprarmos e comprarmos mesmo tendo roupas em bom estado. Os remédios são para o mesmo fim. As contas também... Se um trabalhador – um pedreiro, por exemplo, ou mesmo um médico, ou advogado, engenheiro – ficar sem trabalhar ele passará fome. Apenas um por cento da população brasileira é realmente rica. Todos os outros noventa e nove por cento dos brasileiros são pobres.
- Eu não sou pobre...
- Não se irrite, por favor. Mas deixa-me explicar. Rico é quem consegue viver mesmo sem nada produzir. Pode até trabalhar, mas consegue viver, e bem, sem estar empregado. As pessoas acham a palavra “pobre” muito vergonhosa porque simplesmente não entendem que não é sinônimo de fracassado, mas sim de quem trabalha para viver.
Os dois se olham por uns segundos enquanto a lua pisca um olho e ela volta a falar:
- Então, se um trabalhador estiver desempregado passará fome. Apenas um por cento da população brasileira, e o mesmo no resto do mundo, talvez até menos que isso, não precisa trabalhar, pois realmente é rica. Todos os demais são pobres.
- Então você está dizendo que, na verdade, pagamos para trabalhar?
- Exato e... – Enquanto Marcela conversa com Soares, voltemos para Helena:
- Professor Marinho! Que bom que o senhor veio à minha festa.
Conversam algumas banalidades e, não aguentando mais, pergunta:
- Professor! O que é “miscroscóspisco”.
- A senhorita deve estar querendo dizer “microscópico”.
- Sim, professor. O que é microco... microscópico?
- É relativo ao microscópio...
- E o que é isso, professor?
- É algo que faz as coisas crescerem...
A jovenzinha põe um dedinho na boquinha, depois olha demoradamente para as mãos, sorri, volta para os braços no amado e diz para Soares: “Safadinho”.
O lunar sorriso some um instante, mas volta minguante.


En español

Hoy el cielo es una dama de alta sociedad en un fin de noche de gala. Un lindo vestido negro con matices en gris y plata, sin ningún brillo. Un sombrero combinando, con randitas cubriendo la cabeza y los ojos. Visibles, solo la sonrisa de la boca lunar y una lunar estrella a la derecha en la pera. La sonrisa sume un ratito.
En la tierra, Humberto de Campos, un hombre que vivió en el período Imperio y República brasileña, escribió una historia que, pasados veinte años que a leí, recuento según mis memorias y, sin echar dados falsos, pongo nuevas cosas.
Una muchacha bailaba con su novio. Y ella pregunta:
- ¿Qué te gusta más en mí?
Él responde “¡Todo!”.
- Ay, va, diga una cosa especial. Insiste la mozalbeta, que se llama Helena.
- ¡Vale! Sus manos... – Contesta Soares, que es el nombre del muchacho. – Ellas son pequeñitas.
- ¿Mucho?
- Mucho. ¡Microscópicas!
Helena se queda espantada, sorpresa. Nunca había escuchado esa palabra. Es que en su casa solamente consumen tele basura, revista basura, música basura… ¿Libro? ¡Jamás! Y habla:
- Permiso, cariño. Vi mi viejo maestro a quien extrañaba mucho y por un ratito quiero hablarle.
Mientras Helena se va Soares echa un vistazo en una muchacha sentada con un libro. Él no sabe, pero ella lo observó el tiempo todo. Sin embargo, en el momento la niña estaba, aún, en el prólogo del libro y meditaba en las palabras “Pienso que estaban preocupados que mi abuelo me contaminase con algún delirio incurable de cual jamás volvería a me recuperar – que esas fantasías de alguna manera estuviesen infectándome contra ambiciones más prácticas”¹.
- ¿Qué lees? – Cómo las muchachas siempre lo dejan de pichinga pregunta solo para promover conversación y, quien sabe, después se quedaren en pleno canchis canchis.
- Un libro que me recomendaron.
Soares tocó en el libro para ver la capa echándola un estremecimiento que él no percebe.
- Soy Soares, ¿y tú?
- Marcela…
- Vi la peli. No es mala…
- Hasta ahora la parte que me está haciendo pensar me recuerda el capitalismo que da la ilusión de que trabajamos para ganar dinero y así vivir comprando todas las cosas que nos apetecieren.
- ¿Ilusión? ¿Cómo así?
- A través de su salario, ¿para qué el trabajador compra ropas, calzados, comida, paga las cuentas?
- Para tenerlos…
- Esa es la ilusión. – Mirando el muchacho que no le acompaña el raciocinio – El dinero para comida es solo para trabajar; con él no es posible comprar todo que deseamos siempre que nos dé la gana. Las ropas y los calzados también son únicamente para trabajar; y la moda que cambia sin cesar es para comprar y comprar mismo teniendo ropas en buen estado. Las medicinas son para el mismo fin. Las cuentas también… Si un trabajador – un albañil, por ejemplo, o mismo un médico, o abogado, ingeniero – quedarse desempleado él se morirá de hambre. Solamente un por ciento de la populación del país es realmente rica. Todos los otros noventa y nueve por ciento de los habitantes son pobres…
- No soy pobre…
- No se quede aburrido, por favor. Pero, déjame explicar. Rico, o sea, mucho adinerado, es quien puede vivir mismo sin nada producir. Puedes hasta trabajar, pero consigue vivir, y bien, sin estar empleado. A las personas nos le gusta la palabra “pobre”; piensan que ella es vergonzosa, solamente porque no entienden que nos es la misma cosa que fracaso ni sinónima de pelado. En verdad, pobre es quien trabaja para vivir.
Los dos se miran en un rato silencioso hasta ella volver a hablar:
- Entonces, si un trabajador estuviere desempleado se quedará hambriento. Solamente un por ciento de la populación del país, y el mismo en el resto del mundo, tal vez hasta menos que eso, no necesita trabajar, pues realmente es adinerada. Todos los demás son pobres.
- Entonces, estás diciendo que, en verdad, ¿pagamos para trabajar?
- Exacto y… – mientras los dos charlan, volvemos a Helena:
- ¡Maestro! Me encanta que ha venido en mi fiesta.
Charlaron algunas banalidades y, no aguantando más, pregunta:
- Maestrito, ¿qué es miscroscóspisco?
- La señorita debe estar queriendo decir “microscópico”, ¿no?
- Sí, maestrito. ¿Qué es microco… microscópico?
- Es relativo al microscopio…
- ¿Y qué es eso, maestro?
- Es un aparato que hace las cosas crecieren…
La jovencita pone un dedito en la boquita, después mira largamente sus manos, sonreí, vuelve para los brazos del amado y dice para Soares: “Descaradito”.
La lunar sonrisa sume un instante, pero vuelve menguante.



Ofereço como presente aos aniversariantes
Roda Alda, Dayane Andrade, Andre Brytto, Amauri Krus, Eduardo R.L. Toledo e Izabela Azevedo.

Recomendo a leitura de “Eu sei quem sou e para onde quero ir”, de Cinara Aline; “Laço”, de Xúnior Matraga; e “Cada um por si”, deste que vos fala. Respectivamente nos seguintes endereços:

¹ RIGGS, Ransom. O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares. Tradução: Edmundo Barreiro e Marcia Blasques. 4ª ed. São Paulo: Leya, 2015. Página 08. Traducción libre de Rubem para español.



Escrito entre 22 de junho de 2014 e 06 de novembro de 2016.

Um comentário:

Marcelo Soares Marinho disse...

E a Marcela...pervertida!