domingo, 27 de junho de 2021

BATEU, DOEU. PEGA QUE É TEU¹


Pegó, dolió. Agarra que es tuyo, mi amor:

“Las nuevas prostituciones en Latinoamérica”. Alguien gritaba. Se acerca y escucha mejor: “Las Nuevas Constituciones en Latinoamérica”. Pero… En verdad, ¿los Senados se ocupan de la Constitución o de la prostitución?

Todos hablan de Bozalnato sacando el tapabocas de un niño, pero nadie charla de quién lo entregó en las manos del monstruo. Creo yo que es como un ritual satánico. Quien ofrece el sacrificio es lo peor villano, no el monstruo.

La ligación entre la prostitución, la constitución y esa escena es el moralismo.

Sexualidad, sensualidad, sexo, género, salud, política, sociedad… Tantas cosas a decir, pero el placer a la ignorancia, a los discursos de odio son tantos que me callo. Así como Caio Fernando Abreu no son para esos que escribo y de un trozo de un texto de él – A Morte dos Girassóis – termino mi discurso:

“Me fue a cuidar de que restaba, que es siempre lo que necesita hacer” (traducción libre). 

Nelson Rodrigues escutou um camelô gritando seu produto: A nova prostituição do Brasil. Surpreso, Nelson percebeu que ninguém ficou curioso ou escandalizado. Aproximou-se para ver o produto e percebeu que escutara errado. O camelô vendia exemplares da Nova Constituição do Brasil.

Mas será que realmente o Senado lida com a Constituição? Ou lida com prostituição?

Bem. Estou lendo o Beijo no Asfalto. E vejo o delegado Cunha se deslumbrando com o descaro do repórter Amado Ribeiro.

Como o homoerotismo masculino é potente e latente. Atenção! Não disse homossexualidade, mas homoerotismo. É comprovado cientificamente que cinquenta por cento dos sonhos de qualquer mulher é com outra mulher e a segunda metade é com outras coisas. E setenta por cento dos sonhos de qualquer homem é com outro homem e o restante com mulheres, coisas etc.

Estes sonhos – dos homens ou das mulheres – não envolvem obrigatoriamente o ato sexual. Mas o foco é o próprio sexo/gênero.

O gosto dos homens em admirar fisiculturismo, boxe, futebol e outros esportes é o corpo masculino. Mesmo quando heterossexual.

Alguns meses atrás publiquei aqui, no aRTISTA aRTEIRO, a história de uma família desajustada ( http://artedoartista.blogspot.com/2021/02/anturio-vida.html ). Mãe que queimava com cigarro os próprios filhos. O mais velho acabou morrendo numa sarjeta e o mais novo fora adotado por dois homens e teve um bom futuro.

No antúrio, o que nós chamamos de flor é, na verdade, folha. É uma “artimanha” da planta para atrair polinizadores. A flor é tão pequena que apenas vemos pontinhos pretos. No cronto em questão, todos na família possuem nomes de flor: Crisântema, Antúrio e Jacinto. Mas a vida deles de nenhum deles fora “um mar de rosas”. O único que escapou foi o bebê. Os outros dois padeceram a ironia de suas vidas serem falsas flores.

Iouloúdi é flor em grego e este passou a ser o nome de Jacinto, o bebê: Iouloúdi Rosa da Silva.

Iouloúdi se tornou um “adolescente cuja graça leve que esconde uma alma profunda”. Mais tarde, ainda bem jovem, mas não adolescente, ele beijou um homem.

Talvez você pense: E daí? Ele foi criado por viados. Mas o rapaz se encanta é com as mulheres.

O garotão beijou um homem que agonizava antes de morrer. Mas as pessoas – muita, muita gente – verão que ele é homossexual por causa dos pais.

O rapaz é bom leitor, mas até então não conhecia Nelson Rodrigues. O engraçado é que fez como em O Beijo no Asfalto. Beijou um moribundo. E os muitos que se calavam por ele ser adotado por bichas passaram a falar.

Iouloúdi tem uma sofrida simpatia. Seu coração ainda é puro; ele não sabe o porquê é atormentado por tantos.

Mas no mundo não existe apenas Iouloúdi. Há Benito, Aparecifo, Cimam, Cintia, Jhenifer...

Ainda precisam acontecer coisas como:

Com raiva corri até você e mesmo tentando desviar-se o derrubei no chão.

- Sou homem. – Gritou.

- Gay é homem. – Gritei.

E sexualidade não é tudo neste cronto.

Poucos dias antes desta publicação uma cena “político-saúde” foi muitíssimo comentada no Caralivro. Mas a observei de outra forma. Vi assim:

Todos falam do Boçalnato tirando a máscara do menino, mas ninguém fala de quem o entregou nas mãos do monstro. Para mim é como um ritual satânico. Quem oferece o sacrifício é o maior vilão, não o monstro.

O elo entre essa cena, a sexualidade, a prostituição e a Constituição é o moralismo.

Poucos anos atrás os quase cinquenta e oito milhões que gritaram “tem homem pelado no museu” sobre uma criança que viu uma performance artística. Hoje estes estão calados diante da cena do Escatológico tirando a máscara da criança em plena pandemia.

Quem grita “tem monstro infectando criança” é quem compreendeu que uma coisa é uma mãe consciente da arte, que o corpo não é tabu, mas natural; e outra são os pais entregando seu filho a um genocida.

Na semana passada, em uma das aulas para o sexto ano, expliquei sobre adjetivo concordar obrigatoriamente com o substantivo em gênero e número, mas não em grau. Exemplo: bonito concorda com gato, porém bonita não concorda com gato. Entretanto pode-se dizer gatinho bonitão.

Antes da explicação perguntei quem sabe o que é gênero, número e grau. Em algumas turmas ouvi que gênero é sexo. Então, sempre com palavras adequadas à idade, expliquei: sexo é genital e gênero é cultural. Homem diz “muito obrigado” e mulher fala “muito obrigada”; aceita-se que homem tenha cabelo comprido, mas ainda isso é associado à mulher; menino usa azul e pode fazer xixi na rua enquanto menina usa rosa e não pode fazer xixi na rua. Não disse, talvez por serem crianças, que homem pode bater na mulher e mulher deve apanhar (apesar, graças a Deus, que estamos lutando para acabar com a violência doméstica; entretanto essa luta é contemporânea). Tudo isso são papéis de gênero.

Sexualidade, sensualidade, sexo, gênero, saúde, política, sociedade... Tantas coisas a dizer, mas o gosto pela ignorância, pelos discursos de ódio são tantos que me calo. Como Caio Fernando Abreu não são para esses que escrevo e com um trecho do texto dele – A Morte dos Girassóis – encerro minha fala:

“Fui cuidar do que restava, que é sempre o que se deve fazer”.

 

 

Ofereço como presente ao aniversariante Daniel Cristiano. Ofereço também Ronix Malabardo, Educadores Conectados e Gustavo Drumond.

27 de junho de 1214 é o "nascimento" da Língua Portuguesa. Data do mais antigo registo escrito.

 

Recomendo a leitura de:

“Pequenas Epifanias”, de Caio Fernando Abreu; editora Nova Fronteira.

“Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues; editora Nova Fronteira.

 

¹ Jout Jout em Saia Justa no GNT, publicado em 28 de junho de 2020: https://www.facebook.com/gnt/videos/620209198595381

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagem:

Fiat lux, foto de Erika Aviles.

 

Manuscrito, digitado e trabalhado entre o final da manhã ou início da tarde de 14 de março até a manhã de 27 de junho de 2021.

Um comentário:

Glaussim disse...
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