Pegó, dolió. Agarra que es
tuyo, mi amor:
“Las nuevas
prostituciones en Latinoamérica”. Alguien gritaba. Se acerca y escucha mejor:
“Las Nuevas Constituciones en Latinoamérica”. Pero… En verdad, ¿los Senados se
ocupan de la Constitución o de la prostitución?
Todos hablan de
Bozalnato sacando el tapabocas de un niño, pero nadie charla de quién lo entregó
en las manos del monstruo. Creo yo que es como un ritual satánico. Quien ofrece
el sacrificio es lo peor villano, no el monstruo.
La ligación entre la
prostitución, la constitución y esa escena es el moralismo.
Sexualidad,
sensualidad, sexo, género, salud, política, sociedad… Tantas cosas a decir,
pero el placer a la ignorancia, a los discursos de odio son tantos que me
callo. Así como Caio Fernando Abreu no son para esos que escribo y de un trozo
de un texto de él – A Morte dos Girassóis – termino mi discurso:
“Me fue a cuidar de que restaba, que es siempre lo que necesita hacer” (traducción libre).
Nelson Rodrigues escutou um camelô gritando
seu produto: A nova prostituição do Brasil. Surpreso, Nelson percebeu que
ninguém ficou curioso ou escandalizado. Aproximou-se para ver o produto e
percebeu que escutara errado. O camelô vendia exemplares da Nova Constituição
do Brasil.
Mas será que realmente o Senado lida com a
Constituição? Ou lida com prostituição?
Bem. Estou lendo o Beijo no Asfalto. E vejo
o delegado Cunha se deslumbrando com o descaro do repórter Amado Ribeiro.
Como o homoerotismo masculino é potente e
latente. Atenção! Não disse homossexualidade, mas homoerotismo. É comprovado
cientificamente que cinquenta por cento dos sonhos de qualquer mulher é com
outra mulher e a segunda metade é com outras coisas. E setenta por cento dos
sonhos de qualquer homem é com outro homem e o restante com mulheres, coisas
etc.
Estes sonhos – dos homens ou das mulheres –
não envolvem obrigatoriamente o ato sexual. Mas o foco é o próprio sexo/gênero.
O gosto dos homens em admirar
fisiculturismo, boxe, futebol e outros esportes é o corpo masculino. Mesmo
quando heterossexual.
Alguns meses atrás publiquei aqui, no
aRTISTA aRTEIRO, a história de uma família desajustada ( http://artedoartista.blogspot.com/2021/02/anturio-vida.html
). Mãe que queimava com cigarro os próprios filhos. O mais velho acabou
morrendo numa sarjeta e o mais novo fora adotado por dois homens e teve um bom
futuro.
No antúrio, o que nós chamamos de flor é,
na verdade, folha. É uma “artimanha” da planta para atrair polinizadores. A
flor é tão pequena que apenas vemos pontinhos pretos. No cronto em questão,
todos na família possuem nomes de flor: Crisântema, Antúrio e Jacinto. Mas a
vida deles de nenhum deles fora “um mar de rosas”. O único que escapou foi o bebê.
Os outros dois padeceram a ironia de suas vidas serem falsas flores.
Iouloúdi é flor em grego e este passou a
ser o nome de Jacinto, o bebê: Iouloúdi Rosa da Silva.
Iouloúdi se tornou um “adolescente cuja
graça leve que esconde uma alma profunda”. Mais tarde, ainda bem jovem, mas não
adolescente, ele beijou um homem.
Talvez você pense: E daí? Ele foi criado por viados. Mas o rapaz se encanta é com as
mulheres.
O garotão beijou um homem que agonizava
antes de morrer. Mas as pessoas – muita, muita gente – verão que ele é
homossexual por causa dos pais.
O rapaz é bom leitor, mas até então não
conhecia Nelson Rodrigues. O engraçado é que fez como em O Beijo no Asfalto.
Beijou um moribundo. E os muitos que se calavam por ele ser adotado por bichas
passaram a falar.
Iouloúdi tem uma sofrida simpatia. Seu
coração ainda é puro; ele não sabe o porquê é atormentado por tantos.
Mas no mundo não existe apenas Iouloúdi. Há
Benito, Aparecifo, Cimam, Cintia, Jhenifer...
Ainda precisam acontecer coisas como:
Com raiva corri até você e mesmo tentando
desviar-se o derrubei no chão.
- Sou homem. – Gritou.
- Gay é homem. – Gritei.
E sexualidade não é tudo neste cronto.
Poucos dias antes desta publicação uma cena
“político-saúde” foi muitíssimo comentada no Caralivro. Mas a observei de outra
forma. Vi assim:
Todos falam do Boçalnato tirando a máscara do menino,
mas ninguém fala de quem o entregou nas mãos do monstro. Para mim é como um
ritual satânico. Quem oferece o sacrifício é o maior vilão, não o monstro.
O elo entre essa cena, a sexualidade, a
prostituição e a Constituição é o moralismo.
Poucos anos atrás os quase cinquenta e oito
milhões que gritaram “tem homem pelado no museu” sobre uma criança que viu uma performance
artística. Hoje estes estão calados diante da cena do Escatológico tirando a
máscara da criança em plena pandemia.
Quem grita “tem monstro infectando criança”
é quem compreendeu que uma coisa é uma mãe consciente da arte, que o corpo não
é tabu, mas natural; e outra são os pais entregando seu filho a um genocida.
Na semana passada, em uma das aulas para o
sexto ano, expliquei sobre adjetivo concordar obrigatoriamente com o
substantivo em gênero e número, mas não em grau. Exemplo: bonito concorda com
gato, porém bonita não concorda com gato. Entretanto pode-se dizer gatinho
bonitão.
Antes da explicação perguntei quem sabe o
que é gênero, número e grau. Em algumas turmas ouvi que gênero é sexo. Então,
sempre com palavras adequadas à idade, expliquei: sexo é genital e gênero é
cultural. Homem diz “muito obrigado” e mulher fala “muito obrigada”; aceita-se
que homem tenha cabelo comprido, mas ainda isso é associado à mulher; menino
usa azul e pode fazer xixi na rua enquanto menina usa rosa e não pode fazer
xixi na rua. Não disse, talvez por serem crianças, que homem pode bater na
mulher e mulher deve apanhar (apesar, graças a Deus, que estamos lutando para
acabar com a violência doméstica; entretanto essa luta é contemporânea). Tudo isso
são papéis de gênero.
Sexualidade, sensualidade, sexo, gênero,
saúde, política, sociedade... Tantas coisas a dizer, mas o gosto pela
ignorância, pelos discursos de ódio são tantos que me calo. Como Caio Fernando
Abreu não são para esses que escrevo e com um trecho do texto dele – A Morte
dos Girassóis – encerro minha fala:
“Fui cuidar do que restava, que é sempre o
que se deve fazer”.
Ofereço como presente ao aniversariante Daniel Cristiano. Ofereço também
Ronix Malabardo, Educadores Conectados e Gustavo Drumond.
27 de junho de 1214 é o "nascimento" da Língua Portuguesa. Data do mais antigo registo escrito.
Recomendo a leitura de:
“Pequenas Epifanias”, de Caio Fernando Abreu; editora Nova
Fronteira.
“Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues; editora Nova Fronteira.
¹ Jout Jout em Saia Justa no GNT, publicado em 28 de junho de 2020: https://www.facebook.com/gnt/videos/620209198595381
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog
literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e
Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do
Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua
Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos
científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e
Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola,
Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e
“Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro
Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagem:
Fiat lux, foto de Erika Aviles.
Manuscrito, digitado e trabalhado entre o final da manhã ou início
da tarde de 14 de março até a manhã de 27 de junho de 2021.
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