quarta-feira, 20 de maio de 2009

LENDAS

Oxum, a rainha das águas dos rios e da prosperidade, do amor e da beleza, é a Sabedoria das grandes mães ancestrais. Sua principal residência é no rio Osun, na África.
Iansã é a rainha dos ventos e das tempestades. Seu principal castelo é no rio Níger, na África. E não sei por que tenho uma especial apreciação por ela.
Iemanjá, a Rainha das águas do mar, creio não precisar de apresentações, mas um pouco ainda assim vou falar: Ela é a mãe de todos os orixás e sua principal morada é no rio Ogun, na África.
Laroiê Akessan nasceu quando o grande Inhangui, o criador de todas as coisas, veio na forma de um meteorito em chamas e se espatifou em 256 pedaços. Cada pedaço é uma manifestação de um mesmo Exu, que aqui chamaremos de Laroiê Akessan.
Uma vez apresentados, vamos à estória que ouvi um pedaço aqui, li um pedaço ali e a minha estória costurei acolá:
Laroiê Akessan caminhava certa manhã por um de seus caminhos quando se deu nas margens do rio Osun. Cansado, sentou-se à sombra de um baobá bem em frente de um castelo cujo rei via e previa a vida humana com tantos detalhes que atiçou a gana de Laroiê Akessan.
- Ah! Eu quero saber a vida de todos. Eu quero e vou saber.
E ficou observando tão profundamente que viu o que ninguém mais viu: uma bela mulher. Linda que só ela. Era ela que quem orientava o rei, seu pai, na previsão da vida dos homens.
No dia seguinte, Laroiê Akessan se aproximou da entrada do castelo guardado por um lindo e grande peixe.
- Bom dia, peixe! Pode me dizer quem é a mais linda mulher do castelo?
- Sim, claro que sim.
- Então diga:
- É Oxum.
Sabendo quem era, Laroiê Akessan encomendou uma linda jóia de ouro e ofereceu a Oxum louvando-a: “Oraieiê ôôô”!
- Lindo presente. Quem é você? E o que deseja? Com certeza não veio só por minha beleza.
- Sua beleza me comove, mas é o desejo de aprender a vida dos homens que me move. Disse nosso Exu.
- Se quer aprender, o que tem mais a me oferecer?
- Diga e farei. Até os seus inimigos eliminarei.
- Sirva-me como escravo por um ano e após, do saber o destino humano te farei amo.
Laroiê Akessan aceitou e Oxum muitos caprichos teve. Mas o mais grave foi o de vestir o Exu com suas roupas e jóias. Mais grave ainda foi fazê-lo passear com ela pelo mercado. O mercado de Oxum. Ri. Rirri. Rirrirri. Riu um. Cacacacá. Riram outros. Qui qui qui qui. Riram todos.
Finalmente! Um ano se fez. Nosso Exu deu uma cambalhota e exclamou:
- Livre! E agora quero meu prêmio. E de você quero distância. Irre!
Oxum não queria perder seu escravo mais obediente. Afinal, Exu cumpre seus tratos e nunca volta atrás.
- Laroiê Akessan, agora? Você quer agora? Tem certeza que só se passou um mês?
- Agora! O saber a vida humana eu quero agora. E não me enrola.
- Então, ajoelhe-se mais uma vez.
Com ele de joelhos Oxum se adentrou no rio Osun e voltou com uma peneira e dezesseis búzios.
- Só dezesseis? O rei tinha centenas vezes seis.
- Laroiê Akessan! Ele é meu pai e você um ex-escravo. Se veja e o veja. Além do mais você é apressado, tem tanto cuidado com os homens... Você tem mais parecer com um do que conosco. Dezesseis são os caminhos dos homens. Veja e aprenda.
Uma vez de posse do conhecimento Laroiê Akessan saiu jurando nunca desrespeitar Oxum, que é sábia, mas que suas filhas tomem muito cuidado. Rarrarrá.
Passou-se um ano ou será um século? É tão difícil saber o tempo dos Orixás... Além do mais só tô contando o que ouvi.
Laroiê Akessan caminhava certa manhã por outro de seus caminhos quando ouviu Iemanjá reclamar de seu pai, o Mar. Que Iansã não estava sã. E que Oxum perdeu todo seu ouro, um por um.
Laroiê Akessan ouviu-as gemer e chorar num vale de lágrimas.
- Que está acontecendo?
- Meu balaio está vazio e o Mar não está pra peixe, disse Iemanjá.
- Meu balaio está vazio e nada tenho para vender, disse Iansã.
- Meu balaio está vazio e nada tenho para comprar, disse Oxum.
- Estamos com fome, disseram todas.
- Tão belas senhoras e boas mães de família não podem passar por isso. Tenho dez galos e os deixo. O que venderem no mercado será das senhoras. Disse e foi embora.
Passou-se um dia de homens e as três Orixás venderam nove galos. Então Iemanjá disse: - Já que ninguém quis o rejeitado, o levo e faço um guisado.
Na mesma hora falou Iansã: - Eu o levo para engordar e em três dias muito dinheiro vou ganhar. E assim as duas não pararam de brigar. “É meu”, dizia uma. “É meu”, dizia outra.
- Que é isso, senhoras? Laroiê Akessan chegou junto com a noite e vê tão triste cena. O que está acontecendo? O que foi Oxum? Algum problema com suas filhas?
Uma se pôs a pensar e duas puseram a se explicar:
- Quero jantar, disse Iemanjá.
- Quero lucrar, disse Iansã.
- E você, o que fala Oxum?
- Penso que todas tivemos lucro graças à Exu. Então digo que Iansã engorde o galo, Iemanjá faça um guisado e eu o levarei ao Laroiê Akessan.
Iemanjá concordou. Iansã pensou e concordou. Oxum sorriu. Laroiê Akessan agradecido assim declarou:
- Oxum é a Grande Mãe Ancestral. Mãe da beleza e dos amores. Senhora da prosperidade e da riqueza. É para todo o sempre a Rainha dos Mercados. Oraieiê ôôô!

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