quinta-feira, 20 de agosto de 2009

COBRA RAINHA

Rubem Leite – 16-20\8\09

Fedor. Caminho de quatro, esfarrapado, imundo, machucado. Rápido. Rápido. Rápido. À frente uma penumbra anuncia o início da noite ou então o seu fim. Serão árvores à minha frente? Chego à borda do esgoto em que achava que fugia. Quê? Várias saídas de esgoto? Duas cabeças ao meu lado? Mais uma? Que é isso? São quatro olhares de espanto. Um grito e uma criança cai do esgoto no rio. Um escorpião. Como sei que um escorpião a picou? Como? A mulher dois canos à esquerda pula no rio. Um homem. Nu. Pula também. – Iaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiii! Após o grito o rio se avermelha. Um jacaré? Será um jacaré que vi? Ai meu Deus. A mulher chega à margem e se deita. Esgotada? Eu estou. Ai meu Deus. Eu vou ou não vou? Volto para aquele lugar? Que lugar? Eu nã-não sei. Só sei que me apavora. Uma criança morreu. Um homem morreu. A mulher está desabada na margem. Será que viverá? Não quero voltar para a escuridão. Não quero morrer. A mulher se mexe. Arrasta-se de costas olhando assustada. O que ela vê? Uma cobra. Como consigo enxergar a serpente? O que está acontecendo comigo? Onde estou? Por que estou aqui? Por que esses bichos? Será o inferno? Mas serei tão ruim assim? Que que eu fiz? Cadê as respostas? A serpente é uma cobra rainha. Que é isso? Como sei? Ela pica só quem é feio. Quê? Não existe isso. Dois pensamentos. Estou tendo dois pensamentos. Um faz afirmações. O outro só pergunta. Dois pensamentos. Duas cabeças. Duas consciências em mim. Não existe isso. Não existe isso. Estou conversando comigo mesmo e nenhuma me responde nada. Aaaiii! É só isso o grito da mulher. E um choro. A cobra rainha olha para mim. Ela me quer. Sou feio? Um homem chega à mulher. Toca nela com o pé. – Não morreu ainda! – Ele grita e a espera morrer. Meu Deus. Se eu voltar é a escuridão. Como sei que é escuro? Eu não me lembro. Não dá para ficar aqui para sempre ou morrerei. Se pular, morrerei.

- Ah!

Sento na cama exclamando com o suor escorrendo pela testa, olhando para os lados. Um minuto e deito tentando dormir outra vez. Nada mais que um pesadelo.

- Dormir. Não quero dormir de novo.

- Doutor! A cobaia ainda não dormiu. Devo liberar mais um pouquinho do GS²?

- Não! Mais GS² e o espécime se intoxica. Deixe-o descansar por si. Amanhã o espécime estará pronto para continuarmos os testes.

Durmo tranqüilo. É só um sonho. Um pesadelo?

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