quarta-feira, 20 de abril de 2011

TUDO A SEU TEMPO

Ofereço como presente de aniversário aos meus queridos

Valdete R. Fernandes e Álax Nasário.

E também ofereço aos meus colegas na Licenciatura Letras UnB, em especial

Laudemir A. Silva, Lorena A. Souza, Luzia B. O. Vieira,

Marcos A. Benevides, Mª Aparecida Pereira e Mª Fernanda R. Silva.

Escrita entre os dias 15 e 20 de abril de 2011.

Obax anafisa


A tarde vai sem pressa. Na vizinhança um rádio toca, parece músicas cristãs que me arremetem ao Tiririca. Sento no sofá e me recosto e acabo me deitando com uma playboy nas mãos. Ontem vi meu colega e melhor amigo ser parabenizado pelo nosso chefe. Eu não. Já pensou? Fiquei calado, impassível, agüentando tudo. Sexta-feira, momentos antes do fim do expediente, vai o patrão falar “Benito ultrapassou sua meta. É raro um colaborador igual ao Benito. Preciso de mais Benito na empresa”. E eu ouvi. E eu sorri. Minha vontade, preciso dizer? É óbvia! Mas eu sorri. Primeiro porque preciso do emprego, não posso dar bandeira. Segundo, somos amigos. Apesar dos pesares, somos amigos. Então eu deveria me alegrar por ele, não deveria? Mas não consegui. Sorri. Por uma das janelas podia se ver minha inveja e na outra a culpa pelo sentiment...

- Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiêêêêêê! Ai! Ai! Aiêêê!

Ponho-me de pé e vou até a janela. Idiota! E se for uma briga e sobrar para você? Uma bala perdida te achar? Mas agora é tarde. Do segundo andar já estou vendo a mulher caída no asfalto. Vejo Benito na janela. É que somos vizinhos, mas finjo não percebê-lo. Uma vizinhança se aproxima da vítima e outra fala para Benito “É Jacimara”. Jacimara? O viado do apartamento ao lado? Fico olhando, angustiado, extasiado. O cara até que é gente boa. Já recebi uma cantada, educada. Não colou porque não sou boiola. Nada contra, mas não gosto de me envolver com essa gente. Mas a cantada foi boa. Usei para catar uma gata e né que deu certo? Papei gostoso. A policia aparece. Rápido, para uma travesti. Rarrá! O Rubem tem razão. Você já viu coisa mais bicha que carro de polícia? Algo que sai pelas ruas com uma coisa imensa, indiscreta, por cima piscando e gritando “uiuiuiuiuiuiuiuiuiui”? Rarrá! Ela é socorrida enquanto ouço dizerem “Foi um rapaz que a esfaqueou porque ela é travesti”. Outro diz “cinco rapazes saíram dum carro e perseguiram três travecas. Jacimara caiu e a encheram de facadas. Mas pegaram o cara. Um adolescente”. Outro ainda disse... Não me interessa. Saio da janela e vou para o banheiro mijar. Esquento algo no fogão, como e durmo vendo tv.

- Ispera aí! Ispera!

Acordo com o grito junto a um barulhão de moto. Alguém chora.

- Que foi, amiga?

Pergunta alguma mulher para outra.

- O criente foi embora sem pagar.

- Mas você é otária mermo.

As duas somem com sua voz na madrugada. Saco! Agora perdi o sono. Fazer o que domingo de madrugada? Da rua, só o fim da noite. Até que a lua está bonita. Vou fazer um café e tomar com leite. Acho que vou para Pedra Branca. É fiofó de mundo, mas para quem tá duro lá consegue dá duro para as gatas de lá. Rarrá! Vou deixá-las felizes. Uuuum xô vê: Café com leite, tv e madrugada. É acho que consigo dormir mais um pouco. E a lua tá tão bonita. Ah! Esse café com leite, essa madrugada e essa lua deixam a gente comovido como o diabo.

Olhos pesados.

Olhos se abrem.

Espreguiço e me arrumo para ir para as mulheres. Amanhã tem batente e vou ter que sorrir para o Benito, para os colegas e para os chefes. Vai ser duro sorrir para o pessoal. Mas para o Benito até que não porque gosto dele. O cara é todo certinho, mas fazer o quê? Todo mundo tem o seu defeito. Mas isso será amanhã. Para cada dia a sua cruz. A minha hoje é batalhar para alegrar a mulherada.


Ofereço obax esperando que encontre anafisa.

Convido a ler o cronto OLHANDO PELA JANELA

que será postado amanhã, dia 21 de abril, na coluna CRONISTA DE 5ª

da revista cultural Nota Independente. O endereço é www.notaindependente.com.br

Tem alguma ligação com o cronto acima.

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