segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

CANDELABRO E LAMPIÃO Ou A FERÊNCIA DE OUTREU

Obax anafisa
e bom 2014!


Candelabro... Acho lindo “candelabro”. Desejo que o novo ano que se inicia seja assim, um can-de-la-bro. Mas só conheço lampião. Então será um lampião que irei acender para você e para cada um que me lê. Pois sou ou serei como Bandeira proclama:

Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito,
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito bem engomada, e na primeira esquina passa
um caminhão, salpica-lhe o paletó ou a calça de uma nódoa de lama:
É a vida

O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.

Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as virgens cem por cento e as amadas que envelheceram sem maldade.

Para se perceber o outro é mister buscar o outro; sair do conforto individualista mesquinho para uma política de convivência. Não é, contudo, perder a individualidade, não é deixar de ser. É ser “outreu”, ou seja, outro mais eu.
Para tanto é necessário se engajar. E meu engajamento se faz lendo e escrevendo. Se faz na arte, da arte, pela arte. Minha ação é menos física que dos artistas cênicos e ao mesmo tempo tão ativa quanto. Assim, leio para ver o não visível; como um vidente de olhos vendados percebe o mundo pela audição, olfato, tato, paladar e dessa forma ver. Escrevo para me possibilitar e me permitir ser visto.
O fazer-me visível não deixa de satisfazer minha necessidade de ser reconhecido. No entanto, a ultrapassa por buscar o outro em uma ação paralela do ser engajado.
E porque tudo é texto – o corpo é instrumento de escrita, uma mídia. Cada órgão e membro é uma palavra e as ações formam\apresentam história. Cada palavra nova é nova proposta política, é uma “ferência”: interferência, transferência, referência e o neologismo intraferência.
E porque tudo é texto eu serei... eu sou um lampião que se acende para você. Mas talvez seja apenas pretensão. Sendo ou não eu me entrego e me deixo possuir em palavras. E te sujo.

furo
na
saia
da
madrugada:
aurora


Ofereço como presente de aniversario a:
Marcelo Rocha, Elton L. Macedo, Ana Lúcia, Edson Nascimento, Claudio Oliveira, Eddy Fonseca, Rafael Fontes, Loraidan Anjos e Pedro Apk.
E sucesso para o Pé de Cabra Coletivo.

URDUME é um ebook de poesias para exorcizar lamentos de amor, raiva e dor exacerbada através de sentimentos apurados e de um posicionamento significativo no mundo.
Obra bilingüe (português e espanhol) de Rubem Leite; publicada pela editora CÍRCULO DAS ARTES. Ilustração de Bruno Grossi. Revisão de Cida Pinho e Lilian Ferreira.
Vou ficar muito contente se você comprar e divulgar. Bruno, Cida e Lilian também se encantarão.

Escrito entre 08 de novembro de 2013 e 06 de janeiro de 2014.

O poema é Nova Poética, de Manuel Bandeira.

Parte do cronto é fruto de um processo experienciado no Espaço de Convívio promovido pelo Hibridus (grupo de dança em Ipatinga MG) nos dias 01 a 09 de dezembro de 2013 e com provocações de Joubert Arrais e Micheline Torres.


Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

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