domingo, 17 de setembro de 2017

ESPERANÇA – E ME DIZEM INTELECTUALIZADO

Foto do autor.


07 de setembro, Independência do Brasil (1822).
16 de setembro, Independência do México (1810).
18 de setembro, Independência do Chile (1810).
E o homem continua sem independência...

Él no puede comprender.
No puedo comprender.

He can’t understand.
I can’t understand.


Leitura pelo autor no endereço:

Uma noite cobriu o horizonte fora do horário previsto.
Ainda assim, seis e vinte da manhã sai de casa, na rua Lírio do Vale, para trabalhar. É cedo, mas já se vê as pessoas alheias ao todo no Esperança. “Esperança de quê?”, pergunta-se e ele se responde: “Esperança é só um bairro de Ipatinga...”.
O povo saiu para festejar com estes proclames: “Adeus, querida!”.
Surgiram PEC’s, aumentos salarias dos senadores, deputados, juízes, vereadores e seus similares. Os festeiros, para aposentar, quase cinquenta anos de trabalho. Isso se não adoecer ou perder o emprego.
Fecharam universidades; planos educacionais eliminaram disciplinas...
Ano passado foi proibido pela Secretaria de Educação de ensinar... Este ano está permitido... Mas na escola não há gramática, nem uma gramática. “Vou comprar do meu bolso, quinze”, sonhou. R$188,00 era a mais em conta. Três vezes mais barata era a gramática de inglês.
Não consegue entender.
Não consigo entender.
Os dias foram passando, mas não amanhecendo, não alumiando; noite; sempre noite. Mas vez ou outra uma lu...
- Vâmu trepá, irmão!? – Fala a puta cachimbada.
Ah! O poético soar fraternal...
- Não! Isto é incesto e sou contra. – Fala o poeta destarimbado.
- Ah! É ussinhô, professor! Cadê uscachorro?
- Estão em casa enquanto vou lecionar.
- Vida boa a dêlis, né?
- Pois é...
Responde e entra na E.M. Henrique Freitas Badaró. Nem se escandaliza com uma usuária prostituta às portas de uma escola; já antevendo a recepção dada pelos alunos.
Mas,
Vez ou outra uma luz, um raio que não chegava a raiar...
À noite, Patty Salas, cantora chilena habitante de Ipatinga, fugida de Pinochet e de suas torturas, tonifica a esperança; seu brilho tonifica na Praça Esperança, na Avenida Esperança, no bairro Esperança.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Creusa Melo, Edna Neves, Claudio M. Miranda, Wenderson Godoi, Vanessa Valentim, Bárbara Vilela, Mateus T. Sousa, Francisco P.A. Costa, Wolmer Ezequiel, Paulo A. Matlombe, Thiago Domingues, Mª Carmo F. Vaz, Erikes M. Sena, Vandelúzia L. Ferreira, Kéllerson de Paula e Edvania Oliveira.

Recomendo a leitura de “A Ideologia Alemã, de Karl Marx e Friedrich Engels – resenha simplificada em série (parte 3)”, de Sued; “Cleriopatia”, deste macróbio que vos fala; “Incesto”, de Girvany; e, de Caio Riter: “Três Vezes Patronável” e “Sobre Censura”. Respectivamente:

Recomendo ainda a reflexão: Afinal, quem pode e quem deve falar de política?                                                                                (Beto Oliveira)
Recentemente Wagner Moura fez uma campanha alertando para os riscos da Reforma da Previdência proposta pelo governo Temer. O artista foi imediatamente atacado por algumas pessoas e até mesmo pelo governo. Segundo alguns disseram, o artista deveria se preocupar em fazer filmes.
Outros disseram que, como comentarista de política, ele é um ótimo ator. Mas afinal, quem são os bons comentaristas de política? Quem deve se preocupar com a coisa pública, já que artistas devem se preocupar apenas com seu ofício? Será que há algum cabimento em determinar quem deve falar de política quando todos são afetados por ela?
Como resposta aos que o criticaram, Wagner Moura escreveu um texto, “Quem tem medo de artista”, que foi publicado na Folha de São Paulo. A primeira frase do texto já nos indica o centro da questão: “Artistas são seres políticos”, diz Moura, e prossegue convidando os leitores a indagarem aos gregos, a Shakespeare, a Brecht, a Ibsen ou a Shaw. Encontraremos em todos esses artistas um convite ao dramaturgo, ao ator e, no limite, a qualquer pessoa, a falar, a se interessar e a fazer política. 
Os gregos, por exemplo, tinham um bom nome para as pessoas (artistas ou não) que não se metiam com a política (com o que é público): Idiota. O prefixo “idios” vem de privado, particular (como na palavra idiossincrasia). Querer que o artista, o professor, o trabalhador, o analfabeto, o empresário, ou qualquer pessoa que seja, não se meta com política, é um convite para que ele seja um idiota.
O convite de Brecht, por exemplo, é exatamente o oposto. O dramaturgo alemão convida não apenas os artistas, mas todos, a se posicionarem politicamente. No seu texto “Elogio do aprendizado”, ele incita: “Verifique a conta / É você que vai pagar. / Ponha o dedo sobre cada item / Pergunte: O que é isso? / Você tem que assumir o comando”.
O ser político é o que coloca o dedo sobre cada item, o que pergunta quanto vai custar a reforma da previdência ou a maneira como se regularizará as terceirizações. O idiota, ao contrário, só se ocupa com seus afazeres, não com o que é público. Ele é o analfabeto político que aparece em outro poema de Brecht, aquele que não sabe que da sua negligência e desinteresse nasce a prostituta, o menor abandonado e o político vigarista.
Posicionar-se politicamente sempre deve ser mais indicado do que se calar. E no caso dos artistas, isso não é menos verdadeiro, concordemos ou não com o que dizem. No entanto, o artista muitas vezes tem um lugar especial na cultura, uma posição de fala e um poder de influenciar pessoas maior do que muitos de nós. Portanto, deve ter uma responsabilidade maior também.
A responsabilidade que todos devemos ter em não compartilhar mentiras ou em não sermos desonestos intelectualmente deve ser ainda mais cobrada de um artista; ou de qualquer pessoa ou instituição que detêm um poder de influência maior. Mas isso não tem nada a ver em incitá-los a calar ou em desacreditá-los por eles não se dedicarem apenas em fazer política.
Cobrar coerência, honestidade e respeito, enriquece todo debate político. Mas convidar alguém a ser idiota, ou seja, a só se preocupar com seus afazeres particulares, é ignorar completamente a noção de república. Querer que um artista seja idiota, que só se preocupe com a técnica do seu trabalho, é não compreender nada do que foi e do que é a arte. Algo típico de quem confunde arte com entretenimento (atividades que por vezes se coincidem, mas que são distintas) ou de quem age com má fé e está preocupado mais em combater a pessoa do que as ideias que essa pessoa defende.
* Psicólogo. Mestre em Estudos Psicanalíticos pela UFMG. Coordenador do Centro de Estudos e Pesquisa em Psicanálise do Vale do Aço. Autor do romance “O dia em que conheci Sophia” e da peça teatral “A família de Arthur”. OLIVEIRA, Beto. Disponível http://www.diariodoaco.com.br/ler_noticia.php?id=49314&t=afinal-quem-pode-e-quem-deve-falar-de-politica . Acesso 07 Abr 2017.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. É, por segunda gestão, Secretário da ASSABI – Associação de Amigos da Biblioteca Pública Zumbi dos Palmares (Ipatinga MG). Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Foto de Vinícius Siman.

Manuscrito nos dias 01 e 02 de abril de 2017, digitado no dia 05 e trabalhado entre os dias 15 e 17 de setembro do mesmo ano.

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