segunda-feira, 12 de julho de 2010

MARIBETH

Rubem Leite
11 e 12 de julho de 2010

Ofereço à
Agência Oz e
João F. B. Araújo.


Maribeth canta: “Ó minha râni beibi. Beibi. Râni beibi. Beibi, beibi, beibi, beibi. Eu estou tão cansada, mas não para dizer que eu não acredito mais em você”. – Ela está sozinha na boate. Alguns nas mesas, outros dançando agarradinhos. Gente bebendo, fumando, injetando. Mas ela não. Maribeth dança só. Está só. É só. E está a espera de um cliente que a consuma. Qualquer um. Tanto faz. Ela se abraça como se fosse ele. Queria que ele voltasse. Ele não voltará. Maribeth dá graças a Deus. Ela acaricia seus seios como se fosse ele. Mas ela não é ele e sabe disso. Dança só esperando alguém que a consuma. Desejando ele. Aliviada por ele não voltar.
- Maribeth! Tenho um criente que qué duas. Pensei nocê. Vamu?
Enquanto ouve, larga as mãos ao lado. Enquanto ouve, dança. Enquanto ouve, se arma de sorriso. E vão. Ela atende o cliente como se ainda dançasse. O dia raia com eles no motel. Recebe o pagamento. Desce junto com Wanderleya. A voz da colega que fala e fala e fala é a música de sua dança de corpo quieto. Wanderleya fala e fala porque não quer pensar. Maribeth dança porque não quer sentir. Com dinheiro na bolsa Wanderleya
- Me dá um pão. – O entregador de pão olha para ela na porta de um hotel – Me dá um pão que te dô. – O entregador olha para o funcionário que olha para Maribeth que não olha para nada. Só para no ponto à espera do ônibus. Seu corpo dança imóvel. Não sente que está dançando. No banco do ônibus lotado seus olhos vidrados, parados no nada. No mp qualquer coisa de alguém “Ando tão a flor da pele que meu desejo se confunde com a vontade de não sei”. Seu corpo imóvel. Seu pensamento dança até ele.
Seu sorriso chega em casa. Seu sorriso vai direto para a cozinha preparar o jantar. Seu sorriso escuta um som. Um meio sorriso atravessa a sala. Seu sorriso se vai no quarto. Ele com alguém ri na cama. Ele olha para ela. Ele não para. Ela não para nem na rua. O tempo passa. E Maribeth não que sentir o que sentiu. Maribeth dança sem sentir que dança sem sentir.

Um comentário:

Comunicação do Instituto Interagir disse...

Olá Rubem,
Parabéns pelo seu trabalho, a cada dia fico mais admirada.