segunda-feira, 29 de julho de 2013

OS LIBERTADORES DA AMÉRICA



Obax anafisa.


Foi uma manhã estafante essa. – Pensa depois que chegou à praça perto do local de trabalho. – E acho que não vai melhorar. Olha para a grama a sua frente e tira o paletó escuro sobre sua camisa verde bebê.
- Tome!
- Am! Quero uma de vinte.
- Toma logo e não me enche.
- Como? Só quero vinte reais.
- O senhor está me achando com cara de caixa eletrônico de pobre, daquele bairro onde mora? Isto se aquele lugar tivesse dinheiro que não fosse roubado.
- Quê? Mais respeito com as pessoas, seu... Ah! Não me interessa. Não vou brigar nem me envolver. Só preciso de R$20,00.
- Recuso-me a sujar minhas engrenagens, a macular a santidade do templo que é este equipamento – eu –, com... não vou falar essa mixaria. E contente-se por eu não lhe dar R$100,00. Ah... Rirri. O senhorrr não tem, não é? Ridículo!
- Quero vinte reais.
- Já disse que não. Se quiser miséria procure outra máquina.
Mexe na gravata ainda pensando no banco. Nem tinha percebido direito o sujeito que passou em direção ao quiosque. Era um cliente. Seguiu a travessia do homem até seu olhar se encontrar com as flores rosadas da escumilha.
- Estou preocupado e chateado.
- Com o quê?
- Sabe aquela situação chata onde mandam a gente escolher, algo como “ou eu ou ele”?
- Hum, sei como.
- Pois é, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro estão exigindo que eu escolha um deles para ler primeiro, mas não estou conseguindo. Que fazer? Quero todos... Um harém de livros. Já pensou?
Do banco ao lado dois homens de meia idade conversam. Mesmo não querendo, ouve e quase se diverte. Mas transfere sua atenção para a estátua de um político que não fez saneamento básico, nem asfaltos, nem escolas, nem centro culturais ou de esporte, mas fez praças abandonadas e fontes que não funcionam e acertava na loteria todas as semanas. Belo busto debaixo das amarelas flores de acácia. Olha as horas no celular.
Eu, a-cre-di-to! Eu, a-cre-di-to! Eu, a-cre-di-to! Eu, a-cre-di-to! A exclamação ultrapassou as distâncias como o frio que veio do Sul. Ambos dando arrepios. Para alguns, gostosos, para outros, de horror. O início era nada, depois um grito longo, anseios, outro grito prolongado, angústia atrás de angústia, um erro bom, um acerto bom, acerto ruim, acerto bom, acerto ruim, acerto bom, acerto ruim, acerto bom. Acreditou.
Pensou no jogo de ontem e tira uma goma de mascar do bolso, põe na boca e mastiga com educação. Pelo menos isso tem. Olha as horas, estica os músculos do braço, arruma a gravata, veste o paletó e volta para onde não quer.
No fim do dia entregará no ônibus a nota de vinte, o trocador lhe deixará passar, vai sentar e o funcionário lhe organizará o troco. O ônibus andará, andará, andará e nada. Vai olhar para saber o porque da demora e “Cinco... dez... quinze... vinte centavos”. Conseguirá rir, um pouquinho. Então chegará a casa, verá novela, jantará a comida por necessidade e a esposa sem vontade. Depois vai dormir e o sol vai florir.


Ofereço como presente de aniversário:
Anilton Reis, Victor do Carmo, Rogério Pires, Eliberto Campos, Freddy Cosme, Martín Ramirez, Cioli F. Rodrigues e Camile Gracian.

Estou contente! Em breve o ebook bilingue (espanhol-português) de poemas URDIDUMBRE – URDUME. Espero que adquira e creio que vai gostar.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 20 e 29 de julho de 2013.

Um comentário:

Anônimo disse...

AMIGO, O Q POSSO DZR DE VC E DE SEUS CONTOS? VC E PERFEITO. ME FAZ RIR D+, MAS E PERFEITO NO Q ESCREVE
BJS
AMEI O TEXTO