segunda-feira, 28 de abril de 2014

I AM A TREE IN THE FOREST AND MOON SHINES ABOVE ME

Feliz aniversário, Ipatinga!

Obax anafisa


“O escritor, à semelhança dos amantes, também oferece seu corpo ao outro, como objeto de prazer. Só que sob a forma de palavra. Cada escritura é uma celebração eucarística: Tomai, comei, isto é meu corpo...”.                                            (ALVES)


O início da noite de um domingo sobre árvores no Parque Ipanema às vésperas do cinquentenário da cidade é um momento bom para três amigos conversarem. Benito, Marcos e Carlos.
- Faço café de homem, de macho, de Atleticano; forte e com pouco açúcar, ou seja, amargo e sem frescura. O café que as mulheres gostam; como se estivessem sendo abraçadas e amadas por um homem viril, mas carinhoso.
- De “atreticano”, Benito? Rirri. Café de bicha. Rirrirri.
Diz Marquim e Carlos completa:
- Estamos aqui pra cumê ou pra cunversá?
- Comer e conversar é igual sexo.
- ?
- Comer e conversar é igual sexo. Bom é feito a dois. Só conversar ou só comer tem menos graça que comer e conversar.
- Rarrá! Mineiro é bobo mesmo. – Carlos quase muda de assunto. – Conhece alguém hoje, simpatiza com a criatura e já vai convidando a conhecer sua casa. Assim me acontece sempre que vou a Milho Verde, Tiradentes...
- E nem sempre é pra sexo. É por amizade.
- E pra onde leva o convidado?
- Pra cozinha, claro.
E riem os três. Uma folha cai da árvore à nossa direita. E ainda há poucas pessoas no local.
- Não sei, Benito. Não achei paralelo entre sexo, comida e conversa.
- Não, Marcos?!? Espere um momento. Marcelo, me vê uma pina colada, por favor.
- Para mim, caipirinha.
- Uma cerveja!
- Bitch shit! Que isso, cara! Marcelo, vamos ouvir sertanojo?
- É arrocha...
- Que seja! Se for, prefiro ir pra casa ver filme pornô. Assim pelo menos posso me masturbar.
- Rarrá! Que isso, cara!
- Calma, Benito! Voltemos ao assunto... Comida, conversa e sexo.
- Ah! Não dá mais. Broxei.
Riem os três mais o garçom.
- Vai mudar, Benito, fique calmo. É só teste de som. E nem todo mundo tem o seu gosto musical.
- É! Pode ser, fazer o quê, né? Gosto é gosto e não me cabe criticar. Mas detesto.
- Conversar é se expor. – Diz Carlos. – Um bate-papo informal, entre amigos, é um momento de grande prazer. Talvez em um sentido mais puro que sexo. Digo “talvez” porque sexo não é necessariamente feio ou sujo. Exceto em casos que não vamos comentar agora. Um diálogo é um agradável sem sexo.
- Comida também é exposição. Ou melhor, é uma intimidade sensual...
- Lembrando que sensual e sexual são bem diferentes! – Marcos interrompe oportunamente e Benito continua a falar:
- Rubem, o Alves, não o autor, está certo em dizer que comer é uma felicidade se está com fome, mas cozinhar é alegria maior. Afinal comer tem duplo sentido. E assim é porque as preliminares são mais prazerosas que o ato em si. E
Nuvens e estrelas brincam de pique na noite sobre árvores no Parque Ipanema onde amigos conversam.


Ofereço como presente de aniversario a:
André Gomes, Ana L. Guimaraes, Elizangela Batista, Jamille H. Salles, Patrícia P. Cruz, Cristiane de Sá, Deusdeth J. Amorim, Grace Saavedra (in memoriam), Fernando Viana, Mariana Porto e Carol Galdino.
E aos agentes culturais aniversariantes:
Térsio Greguol e Luís Yuner.

Leiam os textos ‘Por favor, cuide da mamãe’ e ‘Sagrada Família’ (resenhas), de Clovis Marcelo; Farol, de Bispo Filho; e O Mundo é uma Aprendizagem de Carinhos, de Thiago Domingues. Respectivamente nos endereços:

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Sem registro do início da escrita, mas encerrado no dia 28 de abril de 2014.

ALVES, Rubem – O Retorno e Terno – Campinas, SP: Papirus, 26ª edição, 2006 – p. 162.

________. A Festa de Babette. Sítio visitado na manhã de 27 de abril de 2014 http://www.releituras.com/rubemalves_babette.asp

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