domingo, 14 de agosto de 2016

O QUE ME ATERRORIZA

QUÉ ME ATERRORIZA


Em português

- Estão todos vocês em uma sala fechada, sentados em vossas carteiras particulares com um papel de prova virado ao oposto. E um lápis. Na parte de frente está escrito os vossos nomes e a parte oposta está em branco. Há apenas uma pergunta, e uma única resposta é solicitada. Ela está entre vocês... Ninguém pode falar com o guarda que está vos controlando, ninguém pode responder ou falar nada, excepto a resposta. Há alguma pergunta?
- O que é cartão de saldo da Unitel ou Movicel que você me falou ontem?
- Rsrs... Pra tu não tem valor. São as recargas telefônicas de Angola; Unitel e Movicel são as operadoras de rede.
- Rerrê
- Kkkk, mas tentas responder.
- Oncotô? Ou melhor: Oncetá?
Na caixa de mensagens do Facebook aparecem seis interrogações: ??????? e o interlocutor pergunta: “Ah! ‘Oncotô’ e ‘Oncetá’, o quê são isso?”.
O leitor atento (ou seja, você), antes de eu responder ao meu interlocutor, contou as interrogações e achou sete. Rubem, corte um. Ordena-me. Dou um suspiro e elimino o último ponto de interrogação, deixando só os seis afirmados: ??????.¹ Agora posso respondê-lo:
- Rerrê. No Brasil tem um estado que se chama Minas Gerais (é o estado onde nasci e vivo). Nós, mineiros, temos algumas peculiaridades na fala oral. E uma dessas peculiaridades é o ódio ao “d” nos gerúndios. Portanto, jamais falamos “cantando, comendo, sorrindo”; nós falamos “cantano, comeno, sorrino”. Outro costume nosso é emendar e aglutinar as palavras durante a fala; assim, oncotô é “onde que eu estou?” e oncetá significa “onde você está?”.
- Há... Huuum. Ok. Estou em Angola.
- Rerrê. Sim, mas a pergunta que se faz a quem é levado para um lugar assustador como aquela sala é essa: sabe onde está? Se bem que, na verdade, não deverão perguntar nada... É mais assustador nos deixar na ignorância.
- Tu estás em um centro de pesquisas e eres a cobaia...
- Rerrê. Acho que vou criar uma história de terror “partino” da sua.
- Kkkk, algo parecido é o que quero.
- Então tá. Vou escrever uma história de terror:

Em uma típica manhã de um típico dia letivo em uma escola típica:
- Gente! Verbo é o que permite um diálogo; que ocorra a comunicação. Por exemplo, se digo “homem”, “apartamento”... E aí? São apenas palavras. Mas se digo, por exemplo, “O homem saiu do apartamento” ou “O homem grita no apartamento” ou ainda “O homem fugirá do apartamento” comuniquei algumas coisas, aconteceu uma conversa, um diálogo. Entenderam?
- Sim, professor!
- Então, no primeiro e segundo parágrafos do texto Galinha ao Molho Pardo, de Fernando Sabino, tem quantos verbos?
“Tem vinte e três, professor!”. Diz uma aluna e outro intervém: “Não, tem treze”. “Oceis tão tudo errado. É vinte e um”, fala o terceiro estudante.
Abro a boca.
- Não, são oito os verbos. E desconsiderando os que se repetem, quais verbos estão no passado?
- É pra dizer a quantidade de verbos que estão no passado, professor?
- Não. Não quantos, mas quais são eles.
- Era... Tinha...
- Um...
- Quase...
- Gabiroba...
Abro a boca tentando respirar.
- Não, não. “Era” e “tinha” estão certos. Mas “um” é numeral. Já “gabiroba” é uma fruta. Se não a conhece é só prestar atenção no texto: “... um pé de gabiroba, um pé de goiaba branca”; quando lá fala em pé de goiaba já dá para saber que gabiroba é fruta. E “quase” não é verbo; é advérbio. Não existe o verbo “quaser”, ou você fala “eu quaso, ele quase, nós quasemos”?
- Não, professor!
- Que bom! Os advérbios têm ligações com verbos, mas não são verbos. Advérbio é palavra invariável que expressa uma circunstância do verbo ou a intensidade da qualidade dos adjetivos ou reforça outro advérbio e, em alguns casos, modifica substantivos. Eles podem ser de lugar, de tempo, de modo, de negação, de dúvida, de intensidade e de afirmação. “Quase” exprime uma intensidade.
- Intensidade, professor?
- Sim, intensidade!
- Que é isso, professor?
- Intensidade? Vejam: “O quintal de nossa casa era grande, mas não tinha galinheiro, como quase toda casa de Belo Horizonte naquele tempo”. Neste trecho da memória literária que Fernando Sabino escreveu dá para perceber que “quase” tem o mesmo sentido de “praticamente”; ou seja, de um grau próximo ao máximo: “quase toda casa” pode ser dito “praticamente todas as casas”. O trecho que lemos fornece e fortalece a ideia de que muitas casas tinham galinheiro; quero dizer, intensifica, aumenta, amplia e faz crescer a ideia de quantidade de casas com galinheiro.
- Aaammm!
- Então, quais são os verbos?
- O verbo, professor, é “galinha ao molho pardo”.
A boca nem tenta se abrir porque não entra mais ar nos meus pulmões.

- Mas... Isso não é história de terror!?
- Meu filho! Para um professor, passar por isso é ainda mais aterrador que estar em uma sala fechada, sentado em carteira particular com lápis e papel de prova virado ao oposto. Tendo nela o nosso nome com apenas uma pergunta onde se tem que responder apenas uma resposta. E cujas Secretarias de Educação do país, do Estado e do Município estejam invisíveis entre nós e sejam visivelmente os guardas que nos controlam e que nada podemos falar, que eles realmente ouçam e/ou não nos punam com demissão. E os alunos são os algozes que nos fazem sofrer por nosso desejo e dedicação de compartilhar o que sabemos e não termos quase ninguém que receba nossas palavras.


En Español

- Están todos en una sala cerrada, sentados en vuestros pupitres particulares. En él hay un papel de prueba virado al opuesto. Y un lápiz. En la parte de frente está escrito los vuestros nombres y la parte opuesta está en blanco. Hay solamente una pregunta, y una única respuesta es solicitada. Ella está entre vosotros… Nadie puede hablar con el guarda que los controla, nadie puede contestar o hablar nada, excepto la respuesta. ¿Hay alguna pregunta?
- ¿Qué es tarjeta de saldo de la Unitel o Movicel que me charló ayer?
- Rsrs… Para usted no hay valor. Son las recargas telefónicas de Angola; Unitel y Movicel son las operadoras de red.
- ¡Jejé!
- Kkkk. Pero, intente responder.
- ¿Doncontoy? O mejor: ¿Dontutá?
En la caja de mensaje del Facebook aparecen seis parejas de puntos interrogantes: ¿?¿?¿?¿?¿?¿?¿? Y el interlocutor pregunta: “¡Ah! ‘Doncotoy’ y ‘Dontutá’, ¿qué son esos?
El lector atento (o sea, tú), antes de yo contestar a mi interlocutor, contó las interrogaciones y encontró siete. Rubem, corte un. Ordéname. Doy un suspiro y elimino la última pareja de punto interrogante, dejando solo los seis dichos: ¿?¿?¿?¿?¿?¿?.¹ Ahora puedo responderlo:
- Jejé. En Brasil hay un departamento llamado Minas Gerais (Es donde nací y vivo). Nosotros, mineros, tenemos algunas peculiaridades en el habla oral. Una de esas peculiaridades es el odio a la “d” en los gerundios. Por lo tanto, jamás hablamos “cantando, comendo, sonriendo”; charlamos “cantano, comeno, sonrieno”. Otra costumbre nuestra es emendar y aglutinar las palabras durante el habla; así, “doncontoy es “¿adónde que estoy?” y “dontutá” significa “¿adónde tú estás?”.
- Huuun… Ok. Comprendo. Estoy en Angola.
- Jejé. Sí, pero, la pregunta que se hace a quien es llevado para un lugar asustador como aquella sala es “¿Sabe dónde estás?”. Pero, pensando bien, no hablar nada, dejándonos ignorantes de nuestro destino, es más asustador.
- Está en un centro de pesquisas y es la cobaya…
- Jejé. Pienso que me voy crear una historia de terror “partieno” de la tuya.
- Kkkk, algo parecido es lo que quiero.
- Entonces, así sea. Escribiré una historia de terror:

En una típica mañana de un típico día lectivo de una escuela típica:
- ¡Mis alumnos! Verbo es lo que posibilita un diálogo; que ocurra la comunicación. Por ejemplo, si digo “hombre”, “calle”… Son solo palabras. Sin embargo, si digo, por ejemplo, “El hombre salió de la calle” o “El hombre grita en la calle” o aún “El hombre huirá a la calle” he comunicado algunas cosas, aconteció una plática, un diálogo. ¿Entendieron?
- ¡Sí, maestro!
- Entonces, en los primer y segundo párrafos del texto “Pollo con Salsa Marrón”², de Fernando Sabino, ¿hay cuántos verbos?
“Veintitrés, maestro”, habla una alumna y otro interviene: “no, hay trece”. “No sean tontos; es veintiún”, charla el tercero estudiante.
Abro la boca.
- No, son ocho los verbos. Y desconsiderando los que si repiten, ¿cuáles verbos están en el pasado?
- ¿Es para decir la cuantidad de verbos que están en el pasado?, maestro.
- No, no cuantos. Quiero que digan cuales son ellos.
- Era… Tenía…
- Un…
- Casi…
- Gabiroba…
Abro la boca intentando respirar.
- No, no. “Era” y “tenía” están correctos. Pero, “un” es numeral. Ya “gabiroba” es una fruta. Si no la conocen por ser brasileña y no existir acá es solo prestar atención en el texto: “… un pie de gabiroba, un pie de guayaba blanca”²; cuando la habla “pie de guayaba” es posible percibir que “gabiroba” es fruta. Y “casi” no es verbo; es adverbio. No existe el verbo “casir”, ¿o hablas “yo casio, él casi, nosotros casimos”?
- ¡No, maestro!
- Los adverbios tienen ligaciones con los verbos, pero no son verbos. Adverbio es palabra invariable que expresa una circunstancia del verbo o la intensidad de la cualidad de los adjetivos o refuerza otro adverbio y, en algunos casos, modifica sustantivos. Ellos pueden ser, entre otros, de lugar, de tiempo o de intensidad. “Casi” exprime una intensidad.
- ¿Intensidad?, maestro.
- ¡Sí, intensidad!
- ¿Qué es eso?, maestro.
- ¿Intensidad? Miren: “El patio de nuestra casa era grande, sin embargo no tenía gallinero, como casi toda casa de Belo Horizonte en aquél tiempo”². En este trecho de la memoria literaria que Fernando Sabino escribió es posible percibir que “casi” tiene el mismo sentido de “prácticamente”; o sea, de un grado próximo al máximo: “casi toda casa”. El trecho que leemos fornece y fortalece la idea de que muchas casas tenían gallinero; quiero decir, intensifica, aumenta, amplía la idea de cantidad de casa con gallineros.
- ¡Aaah!
- Entonces, ¿cuáles son los verbos?
- Los verbos, maestro, son “pollo con salsa marrón”.
La boca ni intenta abrirse porque no entra más aire en mis pulmones.

- Pero… ¿¡Eso no es historia de terror!?
- ¡Hijo mío! Para un maestro, pasar por eso es aún más aterrador que estar una sala cerrada, sentado en pupitre particular con lápiz y papel de prueba virado al opuesto. Teniendo en ella nuestro nombre y una sola pregunta donde hay que responder una solo respuesta. Y cuyas Secretarías de Educación del país, de las provincias o departamentos y de las ciudades están invisibles entre nosotros y sean visiblemente los guardias que nos controlan y que nada podemos hablar, que ellos realmente oigan y/o no nos punan con demisión. Y los alumnos son los atormentadores que nos hacen sufrir por nuestro deseo y dedicación de compartirles nuestros conocimientos y no tener casi nadie que reciba nuestras palabras.


Ofereço aos aniversariantes
Denise Mª Silva, Gedeon Marques, Dani Gomes, Wander Santos, HdeZz Gibraan, Nelson M. Esfinge, Carlos Glauss, Teo Lima, Fabiane Borges, Marilda Lyra, Simone Penna e Armindo M. Noma’s.

Recomendo a leitura de Ode Interino, de Josué S. Brito; de Federico García Lorca y el Hotel Excelsior, hoy Castelar, de Javier Villanueva. Respectivamente:

¹ Referência ao capítulo “Emília resolve escrever suas memórias. As dificuldades do começo”, do livro Memórias da Emília. Obra de Monteiro Lobato.

² Traducción libre del texto brasileño “Galinha ao Molho Pardo”, de Fernando Sabino.

Sobre o advérbio “quase” pesquisei nas seguintes fontes:
https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/o-adverbio-quase/22743
MICHAELIS: Dicionário Escolar Língua Portuguesa. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2008.

Escrito em 28 de setembro de 2015. Na noite de 03 de junho de 2016 foi reescrito. E entre os dias 30 de julho e 14 de agosto foi retrabalhado.

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