Na luta contra o frio e a
invisibilidade,
Os dois aquecem-se.
Mas continuam invisíveis¹.
Leitura do cronto pelo autor no canal aRTISTA aRTEIRO:
A máquina fotográfica registra o irregistrado pelos
olhos. Uma folha seca seca parte de um pano. Panorama impercebido,
imperceptível sentido. Caminha para casa com sua bengala branca.
Para e registra o invisível.
Um homem e uma mulher na rua Urca do bairro Vila
Ipanema estão sujos. Ele parece velho como o tempo e ela juvenil como a vida.
Mas estão sujos.
Os olhos que não veem pressentem os dois em um
pressentimento diluído pela humanidade... Entende?
As mãos desses olhos cristalinos sem utilidade maior
que a estética registram através da máquina um casal sujo, acabado.
A máquina não pergunta: O que é sujo, o casal ou a
vida? E o que é acabado, o casal ou o tempo sem fim? Enquanto que o conto A
Metamorfose faz pensar “A vontade de companhia morre diante da realidade.” O
corvo alemão faz observar: muitos que ajudam o outro apenas declaram “você é
vadio!”.
Não é consolo; é fortaleza o que recebemos ao ouvir
Vaninho e Banda se apresentando na pracinha da Igreja Católica do Vila Ipanema.
Ler Ziza Saygli em sua “Trilha Sonora de Saudade”² também ajuda.
- Porra! Mas cê fala pra caralho.
- Rirri. É do caralho que sai porra...
- E mijo.
- Dizem que mijo faz bem pra saúde.
- Eu é que não vou experimentar.
- Então leia Machado de Assis; é o que há de melhor.
Machado de Assis, Ziza Saygli, Vinícius Siman, Girvany de Morais, Roberto
Caroli, Nena de Castro, Goreti de Freitas, Marília Siqueira Lacerda, Flávia
Frazão, Mia Couto...
- E o cara da foto? O que tirava retratos...
- Ora! De quem você acha que são essas reflexões?
- Do autor, claro; o Rubem.
- É! De fato isso é. Mas através de quem?
- Do cego?
- Plausível. O que seus olhos não percebem sua
sensibilidade vê.
- Queria dizer que sua sensibilidade é humana...
- Mas os humanos são o que diz Machado de Assis em
“Pai Contra Mãe”.
- É!
- Por isso vale a pena ouvir Vaninho e Claudio
Marcelo; ler Siman e Ziza; assistir a dança do Grupo Hibridus...
- Se você diz...
- Digo!
Fotografia
do autor.
Na rua Flamengo, próximo à escola estadual João
Walmick, o fotógrafo entra em uma casa. Passará a noite com alguém. Mas antes
de entrar, vira-se, aponta a máquina para o alto e tira uma fotografia de vermelhos
balões indo para as nuvens no céu.
Ofereço como
presente aos aniversariantes:
Eremita G.
Fernandes, Nena de Castro (MVMC), Claudio Marcelo, Fabiana Conceição, Urbano P.
Souza, Carol Ribeiro, Cristina Abreu, Adão Gurgel e Alvarino Silva.
Recomendo a leitura
de:
“Violeta Parra, Pablo Neruga y el Gurerrillero Manuel Rodriguez”, de Javier
Villanueva:
“Ambiguidade”, de Girvany de Morais:
“Metáfora do
Absurdo”, de Xúnior Matraga:
“Abomináveis Fora
Medroso das Neves V”, deste macróbio que vos fala:
e “Capitalismo como
Religião: A bizarra atualidade de um estranho texto de Walter Benjamin”, de Línik
Sued:
¹ SIMAN, Vinícius. 17 Horas.
A Máquina do Tempo. MG: Fortaleza
Editorial, 2015.
² SAYGLI, Ziza. Trilha Sonora da Saudade: poesia. São Paulo:
APMC, 2017. Contato para aquisição do livro: www.editoraapmc.com – 011.2589.4262
Rubem Leite é
escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA
aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras. É professor de Português, Literatura,
Espanhol e Artes. E em breve também professor de História. É graduado em
Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua
Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”,
“Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos
“Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua
Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como
é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e
“Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro
Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Manuscrito em julho de 2017, iniciado no dia 09 e concluído
no dia 16. Trabalhado entre 30 de setembro e 29 de outubro do mesmo ano.
2 comentários:
Eis que seus ex-professor de artes faz uma obra e cita o seu ambiente diário <3
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