domingo, 29 de outubro de 2017

VILA IPANEMA – FOLHA SECA

  
Na luta contra o frio e a invisibilidade,
Os dois aquecem-se.
Mas continuam invisíveis¹.

Leitura do cronto pelo autor no canal aRTISTA aRTEIRO:
                                                                                     
A máquina fotográfica registra o irregistrado pelos olhos. Uma folha seca seca parte de um pano. Panorama impercebido, imperceptível sentido. Caminha para casa com sua bengala branca.
Para e registra o invisível.
Um homem e uma mulher na rua Urca do bairro Vila Ipanema estão sujos. Ele parece velho como o tempo e ela juvenil como a vida. Mas estão sujos.
Os olhos que não veem pressentem os dois em um pressentimento diluído pela humanidade... Entende?
As mãos desses olhos cristalinos sem utilidade maior que a estética registram através da máquina um casal sujo, acabado.
A máquina não pergunta: O que é sujo, o casal ou a vida? E o que é acabado, o casal ou o tempo sem fim? Enquanto que o conto A Metamorfose faz pensar “A vontade de companhia morre diante da realidade.” O corvo alemão faz observar: muitos que ajudam o outro apenas declaram “você é vadio!”.
Não é consolo; é fortaleza o que recebemos ao ouvir Vaninho e Banda se apresentando na pracinha da Igreja Católica do Vila Ipanema. Ler Ziza Saygli em sua “Trilha Sonora de Saudade”² também ajuda.
- Porra! Mas cê fala pra caralho.
- Rirri. É do caralho que sai porra...
- E mijo.
- Dizem que mijo faz bem pra saúde.
- Eu é que não vou experimentar.
- Então leia Machado de Assis; é o que há de melhor. Machado de Assis, Ziza Saygli, Vinícius Siman, Girvany de Morais, Roberto Caroli, Nena de Castro, Goreti de Freitas, Marília Siqueira Lacerda, Flávia Frazão, Mia Couto...
- E o cara da foto? O que tirava retratos...
- Ora! De quem você acha que são essas reflexões?
- Do autor, claro; o Rubem.
- É! De fato isso é. Mas através de quem?
- Do cego?
- Plausível. O que seus olhos não percebem sua sensibilidade vê.
- Queria dizer que sua sensibilidade é humana...
- Mas os humanos são o que diz Machado de Assis em “Pai Contra Mãe”.
- É!
- Por isso vale a pena ouvir Vaninho e Claudio Marcelo; ler Siman e Ziza; assistir a dança do Grupo Hibridus...
- Se você diz...
- Digo!


Fotografia do autor.

Na rua Flamengo, próximo à escola estadual João Walmick, o fotógrafo entra em uma casa. Passará a noite com alguém. Mas antes de entrar, vira-se, aponta a máquina para o alto e tira uma fotografia de vermelhos balões indo para as nuvens no céu.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Eremita G. Fernandes, Nena de Castro (MVMC), Claudio Marcelo, Fabiana Conceição, Urbano P. Souza, Carol Ribeiro, Cristina Abreu, Adão Gurgel e Alvarino Silva.

Recomendo a leitura de:
“Violeta Parra, Pablo Neruga y el Gurerrillero Manuel Rodriguez”, de Javier Villanueva:
“Ambiguidade”, de Girvany de Morais:
“Metáfora do Absurdo”, de Xúnior Matraga:
“Abomináveis Fora Medroso das Neves V”, deste macróbio que vos fala:
e “Capitalismo como Religião: A bizarra atualidade de um estranho texto de Walter Benjamin”, de Línik Sued:

¹ SIMAN, Vinícius. 17 Horas. A Máquina do Tempo. MG: Fortaleza Editorial, 2015.

² SAYGLI, Ziza. Trilha Sonora da Saudade: poesia. São Paulo: APMC, 2017. Contato para aquisição do livro: www.editoraapmc.com – 011.2589.4262

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também professor de História. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).


Manuscrito em julho de 2017, iniciado no dia 09 e concluído no dia 16. Trabalhado entre 30 de setembro e 29 de outubro do mesmo ano.

2 comentários:

D’Grego disse...

Eis que seus ex-professor de artes faz uma obra e cita o seu ambiente diário <3

D’Grego disse...
Este comentário foi removido pelo autor.