Ao redor, pessoas caminhando, comendo, bebendo e
outros gerúndios. Na mesa, Clésio, Marcelo e Suzana saboreiam cerveja e porção
de peroá. Esta, pensativa. Os amigos jogam conversa fora.
- Sabe como surgiram expressões como “ele broxou”?
- Eu não. Nem quero saber. – Fala Marcelo. – Desse
mal não padeço e esconjuro.
- Rerrê. No século XIX vendeu-se muito “literatura
para homens” e seus livros eram encadernações em brochura... Encadernações
moles que o brasileiro associou as ideias.
- Interessante... Mas penso agora é em José de
Alencar e no Pe. Antônio Vieira.
Uma pequena pausa para um gole de cerveja.
- Que têm eles?
- Diziam coisas como “a escravidão fora criada para o
progresso humano”.
- Como assim?
- E que os africanos poderiam ir para o Céu após
serem escravizados...
- Quê! Por quê?
- Os negros eram descendentes dos filhos amaldiçoados
de Noé.
- E o que tem isso a ver?
- Que muitos gritam “Boçalnaro 2018!”. Ele que se
declara inimigo dos negros, das mulheres, dos de outras religiões, dos pobres,
dos LGBT’s, dos índios, dos...
- Tá bom, já entendi. E tudo por pessoas da elite
branca... Rarrarrá. Elite? Que elite é essa que tem pagar boletos e outras
coisas em prestações?
Os dois riem e depois se calam. Art Vitrola continua cantando.
Marcelo comenta:
- No período ditatorial brasileiro trinta e um de
março era um dia festivo...
- Sei! Comemoravam o “Regime Militar”; o país que vai
pra frente.
- E a população sempre em festa mal sabia o quanto
era subtraída através de tenebrosas transações paridas do golpe.
- Golpe que aconteceu no dia primeiro de abril... Mas
para disfarçar, os militares diziam que fora no dia trinta e um de março e não
no dia da mentira.
- Sendo que é imensa mentira negar os golpes; o de
1964 e o de 2016. – Fala Suzana. Porem muda de assunto por está pensando no que
lera recentemente em A Hora do Lobisomem, de Stephen King:
- “Meu amor. – Sussurra ela, e fecha os olhos. O lobo
cai sobre ela. O amor é como morrer”.
- De onde tirou isso?
- De um livro.
- Legal.
- Legal... Mas estou puta com Drummond...
- Por quê? – Interrompe o professor Marcelo. – Por
quê?
- Drummond fez declarações homofóbicas. Chamando-os
de doentes; não de pecadores, mas de doentes. Pura e simplesmente.
- E ele que lutava tanto pelo humanitário...
- É! – Exclamaram em uníssono Marcelo e Suzana. – É!
Art Vitrola continua e junto a suas músicas está o
barulho das pessoas no Feirarte, no Parque Ipanema e os pensamentos nas cabeças
de quem pensa.
Ofereço como presente aos aniversariantes:
Jydnei Nouza, Wilma de Jesus, Louise Santanaa, Bruno S.
Almeida, Magali Santos, Malu Ricardo, Carlos Passos, Marcone Alvarenga, Pascoal
Gomes, Delsyn Carvalhais, Roberta Bragança, Marco Anacleto, Carla Aparecida, Márcio
Miranda, Rosane Dias e Leopoldo Comitti.
Recomendo a leitura de:
“De Tantos Deuses e Demônios Acharam os Ossos de Dana de
Teffé”, de Josué de Brito:
“Independência e Constituição Brasileiras”, deste vosso
macróbio:
“A Pinta Verde”, de António MR Martins:
“Las 10
estrategias de manipulación masiva, según Noam Chomsky”, de Javier Villanueva:
BUARQUE, Chico. Vai Passar. Disponível: https://www.youtube.com/watch?v=oGo_IGaVw6I
. Acesso 01 Abr 2018.
VERRUMO, Marcel. História
Bizarra da Literatura Brasileira. São Paulo: Planeta, 2017.
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e
publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad
Substantiam às quintas-feiras. É
professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também
professor de História. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em
“Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”,
“Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor
dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”,
“Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua
Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do
Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões,
Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Foto de Amnon Oliveira.
Manuscrito na tarde de 17 de setembro de 2017; trabalhado
pela primeira vez em 23 de dezembro do mesmo ano e depois entre os dias 27 de
março e 01 de abril de 2018.
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