Gostaria de desejar um feliz e próspero ano novo a cada leitor. Mas tenho minhas dúvidas se isso será possível devido às escolhas eleitorais brasileiras. Contudo, a esperança é a última que morre; assim:
Feliz e próspero 2019!
Força e coragem pra chegarmos a 2023.
Apaga as letras
o carvão do lápis,
não o nome.¹
Em português:
All that breathes is gone. Or not.
Pega o celular e olhando o telhado sob o céu nublado.
- Filho, amanhã terei que ir ao banco resolver
algumas coisas. Fique com sua avó pra mim.
- Não posso.
- Mas amanhã é sua folga...
- Cuidarei do bebê.
- Traga a criança, uai.
- Não posso tomar conta de dois.
- Filho...
- Chama o seu irmão que vive com o dinheiro que
deveria ser seu para cuidar dela.
- Não fale assim com a mãe. E você tem que ajudar
sim. É o único que não colabora.
- Não sou obrigado a nada. E que cada um cuide de sua
vida.
O fraco sol do fim da madrugada mal atravessara as
nuvens escuras quando:
- Ranrã.
Olha para trás a ver quem o chamara. Continua sem
sorrir ao reconhecer o sobrinho agressivo, mas lhe oferece a mão para um aperto
enquanto ouve:
- Sacando uma graninha?
- Não. – Volta para o caixa eletrônico enquanto fala:
só olhando o saldo.
Talvez pelo desinteresse do tio ou talvez pelo
semblante sério e tranquilo, o sobrinho se desmotiva, por hora, a encrencar. E
se vai.
Não se despedem.
Fora do banco, senta em um banco da praça a ler o
livro “Quem Manda no Mundo?”, de Noam Chomsky; traduzido por Renato Marques e
publicado pela editora Planeta. Depois da leitura do prefácio vai a casa preparar o almoço antes de ir ao Feirarte.
Marcelo traz pro protagonista coquetel com maracujá e
limão. Aos demais, coquetel sem limão para um, coquetel com tequila para outro
e cerveja para o terceiro.
- Águas Vivas Mortas é um experimento. Não uma obra
para ser prima. Apenas uma visita às periferias do que me agrada. – Bebe um
pouco do coquetel sem limão. – Veja: “um mar de montanhas morde sem alarde >
a ferida arde as montanhas.”²
-
Comprendo tus lucubraciones, Siman. También tengo las mías. Yo… Quiero caminar;
volando me caí muchas veces. – Dá uma risadinha, bebe um trago do
coquetel com tequila e continua:
Conflictos mentales… No sabemos vivir. Por eso, digo a mi corazón: lo que no
tiene remedio, sino lo cura el vino lo hará el entierro.
- Eu gosto de crianças. – O quarto amigo muda de
assunto. – Crianças atraem mulheres; mulheres atraem homens...
Sem saber se ri ou condena, o quarto amigo se cala
para ouvir quem canta hoje no Feirarte.
Esse que “gosta” de crianças... viajou muito em uma
época em que ele contava alguma coisa. E nunca esquecera a pergunta do
entrevistador sobre a forma que ele cantava em inglês e respondera: “My perfect English is British. My
accent is to be elegant and erotic.”. O entrevistador, por sua vez,
falou que não entende inglês. “Peça a alguém para traduzir minha resposta.”
Respondeu encerrando a entrevista.
Mas agora, quem se lembra dele? Quem ouve sua bela
voz? Contudo eu digo pensando na sociedade apontada por Chomsky:
Balamoeda
Morterriqueza
Menina
Bem-te-vi
Olhos
Tapados...
- Não compreendi esse bando de palavras desconexas. –
Comenta o sobrinho que acaba de chegar do nada e pega a conversa no meio. –
Quero falar com você.
- Ah... As palavras para você desconexas são uma
aldravia. Mas a conversa será em outro momento porque agora estou entre amigos.
E assim a tarde vai como tudo que respira; ou não.
A segunda feira começou e avançou chuvosa mesmo depois
do celular tocar.
- ... fico perplexa com a hipocrisia dele. Esteve
aqui ontem de noite para falar pra mãe que te flagrou tirando dinheiro do caixa
eletrônico. Dinheiro que deveria ser só dela, já que está cuidando da mãe de
vocês dois e te ajudando a cuidar do irmão. E mais, já declarou que não vai
ajudar a mãe, pois tem a própria vida pra cuidar e que cada um cuide de sua
casa. Mas critica quem pouco ou muito faz o que ele não faz.
- Que desagradável.
- Não tem tempo para ajudar, mas para fazer fofoca o
tempo sobra.
E assim o dia vai como tudo que respira.
En español:
TODO HABLA.
NADA HACE.
Everything that breathes is gone. Or not.
Agarra
el celular mirando el tejado bajo al cielo nublado:
-
Hijo, mañana tendré que ir al banco resolver unas cosas. Necesito que te quede
con su abuela.
- No
podré.
-
Pero, mañana tú no trabajas…
-
Cuidaré del nene.
-
Venga con el niño, oye.
- No
puedo cuidar de dos.
-
Hijo…
-
Llama a tu hermano que vive con dinero que debería ser tuyo para cuidar de
ella.
- No
hables así con mamá. Y tienes que ayudar sí. Es el único que no colabora.
- No
soy obligado a nada. No más, que cada cual cuide del tuyo.
El
débil sol del fin de la madrugada mal atraviesa las nubes oscuras cuando:
-
Janján.
Mira
atrás a ver quién lo llamara. Continúa sin sonreír al reconocer el sobrino
agresivo, pero le ofrece la mano para un apretó mientras escucha:
-
¿Sacando una platita?
-
No. – Vuelve al cajero automático mientras habla: solo viendo el saldo.
Tal
vez por el desinterese del tío o tal vez por el semblante serio y tranquilo, el
sobrino se desmotiva, por ahora, a pelear. Y se va.
No
se despiden.
Fuera
del banco, sienta en un banco de la plaza a leer el libro “Who rules the world?”, de Noam Chomsky. Después de la
lectura del prefacio va a casa preparar el almuerzo antes de ir al Feirarte.
Marcelo
trae al protagonista coctel con maracuyá y citrón. A los demás, coctel sin
limón para uno, coctel con tequila para otro y cerveza para el tercer.
-
Medusas Muertas es un experimento. No una obra para ser prima. Solamente una
visita a las periferias de que me gusta. – Bebe un poco del coctel sin limón. –
Ve: “un mar de montañas muerde sin alarde; la herida arde las montañas.”²
- Compreendo suas lucubrações, Siman. Também tenho
algumas. Eu... Quero caminhar; voando caí muitas vezes. – Reír, bebe un traguito del coctel con tequila
y continúa: Conflitos mentais... A gente não sabe viver. Por isso digo
ao meu coração: O que não tem remédio, se o vinho não cura, o enterro assim
fará.
- Me
gustan los niños. – Habla el cuarto amigo cambiando el asunto. – Niños atraen
mujeres; mujeres atraen hombres…
Sin
saber se reí o lo condena, el protagonista se calla para oír quien canta hoy en
el Feirarte.
Ese
que “gustan” niños… Viajó mucho en una época en que él cantaba alguna cosa. Y
nunca se olvidara de la pregunta de un entrevistador sobre la forma que él
cantaba en inglés y responderá: “My perfect English is British. My accent is to be elegant and erotic.” El periodista, a su vez, habló que
no comprende inglés. “Pida a alguien para traducirte mi respuesta.” Contestó
encerrando la entrevista.
Pero
ahora, ¿quién se recuerda de él? ¿Quién oye su bella voz? Pero, digo pensando
en la sociedad apuntada por Chomsky:
Balamoneda
Muerterriqueza
Niña
Bienteveo
Ojos
Tapados…
- No
comprendí esa gavilla de palabras desarticuladas. – Comenta el sobrino que de
pronto llega del nada. – Te quiero hablarte.
-
Ah… Las palabras para ti desarticuladas son una aldravía. Pero la conversa será
en otro momento porque ahora estoy entre amigos.
Y
así la tarde se va como todo que respira; o no.
El
lunes empezó y avanzó lluvioso hasta el celular sonar.
- …
me quedo perpleja con la hipocresía de él. Estuvo aquí anoche para hablar para
nuestra madre que te flagró sacando dinero del cajero electrónico. Dinero que
debería ser solamente de ella, ya que está cuidando de la madre de ustedes dos
y te ayudando a cuidar del hermano. Y más, ya declaró que no va a ayudar mamá,
pues tiene la propia vida para cuidar y que cada uno cuide de su casa. Pero
critica quien poco o mucho hace lo que él no hace.
-
Muy desagradable.
- No
hay tiempo para ayudar, pero para chismorrear el tiempo sobra.
Y
así el día se va como todo que respira.
Recomendo a leitura de:
“Uma Palavrinha Sobre Utopia”, de Sued:
¹ MELO NETO, João Cabral de. O Funcionário. Poesia Completa e Prosa. 2ª ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2007. P. 51.
² SIMAN, Vinícius. Mil Coisas. Águas Vivas Mortas. São Paulo: Clube dos Autores, 2018. P. 19.
Traducción libre de Rubem Leite.
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e
publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad
Substantiam às quintas-feiras. É
professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também
professor de História. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em
“Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”,
“Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor
dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”,
“Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua
Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do
Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões,
Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Telhado sob chuva (fotos 01 e 02) – foto do autor.
Será Ele? – foto do autor.
Vinícios e Girvany – foto de VinSim.
El Ratón Tarado – foto de JuliCab.
Rubem dando bandeira – foto de VinSim.
Manuscrito domingo, dia quinze de abril de 2018. Digitado
em 25 de maio; trabalhado entre os dias 26 e 30 de dezembro do mesmo ano.
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