“A inutilidade da esperança e a inutilidade das queixas”¹.
Não sabe que poderia ter vinte e oito dias
de vida. Ela por não ter ciência e as pessoas, por não terem consciência, ignoram
suas vidas a complicar as vidas própria e alheias.
A mosca pousa em nossas comidas e, menos
que as pessoas, percorre sua vida indo de sujeira em sujeira. Vê os humanos
sujando suas vidas, suas relações, seus corpos, as ruas. E só esta última
sujeira atrai a mosca.
Desânimo, desânimo. Não sei conviver,
desânimo. Encontrar outras pessoas, desânimo. Estou cansado de ter desânimo. Quero
sossego do silêncio, do nada e do ninguém.
A nossa mosca encontra outra mosca,
procriam.
- Não tem pra onde correr. – Dizem-me e penso: Não há para onde fugir então caminho sentido; querendo ir para onde não existe.
Fugindo das sujeiras internas das pessoas a mosca não vê a teia de aranha. Assim se fecha sua vida.
As pessoas vêm, vão e não se sabe se voltam.
A vida vem, vai e não se sabe se volta. E o eu? Que venha, que vá e só fique
onde sentir-me.
¹ Os olhos que comiam carne, de Humberto de Campos.
Imagens: fotos do autor tiradas de sua casa.
Pensamentos tidos entre 14 e 20 de março de 2022.
Um comentário:
Querido aRTISTA aRTEIRO: o texto é triste e duro como um funeral... sabemos que morreremos, mas pelo quê vivemos ainda importa... uma coisa que a mosca faz e que fazemos é brindar e cortejar o prazer de repor a vida. E assim a mosca perpetuará a própria espécie, ainda que incoscientemente pelos hormônios que a alteram...
Grande abraço!
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